Tomei um susto nesta última terça-feira, dia 3 de abril, quando meu Xbox One apresentou erros que impediam o mesmo de ser inicializado. O console ficou preso naquela tela verde inicial com seu logo. Não ia adiante. Não conseguia abrir o guia e seu menu principal.
“O console morreu“. Esse foi o primeiro pensamento que me veio em mente na hora. Afinal vivi a geração Xbox 360 com dois consoles sepultados na ala das três luzes vermelhas da morte. Problema mundialmente conhecido pela sigla 3RL. É um tipo de trauma que o tempo cura, mas não desaparece.
Passo 1 – Status da Live
Fiz o que imagino qualquer um faz nessa situação: fui pesquisar na internet o que diabos estava acontecendo. O primeiro passo é descobrir se não é um problema com a Xbox Live. Por isso tenho no meu favoritos do navegador o endereço que monitora em tempo real o Status da Live. Estava tudo normal. Não confiante disso, ainda chequei o Twitter e fóruns da comunidade. Quando há problemas assim sempre tem alguém reclamando em algum canto. Não havia.
Passo 2 – Power Cycle
Importante explicar que nesse momento meu console ainda não havia acusado erros, os quais cito no título desta postagem. Ele estava eternamente na tela de carregamento inicial, o boot que o console faz para começar a funcionar. Então não estava pesquisando erros com códigos, apenas coisas como “Xbox One não liga, não carrega menu principal” e coisas assim. Tanto em português quanto em inglês. Não foi uma pesquisa muito eficiente.
Admito que não estava com muita paciência também. Já havia feito o restart do console. Aquele ciclo da energia (power cycle) onde se segura o botão de ligar e desligar do console até a energia cair e a luz da fonte mudar da cor branca para laranja. E não deu certo. Fiz mais algumas vezes, incluindo algumas onde o deixei fora da tomada de energia por vários minutos. Sem resultados.
Ínterim
Existe um terceiro passo. Vou mencioná-lo mais abaixo. Um que acabei não fazendo (e deveria ter feito). Porém não o fiz por não pesquisar o suficiente para saber que ele existia. Culpo minha ignorância. O ponto é que nesse momento já havia perdido das esperanças. Meu Xbox One morreu e ponto. Era o que estava pensando naquela hora.
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Xbox One S
Não estava tão desesperado assim porque tenho um segundo console em casa. Tive a sorte de ganhar um Xbox One S em um sorteio na Brasil Game Show em 2017. Um modelo que está no meu quarto, sem muito uso. Mas só porque esse aparelho tem uma certa birra com o meu roteador da marca TP-Link, em que a rede Wifi no padrão 5 GHz não funciona nele.
Não é um defeito do modelo S do Xbox. Cheguei a levar o aparelho na casa da minha mãe e, com o roteador dela, padrão do Vivo Fibra, o console se conecta na rede 5 GHz. É então um problema de comunicação entre console e meu roteador. Um que não consigo resolver, por mais que já tenha gasto horas e mais horas na internet tentando solucionar isso. Assumi que ou é uma falha do console com esse modelo de roteador ou uma falha do roteador com esse console em específico. Uma futura atualização do console ou do roteador pode resolver isso. Algo que ainda não aconteceu.
Enfim, por conta disso esse Xbox One S foi para o quarto, se conectando na rede normal de 2,4 GHz. O que é meio porcaria para se jogar online, mas boa o suficiente para Netflix. E o meu Xbox One clássico ficou na sala. Principal cômodo em casa para horas e mais horas de uso diário.
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Xbox One clássico
Como disse não estava desesperado, mas estava apenas… triste. Esse meu Xbox One é o guerreiro de aventuras. Foi adquirido em pré-venda, alguns meses antes de seu lançamento oficial em novembro de 2013. É a primeira vez que tenha um console assim, no começo dos primeiros dias de sua geração.
Ele tem então algo como 4 anos e alguns meses de uso. Uso frequente mesmo. Diário. Basicamente de ficar ligado 24 horas por dia. É um aparelho realmente parrudo que aguenta o tranco para ser usado dessa forma quase que masoquista. Um aparelho que está ainda para completar 5 anos em novembro deste ano. Está, ou estava, indo bem.
Foi aí que me veio a ideia. Pensei — Não está ligando. Tenho outro console aqui. Garantia pode esquecer e não tenho dinheiro agora para pagar qualquer conserto. Já sei: vou abrir e ver como está a situação dentro do danado!
Assumindo um risco: limpeza dentro do console
De fato muita gente faz isso. Manutenção preventiva como é chamada. Há quem pague para profissionais e tem aqueles com confiança o suficiente para fazer por conta própria mesmo.
O fato é que poeira acumulada dentro de computadores e videogames pode mesmo contribuir para diminuição da vida útil do aparelho. Poeira e sujeira ajudam a acumular calor, e estes são aparelhos que não podem sofrer problemas de aquecimento.
Como achei que já estava com o pé na jaca, não vi porque não arriscar. Admito que acompanhar a perícia técnica do Fábio Santana (PR da Capcom aqui no Brasil), o Fabão, lá na sua página do Facebook fazendo manutenção e restauração de antigas placas dos mais diversos videogames, como esse post dele, me deu uma certa coragem.
Mas veja só. Eu sou péssimo em desmontar coisas. A visão que me vem em mente para me comparar é a de um chimpanzé tentando desativar uma bomba. Em certo momento ele vai dar aquele grito característico do animal e jogar a bomba na parede ou socá-la na mesa. Esse sou eu tentando abrir aparelhos eletrônicos.
Ser canhoto e ter uma dificuldade inacreditável para lembrar qual é o lado em que se parafusa e desparafusa as coisas não ajuda em nada essa minha falta de habilidade motora. Estou apertando ou soltando essa merda? Nunca sei!
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Se guie pelo You Tube
Felizmente hoje em dia não é mais preciso ficar tentando adivinhar como abrir um videogame. Basta pular no You Tube e ver calmamente alguém fazendo isso. O que não significa que você fará com facilidade, mas a ajuda é significativa. No meu caso, encontrei esse canal e segui as instruções desse vídeo:
Consegui? Sim. Não vou mentir: como esperado cheguei a quebrar uma das travas de plástico da carcaça do console. Mãos de chimpanzé, lembra? Pois é. Parece tão simples abrir essas presilhas no vídeo, mas certamente a prática leva a perfeição. E eu não tinha nenhuma. Porém foi só uma e não fez diferença alguma na hora de remontar. A carcaça continuo firme. O suficiente para se algum dia tiver que abri-lo novamente conseguir a proeza de quebrar alguma das outras travas restantes.
A única coisa que não fiz seguindo o vídeo acima foi retirar a placa mãe do console da base de metal e soltar o ventilador para trocar a pasta térmica. Há um treco de metal em X embaixo da placa que olhei no vídeo e na hora eu e a minha esposa pensamos “você vai mexer nessa merda e conseguirá quebrá-la ou entortá-la, certeza absoluta“. Então não me arrisquei tanto assim.
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Todo cuidado é pouco
Tirando essa etapa da carcaça, e da peça em X que não toquei, o resto foi fácil, certo? Errado! A frágil fitinha eletrônica da parte frontal do console me fez suar frio para soltá-la. O cabinho preto que fica na plaquinha wifi na parte de fora da proteção de metal também é de causar arrepios. E o medo de quebrar? Mas não quebrei.
A verdade é que a desconexão de qualquer um dos componentes de placas dá medo de quebrar. Ou até soltar da placa ou arrebentar os finíssimos fios. Na boa? Quem tem problemas cardíacos não devem tentar isso. É preciso atenção, paciência e muito cuidado.
Felizmente não estraguei nada. Limpar até que foi fácil. Apenas lembre que não se deve assoprar componentes eletrônicos. Vai cuspir e deixar partículas de saliva na placa mãe para ver que maravilha vai ser. A limpeza deve ser feita com pincel, destes de maquiagem ou de pintar parede mesmo. Já vi usarem escova de dente também, principalmente em sujeiras mais teimosas e incrustadas.
A minha intenção era, para uma primeira vez fazendo esse tipo de limpeza, somente limpar o excesso. A poeira acumulada nas bordas e o que era visível de estar sujo. Ficou limpo ao fim, sem que fosse visível enxergar qualquer nível de poeira.
Infelizmente não tirei fotos. Deverei, mas estava tão tenso, tão chateado com a situação, crente de que algo ia dar errado na desmontagem (e montagem) que não me passou pela cabeça registrar o momento. Então o que tenho são apenas estas palavras. Mas o console aberto ficou assim:
Xbox One remontado, sem esquecer de religar nada, foi a hora de testar tudo de novo.
Passo 3 – Tela de Solução de Problemas
Esta é a etapa que deveria ter feito após o passo 2. Antes de cometer a loucura de abrir e limpar o console. Por que não o fiz? Em parte porque até esse momento da história que estou contando eu ainda não tinha uma tela de erro para me basear no que diabos estava acontecendo.
Foi aí que veio a luz no fim do túnel. Talvez o destino me recompensou por não ter quebrado nada dentro do console ao limpá-lo. Mas provavelmente foi ter deixado o Xbox desligado por mais de uma hora enquanto o limpava. O suficiente para que ele esfriasse por completo.
Só sei que após ligá-lo novamente. Passado alguns minutos, sou agraciado com a tela de erro que abre esta postagem. Algo deu errado e o problema agora tinha um nome: Erro 202. Não demorou muito para que voltasse a ficar assustado com o fato de que esse erro não estar sequer listado nesta página oficial da Microsoft que lida com erros do console.
Mas vamos lá! O que eu deveria ter feito e não sabia que poderia fazer? Induzir o console a abrir essa tela de Solução de Problemas (troubleshooting). As instruções para isso estão, se guiando pelo link acima, clicando no Erro 200 (vai abrir a etapa 2) e logo em seguida clicando em “não”. Chega-se nas instruções da etapa 3, a qual vou reproduzir abaixo.
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Forçar a tela de solução de problemas
Se você precisar usar a resolução de problemas de inicialização do Xbox novamente, siga estas etapas:
- Desligue o console e desconecte o cabo de alimentação para garantir que o console esteja completamente desligado.
- Aguarde 30 segundos e ligue o console na tomada novamente.
- Mantenha pressionado os botões BIND (localizado no lado esquerdo do console) e EJECT (localizado na parte frontal do console) e pressione o botão Xbox no console.
- Continue pressionando os botões BIND e EJETAR por 10 a 15 segundos.
- Escute os dois tons de “ativação”, com alguns segundos de diferença entre eles. Solte os botões BIND e EJECT depois do segundo tom de ativação.
- O console deve religar e ir diretamente para a resolução de problemas de inicialização do Xbox.
Pois é. Uma dica que certamente gostaria de ter conhecimento prévio de sua possibilidade.
Passo 4 – Atualização Offline ou Restauração de Fábrica
Há, por fim, duas maneiras para resolver esse problema de inicialização do Xbox One: tentar forçar uma atualização offline nele, via pendrive, ou restaurar ele para o sistema que vem de fábrica (default).
Para atualizar offline é indicado que a pessoa se guie pelas instruções que estão nesta página do suporte da Microsoft. Selecione a opção “preciso atualizar meu console offline” e logo em seguida a página lhe perguntará o modelo e indicará qual arquivo baixar.
O meu modelo de console baixou um arquivo de 5GB. Então era preciso de um pendrive acima de tal capacidade. O que não tinha em mãos na hora (o maior que tinha em casa era de 4GB). Sendo assim nem fui tentar essa opção. Chutei o balde e fui logo para a restauração de fábrica.
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Zerando tudo
Ao escolher a restauração que reseta tudo dentro do console o sistema lhe dá duas opções: manter os jogos baixados ou ser mais extremista e apagar tudo e recomeçar zerado, como se o console tivesse acabado de sair da caixa. Como já estava sendo radical deste o começo, obviamente fui na opção radical e escolhi deletar tudo.
Eu sei. Poderia ter tentando antes a atualização ou a restauração sem perda do conteúdo baixado. Mas como já situei toda essa sensação de desolação que estava me sentindo na noite de terça-feira (nesse momento da história já era madrugada de quarta) minhas expectativas eram bem baixas de que conseguiria reverter e resolver o problema. Estava de fato pessimista.
Ao fim, não é que deu certo? O console voltou à vida! Ao status de fábrica. Sem nada. Perdi os games, as capturas de tela que uso para os reviews aqui no site que não estavam na nuvem (eram poucas, felizmente) e algumas configurações de comportamento do console. Cadastrei novamente todos os perfis de conta que estavam nele.
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O que se manteve?
Como estou sempre jogando com o console online, não perdi nenhum save de jogo. Que maravilha esse mundo da nuvem, não? Cada game iniciado pela primeira vez nesse novo ciclo do console leva um minuto a mais para abrir. O console pede uma sincronização online e baixa o arquivo de save. Lindo isso.
Também não perdi as configurações de conta que possuem restrições. Como tenho um filho de 5 anos que tem seu próprio perfil no Xbox, sua conta tem várias restrições, como proibição para rodar jogos violentos, proibição de compra de conteúdo sem a minha permissão e afins. É bem chato configurar isso, mas ao recolocar a conta dele novamente, toda essas configurações subiram junto com seu perfil. Fiquei impressionado com isso.
Quanto aos jogos. Não perdi tudo que estou atualmente jogando. Felizmente uso um HD externo de 1TB para guardar os jogos. O que ficava no disco interno do console eram poucas coisas, uns 20 games, sendo boa parte jogos indies que era justamente coisas que meu filho joga.
Porém acredito que alguma coisa de Gears of War 4 estava dividido entre os discos, pois a instalação do game acabou sendo corrompido. Precisei desinstalar e começar uma nova reinstalação, coisa que ainda não o fiz. 90GB não é algo fácil de baixar em uma conexão de internet de 4MB. Ficarei algumas semanas de castigo, sem poder jogá-lo. Mas foi o único game grande que teve esse problema.
Finalizando
Enfim, o que aprendi com essa experiência é que o Xbox One é realmente um console impressionante. Longe de ser frágil como o Xbox 360 foi nos primeiros anos de sua geração. E que apesar de um erro assustador que impede seu início, não é necessário dar o aparelho como morto. Há soluções interessantes para tentar fazê-lo pegar no tranco e se auto consertar. Só é preciso saber que estas opções existem.
Passados alguns dias parece que está tudo bem com o aparelho. Não travou, não teve mais problemas de inicialização. Jogos e apps estão funcionando normalmente. Alguns games perdidos continuam baixando, mas ainda devo levar mais uma ou duas semanas até terminar estes downloads (estou fazendo aos poucos).
No mais, fica então esse relato e alguns dicas do que fazer caso seu console apresente algum problema parecido. Não o dê como realmente morto até tentar tudo que é possível fazer para ressuscitá-lo. É isso!