Far Cry 5 | Às vezes é melhor deixar as coisas como estão (Impressões)

O que era apenas mais uma aposta da Crytek que pegava carona na onda crescente de interesse em jogos de FPS em 2004, hoje pode ser apreciado na forma de Far Cry 5, seu mais novo capítulo (existem jogos paralelos e até remake!) para PS4, Xbox One e PC. Far Cry é uma série que cresceu com o passar dos anos, e sem dúvida é uma das melhores propriedades intelectuais da Ubisoft, fazendo cada vez mais sucesso entre o público com seu mundo aberto cheio de diversão.

Isso é Far Cry 5. E ele veio cercado de expectativas, dessa vez trazendo uma temática voltada para um enredo que envolve fanáticos religiosos da seita Eden’s Gate (por isso seus membros são chamados pelo apelido Edenetes), que estão em uma região norte americana de Montana, mais precisamente em Hope County, um lugar que não existe na vida real, claro.

A história do game envolve essa seita religiosa liderada por Joseph “O Pai” Seed e seus Arautos (que também não existem, claro), e cabe ao jogador detê-la. Algo que causou um impacto quando foi revelado, ainda mais pelo jogo se passar em solo norte americano, gerando um hype sobre o quanto Far Cry 5 iria debater sobre o modo de vida americano tradicional, o uso de armas e a exploração da fé promovida por gurus. Bem, a coisa toda não é tão aprofundada aqui, mas há o suficiente nas entrelinhas para fazer o jogador pensar nesses assuntos.

O enredo serve apenas como desculpa para as nossas ações nesse mundo sandbox que consegue sem dúvida nenhuma ser divertido. Far Cry 5 deve ser jogado tendo essa expectativa em mente.

Hope County é um local enorme, com uma geografia que explora bem todas as possibilidades que a mecânica de jogo oferece. Temos estradas de asfalto e de terra, lagos, rios, florestas, montanhas, pequenas áreas urbanas. Então, vou citar por exemplo a habilidade de escalar do protagonista, que pode ser praticada desde em uma simples escalada até o topo de uma antena de rádio, e pode terminar em uma imensa montanha, a qual pode fazer com que horas se esvaiam facilmente na busca de alcançar o seu topo. Outras pessoas podem se deliciar em tentar voar de wingsuit pelo maior tempo e distancias possíveis.

E que tal uma pescaria? Pescar nesse jogo me despertou as memórias das longas tardes passadas em um certo pesqueiro em Hyrule tentando fisgar o Hylian Loach, quem mais lembra disso? Tudo isso e muito mais realmente conseguem nos distrair inclusive do enredo, que falha em proporcionar uma sensação de perigo imediato e nunca provoca o sentimento de urgência no jogador.

Para quem já jogou os últimos jogos da série e gostou, Far Cry 5 vai soar bem familiar, sem grandes surpresas e ousadias. Para os novatos a sensação de descoberta e frescor sem dúvida vai ser maior. Mas em ambos os casos o jogo vai manter o protagonista bem ocupado, pois objetivos e distrações aparecem a todo momento. E temos aqui a maior variedade de armamento e items da série, e isso é somado ao design das missões, que é bem variado e cheio de maneiras de serem resolvidas em termos de abordagem. Seja ou Rambo ou um ninja, a escolha é sua!

No início do game, eu optei por ser bem mais furtivo, mas no final eu desencanei disso e usava e abusava de granadeiras, bombas e metralhadoras. Mas usando bem certas habilidades que poções nos fornecem, dá até para tentar resolver tudo na mão mesmo! Vale a pena usar essas poções, em especial quando há muitos inimigos a serem enfrentados. Afinal, qualquer vantagem é uma vantagem, certo?

Visualmente é um jogo bem bonito e bem resolvido, ainda que tenha os mesmo problemas que a maioria dos jogos do gênero tem, ao povoar o mundo do jogo com uma baixa variedade de skins para os habitantes comuns da ilha. Prepare-se para encontrar muitos “gêmeos” pelo seu caminho. E por falar em caminhos, a trilha sonora é bem interessante, e tem até emissora de rádio com hinos edenetes, uma ótima pedida enquanto percorremos esses caminhos em uma belo caminhão equipado com uma metralhadora.

Temos aqui muitos detalhes que fazem de Far Cry 5 um título que teve sim um esmero em sua produção, ainda que sua história e diálogos não sejam lá muito bem resolvidos. Ainda bem que o time de desenvolvimento conseguiu imprimir uma personalidade charmosa ao jogo e isso me agradou bastante em termos de design!

Eu realmente consegui me divertir com o jogo, muito mais do que consegui com os seus antecessores. Levei muito mais tempo do que o normal para finalizar sua campanha, pois frequentemente me perdia no mundinho do jogo, querendo descobrir o que havia em uma caverna, ajudando um pobre coitado sofrendo nas mãos dos edenetes, fazendo algum objetivo secundário qualquer ou simplesmente caçando, enfim, essas coisas que tanto me distraem em jogos desse tipo.

Então Far Cry 5 conseguiu seu intuito, de me manter ocupado com ele. E olha que nem explorei muito o modo Arcade, que permite não só disputas online, mas também possibilita a criação de fases pelo usuário. Já tem coisas como a recriação da Vila do Chaves, ou fases inspiradas em Resident Evil 2, por exemplo. Vale a pena conferir.

Antes de escrever essas minhas impressões eu estava morrendo de rir jogando um modo que colocava os jogadores em uma arena simples, quadrada, e com um buraco bem no meio dela para fazer que os times fiquem fixos em uma pequena área oposta, podendo utilizar apenas o arremesso de pás para tentar atingir os jogadores adversários que estão do outro lado do buraco. Insanamente divertido.

Para aqueles que sempre buscam mais desafios, existem os Eventos ao Vivo, que são cumpridos tanto pelo jogador quanto pela comunidade, e ao cumprir esse desafio imposto pela Ubisoft, são desbloqueados itens para o jogador. Essa semana por exemplo, bastava ao jogador curtir o modo Arcade por 40 minutos para atingir seu objetivo, e na semana passada era preciso queimar animais sem usar lança-chamas ou molotov. Mal posso esperar para ver o que virá nos próximos eventos!

Eu gosto disso e com certeza me vejo voltando sempre ao jogo para ver se aparece algum item que eu queira naquela semana. É uma excelente maneira de recompensar aquele jogador que está sempre voltando ao game, e eu torço para que as outras desenvolvedoras coloquem isso em seus jogos.

Outro belo acerto é poder jogar a campanha em modo cooperativo com um amigo, o que garante uma diversão extra. Sério, eu adoraria ver mais jogos tendo essa opção, e ainda que não haja nada em Far Cry 5 que seja feito especificamente pensado para essa modalidade de jogo, eu recomendo que ele seja jogado assim. Seria muito legal ver futuros dlcs que explorem a jogabilidade em dupla, fica aqui o meu apelo para a Ubisoft.

Vamos falar agora sobre o final do jogo? Caso prefira evitar saber qualquer coisa sobre o final, volte lá para Hope County e depois volte, caso contrário vamos prosseguir, embora não vou deixar nenhum final totalmente explicado, pois vale a pena cada um conferir e tirar suas próprias conclusões. Mas um detalhe é que Far Cry 5 na realidade tem 3 finais, e vamos considerar que todos eles são um “ponto final” pois rolam créditos e tudo, mas um deles parece ser o real, pois muda a tela-título do game após ser feito.

Acho que desde o polêmico final de Mass Effect 3 eu não via discussões tão empolgantes sobre o fim de um jogo. Dito isso, quero deixar claro que gosto de Mass Effect 3 e seus finais. Mas isso é papo para outro dia. Voltando ao Far Cry 5, os 3 finais possíveis desafiam a lógica de “final de jogo de videogame padrão”. Eles incomodam, alfinetam a mente do jogador, acostumados com finais felizes não só em games, mas também em filmes, livros, quadrinhos e etc. A reclamação dos jogadores que não gostaram desses finais é justa? Depois de alguma dezenas de horas lutando por Hope County, o resultado desse esforço deve acontecer de uma maneira que era esperada?

Bem, alguns jogadores estão sentindo que tudo o que foi feito no jogo foi em vão, pois as ações feitas pelo recruta não adiantaram de nada. Será isso mesmo? Joseph dizia que o fim do mundo estava chegando, e ele chegou, de certa forma, validando seu discurso ao mesmo tempo que o esvazia, pois mesmo que todo mundo se tornasse um edenete, tudo ia acabar de um jeito ou de outro.

Porém do jeito que “o final que parece ser oficial” é apresentado, fica mais forte a impressão de que Joseph estava mesmo certo, mesmo que agindo de maneira errada, com tantos atos terríveis. Meio confuso isso, eu sei, deve ser efeito da Benção na minha mente! E “esse” final chega sem que eu me sinta imerso nessa luta toda, pois fica aquela sensação de ter controlado uma casca vazia o tempo todo. Mas é assim que deveria me sentir mesmo?

O problema é que no início do jogo você é só um mero recruta que está acompanhando outros quatro policiais que querem prender Joseph Seed e assim acabar com o culto dele. Mas as coisas dão errado e você acaba preso naquela localidade, e no começo tem uma tal névoa que “desencoraja” a sair daquela região em busca de ajuda. Sim, parece meio bobo isso.

Mesmo depois que a névoa passa e você pode pegar um avião, o jogo artificialmente não o deixa escapar. Nem você nem qualquer uma das milhares de pessoas que vivem por lá e não são do culto. O que o jogo usa como desculpa para permanecer ali é simplesmente o desejo de resgatar seus companheiros, mas caramba, não dá para não pensar que seria mais lógico escapar de Hope County e chamar a Guarda Nacional para deter Joseph e seu culto edenete.

Mas isso o jogo não deixa e no final é justamente algo vindo do mundo exterior que provoca o fim da história. Então sim, o final é justamente a cereja podre no topo do bolo sem graça que a história principal é. Um jogo de videogame precisa de uma história que motive o jogador, não é mesmo?

Ainda bem que para nos motivar a jogar temos missões que focam nos moradores de Hope County, e alguns deles são bem legais, em especial quando a missão é para recrutar uma arma de aluguel, pessoas que passam a nos ajudar durante o jogo, assim como acontece em Mass Effect, que tem personagens muito interessantes para te acompanhar durante a campanha. Eu particularmente adorei a Jess e o Hurk, os dois tem diálogos muito engraçados quando estão juntos na equipe.

O ponto mais fraco do jogo é justamente seus vilões. Jacob, John, Faith, e Joseph. Suas motivações e diálogos não são lá muito interessantes, embora eu reconheço que eles tem um enorme potencial. Vou citar aqui a Faith, por exemplo, com um passado horrível e cheio de abusos que poderia ser mais bem utilizado, mas todos tem histórias tristes para nos fazer simpatizar por eles, contadas por Joseph depois de derrotados.

Porém temos tão pouco contato com eles durante o jogo que fica difícil simpatizar muito. E olha que no caso de Jacob, Jonh e Faith, eles te raptam cada vez que se ganha um ponto de resistência, algo meio sem graça e forçado, e claro, repetitivo, pois varias vezes lhe tira do que quer que você esteja fazendo no jogo. Eles dizem algumas coisas e logo em seguida é só fugir ou esperar ser resgatado. Não há um diálogo interessante com eles, pois seu papel é de apenas um recruta sem personalidade e não um personagem como nos jogos anteriores.

Entendo que o objetivo disso é fazer com que o jogador “seja” o avatar do recruta, mas isso é algo que só deixa a impressão de uma casca vazia. E o mundo do jogo não consegue preencher as lacunas como acontece em TES V: Skyrim, por exemplo.

Outro ponto que achei meio chato porém são coisas já esperadas de um game sandbox, é como as coisas são jogadas na sua cara o tempo todo. Inimigos e personagens dão respawn a todo momento, o que dá um senso de dinamismo falso ao jogo. Isso é bom somente quando se quer apenas se divertir tentando eliminar eles de diferentes maneiras com diferentes armas, mas dá ao jogo um senso de escala surreal, como se houvessem milhares de pessoas naquele lugar.

Isso funciona em GTA, mas aqui só contribui para te lembrar que a coisa toda é bem videogame. Os itens e veículos também são assim. Muitas vezes eu via no radar um helicóptero, ficava doido para pegar ele, aí vinha um inimigo (humano ou animal) e depois de eliminar ele eu olhava pro radar e o helicóptero tinha sumido de novo. Talvez esse ponto seja mais uma questão de gosto pessoal, mas eu não me importaria de ver bem menos oponentes para me atrapalhar e me fazer pensar que os edenetes possuem centenas de helicópteros e afins.

O senso de escala joga tanto a favor como contra Far Cry 5 por conta de coisas assim, e para mim no final de tudo o saldo é positivo o bastante para recomendá-lo. Temos aqui tudo o que se espera de um jogo atual, e bem realizado em termos gerais. Apenas é preciso que o jogador não dê muita bola ao enredo e se foque na diversão oferecida. Talvez esse deva ser considerado o verdadeiro final para Far Cry 5, um jogo divertido pra caramba!

Novamente a loucura de Far Cry está presente
Variedade de modos de jogo
Um belo visual e um mundo de jogo atraente
O protagonista não deveria ser você
Falta profundidade na temática e na história

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Um Comentário

  1. Vou falar algumas coisas me incomodaram nesse jogo : o fato de você ser forçado a se encontrar com os chefes.
    O problema maior que vi foi o personagem não falar nada. Poxa podia colocar um audio masculino e feminino.
    Pelo oque pude entender na ultima missão uma explosão nuclear é vista no horizonte, fora do mapa do jogo, todos ali estavam se preparando,estocando e prontos para o cata clisma.
    No final o John Seed venceu, porque o jogador fica trancado com ele num bunker. Que mensagem isso passou ? O “vilão” estava certo o tempo todo ? Eliminamos os membros da família dele so por um dever com a lei ? De verdade o melhor final é no inicio, IR EMBORA.
    Falando sobre o tema religioso : pelo oque entendi de vdd, essa familia Seed sentiu que uma guerra nuclear,ou fim do mundo,apocalipse estava chegando e iria de fato acontecer,e decidiu avisar a todos e convencer a todos á força e se prepararem.
    Ubisoft tentando fazer apelo emocional e ficou essa bosta com recado “ele estava certo o tempo todo”.
    JONH SEED VENCEU, PARABENS !
    IR EMBORA É A OPÇÃO MAIS RACIONAL.

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