Star Wars – Marcas da Guerra | Aventura independente! (Leitura Concluída)
Demorei um longo tempo para terminar Star Wars – Marcas da Guerra. Muito mais do que inicialmente achei que levaria. Entretanto, para ser justo, essa não é meio que uma trilogia de livros que teve pressa para ser lançada e concluída, tanto aqui no Brasil, quanto lá fora.
Marcas da Guerra (amzn.to/2vZqFUi) foi lançado em novembro de 2015, pela Editora Aleph, dois meses após lançamento norte americano, em setembro do mesmo ano. O segundo volume da série, Dívida de Honra (amzn.to/2wiI89J), chegou às livrarias aqui em julho de 2017. Demorou um pouco mais por aqui, pois nos Estados Unidos veio um ano antes, em julho de 2016.
Fim do Império (amzn.to/2nVwU7f), a terceira e última parte, do que é chamado de Trilogia Aftermatch, recebeu neste mês uma data de lançamento no Brasil: o próximo dia 20 de setembro! Lá fora este último volume foi lançado em fevereiro de 2017. Também houve uma grande janela para sua chegada em nosso país.
Ou seja, trata-se de uma trilogia de livros que ainda estou em tempo para colocar em dia, com apenas alguma urgência mínima em relação ao lançamento do último livro da série agora no próximo mês. Enfim, o caso é que admito que foi essa morosidade que me levou a ir com mais calma na leitura de Marcas da Guerra. Porém agora que o finalizei devo iniciar tão logo seja possível, ainda em 2018, o segundo volume, para já ir me preparando para o livro final da trilogia.
Um bom “primeiro livro” de Star Wars
Já havia comentado aqui no site, em um artigo lá de 2016, que Marcas da Guerra é meu primeiro livro da franquia Star Wars. Nesse meio tempo aprendi mais sobre seu universo de livros da franquia, e sei que para toda uma comunidade de fãs há livros muito bons espalhados pela divisão da cronologia atual e da cronologia do selo Legends, que é como se encaixa todo o conteúdo que foi retirada da cronologia atual quando Star Wars passou a pertencer ao conglomerado Disney.
Marcas da Guerra não se destaca entre os melhores livros já escritos, ao menos pesquisando um pouco a opinião da crítica e de comunidades dedicadas a discutir o mundo de Star Wars. Porém pra mim, que estou entrando aos poucos nesse universo além dos filme, digo que Marcas da Guerra foi um ótimo primeiro livro.
Não precisei entender acontecimentos de livros anteriores ou grandes pontos narrativos do mundo dos filmes de Star Wars. Ele é coerente com o final da trilogia clássica, que é um ponto em que quase todo mundo conhece ao se tornar fá da série: a morte de Darth Vader, a explosão da segunda Estrela da Morte e basicamente a queda do Império.
Isso é o suficiente para entender Marcas da Guerra. Os eventos ocorrem antes da nova trilogia, que abrem com O Despertar da Força e seus novos protagonistas, Ray e Finn, e existe a preocupação de servir como ponto de partida ou prelúdio para os novos filmes da era Disney.
Quer dizer… sim, há um vínculo entre livro e Star Wars – O Despertar da Força, porém é muito “ter apenas para dizer que tem e ajudar a chamar atenção para a obra”. Só isso mesmo. Marcas da Guerra é uma história bem independente, tal qual O Despertar da Força também é. Sem que o filme precise da origem do personagem do livro, Temmin Wexley, que se tem uma pequena ponta no filme.
E obviamente há outras referências e personagens oriundos de outras obras. O capitão Wedge Antilles vem da trilogia clássica, assim como a participação do Almirante Ackbar. E a Imperial Rae Sloane volta a participar em outro livro da franquia, A New Dawn, prequel da série animada Star War Rebels.
O que quero dizer é que, pra mim, foi legal porque o livro parece mesmo ter como proposta ser o primeiro livro para novos leitores da literatura de Star Wars. É um evento isolado em relação à situação do personagens clássicos. Não tem exploração do universo Jedi em si, não se passa em múltiplos lugares ou tem passagens de tempo malucas que somente conhecedores da mitologia da franquia conseguem entender com maior aprofundamento. É um livro simples, de uma aventura com um grupo incomum de personagens que precisam se reunir afim de resolver um evento problemático a qual precisam lidar e enfrentar.
Inclusive Star Wars – Marcas da Guerra é um destes livros que poderia funcionar de forma independente, sem que precisasse se chamar um conto do mundo Star Wars. A roupagem o torna mais legal, é claro, mas funcionaria bem mesmo se não tivesse tal rótulo.
Recapitulando, mais um vez
Já escrevi um pouco sobre a trama e os personagens centrais de Marcas da Guerra em duas ocasiões aqui no site, tanto na matéria que já linkei mais acima lá de 2016, e também em uma outra, datada do ano passado, a qual discuti alguns pontos do meio do livro. Em todo caso, em pró da praticidade para quem está chegando por aqui agora, eis um breve apanhado do enredo de Marcas da Guerra.
O livro se passa em um momento após a destruição da segunda Estrela da Morte. Darth Vader morreu, Palpatine morreu e o Império caiu. Ou ao menos é isso o que a Aliança Rebelde gostaria de dizer. A bem verdade é que o Império ainda tem seus remanescentes. Almirantes, frotas e seguidores que ainda desejam e acreditar que o Império pode se reerguer novamente, mesmo sem Palpatine, sem um líder que se destaque sobre os demais. Eventualmente, pensando hoje e na nova trilogia de Star Wars, A Primeira Ordem vai ser a organização que veio justamente nessa sucessão do Império.
Os eventos apresentados no livro ocorrem em Akiva, um planeta da rede de planetas Orla Exterior, que é uma espécie de zona rural no mundo de Star Wars. São planetas afastados, onde a República ou o próprio Império não tinham interferência ou sequer bases ou patrulhas constantes para estar supervisionando os governos e suas sociedades. É planeta demais, gente de menos. Basicamente.
Pensando nisso líderes remanescentes do Império estão em Akiva, formando uma cúpula para decidirem o que fazer dali em diante. Devem atacar a República? Querem irá liderar este novo Império? Como reunir forças novamente após uma dura derrota? Ainda há soldados, frotas e equipamentos para uma resposta. Porém não há exatamente um líder. E não faltam candidatos, sedentos pelo poder e benefícios do cargo.
É neste ponto que surge a Almirante Rae Sloane, antagonista do livro, uma das personagens mais interessantes da obra. Sloane é figura central em boa parte da trama. O leitor acompanha suas articulações e todo um jogo político envolvendo a Almirante. Que é tanto inimiga dos mocinhos da trama, a qual já vou entrar em detalhes, quando dos abutres do Império que estão tentando subir ao alto escalão. Trata-se de uma forte personagem, inteligente, sagaz e perspicaz. Houve momentos em que tive que torcer por ela, no sentido de querer continua tendo-a como a antagonista da história, em comparação aos outros agentes do impérios, recheados de clichês já batidos e não tão interessantes quanto esta personagem.
Já na parte do mocinhos da história, Marcas da Guerra trabalha boa parte dos capítulos iniciais com histórias paralelas. Contando de forma fragmentada a história de cada um deles, sem nunca os reunir, até que haja, por fim, tal objetivo. Temos aqui a figura de Wedge Antilles, um piloto da série clássica, que sobreviveu ao ataque da segunda Estrela da Morte patrulhando Akiva. A princípio dá a entender que ele será o herói da história, mas na verdade o personagem serve apenas como escada para o novo elenco do livro.
E o elenco de Marcas da Guerra é bem dinâmico. Há Norra Wexley, agente da Aliança Rebelde, que nasceu em Akiva e abandonou seu filho ainda pequeno para lutar contra o Império; e então, é claro, tem Temmin Wexley, filho de Norra, que agora é um jovem que tem sua própria loja em Akiva e cuida das coisas por si próprio, arranjando confusões com tipos duvidosos do lugar. Temmin conta com uma guarda costas robóticos, o Sr. Ossudo, que é um dos personagens mais legais do livro, afinal Star Wars sempre robôs bacanas e que ficam em nossa memória. O Sr. Ossudo é um destes robôs que no livro dá a impressão de estar sempre gritando (suas falas são sempre com todas as letras em maiúsculo) e quando surge a necessidade, o Sr. Ossuda é bom de briga. Sua presença no ato final do livro é sensacional.
Aí temos mais dois personagens principais, Sinjir Rath Velus, ex-agente do Império que está de saco cheio de tudo e não quer mais saber de escolher lados. Auto declarou sua aposentadoria e só quer agora beber em paz. Ao menos é isso que ele pensa. Para o Império ele é mais um traidor que merece morrer; e há Jas Emari, uma caçadora de recompensas que está em Akiva justamente por conta da reunião da cúpula do Império. Muitos alvos valiosos, mas loga a caçadora descobre que já gente demais e chances de menos para pegar alguns. Ela eventualmente vai se meter em problemas por conta disso.
E assim Marcas da Guerra constrói essa primeira saga de sua trilogia. Trabalhando estes personagens, suas histórias, um pouco do passado de cada um e suas motivações. É claro que eventualmente as tramas vão se conectar. E quando isso acontece, o cenário criado é natural. Não soa forçado ou mal feito. É crível e plausível a aliança destes personagens em pró de um objetivo, que inicialmente não é necessariamente igual para todos.
O que achei? (sem spoilers)
É um livro de aventura. Muito mais do que uma Ficção Científica em si. Claro, há robôs, naves e toda aquela parafernália do mundo de Star Wars, mas tudo isso acaba sendo apenas uma roupagem. Para os personagens é tudo mundano. Não há um elemento além dos padrões de seu próprio mundo. Marcas da Guerra é uma história sobre um grupo de pessoas que se unem em pró de invadir, resgatar e derrubar um grupo antagonista que está tentando novamente tomar o poder para si. Não estou dizendo que isso é ruim, pelo contrário, eu gostei exatamente que tenha sido isso.
Gosto de como o livro em diversos momentos se propõem a discutir políticas e que não faz diferença, para alguns planetas, se é a República ou o Império que está no poder. As pessoas estão ali vivendo suas vidas, e não tem impacto para elas quem está no comando de tudo, até, é claro, a guerra chegar e destruir suas vidas. E os danos colaterais surgem de ambos os lados.
A história pinta muito bem essa realidade da guerra. Quem está no meio dela sofre, independente de apoiar lados ou não. Império ou República, no final não importa. Há uma reflexão muito boa dentro da obra onde um personagem diz que mesmo que a República tivesse uma vitória plena sobre o Império, bastaria um tempo deles no poder até que a própria República viria a se tornar o novo Império. E que mesmo que não fosse o case, oposição sempre irá existir e estes conflitos nunca iram acabar. E de uma certa forma isso é um pensamento verdadeiro, e assustador.
E aí há a reflexão do soldado e do alistamento em pró de suas crenças e o que uma pessoa está disposta a se sacrificar. Isso também é muito interessante na história. A perspectiva de Norra, que está lutando pelo que ela acredita ser a justiça, enquanto teve que abandonar seu filho pequeno (algo comum nos contos de Star Wars). É claro que ela se ressente por isso, ao mesmo tempo que não se arrepende de sua decisão. Já na outra ponta há Temmin, que odeia essa guerra entre Império e Aliança Rebelde justamente porque esse cenário levou sua mãe e qualquer coisa que ele pudesse ter como família quando criança. O reencontro e todo o atrito dele com Norra no livro é muito bem feito.
Sinjir é outro que tem bons pontos de argumentação no livro. Cansado do Império, cansado da guerra, cansado de tudo que já fez em pró de uma organização política. Ele é quem diz que não importa lados, que a guerra não vai acabar e que estes ciclos entre guerra intensa e momentos de suposta calmaria vão sempre existir. E a forma como ele entra de cabeça dentro da missão de aventura no livro é legal. O leitor nunca sabe com plena certeza qual dos lados ele está de fato jogando, mesmo entendendo que ele está realmente cansado desse jogo político.
Finalizando
Star Wars – Marcas da Guerra é um livro divertido. Não tem como proposta mudar sua concepção em torno do universo de Star Wars e nem de acrescentar grandes tomos de novidades em torno de conceitos da franquia. É apenas uma aventura, reunindo novos personagens, tão interessantes quanto são os personagens desse universo. Não é uma obra para trazer uma grande reviravolta, ao mesmo tempo que não está nos fazendo perder tempo.
Há ótimas cenas de ação, com batalhas, tocaias, armadilhas, coisas gigantescas sendo destruídas. O leitor não vai ficar sonolento ou entediado acompanhando sua história, ainda que seja um livro surpreendentemente grande. Mais do que talvez fosse necessário, mas totalmente compreensivo colocando em vista que suas sequências levaram tempo para serem lançadas. É conteúdo para se entreter sem pressa.
Outro ponto legal é que o livro tem diversos interlúdios em que constrói um plot maior para vai ser trabalhado dentro da trilogia em si. Dou como exemplo um rápido capítulo em que a narrativa principal pausa para que o leitor seja levado até Han Solo e Chewbacca para tomarmos ciência de onde e o que ele está fazendo, sendo que esse ponto narrativa irá retornar com maior evidência no segundo livro, Dívida de Honra. Ou seja, mesmo que o livro tenha como foco um local e personagens que estão desconexos do resto do mundo de Star Wars, o leitor ainda toma conhecimento de onde os amados personagens famosos estão na linha do tempo e abre a possibilidade de que eles aparecem dentro da trama principal em eventos e livros futuros. É uma costura lateral muito bem planejada.
Volto a dizer, talvez Marcas da Guerra não seja o melhor livro do universo da série. Talvez os fãs prefiram livros que trabalhem contextos de elementos que estão no DNA da franquia, como origem da Força ou aventuras com personagens mais clássicos. Não há nada disso aqui. O que pra mim funcionou com perfeição para adentrar em seu universo de livros. Me tornei fã dos mocinhos e me animei para ver novas aventuras com eles no próximo capítulo da trilogia. Então acho que o livro cumpriu seu propósito.
Agora é hora de partir para Dívida de Honra…