Mega Man X Legacy Collection Vol. 1 | Fórmula X! (Impressões)

O futuro mudou. Não há mais Dr. Willy ou sequer a família, Dr. Light, Roll ou Rush. Mega Man não é mais aquele garoto de um passado de confusas memórias. Fora que a paz entre seres humanos e robôs ainda não se concretizou. Mega Man X é aquilo que muitos games sonham em ser quando se trata de reinventar uma série famosa ou simplesmente reinicia-la.

Trata-se de um clássico absoluto. Um dos melhores jogos de Mega Man e uma de suas melhores versões. E agora está novamente reunido em um bonito pacote de coletâneas chamado Mega Man X Legacy Collection. Lançado no último mês de julho para Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC. Em todas as plataformas, para todos os fãs, sem exceções.

E vou tocar no ponto a respeito da coleção estar dividida em dois pacotes, Volume 1 e Volume 2, só que mais à frente deste texto. Para agora, basta saber que estas são as impressões do Volume 1 de Mega Man X Legacy Collection, composto pelos primeiros quatro Mega Man X. Também abordarei o modo extra, e também inédito, chamado X Challenge.

Oportunamente também farei as impressões do Volume 2, composto por Mega Man X5 até X8. Não se preocupe, pois isso também está nos meus planos ao fazer essa viagem ao passado que conta o futuro de Mega Man.

X, Zero & Sigma

Quando digo lá no início que Mega Man X é uma reinvenção digna de inveja é porque muita coisa muda em relação ao Mega Man original. Personagens icônicos estão mortos, o futuro é mais sombrio e caótico, há novos personagens que causam um impacto tão grande quanto àqueles que não mais se fazem presente aqui; e o vilão é ainda mais assustador do que o Dr. Willy jamais conseguirá ser.

Até mesmo mecanicamente Mega Man X é um tremendo avanço em relação aos antigos jogos da série clássica. Arrisco errar pontuar todas suas invenções, mas dá para dizer que foi aqui que muita coisa se tornou popular na série. A escalada em parede, os diferentes tipos de dash (impulso), seja no chão ou no ar, as partes da armadura e o upgrade do X Buster original em conseguir carregar um terceiro nível de tiro, além do mechas e dos tanques de energia. E é como disse, não estou afirmando que tudo isso surgiu aqui, mas foi na série X que tais elementos se tornaram parte central destes jogos. É o que o faz ser diferente, ao mesmo tempo que se consegue fidelidade à fórmula original da série clássica.

Gosto dos segredos em muitos dos jogos de Mega Man X. Seus desenvolvedores na época sabiam muito bem esconder coisas pelos estágios, além de valorizar muito o fator replay, de fazer o jogador desejar retornar a fases já vencidas. Acho incrível a temática mais adulta, o tom melancólico dos encerramentos destes jogos – com o Mega Man ainda preocupado até quando essa guerra irá perdurar e se a paz pode ser algo almejada. Gosto como o Sigma passa de um ex-companheiro a uma das maiores ameaças da humanidade, e o quanto ele vai ficando insano a cada nova sequência da série.

E não posso esquecer do Zero, esse personagem que veio do nada é quase tirou o trono de Mega Man. Zero é super popular e com o passar do tempo ficou quase que obrigatório sua presença nos jogos, assim como a opção de jogar com o personagem, algo que só veio a acontecer a partir do terceiro game da franquia. O senso de autossacrifício do Zero é outro ponto que marca muito os fãs da série. Ele é o herói que está sempre pronto a dar sua vida para salvar Mega Man. Como é possível não acha-lo fenomenal? Impossível.

Volto, então, a afirmar, a série Mega Man X é aquilo que muitas IPs tentam até hoje: encontrar o ponto onde uma série pode se reinventar, fazer diferente, mais ainda respeitando suas regras. Um futuro sombrio, novos personagens, um novo antagonista, uma jogabilidade que adiciona muitos elementos ao jogos, com novas mecânicas e formas novas de encarar o todo. Até mesmo o protagonista não é exatamente o mesmo da série clássica. X é o Mega Man, mas é também o X. Mais adulto, mais consciente da guerra a qual está travando e da árdua tarefa de colocar um fim a tanta destruição.

A coletânea — X1 até X4

No que diz respeito aos títulos selecionados é bem óbvio afirmar que são os melhores que a série como um todo tem a oferecer. Os quatro primeiros games são excelentes, icônicos e inesquecíveis. Bem diferente do que ocorre com os últimos dois (X7 e X8), que estarão na discussão do segundo volume dessa coleção.

Mega Man X1 é o ápice da série? É chato afirmar isso. Não concordo, ainda que certamente ele seja o mais assertivo de todos. Existe uma preocupação grande com detalhes, histórias e até mesmo mecânicas do jogo. A história de seu desenvolvimento se perdeu um pouco no tempo, então não quero atribuir todos os méritos do game ao Keiji Inafune, que é conhecido como o criador do Mega Man clássico. Certamente Inafune tem aqui um de seus melhores trabalhos, mas não sei se é correto atribuir todo o mérito somente a ele. A meu ver toda a equipe de desenvolvimento, seja os escritores, produtores, programadores, criação de arte, tudo mesmo em Mega Man X1 acerta em cheio.

As batalhas de chefes são memoráveis, seus poderes, até suas fraquezas se pensar fazem sentido. A forma como a vitória sobre alguns deles faz com que uma fase de outro chefe sofra mudanças. Toda a mecânica do dash, da escalada na parede, na variedade de inimigos em cada estágio e como poucos se repetem. Há uma coerência muito boa. Fica difícil apontar erros nesse primeiro título.

Até mesmo a batalha contra Sigma é icônica e define basicamente o formato de todos os confrontos finais presentes nos game seguintes. O jogo assume inclusive que os tanques de energias são essenciais, trazendo até mesmo locais em quê o jogador pode enchê-los antes do confronto final. Algo que admito ter sentido falta nos jogos posteriores, sendo que estes pontos existem, mas não como é aqui neste primeiro título.

Mega Man X2 também consegue se sair muito bem nostalgicamente. A sequência traz novidades em relação ao jogo anterior, como os chefes secretos e a recuperação das partes de Zero que interfere em como o confronto final acontece no game. Também é um game redondo, muito bem feito, mas talvez um pouco menos memorável do que o primeiro. Talvez porque ele soe mais como uma expansão das ideias do jogo original do que uma sequência em si. Difícil explicar. Há ótimos estágios e bons chefes, mas a minha memória afetiva dá mais méritos ao primeiro título.

Só acho chato, em X2, que o jogo não explique diretamente certos aspectos, como ter que parar de derrotar os chefes principais pois caso contrário os chefes secretos acabam fugindo. Uma informação que obviamente deveria estar no manual impresso do cartucho e que se perdeu nesta versão digital.

Isso alias, de falta de explicações e informações, volta a ocorrer com muito mais frequência em Mega Man X3. Não há tutoriais no game que expliquem o uso das plataformas dos mechas ou que os chefes especiais não funcionam como no X2, sendo necessário justamente eliminar mais chefes principais para que o último aparece nas salas secretas. Isso me tomou um tempão nesse jogo até aprender pesquisando na internet.

Mega Man X3 aliás é um caso especial nessa coletânea, pois ao contrário daquela lançada no PlayStation 2 e Nintendo GameCube (em 2006) que também reuniu alguns jogos da série, esta é a primeira vez que a Capcom consegue resgatar a antiga versão de Super Nintendo que, ao contrário da versão de PSOne, muitos fãs atribuem exatamente como a melhor versão.

Não quero entrar em detalhes técnicos demais, mas basta saber que a versão de SNES de X3 tem uma trilha sonora mais semelhante com os primeiros dois games, em chiptune, enquanto no PSOne foi adaptado uma faixa mais instrumental e modificado alguns efeitos sonoros. Cheguei a ouvir algumas comparações no YouTube e de fato a de Super Nintendo bate melhor aos ouvidos. O caso, entretanto, é que seja no SNES, seja no PSOne, a trilha sonora de Mega Man X3 é de doer após um tempo, pois ela é curta e entra em um looping terrível nos estágios. Chega a dar nos nervos.

Porém em termos de chefes ou estágios, não acho que o terceiro título seja ruim. Certamente há algumas coisas estranhas e sendo um terceiro título, seguindo uma mesma fórmula, uma mesma direção de arte, não é de se surpreender que seja o título menos expressivo do volume 1. Talvez o jogo mais raro da série, mas logo se percebe como isso é justificável.

Ao menos aqui, em X3, pela primeira vez na série, é possível jogar com o Zero pelas fase do jogo, ainda que não seja possível usá-lo em chefes; e ele ainda não tinha a capacidade de assimilar poderes dos mesmos. Só é chato mesmo perceber como ativá-lo, já que essa opção se encontra escondida no Menu de Pause do jogo. Outra informação perdida na versão sem manual impresso para se consultar.

Por fim, quanto a Mega Man X4 talvez este seja o que menos me deslumbrou como achei que conseguiria. Certamente minha memória afetiva me pregou uma peça. Bem diferente do que aconteceu quando recordei do belíssimo Mega Man 8 na coletânea clássica.

Mega Man X4 não é tão bonito ou bem resolvido quanto Mega Man 8. E ambos foram lançados em uma mesma geração de consoles. E note que originalmente Mega Man 8 saiu primeiro, em 1996. X4 foi lançado um ano depois, em 1997. Não sei explicar o que aconteceu. Talvez, como disse, seja o contraste com os games anteriores. A tela de Mega Man X4 é muito aproximada (parece estar constantemente em zoom), mais do que talvez precisasse ser. Isso causa uma sensação claustrofóbica ao jogá-lo.

Também não me agradou como alguns itens ficam escancarados nos estágios, enquanto outros são muito bem escondidos. Parece que há uma falha em tornar a caçada por segredos intuitivo ao jogador. Falta ritmo nessa busca pelos tanques, pedaços de armaduras e coração, algo que é bem resolvido nos jogos anteriores. Acaba sendo não sendo divertido se considerar que as fases são curtas e divididas em atos. Sem espaço para procurar além do que é possível enxergar.

Não estou dizendo que Mega Man X4 é um jogo ruim. Muito menos acho que tenha envelhecido mal. O jogo tem uma boa direção de arte para a remodelação gráfica que sofreu. A trama dele escala em um nível muito maior do que o terceiro game tenta fazer. Há novos personagens (que são ótimos) e basicamente duas campanhas, uma com X e outra com Zero. Com finais diferentes, poderes diferentes e situações em que o jogador tem que agir de forma diferente. É um bom game, ainda que não necessariamente difícil.

Gosto de como essa fase no primeiro PlayStation tem muitos jogos com cenas de animação tradicional, que é algo que se repete aqui em X4. A abertura do game é magnífica, assim como algumas das cenas iniciais e seus finais. Uma pena que a resolução se manteve original à época em que forma lançadas, o que estraga um pouco sua beleza nos monitores e televisores atuais.

E que fique claro, apesar dessa sensação de “não ser tão legal quanto me lembrava” ainda acredito que se um dia a Capcom resolver fazer um Mega Man X9 é exatamente desse ponto da série que ela deveria tomar como base para a arte visual de um novo jogo. Nada de voltar a geração dos poucos bits do Super Nintendo ou fazer algo totalmente tridimensional. Acho que Mega Man X4, assim como Mega Man x5 e Mega Man 8, são ótimos exemplos de como estes jogos atingiram um charme que até hoje não mais se repetiu na franquia Mega Man. Talvez Mega Man 11 mude isso. Saberemos daqui algumas semanas.

Confrontos em dobro

Sobrou para se discutir o Modo X Challenge, que é a adição inédita da coletânea. Diferente das coletâneas de jogos clássicos de Mega Man, em que a Capcom remontou fases e os jogadores correm contra o tempo para finalizá-las, aqui houve a fusão de dois chefes de jogos misturados da franquia X. E não necessariamente limitados apenas aos chefes do Volume 1 da coleção.

O resultado é uma modalidade difícil e que desafia os mais rápidos no controle. Eu admito que tentei um pouco no modo Normal e tive calafrios. Não fui muito adiante. Felizmente há um modo Fácil, em quê o dano de Mega Man é consideravelmente reduzido, enquanto os chefes perdem muito mais energia e são derrotados mais rapidamente.

É um mix de confrontos difíceis de explicar. Os chefes agem de forma isolada um do outro, eles não cooperam entre si, mas é uma dança louca que o jogador precisa fazer para não tomar dano de algum deles. Muitas vezes chega a ser impossível escapar.  Mas gostei de como esse modo entrega momentos e formas de confrontar os diferentes chefes clássicos e conhecidos da série. Só lamentei que alguns dos chefes voltem a se repetir em alguns desafios, porém em parceria com algum outro chefe ainda não utilizado.

Enfim, é uma modalidade legal de se brincar. Tem placar de líderes online e, para os mais masoquistas que vencerem o nível normal de todos os desafios, há ainda um modo Difícil, o que deve dar pesadelos naqueles que ousarem tentar. Mas para isso é preciso vencer todos os estágios do modo normal.

Ao final destas impressões há um vídeo de 40 minutos apresentando mais desse modo. Tanto no Normal, a qual fracasso miseravelmente, quanto os primeiros desafios na modalidade mais fácil. Para quem ficou curioso vale a pena espiar.

Considerações finais

Mega Man X Legacy Collection Vol. 1 é o sonho dos fãs da série. Simples assim. É aquilo que precisa ultrapassar essa geração de consoles e continuar sendo vendido pela Capcom para sempre. É sensacional, é nostálgico, é meio mágico. Todos os quatro jogos que compõem esse primeiro volume apresentam bons desafios e pouquíssimos sinais de envelhecimentos.

Todos usam sistemas de save, então o jogador não precisa ficar anotando password, como eu fazia na minha infância. Os jogos tem opções de diversos filtros de vídeo, podem ser jogados na resolução original ou esticados caso você seja um destes malucos que prefira assim. Segredos foram mantido, a jogabilidade responde muito bem e há esse sentimento de experiência original que estes quatro games quer lhe entregar. E conseguem com sucesso.

Críticas? Posso apontar algumas. Poucas, mas que não tiram o brilho do resultado como um todo. Acho uma pena que a parte da apresentação do game, o menus que redirecionam para cada um dos jogos, não tenham recebido, por exemplo, uma localização em português. Os jogos originais obviamente não teriam como receberem tal localização (não é padrão isso acontecer, então não é de se esperar), mas existe toda uma galeria de artes, explicações e informações no museu do game que não fariam de todo mal estar em nosso querido idioma.

Inclusive o longa animado, The Day of Σ, que foi lançado em uma versão remake de Mega Man X no PSP, e que serve como prequel para X1 poderia ter sido legendado. Há o curta inteiro no YouTube assim. É um pecado a Capcom não ter pensado melhor nesse aspecto de localização.

Além disso ao optar por usar a versão de Mega Man X3 de SNES na coleção, também perdeu-se as animações que foram criadas quanto o game saiu para PSOne e Sega Saturn. Claro que não poderiam estar no game de SNES, mas poderiam ter sido recolhidas para uma galeria no museu. Não teria achado isso ruim. Fora que não ter isso perde-se valor em uma coletânea que tem como proposta ser completíssima.

A própria galeria de imagens no museu, especialmente dos bonecos e action figures sofrem com a ausência de opção de dar zoom em certas imagens. Algumas são bem pequenas e não poder preencher toda a tela da televisão com elas acaba sendo um pouco triste.

Enfim, são detalhes que tiram alguns pontos de capricho sem dúvida alguma, mas não infligem mal nas horas de diversão que certamente o título consegue entregar. Para aqueles que são fãs de Mega Man e da série X, a coletânea, ao menos este primeiro volume, com certeza é essencial.

Galeria

Extra | 40 minutos do modo X Challenge Vol. 1

Reune o melhor da série X
Bom registro histórico no Museu
X Challenge é uma boa sacada, com alto desafio
Mega Man X1
Mega Man X2
Mega Man X3
Mega Man X4

Sair da versão mobile