MudRunner | Não é uma cilada, Bino! (Impressões)

Jogos onde um carro é dirigido pelo jogador fazem parte da história dos games desde que Gran Trak 10 estreou nos arcades em 1974, e desde então milhares de jogos do gênero foram lançados nas mais diversas plataformas; embora a maioria deles seja sobre pisar fundo no acelerador para alcançar a bandeira quadriculada no final, temos alguns jogos que fogem completamente desse padrão, como é o caso de MudRunner: A Spintires Game! Já apresentamos o jogo em nossa seção Ficha Indie, e agora podemos falar mais sobre ele.

Eu nunca havia jogado algo parecido. MudRunner é sobre pegar um veículo e ir do ponto A para o ponto B. Só que o caminho a ser percorrido não é nada fácil. O lance aqui é simular um ambiente hostil, cheio de lama, aclives, declives, árvores caídas, entre outros obstáculos que devem ser vencidos pelo jogador. E essa simulação é o grande destaque e alma do jogo. Esqueça aquela vontade de pisar no acelerador. Em MudRunner é dado ao jogador desafios que tornam o jogo mais parecido com um puzzle game do que com qualquer outra coisa. É como um belo vinho, deve ser degustado com bastante foco e apreciando cada nuance.

Vencer esses desafios dispostos em ambientes bucólicos russos requer um jogador com tempo e disposição para mergulhar de cabeça no mundinho do jogo e devem entender aquilo que estão enfrentando. Simplesmente pegar o carro e acelerar não funciona aqui. O cenário é o seu maior inimigo, e só pode ser vencido por meio de ações cuidadosamente pensadas. Vale usar de tudo, desde caminhões tanques até um carro de reparo mecânico, usar e abusar de ficar girando a câmera para decidir por onde passar, leve o tempo que precisar para decidir o que fazer a seguir.

Mas cuidado, MudRunner é mais daqueles jogos que sugam totalmente sua vida. Não é incomum perder mais de uma hora apenas em uma missão, em especial quando ainda não há uma compreensão daquilo que está sendo feito e de como o cenário está reagindo a cada ação executada pelo jogador. Pois tudo é levado em conta, e geralmente para piorar as coisas. Inclusive tem tarefas opcionais durante um desafio. Como não há limite de tempo, essas tarefas acabam se saindo quase que como um acréscimo de dificuldade do desafio que a missão propõe.

Durante a travessia de um pequeno riacho, meu caminhão carregando algumas toras de madeira acabou ficando com as rodas presas na lama. Acelerar só piorou a situação, fazendo as rodas se enterrarem na lama conforme elas giravam, e assim as coisas foram piorando até que simplesmente não importava o que eu fizesse, o caminhão já não conseguia se mover de maneira alguma, afundado em lama.

Nessas horas, o gancho de reboque é o seu melhor amigo. Tentei puxar o caminhão com o gancho preso em todas as arvores ao redor, até mesmo em uma que estava caída no chão como última tentativa desesperada, em vão. Estava numa situação impossível de ser resolvida sozinho e lá fui eu buscar outro caminhão para fazer um reboque mais seguro.

Só que nem assim, puxando um caminhão com outro, a situação parecia caminhar para um final feliz. A lama do fundo do riachinho se deformou de uma tal maneira que quando eu puxava o caminhão, ele ia tombando para o lado, e o medo das toras se soltarem da caçamba provocava ranger de dentes. Foi preciso muita paciência para ir puxando o gancho de maneira suave e alternando os lados, ora puxando pela esquerda, ora pela direita, algumas vezes pelo centro, suor acumulando na testa, pescoço rígido de tensão; até que depois de uma hora e meia depois eu consegui libertar o caminhão da lama traiçoeira.

E olha só, eu não estava nem na metade do caminho, e os veículos possuem barras que medem a quantidade de dano sofrida pelo caminhão e o quanto de combustível resta, e tive que tentar terminar o trajeto de maneira ainda mais cuidadosa. Mas infelizmente, tentei pegar um caminho mais curto para poupar combustível, e isso fez com que eu tentasse avançar por uma curva fechada em declive tomado pela empolgação de entrar na reta final da entrega, e o caminhão acabou por escorregar no barranco e tudo se perdeu…

Jogar Mudrunner é sobre se debruçar sobre o cenário proposto pelo game, e pensar em diferentes estratégias para executar, e durante a execução estar apto a abandonar os planos e pensar em novos!

Dúvidas vão bombar no cérebro, tais como como passar pela água para tentar limpar a lama dos pneus e assim conseguir tracionar melhor, com o risco de atolar ainda mais com isso. Não que existam múltiplas maneiras de progredir em uma missão, mas diferentes modos de conduzir podem produzir efeitos diferentes no cenário. Fora os desafios opcionais, não existem muitos motivos para jogar a mesma missão depois de dominada.

É muito interessante perceber o quanto a evolução dos games permite termos cada vez uma noção mais sólida de experiências diversas. Por meio de uma física bem implementada na mecânica do jogo, Mudrunner consegue passar um pouquinho daquilo que milhares de motoristas enfrentam naqueles condições terríveis, assim como um jogo de Fórmula 1 consegue dar um gostinho daquela sensação de estar apertado num cockpit rasgando uma reta em altíssima velocidade.

MudRunner não é um jogo que agrada a maioria dos jogadores, por estar focado em um nicho específico de tema e jogabilidade, mas deveria ser experimentado por muito mais pessoas. Videogame é uma mídia interativa poderosa, nesse caso em especial transmitiu muito bem para mim como é difícil operar um veículo nas condições adversas que um terreno cheio de obstáculos proporciona, entender mesmo que superficialmente tudo o que causa essa dificuldade de dirigir assim na vida real, e até mesmo poder aplicar esse conhecimento em algum momento em que vivenciarmos na pele algo assim.

Temos aqui apenas o segundo jogo, um spin-off de Spintires de 2014, e mesmo sendo novamente produzido por um estúdio modesto, Mudrunner é um jogo muito bem realizado dentro da sua proposta. O visual é apenas bom, os huds e menus em geral são horrorosos, mas quando se trata de fazer o jogador se empolgar quando na primeira marcha a roda se move um pouquinho naquela lama, é sem dúvida uma das melhores coisas do mundo.

Já sonho com mais sequências, onde poderemos contar com mais ambientes e veículos, com chuva e neve dificultando as coisas ainda mais. Por enquanto, MudRunner já é uma ótima pedida se você quiser um desafio fora dos clichês dos videogames mais famosos da atualidade, e pode despertar uma séria paixão por outros simuladores. Fiquei sabendo que recentemente foi lançado um simulador de trens…

Um jogo assim não se vê todo dia
Física do ambiente muito bem desenvolvida
Huds e menus bastante confusos
Deveria haver mais ângulos de câmera
Capaz de entreter o jogador por dias a fio!

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