Minit é uma prova real que bons games podem vir em qualquer forma e aspecto. Não são preciso gráficos estonteantes ou mecânicas complexas que requerem 20 botões em um controle. Basta engenhosidade, senso de progressão que lhe recompense e a diversão que isso proporciona. Eis a fórmula para que tudo dê certo.
Trata-se de um jogo indie desenvolvido em parceria com quatro desenvolvedores independentes. Todos facilmente encontrados em suas respectivas páginas no Twitter: @kittycalis, @jwaaaap, @jukiokallio e @zerstoerer. Já o mérito de sua distribuição em diversas plataformas ficou a cargo da eclética Devolver Digital.
Neste momento, Minit está disponível para PC (Steam), Xbox One e PlayStation 4. E não vejo motivos para que ele não possa – eventualmente – aparecer em outras plataformas. Como o Nintendo Switch ou até mesmo em plataformas mobile. Seu preço é bem suave no Steam e Xbox, apenas 19 reais. Exceção somente na loja brasileira do PlayStation, que sabe-se lá porque quase sempre é mais caro, e assim Minit custa 31 reais.
A proposta do game é ser uma aventura de 60 segundos por vez. Ou seja, o jogador transita por telas de um ambiente totalmente conectado. Tentando descobrir como avançar 60 segundos mais longe do que a rodada anterior. Para isso é necessário coletar ferramentas e resolver puzzles e enigmas impostos pela progressão do ambiente.
Apesar dessa proposta, as mecânicas não forçam, ou cansam, o jogador a ficar repetindo passos e mais passos. Não há aquela gordura de enrolação para o jogo durar mais do que ele realmente necessita. Existem até mesmo atalhos engenhosos para resolver um problema que poderia ser ponto fatal para uma experiência enfadonha.
Trata-se de um jogo indie minimalista. Isso significa que gráficos são bem simples. Ainda que o jogo tenha muitos objetos e recursos visuais que exploram justamente meios para transpô-los em tela, com tão poucos pixels e da ausência completa de cores.
Adicione também a ótima iniciativa de localizá-lo em português, quebrando assim a barreira linguística que assola parte do público gamer por aqui.
A espaça amaldiçoada
A história do jogo não exige cutscenes ou longas telas de explicação. No começo, o jogador é esse pequeno carinha simpático, visto nas telas inseridas nesta postagem, que encontra uma espada perto de sua casa. Ao tocá-la, logo se descobre que a mesma está amaldiçoada. E esta maldição é meio sacana: você morre 60 segundos após iniciar um dia.
Não se morre e retorna ao mesmo dia, como ocorre no clássico Feitiço do Tempo (dia da marmota). Esse pequeno protagonista simplesmente renasce em sua casa no dia seguinte. Ele perdeu um dia inteiro da sua vida, exceto os 60 segundos que ele teve para tentar se livrar dessa maldição. Ou seja, tudo que o jogador realizar em 60 segundos perdura até o próximo dia.
Regou uma planta? Dá para vê-la crescer morrendo e acordando no dia seguinte. Encontrou um item importante de progressão? O mesmo se mantém no inventário mesmo após ciclos e mais ciclos de mortes. É desta forma que a progressão em Minit funciona. Encontre algo ou faça algo que mude as premissas para os próximos dias.
Seguindo a trama, logo após estar amaldiçoado alguém o alerta “Você pegou a espada amaldiçoada. Agora vá para a fábrica e encontre as respostas que procuras“. Eis aí a meta principal do jogo. O jogador apenas só não sabe onde está a fábrica ou qual o caminho para chegar até ela.
Abra caminho
E esta é sua jornada pelo jogo. Encontre meios de adquirir ferramentas que sirvam para abrir caminho até a fábrica e lá quebre a maldição. Como exemplos, posso citar uma lanterna para iluminar cavernas escuras, um par de sapatos para andar mais rápido e até mesmo uma xícara de café que lhe dá uma energia extra para empurrar caixotes e assim por diante.
Ajudar pessoas também é importante. Como reunir hóspedes para um hotel, dar água para alguém perdido no deserto e recolher madeira para construir um barco. Coletar corações e moedas também são pontos interessantes, ainda que morrer por dano causado por um inimigo não é tão grave, ao menos quando seu dia tem apenas sessenta segundos.
Minit é um destes jogos independentes que fazem muito com pouco. Seu visual minimalista dá um charme único ao título. Tal qual sua trilha sonora que combina com o clima do jogo. E mesmo com suas mecânicas não sendo complexas, isso não significa que o jogo seja fácil ou óbvio.
Sendo assim, o desafio do game é bem legal. Não há aquelas situações em que o jogador possa ficar perdido por horas. Se desorientar em alguns minutos, e por consequências morrer ao final de um minuto é normal. Só que isso dá a sensação positiva de recompensa, especialmente quando se percebe o que estava faltando fazer ou aonde deveria ir.
Vale ou não vale?
Porém, que fique claro que Minit é um game curto. Pra mim bastou um pouco mais de duas horas, talvez perto de três horas, para fechar sua campanha pela primeira vez. Talvez demorasse um pouco mais se tivesse ficado claro que o jogo iria se encerrar após vencer uma criatura que encontro dentro da fábrica após resolver um dos puzzles do local. Se soubesse teria evitado essa batalha e corrido um pouco atrás de itens ainda não coletados.
Dá para fazer isso depois de vencido o último chefe, mas não vi graça fazer isso depois. Especialmente sabendo que dei conta dele sem precisar dos corações e moedas deixadas para atrás, em enigmas em que não encontrei alguma solução em uma primeira passada de olhos. Provavelmente foi algo que tenha passado despercebido.
Terminado o game há um modo New Game+, em que alguns puzzles mudam de lugar ou ficam mais difíceis. Assim o fantasma no oásis, por exemplo, se tornam dois fantasmas. Coração? Só se tem um. Perdeu ele, morreu. Acaba sendo um modo mais difícil, e me deu vontade de gastar mais algumas horinhas nele sim.
No que diz respeito as batalhas, dá para dizer que Minit não tem muitos momentos de combate. E quando surgem são algo bem simples. Não tem nada de especial, exceto talvez o último chefe do jogo. O que me parece justo dada a proposta do game.
Ao fim, dá para dizer que a experiência de Minit é singular. Divertida, bem humorada e altamente viciante. Não é uma experiência longa, talvez sequer memorável, entretanto é uma que senti prazer em ter. Senti feliz por conhecer o título e jogá-lo até o fim. Uma boa sensação positiva. Sem defeitos ou momentos de amargura. Simples assim.