Análise | Overcooked 2

Disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC

Overcooked 2 é um daqueles jogos que aquecem o coração de quem gosta de um divertido jogo cooperativo de sofá. Lançado em agosto do ano passado, estando disponível para todos os consoles da geração e PC, o título é uma produção do estúdio Ghost Town Games. Com a Team17 atuando como publisher global. É sequência do jogo de mesmo nome, lançado originalmente em 2016.

Trata-se de uma série que fez muito sucesso quando surgiu, meio que do nada, sem nenhuma grande ação de marketing ou muito hype pré-lançamento. Surgiu dentro de uma bolha e foi se expandindo. Parte graças a comunidade que faz transmissões em redes como Twitch, Mixer e YouTube. Afinal é um jogo divertido de jogar, assim como de assistir as pessoas jogando. A crítica também teceu diversos elogios ao primeiro jogo na época, aumentando ainda mais sua popularidade. Uma sequência se tornou inevitável. Curioso que ela também veio do nada, sem muito alarde, em um Nintendo Direct, dois meses antes do título ser lançado.

Overcooked 2 basicamente mantém intacto a fórmula do jogo original, mas expande diversas ideias e refina parte de suas mecânicas. Há mais receitas, mais personagens, mais ambientes, mais possibilidade de se divertir com sua premissa. E é basicamente tudo que se espera que uma sequência faça dentre a popularidade de sua versão anterior.

Fórmula básica

Para aqueles que desconhecem a série, Overcooked é um jogo de cooperação, mesmo quando se está em single player. Uma dupla de Chefs trabalha em conjunto para preparar pratos e servi-los no menor tempo possível. Se for rápido há um ganho de gorjeta, melhor para a pontuação final. Se demorar demais o pedido do prato expira e o jogador perde pontos. A classificação no final de cada estágio permanece a mesma fórmula do primeiro jogo: vai de uma a três estrelas dependendo da pontuação de pratos servidos.

Para preparar os pratos, receitas devem ser seguidas. Ingredientes são cortados em uma tábua de corte, para depois irem para panela ou frigideira. Há alguns pratos que exigem estágios de preparo. Você frita, depois assa. Ou bate em uma batedeira e depois vai para uma panela de vapor. Ou pratos que exigem que um ingrediente seja frita, enquanto outro seja cozinho e depois se junta antes de servir. Cada ação descrita tem um tempo. Então enquanto algo está fritando, você pode ir fatiar, cozinhar ou até mesmo lavar os pratos.

Os pedidos se acumulam no topo da tela, não é um por vez. Por isso o game é caótico. Se está sempre correndo contra o tempo. Fazendo três ou quatro coisas ao mesmo tempo, esteja sozinho ou em equipe com um segundo jogador. Panelas pegam fogo e incendeiam a cozinha. Pratos precisam ser lavados. As cozinhas possuem armadilhas e situações que mudam a dinâmica do jogo. Cozinhar em Overcooked nunca fica monótono.

Cozinha 2.0

Em adição as mecânicas do jogo original, Overcooked 2 traz algumas novas ideias. A principal, talvez a que seja o ponto de virada para o jogo superar seu antecessor, não poderia ser mais simples: arremessar os ingredientes, inclusive os já fatiados.

Parece bobo, mas é uma mecânica que muda toda a dinâmica da ação do jogo. Usar o impulso (dash) ainda é um movimento válido, porém o arremesso é bem prático. Agora é possível jogar ingredientes direto na tábua de corte, em panelas e outros utensílios ou até mesmo na mãos para outro Chef. A ação tem um novo ritmo.

Esse novo comando permite que o jogo experimente coisas que o primeiro não poderia realizar, como cozinhas com buracos ou em que suas partes não se conectem. Resta aos jogadores jogarem os itens um para o outro. A técnica, porém, tem suas limitações: panelas e pratos não podem ser arremessados. Talvez questões de segurança na cozinha, claro!

Cardápio com novas opções

As receitas também estão muito mais inventivas do que as encontradas no primeiro jogo. Há uma variedade muito maior, o que melhorou o tom de repetição que existia anteriormente. Saladas, hambúrgueres, pizzas, burritos estão de volta, mas panquecas, macarronadas, variações de pratos japoneses e bolos também entram para o cardápio do jogo. Todos com variações de ingredientes para expandir as possibilidades.

Os utensílios para preparo também tiveram o acréscimo de uma batedeira que comporta até quatro ingredientes e uma espécie de panela de vapor. E as receitas ficam complexas no ponto de precisarem de dois estágios de preparo. As vezes bate na batedeira e assa no vapor, ou bate e depois frita na frigideira, como no caso da panqueca. Bate ou assa no forno, como os bolos.

O jogo segue a simplicidade de preparo do jogo anterior, mas adiciona um pouco mais de camadas de atos para que haja não fique tudo muito simplório para uma sequência. E tudo isso sem considerar o conteúdo adicional que o jogo tem no momento em que este review está sendo publicado. Nos DLCs há ainda mais receitas, novos ingredientes e novos utensílios. Porém é um conteúdo (pago) que voltarei para avaliar em uma outra oportunidade.

Salve o Reino da Cebola, uma cozinha por vez

Overcooked 2 funciona com uma pequena trama que impulsiona o jogador a uma viagem por todo o Reino da Cebola. Pão Zumbis se levantaram de suas tumbas e estão famintos por novos (e específicos pratos). O Rei Cebola convoca os mais habilidosos chefs do reino para lidarem com estes famintos zumbis.

Essa é a desculpa para os jogadores saírem em tour mais uma vez por diversos ambientes e nas mais malucas cozinhas. Alguns temas lembram muito as áreas do primeiro jogo, porém com elementos novos. Há cozinhas com alavancas e plataformas em que os jogadores controlam um para o outro. Em outras parte do chão afunda, ilhando os jogadores. Há aqueles em que o fogo fica se espalhando pelo chão, travando o acesso até que alguém use o extintor. Retorna também cozinhas no meio da rua, com carros passando entre os chefs. Há cozinhas assombradas, em balões em pleno ar, em minas, cozinhas escuras, em jangadas, áreas urbanas e muito mais.

A grande surpresa fica por conta de uma modalidade, ao final do jogo, que funciona como um Modo Horda. Nela o jogador está em um calabouço e precisa ficar preparando diversos pratos para servir aos Pães Zumbis, que estão tentando entrar na cozinha. Barreiras protegem o lugar e o jogador pode precisar erguê-la novamente, com o custo de seus próprios pontos. É muito legal, mas o jogo base tem apenas um estágio assim. A mais recente expansão paga trouxe novos estágios com essa modalidade.

Jogo sozinho, com amigos ou desconhecidos

Outro elemento que precisa de um espaço para se avaliar diz respeito as opções de como se pode jogar o título. E vou ser direto: Overcooked 2 é um título que funciona melhor se for jogado em multiplayer, com um amigo, seja online, seja no sofá. Ainda quê, exista um single player.

As regras para se jogar Overcooked individualmente mudam um pouco em relação ao seu multi. Cortas alimentos, assim como cozinhá-los leva-se muito mais tempo. Essa discrepância tem como justificativa o fato de que mesmo de um, há sempre dois chefs no estágio. Isso obriga o jogador a alternar entre eles, ao invés de apenas usar o arremesso e dash para ficar acelerando pela cozinha. Sendo assim, ao colocar um chef para fatiar um ingrediente, o mais inteligente a se fazer é deixá-lo cortando e trocar para outro chef, e também dar uma tarefa para o mesmo.

A cadência e o ritmo em single player é muito mais lento. E é por isso que para se ganhar as estrelas pela performance do estágio, a quantidade de pontos é bem menor do que quando se está em multiplayer. Em coop as coisas fatiam e cozinhas muito mais rapidamente. Assim jogadores não ficam parados esperando o preparo dos pratos.

Overcooked 2 dá suporte para até quatro jogadores ao mesmo tempo, seja na campanha, seja nas modalidades arcade ou versus. Mas com apenas dois chefs o ritmo já fica mais agradável. A novidade nesta edição fica, em grande parte, para o suporte online oferecido pelo jogo.

Agora é possível se reunir em um matchmaking para até quatro jogadores. Você se reúne com outros jogadores e jogam tentando bater a pontuação, ou em dois times de dois chefs cada, que vão disputar a melhor pontuação da partida. E sim, a parte online está funcionando, inclusive agora, após tanto tempo de seu lançamento. Fiz testes nas últimas semanas antes desta publicação e partidas online seguem sendo encontradas. Ao menos no Xbox One, plataforma a qual utilizo para jogá-lo.

Pedágio de estrelas

Pensando em pontos fracos, o primeiro Overcooked já não era perfeito. Mesmo sendo um jogo aclamado, que fez sucesso, havia coisas que podiam ser refinadas. E é o que Overcooked 2 faz em muitos de seus aspectos. Isso mata, por exemplo, a monotonia de repetições de pratos que exista no anterior.

Também é possível dizer que o aspecto single player do jogo foi aperfeiçoado. O primeiro Overcooked não era tão bom de se jogar em single player quanto é aqui. O tempo do corte e do cozimento dos alimentos na sequência parecem ligeiramente melhor balanceados com a proposta do single player. Não se passa mais tanto tempo apenas esperando os personagens fazerem algo. Sozinho o jogador está sempre se mexendo. E a pontuação amenizada para o single player faz total sentido.

Dito isso, a única coisa que Overcooked 2 faz que não me agrada muito é o sistema de acumular estrelas em cada fase para que este somatório abra novas fases. Aconteceu comigo no primeiro jogo e voltou a acontecer aqui: chegar no último mundo e não ter estrelas o suficiente para abrir as últimas fases. O jeito é voltar e ir melhor nas fases em que somente uma estrela foi obtida.

Pra mim essa é um mecanismo desnecessário para esticar o tempo de jogo. Acredito que seja até meio arcaico. Me faz lembrar de certos jogos mobiles que normalmente travam o progresso do jogador, impondo moedas e afins. Uma estrela por fase, essa deveria ser a única exigência para ir até o final do jogo. Até porque, quando concluído, uma quarta estrela abre para todas as fases. Então talvez o jogador vá querer jogar tudo de novo.

Claro quê, se houvesse um mundo secreto, algo especial, fora a progressão inicial, que exigisse muitas estrelas, aí sim esse sistema faria sentido pra mim. Mas como não há, esse é o único ponto que me incomodou em Overcooked 2. Travou a fluidez do progresso perto do fim.

Considerações finais

Overcoooked 2 faz exatamente o que se espera que uma sequência faça: expanda e refina a experiência do jogo anterior. Especialmente se a fórmula agradou e conquistou os jogadores. Ter jogado o primeiro e vir para jogar a sequência não a faz enfadonha ou igual. O jogo muda o suficiente para que você não sinta que está jogando a mesma coisa.

Arremessar ingredientes é uma mecânica que faz todo um diferencial à fórmula e as partidas, mas acima disso estão todos os outros elementos inéditos para criar ainda mais momentos legais dentro do ritmo do jogo. Ter novos layouts de cozinhas, novos acessórios, novas receitas são tão importantes quanto todo o resto do jogo.

Além disso toda a interface do jogo está mais amigável, ainda que não houvesse muito que se reformular aqui. É agradável viajar pelas fases por um mapinha com um Food Truck, tal qual era no jogo anterior. Uma pena que não haja segredinhos escondidos no mapa, exceto por alguns botões de plataforma. A própria interface do menu principal está bem mais legal, com as skins dos chefs selecionados dentro do Food Truck preparando algumas deliciosa receita.

Falando nisso, todas as skins de chefs segue o mesmo charme do jogo original, mantendo a diversidade, com diferentes personagens de raças e etnias diversas. Acho muito representativo que o jogo tenha inclusive um personagem que é cadeirante. Claro que há também as extrapolações, como o Chef que é um polvo, outro um jacaré e assim por diante. Tem para todos os tipos e gostos. Dá muita personalidade para os jogadores.

E tão importante quanto o valor de replay, está as funções online do jogo. Particularmente não acho interessante correr atrás de uma quarta estrela para todas as fases previamente vencidas, entretanto me divirto jogando com outras pessoas online as fases do jogo, seja competitivamente ou cooperativamente. E não é preciso ficar falando no microfone. É o que eu sempre defendo em jogos online, as pessoas sabem se comunicar sem precisa ficar gritando com outra no fone de ouvido. Minha experiência online muito foi agradável.

Overcooked 2 soube muito bem se sobressair em relação ao primeiro jogo. Continua sendo um título perfeito para jogar com amigos e família, assim como assistir pessoas jogando. Ficou mais interessante ao jogador solitário, que agora tem a opção de jogar online, e a experiência solo refinada. Trouxe novidades, ainda que não tenha reinventado de forma agressiva sua fórmula. E ao muitos fãs, o jogo está perto de completar um ano desde que foi lançado e novos conteúdos, tanto pagos quanto de graça, seguem sendo lançados. Fora que está acessível em todas as plataformas da geração. É para saborear e mandar todos os cumprimentos aos chefs da Ghost Town Games pela saborosa refeição preparada.

Extra – gameplay de algumas fases

* Jogando com o meu pequeno de 6 anos. Jogamos cerca de 80% juntos.

Dando uma nota

Segue carismático e charmoso em toda sua apresentação - 9.7
Estágios estão ainda mais engenhosos - 10
Mecânicas e jogabilidade refinadas, e arremessar comida é tudo de bom - 10
Experiência do jogador solitário tem a adição de um modo online - 9
Novas refeitas e utencílios para preparar as refeições - 9.5
Multiplayer é o ponto em que o jogo brilha, perfeito para todas as idades - 10
Progresso pelas estrelas é a única barreira que pode soar xarope - 8.5

9.5

Delicioso

Overcooked 2 é uma sequência que faz bonito em relação ao seu antecessor, que já era excelente. Expande o que precisa expandir, apresenta uma nova mecânica que dá ritmo ao jogo e apresenta modos de jogo que o tornam bem mais completo que o primeiro título. É um prato realmente muito bem preparado.

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