Análise | JackQuest: Tale of the Sword

Disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC

JackQuest: Tale of the Sword é mais um game indie 2D em pixel art em 16 bits do gênero ação, aventura e plataforma que conta também com aquela pegada metroidvania que tanto gostamos. O jogo foi desenvolvido pelo estúdio paraibano NX Games e é distribuído pela Blowfish Studios, tendo sido lançado em janeiro deste ano nos consoles e PC.

Como curiosidade quero trazer que a NX Games é composta por apenas uma pessoa, o José Neto que conforme comenta em sua descrição no site, adora criar jogos indies. Este é seu primeiro jogo desenvolvido para consoles, sendo que os demais foram para dispositivos móveis.

Salve a garota, não ligue se a espada tagarelar

Resumindo agressivamente: resgatar a garota e acabar com o cara mal. Controlamos o jovem Jack, que estava conversando com sua amada Nara e, bem na hora quando ele vai revelar seus sentimentos, a mão gigantesca do ser maligno conhecido como Korg brota do chão, captura sua amada e vai para o subsolo, deixando um buraco no chão. Jack rapidamente se atira na aventura e, logo após ver a mão de Korg desaparecer em um portal, encontra uma espada estranha, gigante e falante… que se apresenta como Kuro.

Kuro além de ser gigante tem um temperamento bem espontâneo, e por vezes violento, fazendo perguntas sobre Nara e incentivando Jack a matar todos os monstros encontrados no subterrâneo. A espada as vezes até comenta sobre as armadilhas presentes no ambiente, mesmo que fique repetindo isso várias vezes. Jack é um garoto normal, mas chama atenção seu enorme cachecol vermelho, que fica esvoaçante pelos movimentos realizados pelo jogador, principalmente nos wall jumps (pulos seguidos na parede).

Basicamente essa é toda a história do jogo. Mesmo percorrendo os longos cenários, falando com alguns NPCs e com os chefes presentes, nada a mais é adicionado a essa história. O que de certa forma achei frustrante. Fiquei comparado aos Castlevanias e Metroids da vida, que acabam tendo mais história ao longo do avanço da aventura e apresentando uma construção mais complexa de mundo. Que pena não haver algo nesse sentido por aqui.

Controlando Jack

Assim que entramos de cabeça (e no controle) de Jack os comandos são todos apresentados, com mais alguns sendo incluídos ao longo de sua jornada. Uma ideia bacana é que conforme vamos fazendo a exploração do mundo formado pelo calabouço de Korg, novos inimigos vão aparecendo e cada um deles requer uma maneira diferente de ser enfrentado. Isso faz com que o pense nas mais práticas formas de encarar cada novo inimigo, para salvar o uso do golpe especial (que são limitados) e resguardar os corações de Jack.

Por vezes o formato da área ao seu redor pode apresentar proteção contra projéteis dos inimigos. Explorar o ambiente utilizando do wall jump é algo que vai se tornar espontâneo. Em poucas tentativas já se consegue saber o tamanho de cada pulo para desviar dos obstáculos, sejam estes nas paredes, teto ou chão. Um porém: a física do pulo pode incomodar um pouco. É fácil se acostumar, mas também é um pouco mais impreciso do que você poderá imaginar.

Sua principal arma é Kuro, a espada gigante. O raio de alcance da espada é satisfatório, e seu golpe especial acerta o que estiver em seu alcance em 360 graus – a qual Jack dá uma grande rodopio. Aos poucos o jogo vai lhe introduzindo novas mecânicas. Basta explorar um pouco e derrotar seus chefes. Logo se conquista, por exemplo, habilidades como um prático pulo duplo, uma arma secundária  – um arco com flechas infinitas, que tem seu próprio ataque especial -, assim como se aprende uma espécie de dash para Jack, além da habilidade de respirar dentro da água sem passar sufoco.

Por falar nos chefes, vamos encarar eles sem termos nenhuma dica, tutorial ou ajudas divinas para saber o que fazer para dar conta dos mesmos. E quer saber de uma coisa? Isso foi algo que me chamou a atenção, positivamente. Normalmente, em outros jogos, aparece algum NPC que fala para entrar na batalha tendo algum cuidado especial ou dando ajuda para encarar a luta, aqui, meu amigo, é tudo nas mãos do jogador. No meu ponto de vista é o correto. É necessário observar, tentar algumas vezes e finalmente ter o triunfo da vitória. Conseguir vencer o desafio com pouca energia e percebendo que você tem que conseguir com base na sua astúcia e observação do cenário, padrões de ataques e movimentação do inimigo é gratificante. Em nenhum deles cheguei a ficar trancado por muito tempo, o aprendizado é rápido e intuitivo.

JackQuest se mantém seguro em sua proposta metroidvania e não tenta entregar nada que não conseguiria naturalmente. A jogabilidade apresenta-se com uma mecânica intuitiva e bem simples, o que não é ruim, já que entrega com qualidade a qual se propõem. Algumas partes acabam sendo muito fáceis e outras têm uma dificuldade elevada subitamente, o que pode frustrar, principalmente nas lutas contra os chefes, onde não temos uma forma de recuperar a vida antes da luta. O jogador tem que ficar destruindo itens, salvando, reiniciando o ponto de salvamento, pegando mais itens e repetindo o processo até recuperar a vida toda. Temos vendedores que vendem itens para recuperar vida e magia, mas as moedas são escassas e nem sempre gastar tudo é uma boa ideia.

Além dos itens de recuperar magia e vida, temos os itens de upgrade, os corações que expandem a vida de Jack e os cristais que aumentam a barra de magia, utilizada para dar o golpe especial com a espada ou o arco e tirar mais vida dos inimigos ou até para acessar áreas complicadas do cenário. Mover peças para acionar botões e descobrir áreas secretas fazem parte da jogatina fluida e dinâmica de JackQuest.

Uma pegadinha aqui é que mesmo que o jogo lhe dê um mapa em determinado ponto da aventura, o mesmo não fica aberto completo da tela. O jogador tem apenas uma visão circular de uma parte dele e caso queira ir em algum lugar específico, vai ter que fazer um estudo do mapa, ver onde está e qual caminho percorrer para chegar ao destino escolhido. Então caberá ao jogador ter algum conhecimento da cartografia do cenário para tentar identificar em que trecho do mapa o personagem está localizado verdadeiramente e assim saber onde ir em seguida. É genial, porém penoso.

Dois detalhes a serem mencionados

O game conta com localização e legendas em português em todos os diálogos entre os personagens, além da tagarelice da espada Kuro. Ah e preciso dizer, sem muitos detalhes pelo spoiler, já que mencionei lá no começo que a história não é muito complexa, mas no final do jogo é revelado o que é a espada e os motivos pelo qual ela pode falar. Não se preocupe, esse mistério é solucionado!

O segundo detalhe, muito agradável, diz respeito aos efeitos e a trilha sonora, que são autenticamente 16 bits e se mesclam com o ambiente da aventura. O único porém ocorre por não termos uma mudança de cenário, já que estamos em uma caverna subterrânea, que faz a trilha sonora ser praticamente a mesma por tempo demais, mudando apenas nas batalhas contra os chefes. Uma pena, pois gostaria de ter ouvido uma trilha sonora um pouco mais chamativa e diversificada.

Vale ou não vale a pena?

Gostei do jogo e acredito que vale a pena sim dar uma chance para essa aventura de Jack. Mas não espere uma jornada muito longa. Conclui o game em aproximadamente umas 4 horas, e há speedruns que fazem todo o jogo em 30 a 40 minutos (loucura). Houve vezes em que tive que repetir determinadas partes, devido a mortes sucessivas, quando encucava de pegar um upgrade em uma parte mais complicada do cenário. Isso estica um pouco mais a jornada. Ruim apenas que não contamos com motivos para jogar novamente após terminar. Não há um modo extra ou algo que vá nos envolver para uma segunda vez.

JackQuest: Tale of the Sword é um jogo indie em sua totalidade. É simples, mas tem um charme. Puxa uma nostalgia dos jogos lá da era 16 bits, e faz isso com muito mérito. Lembre-se novamente que foi desenvolvido em grande parte por uma única pessoa, algo que por si só já é impressionante. Não é um jogo caro e é honesto naquilo a qual se compromete a entregar. Vale ser recomendado!

Galeria

 

Dando uma nota

Boa jogabilidade, mesmo que as vezes o pulo seja estranho - 7.5
Batalhas de chefes são interessantes e oferecem bom desafio - 8
Segue uma fórmula metroidvania, mas com identidade própria - 8
Tem curta duração, além de um único ambiente - 6
Trilho sonora é boa, mas não é diversificada. Cansa um pouco. - 6.5
Visual retrô convence e encanta, mesmo em sua simplicidade - 7.5
Exploração é um elemento interessante em sua mecânica, e os checkpoints são generosos - 8

7.4

Bom

JackQuest: Tale of the Sword é recomendado para os jogadores que gostam de variáveis que bebem nas fontes de jogos mais antigos e de metroidvanias, que buscam por uma aventura descompromissada e sem desafios maquiavélicos. Há todo esse toque nostálgico de ser em pixel art e com cara de jogo de NES. Sem mencionar que é um indie brasileiro, o que por si só já dá um certo orgulho. É competente naquilo a qual se propõe a ser.

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