Análise | Nefarious
Disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC
Chegou a hora de ser o cara mal da história.
- E se ao invés de ser o herói do jogo você pudesse ser o vilão da história toda?
- E se ao invés de salvar a princesa, fosse você quem a sequestrou?
- E se ao invés de derrotar o vilão, você devesse derrotar o herói?
Todas estas frases nos fazem pensar no famoso caso que acontece nas histórias em quadrinhos de vez em quanto: o famoso “E se…”. O jogo independente Nefarious consegue transformar essas ideias em realidade. O título foi desenvolvido pelo estúdio StarBlade, após uma campanha no Kickstarter, sendo financiado para sair ao PC em janeiro de 2017. Mais recentemente, em 14 de setembro de 2018, Nefarious debutou nos atuais consoles: PlayStation 4, Nintendo Switch e Xbox One.
Como esperado pela descrição, este é um game que abrange os gêneros de ação e plataforma, com belos visuais 2D. Não possuindo multiplayer. Esta gênero de plataforma era mais comum antigamente com os jogos 2D, e podemos nos lembrar dos clássicos Sonic, Mega Man e Mario. Para quem esteve em outro planeta pelos últimos 20 anos, jogos de plataforma são aqueles onde andamos pelo cenário, geralmente da esquerda para a direita, sempre em frente coletando itens, derrotando inimigos, completando fases ao chegarmos no fim da mesma, e enfrentando eventualmente chefes aqui e ali.
Nefarious está, infelizmente, todo em inglês, e o entendimento básico da língua facilita muito a navegação e saber aonde ir. Mas quem quiser pode jogar na tentativa e erro também sem problema.
E o que faz um vilão?
O jogo lhe coloca no controle de Crow, um supervilão que tem como meta pessoal completar o seu temido raio da morte e consequentemente dominar o mundo. O problema é que a arma usa um tipo especial de energia para poder ser operada, a energia da… realeza. O que vai fazer com que ele viaje por vários reinos para sequestrar membros da realeza, geralmente suas princesas (haverá surpresas nessa regra, vai por mim).
Obviamente os inimigos enfrentados vão ser membros da polícia e exercícios dos reinos que estão protegendo seu respectivo lar. Eles são variados (alguns voadores, os clássicos buchas de canhão e os peso pesados) e são encontrados aos baldes pelas fases, então se prepare para encrenca, mais pela quantidade do que pela dificuldade. Já nas grandes batalhas finais de cada fase vamos encarar os respectivos heróis dos reinos e é aí que a coisa pode ficar meio diferente dependendo de quem vamos enfrentar
Não vou dizer qual “herói” é de cada reino para não dar spoiler do game, mas temos um herói parecido com o Mega Man, temos um grupo de aventureiros ao estilo Final Fantasy (onde Crow fica gigante, virando o clássico monstro gigante que estamos acostumados a enfrentar nos games da Square), temos um viking, um Megazord, um zangão e por aí vai. E é claro que não vamos enfrentar todos eles com as mãos vazias né, também contamos com alguns robôs gigantes e com uma mini nave (quase igual aquela do Dr. Robotinic do Sonic).
É interessante estas batalhas porque meio que mudam a perspectiva do jogador. Estamos no lado do vilão, então obviamente ele vai usar algo grandioso para lutar contra os heróis. É uma inversão de papéis. Todo o game trabalha isso afinal.
Nas horas de folga, Crow pode ficar andando por dentro da sua base/nave maligna e conversar com seus capangas humanos e robóticos, fazer upgrades (de sua energia, arma, granada e armadura) e conversar com as princesas raptadas. É destas conversas com as princesas que temos a abertura de fases extras, quando vamos ter a ajuda de algumas delas em missões para buscar tesouros, assaltar trens ou até participar de um programa de TV. Completar todas as fases extras nos deixa com 12 mundos para visitarmos e possibilita a escolha do final bom para o jogo em determinado momento. Então, não se esqueça destas missões.
Quanto aos upgrade disponíveis para compra, temos o aumento de energia (permite “apanhar mais” e é representado caricaturalmente por um coração endiabrado no canto da tela), da arma principal (o braço biônico de Crow que pode dar golpes carregados, em direções diferentes ou se multiplicar) da granada (aumento da quantidade disponível e efeitos, como a que gruda em inimigos e a que se transforma em um míssil). Os upgrades dos golpes da mão biônica não afetaram a minha jogabilidade como eu achei que pudesse afetar e de todas as “diferentes” granadas somente a de míssil que me foi útil em uma fase específica. Esperava que estas mecânicas se destacassem mais, mas no geral o básico delas cumprem a função e as demais não dão realmente alguma sensação de necessidade ou progressão desta parte da mecânica do jogo.
As fases têm uma variedade de cenário de fundo, se adequando ao estilo da princesa. Por exemplo, a princesa Ariella é uma espécie de viking e conseguintemente seu mundo, seus protetores e inclusive seu herói possuem toda essa temática. Fora isso temos plataformas para pular, poços que se cairmos vamos morrer e a classifica necessidade de sempre seguir em frente. Cada uma das fases disponíveis (incluindo as extras) apresenta uma temática diferente.
Todas fases contam com vários coletáveis que incentivam a exploração, sendo estes itens discos de música (que podemos colocar para tocar numa jukebox na nave), coroas que mudam a classificação ao final da fase e as moedas que servem para comprar upgrades (de sua energia, arma, granada e armadura), também na nave de Crow.
Na verdade podemos dizer, pelo menos após jogar Nefarious, que a jornada de um vilão muitas vezes pode ser parecida com a de um herói, mas ao contrário. Só que claro que há dores de cabeças exclusivas da vilania, como captar recursos financeiros para bancar todos os robôs gigantes que os heróis tendem a destruir, o pagamento de salário para os capangas e sem esquecer, é claro, o combustível da nave gigante que usamos como base maligna. Vida de vilão não é moleza!
O controle maligno
Um detalhe: achei estranho dar prosseguimento aos textos usando o botão B, quando estamos acostumados a usar o A em outros jogos. Isso tendo como base o controle do Xbox One, pois no Switch estas letras são invertidas. Tirando esse detalhe, tudo se comporta quase tudo bem no controle, com um botão para golpes normais, outro para pulo, um para as granadas (os de ataque tem como alternativa os gatilhos superiores também).
Já os segmentos que exigem pulos milimétricos vão ser complicados pelo personagem pode escorregar ao cair na plataforma, o que resultará em sua morte. Os pulos são meio que inconsistentes no controle, o que talvez para um jogo de plataforma isso seja algo realmente ruim. Toda vez que morrermos retornamos do ponto de salvamento mais próximo e perdemos as moedas usadas para comprar as melhorias de armas, armaduras e etc do protagonista. Tudo bem básico e nada mais que merece alguma atenção por aqui.
Um herói sabotou o jogo?
Preciso esclarecer algo. Enquanto joguei Nefarious, que em sua essência é bem curto e foi terminado facilmente em 2 dias, sofri algumas vezes com uma espécie de bug bem chato. Explico.
O jogo não possui a opção de pausá-lo (estranho, certo?), então se o jogador precisar ir fazer alguma coisa durante a sua jogatina, o melhor a fazer é deixar Crow em um local seguro e o controle parado, entretanto tive problemas com isso. Todas as vezes em que precisei fazer isso o jogo voltou sozinho para a tela título e perdi o progresso da fase. Outra situação que me ocorreu foi ao fazer a combinação de teclas para dar as capturas de telas para este texto e isso fazer o jogo também sair e voltar a tela título. É muito estranho.
A trilha sonora é aceitável, se encaixa no palco em que você está, mas não tem músicas “cantadas”, então você não vai cantarolar no chuveiro nenhuma música do game infelizmente. Sendo um vilão e estando em sua jornada para a conquista do mundo, as músicas nas batalhas com os heróis deveriam ser mais poderosas e representativas.
Vale a pena ser um vilão?
Poder finalmente ser um vilão em um jogo tem aquela pegada na mente de todo jogador, pois querendo ou não já nos perguntamos como seria a vida do vilão ao tentar conquistar os seus objetivos e ter que dar de cara com os heróis por todo lado.
O legal de Nefarious é que ele usa e abusa do bom humor e da metalinguagem para satirizar diversos clichês existentes no mundo dos games. Assim temos uma narrativa interessante com uma forma sólida e bem descontraída. Muito disso devido a caracterização dos personagens secundários que não ficam na sua e participam dos diálogos, dão ideias de coisas malignas para serem feitas e tentam se aproveitar da situação, como ao ajudarem Crow a saquearem um tesouro perdido e exigirem que metade seja enviado a seu reino. Tanto que nenhum dos reféns ficam presos na nave, todos estão soltos e interagindo com o restante da tripulação.
Algumas partes de certas fases se tornam mais difíceis do que o necessário com o “deslize” do pulo e a inconsistência dos controles. Tirando isso de lado e conseguindo superar essa dificuldade aguda às vezes, posso dizer que Nefarious é algo diferente e que pode sim ser apreciado. Infelizmente não conta com um New Game+ para aprimorar o fator replay, e a única coisa que fará você jogar novamente será a tentativa de achar todos os colecionáveis e de ver os 2 finais (Bom e Ruim) do jogo.
Galeria
Dando uma nota
História bem humorada. Ideia do jogo é ótima - 8.5
Controles para saltos são inconsistentes - 5
Personagens são carismáticos - 7.5
Curtinho. Pode ser terminado em poucas horas - 6
Visual arcade, e todo colorido, encanta - 8
Batalhas de chefe. É legar ser o vilão - 8.5
7.3
Bom
O simples fato de assistir ao trailer e ver que você vai raptar as princesas ao invés de salvá-las já chama a atenção. Poder ser o vilão é divertido e é altamente viciante pelo próprio conceito da ideia em si. Mas nem tudo são flores na vida maligna de Crow e infelizmente o jogo deixa a desejar em alguns pontos discutidos no texto principal. Entretanto, mesmo assim vai lhe divertir pelo curto tempo que durar. Vale a pena ser o vilão da vez.