The Crew 2 | Direção sem barreiras! (Impressões)
Liberdade, diferentes tipos de cenários e veículos de terra, céu e água. Estes são os componentes da estrutura básica de The Crew 2. O game toma muito daquilo que deu certo no primeiro The Crew, de 2014, enquanto também assume uma nova identidade e abordagem, deixando de lado o enredo dramático do primeiro e se assumindo com um jogo mais solto, sem grandes amarrações ou tecnicalidade.
Para escrever estas impressões admito estar dividido, entre os altos e baixos que a sequência tem a oferecer agora em seu lançamento. Isso se dá porque essencialmente não acho o primeiro The Crew um game… ruim. É verdade que quando lançado o título sofreu duras críticas, porém no ponto onde a expansão Wild Run surgiu para dar um boost no game, já o achava bem mais divertido e assertivo em sua identidade.
Aqui, para o The Crew 2, houve essa necessidade de reescrever tudo novamente, deixando apenas o conceito da liberdade dada ao jogador em explorar um mundo gigante, uma versão condensada, mas incrivelmente detalhista de todo os Estados Unidos, suas principais estradas, cidades e pontos turísticos.
Mundos gigantes, por sinal, parece ser uma identidade que tem marcado todos os títulos de mundo aberto da Ubisoft nesta geração. Sempre maiores do que necessariamente precisam ser, mas nunca a ponto de ser motivo de reclamação daqueles que se tornam fãs deste gênero de jogo. O que pra mim é um baita ponto positivo.
Reality Show
A justificava para todo o contexto de The Crew 2, a história para servir de campanha, é uma espécie de reality show, a qual o jogador está participando, sendo afiliado a quatro grandes comunidades (disciplinas) envolvendo veículos dos mais diversos tipos. São basicamente divididas em Street Race, Off-Road, Freestyle e Pro Racing.
Porém não se apegue demais a esse detalhe da narrativa. O forte do título não é tentar contar grande história ou fazer o jogador se importar com estas comunidades, personagens ou até mesmo o protagonista em si. É apenas uma desculpa, bem pensada, para que tudo que p jogador faça no jogo não esteja tão fora a de órbita a ponto de causar qualquer tipo de incômodo. É fácil comprar essa ideia e seguir adiante, sem ficar pensando demais em como toda essa parte é apenas dispensável.
Todas as interações humanas são bem fracas. Animações que poderiam lembrar algo comum na geração passada de consoles. As falas, os diálogos e algumas narrações dentro de corridas também não expressam muita emoção, seja na dublagem ou no idioma original em inglês. São aspectos que deixam bem a desejar mesmo.
E é importante comentar isso porque os primeiros momentos ao ligar The Crew 2 são estes os elementos que mais se destacarão pela primeira meia hora, desaparecendo após isso. Retornam vagamente, mas nunca o suficiente para causar mais estranheza.
Nesse ponto o primeiro The Crew se dava bem melhor. Havia uma boa apresentação, com um enredo clichê (sim), mas que me comprava, ainda que o game demorasse muito para largar a mão do jogador. Em The Crew 2 a introdução vem, a curva de aprendizado é rápida e rapidamente é dado a liberdade para jogar como quiser, ir para onde der na telha e fazer missões na ordem que bem entender.
E assim, você está em um realty show por todos os Estados Unidos, ajudando quatro comunidades a ganhar mais seguidores e status social, para mais fama, dinheiro, veículos ainda mais irados e disputas cada vez mais insanas. Ficar preso em burocracias não é algo que vá querer ter aqui.
Terra da liberdade
Tão logo o mundo do game se abre ao jogador, todo o mapa dos Estados Unidos está livre para ser explorado. Por céu, terra e vias fluviais. O progresso é ditado pelo jogador, ao cumprir missões de categorias específicas. Na ordem que bem entender.
Não significa que todas as corridas e eventos do game estão liberados deste o início. Nada disso. É preciso ganhar missões para ganhar nível, que é ditado pelos números de seguidores que o jogador adquire ao realizar feitos e ganhar corridas e ventos. Ao subir de nível, mais missões espalhadas por todo o mapa do jogo são adicionadas, de todas as categorias possíveis.
As missões, normalmente divididas em corridas, seja contra outros veículos, seja contra o relógio, e eventos, faça manobras e ganhe pontos, são os objetivos principais do jogador. Porém há também objetivos secundários no modo do mundo aberto, como passar por radares de velocidade, por aros no céu ou tirar fotos de algum evento, local ou animal na área do mundo aberto.
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Mundo fotográfico
Esse Modo Fotografia, por sinal, foi uma das coisas que mais achei legal em The Crew 2. Ao passar por uma localidade o jogo te alerta sobre alguma coisa, como, por exemplo, “há um urso na área” e abre a possibilidade de rastrear esse objetivo fotográfico pelas redondezas. Se passou pela câmera do jogo, mesmo que você não veja o objetivo literalmente, o game vai lhe indicar que a oportunidade de foto aconteceu. Aí basta entrar no modo fotografia para congelar todo o mundo ao seu redor e procurar o ângulo da foto, ou rebobinar esse mundo parado por alguns segundos até encontrar.
Eu achei simplesmente genial. Passei um bom tempo das minhas primeiras horas dentro do game parando a qualquer oportunidade para caçar detalhes visuais dentro do jogo. Coisas pequenas que jamais notaria se não fosse o jogo ter tal modalidade. É muito incrível descobrir que uma ave, como um Condor, tem um trajeto, movimento e visual tão incrivelmente detalhado quando se congela o jogo e vai com a câmera até pertinho do animal. Incrível!
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Terra, ar e água
Outro ponto de mecânica de jogo que é digno de elogio em The Crew 2, e que o faz genuinamente criativo, é a possibilidade de andar por todo seu mundo com um carro, com um barco ou com um avião. E no modo livre é possível trocar estes veículos em tempo real, dada é claro, pouquíssimas limitações.
Limitações no sentido de que não é possível trocar para um carro estando com um barco em meio a um ambiente cercado por água. Nesse caso o jogador troca para um avião, sobe um pouco até chegar a terra firma e aí escolhe ser um carro. A mesma coisa para quando se está em terra firme e deseja virar um barco: torne-se um avião e depois vá para água. É claro que, se usar uma rampa, e for ágil nos controles, é totalmente possível pular de um local de terra para a água e se tornar um barco antes de atingir a água. Ou uma rampa em um píer e selecionar o carro antes do barco parar por completo no chão.
É esse elemento de liberdade que torna a exploração pelo mundo de The Crew 2 tão divertido. Muito mais do que se atentar se o game é tecnicamente melhor ou pior de outros gêneros da geração que são os favoritos da comunidade – eu sei que você pensou em Forza Horizon. A proposta do game não me parece querer bater de frente com tais blockbusters.
Tanto é que o elemento terrestre, corridas com veículos em asfalto e estradas, é a parte mais fraca e desinteressante do título. O brilho fica muito mais nas corridas aquáticas e com os desafios aéreos. Off-Road também cumpre bem seu papel. Estes sim oferecem algo singular. Tomando, com toda razão, boa parte do conteúdo de todo o jogo.
Não que os segmentos com carros sejam ruins. Não necessariamente. Particularmente os carros possuem particularidades dentre os seus diferentes modelos, sendo que os controles de uns são muito ruins, enquanto o de outros não. Isso para não dizer que há classes diferentes de veículos terrestres.
Motos, por exemplo, são bem legais. As corridas são diferentes, envolvendo rampas e circuitos fechados, e os controles, sempre com um estilo muito arcade combinam com tal proposta. Já os carros de drift, estes desafios sim não me agradaram muito, envolvendo pontos acumulados em tempo de derrapagem, muito mais do que desfrutar em si a pista ali colocada. Já as corridas de rua são mais agradáveis, mesmo que muito mais pelo cenário em si do que os carros usados. Por último, as missões de Monster Trucks são sensacionais, sempre acontecendo em arenas com rampas e até mesmo loopings, coletando fichas de pontos pelos trajetos.
Perceba que há diversidade até mesmo dentro de categorias de veículos no jogo. Terra não significa somente corridas. Há variedade. Assim como barcos também não se limitam somente a correr para chegar em primeira posição. Há um modelo menor de barco, chamado Jetsprint, que é fantástico, feito para corridas em canais pequenos e recheados de curvas.
Com os aviões também não são diferentes. Existem aviões com modelos diferentes, mas em grande parte o que difere mesmo são as missões, que podem ser corridas por pontuação, de manobras e até mesmo passar por aros em ângulos exatos. E o mais legal é que os controles são excelentes, sempre respondendo bem, intuitivos e acessíveis para qualquer nível de jogador. Qualquer um consegue se adaptar aos controles de The Crew 2, em qualquer cenário ou veículos.
E o mundo todo do jogo é um deleite. Há mudanças de clima e do tempo do dia, indo da noite, ao entardecer e amanhecer. Há chuva e há neve, ainda que nem sempre sejam elementos que causem grande impacto em corridas. Não mencionei com muitos detalhes, mas há corridas e veículos de Off Road, o que significa que o jogador, mesmo em terra, pode dirigir para qualquer lugar, sem nunca sentir a obrigação de que precisa estar no asfalto das estradas.
Vá para qualquer lugar a um botão de distância
Hum… não sei apontar se esse aspecto é de totalmente motivo para abrir um questionamento, mas o farei assim mesmo.
Estou me referindo a intenção de levar o jogador a qualquer lugar do mundo do game rapidamente, quase que instantaneamente para qualquer local de missão. O jogo faz isso e é impressionante quando se percebe que quase nunca leva mais do que 10 ou 15 segundos. Quase não há telas de loading ao longo de todo o game.
Isso é um ponto positivo, certo? Também acho, porém me incomoda que em contra partida isso tenha me desestimulado bastante a ficar passeando pelo mundo do game. No primeiro The Crew, me recordo de sentir a obrigação de ir do ponto A ao Ponto B como parte da imersão dentro da história que o game ali me contava. Lá ao destravar uma rota já viajada, aí sim não voltava mais, usando sempre a opção de viajar rapidamente. Aqui não há esse mesmo sentimento.
Isso muda bastante em The Crew 2. Tudo está aberto desde o começo, para ir a qualquer lugar, mesmo que lugares ainda não explorado. Então quase nunca fui por longos pontos entre missões, exceto nos momentos em que não queria exatamente ir para qualquer lugar. Quando estava, por exemplo, brincando no modo de fotografia.
É fácil, nesse sentido, não perceber quão grande é o mundo do game e quão escondido certas atrações dentro dele podem existir. O que acaba sendo uma pena que não haja uma sensação de que você está perdendo algo ao usar a viagem instantânea para qualquer ponto de seu mundo. Isso me incomodou um pouco. Seria como poder explorar todo o mundo de um Assassin’s Creed sem precisar abrir tais novos lugares e pontos de viagens. Parece legal a princípio, mas tira parte da graça da descoberta e meta almejada.
Isso para não dizer que, sob certa perspectiva, o mundo de The Crew 2 é um pouco menos recheado de extras do que talvez pudesse haver. Fotografias são mesmo a grande atração do modo livre. Há certa ausência de colecionáveis ou objetivos comuns ao gênero, como destruir cartazes, coletar moedas ou encontrar carros abandonados. Não que o jogo precisasse especificamente ter isso, pois são exemplos de outras franquias famosas, porém deveriam haver elementos nesse sentido.
Ainda em obras:
— multiplayer competitivo e a sensação do mundo online
Outro lado em The Crew 2, que é um tanto estranho, diz respeito as modalidades de jogo online e seu multiplayer. A começar que não existe, neste momento, qualquer modalidade de multiplayer competitivo, ou seja, jogadores contra outros jogadores.
O estúdio que o desenvolveu, a Ivory Tower, já se manifestou sobre este aspecto e confirmou que esse modo virá em dezembro, por meio de uma atualização que será gratuita a todos que possuírem o game. Menos mal que está a caminho, mas não deixa de ser estranho que não tenha nada, de um aspecto tão importante em um game deste gênero, nesse momento de seu lançamento.
Não significa que o título não tenha qualquer conectividade online. Pelo contrário. O mundo de The Crew 2 é online, significa que no modo livre o jogador sempre verá outros jogadores rodando por áreas comuns de seu mundo.
Porém, “ver” não quer dizer necessariamente “interagir”. Não há realmente nada de interessante nesse feature, exceto para dar uma sensação de mundo vivo e mutável. Ao menos não vi nada no game que me explicasse que posso fazer mais além de enxergar outros jogadores no mundo livro, nem mesmo opções para quando me aproximei destes. Sendo que tais jogadores não participam de missões de história quando se entra em tais áreas. São como fantasmas sólidos dentro do meu mundo. Não achei tão interessante assim.
Diferente deste recurso há a opção de convidar amigos para se juntar ao jogo. Isso já está funcionando, o multiplayer cooperativo. A possibilidade de se reunir com amigos para andar pelo mundo do game, tirar fotos juntos, disputar corridas entre si e também de fazer as missões da campanha juntos.
Porém, no geral, a sensação que tive é que The Crew 2 não tem, nesse momento de seu lançamento, uma forte imersão de mundo online e dos recursos que podem existir disso. Não é um jogo que te joga na cara que tem amigos batendo seus recordes, que te dá fantasmas de outros jogadores de forma automática em desafios que está tentado concluir, nem mesmo interação com jogadores que estão explorando o mundo online com você. Há jogos que aproveitam e usam de forma bem mais inteligente essa proposta de estar em um mundo sempre online.
Considerações finais
Para encerrar estas impressões acho que vale apontar que mesmo com pequenos problemas, The Crew 2 é um excelente jogo de mundo aberto com veículos diversos. Não sei se dá para colocá-lo como um game tecnicamente exclusivo de corrida. Certamente o jogo faz muito mais coisas, e muito melhor do que simplesmente lhe colocar para correr e chegar em primeiro lugar.
A ideia de permitir trocar de veículos em tempo real é uma de suas propostas mais interessantes, criando dinamismo e ritmo, sem burocratizar trocar entre missões de diversas modalidades e incentivando que o jogador jogue de tudo, de forma alternada, sem se forcar essencialmente em um tipo apenas de veículo. Tudo com viagens instantâneas eficientes e quase sem telas de loading.
Lamento apenas que o game não utilize de forma mais inteligente esse recurso de troca de veículos em tempo real. Existe um evento em que isso acontece, mas são somente cinco ou seis em relação a todo o game. Algo que não faz o menor sentido pra mim. Deveriam ter apostado mais nestes eventos. O que talvez ainda possa ocorrer com um pack novo de missões, por meio de DLCs talvez. A comunidade e a crítica andou questionando bastante isso nos reviews de lançamento e opiniões em comunidades. Certamente é um ponto que já chegou aos ouvidos dos desenvolvedores.
Outro elemento que me surpreendeu por não estar no game diz respeito aquele efeito de “dobra do mundo”, algo que chegou a atenção de todos quando o game foi anunciado na E3 de 2017. A abertura do jogo até chega a mostrar a dobra, mas isso nunca mais volta a ocorrer na prática dentro do jogo, enquanto o jogador está no volante. Uma tremenda pena.
Ao fim, The Crew 2 brilha quando se avalia que novamente a Ubisoft está entregando um game de mundo aberto gigantesco, com toneladas de missões e eventos para se explorar. Todo os Estados Unidos para se aventurar. Talvez em um terceiro The Crew, seja necessário expandir suas barreiras para o Canadá e México. Eu gostaria de ver algo assim acontecer.
A variedade de veículos e cenários de automobilístico que o jogo dá ao jogador é de se aplaudir. Dá para se passar horas e horas de um sábado de um final de semana alternando entre missões e veículos diferentes e nunca se sentir cansado.
Não é um game que te frustra com derrotas, deixando o jogador ter a sensação de constante progresso ao longo do game. E para aqueles que querem um maior desafio, existe modalidades de todas as missões em nível difícil, que se faz necessário aumentar seu nível dentro da progressão do game.
Nem mesmo a forma como o jogador precisa ganhar dinheiro para comprar mais carros, ou como suas peças são dadas quando o jogador ganha uma corrida não causam problemas ao jogador. Tudo é fácil de se entender e nada disso é uma barreira que lhe impede de continuar jogando e fazendo constantemente coisas diferentes.
E para quem gosta de customização, todo o sistema de cores, adesivos e pinturas em The Crew 2 são muito bem resolvidas. É fácil deixar o veículo com um toque mais pessoal, enquanto os mais especialistas na área podem facilmente ir além e compartilhar suas criações online, para outros jogadores.
The Crew 2 é um jogo recheado de atrações, ainda que derrape em pequenos aspectos em que poderia fazer melhor. Como não se trata de uma franquia anual, torna-se ainda mais atrativo tê-lo, para se jogar com toda a calma do mundo, de tempos em tempos, até finalmente ter feito toda a imensa pilha de tarefas que o game lhe entrega. O tempo aqui não é seu inimigo.