Análise | Mario & Sonic at the Olympic Games Tokyo 2020
Disponível para Nintendo Switch
Mario & Sonic at the Olympic Games Tokyo 2020 chega trazendo novamente uma reunião de personagens que qualquer criança que cresceu jogando videogames ao longo dos anos 80 e 90 jamais teria imaginado que isso algum dia aconteceria. A série de jogos de esportes com Mario e Sonic surgiu em 2007, inicialmente no Nintendo Wii e não parou desde então, sempre se revezando entre os Jogos Olímpicos e os Jogos Olímpicos de Inverno. Desta vez o título chega de forma exclusiva ao Nintendo Switch, em preparação as Olimpíadas do Japão, que acontecerá em Tokyo no ano que vem.
Sempre que se fala em Nintendo é fácil pensar em jogos que são produzidos visando o multiplayer de sofá. O Switch potencializa essa ideia em sua versão dock, permitindo que duas pessoas joguem dividindo os joy-cons (já que o console vem com dois destes). Com as olimpíadas de Tokyo se aproximando, já era de se imaginar que mais uma vez a Sega iria renovar a parceria feita com a Nintendo desde a década passada, quando ambas resolveram que a rivalidade entre seus mascotes merecia uma competição justa para decidir quem se consagraria o vencedor.
A Sega sempre cuidou do desenvolvimento da série, desde o primeiro, baseado nas olimpíadas de Beijin, na China. Mantendo a série sempre expressiva nos consoles da Nintendo, indo do Wii, para os portáteis DS e 3DS, assim como o Wii U e agora no Switch. Trazendo bastante irreverência e carisma para esse momento esportivo tão celebrado mundialmente. E justamente agora, que as olimpíadas estão de volta ao Japão, a ocasião não poderia ser diferente, com uma versão que celebra tanto o presente quanto o passado deste evento e o local a qual será mais uma vez realizado.
O jogo está sendo lançado hoje, dia 5 de novembro, e o primeiro elogio que precisa (e merece) ser feito diz respeito ao fato da Sega tê-lo localizado completamente em nosso português, tanto os textos e diálogos com legendas, quanto uma dublagem em nosso idioma em algumas provas esportivas que possuem um narrador ao fundo. Até mesmo o título está localizado na tela principal do jogo: Mario & Sonic nos Jogos Olímpicos Tokyo 2020.
Considerando que isso não ocorre nem mesmo com os títulos desenvolvidos pela Nintendo, ou que até mesmo os jogos mais recentes do Sonic não receberam tal tratamento, ver este título totalmente localizado em nossa língua me faz torcer pelo seu sucesso comercial em nosso território e que isso incentive outros grandes jogos a ter o mesmo tratamento em nosso território. Muitos fãs sonham com um Pokémon oficialmente localizado em português… é preciso continuar sonhando, enquanto também importante reforçar essa iniciativa tão bem feita por parte da Sega.
Fazendo o tour inicial
Logo de cara somos apresentados ao tradicional menu para escolher qual será o primeiro passo que daremos no jogo, podendo escolher jogar o modo história (o qual falaremos mais adiante) ou opções que nos permitem jogar as modalidades esportivas da edição de forma individual, além de enfrentar outras pessoas, seja localmente – com outros joy-cons ou até mesmo conectando outro(s) Switch(s) -, ou em partidas online. Recordes também são registrados em um placar de líderes online, ótimo para quem quer tentar se tornar o recordista mundial da categoria.
Mario & Sonic Tokyo 2020 conta com 21 modalidades principais, que vão desde provas de atletismo, arremessos de dardo e disco, boxe, caratê, esgrima, hipismo, passando por outras modalidades mais inusitadas, como skate, surfe e escalada. Há também 3 modalidades especiais (Corrida Fantástica, Tiro Fantástico e Caratê Fantástico), que são tradicionais da série (chamadas de dream events), colocando provas em cenários do universo de Mario e Sonic, sempre com conceitos mais elaborados e malucos.
Mas não são só essas provas, há mais! Existe também 10 inesperadas modalidades totalmente em 2D, em um estilo gráfico pixelado, que mistura personagens 8bits (Mario) com 16bits (Sonic), e que se passam durante as primeiras olimpíadas de Tokyo, em 1964. E são modalidade tão divertidas quanto as categorias principais mencionadas no parágrafo anterior. Os eventos retrô são, em sua maioria, diferentes dos eventos normais. Aqui os jogadores encontram provas como natação, vôlei, outras provas de atletismo, judô e afins.
Vamos para 1964?
A ideia de provas que se passam durante as primeiras olimpíadas sitiadas no Japão tem um contexto. Isso porque o jogo conta com um interessante modo história, e o que dá pano pra trama é mais uma peripécia de Bowser e Eggman – como sempre – que acabam utilizando um artefato que remete a um videogame antigo para transportar Mario e Sonic para dentro de um jogo, porém ambos os vilões acidentalmente acabam sendo sugados também. Presos dentro desse artefato, toda a tropa é transformada em suas versões pixeladas, em suas clássicas versões 8 e 16 bits, enquanto também descobrem estar na Tokyo de 1964, durante as primeiras olimpíadas.
Bowser e Eggman resolvem entrar para as olimpíadas, causando confusão, é claro. Com isso Mario e Sonic também se unem para não deixá-los vencer qualquer uma das provas, enquanto pensam em alguma forma de retornar ao mundo real. Enquanto isso, no presente, Luigi e Tails se unem para trazer de volta seus amigos sugados pelo artefato, enquanto também lidam com outros capangas também atrapalhando o andamento das olimpíadas de Tokyo em 2020. O modo história meio que se divide então entre estes dois momentos, mesclando modalidades normais com as disputas retrô.
Em alguns momentos durante essa campanha o jogador participa de minigames que fogem um pouco do estilo olímpico, como, por exemplo, ter que disputar uma corrida com um trem bala utilizando o Sonic ou perseguir o Eggman em um táxi. No total são 10 minijogos que você só encontrará inicialmente aqui, no modo história. Após isso todos são destravados em um menu adicional, acessando a sessão Sala de Jogos, que fica dentro do menu Meus Dados.
Estas disputas criadas para o modo história são realmente bem divertidas. Algumas até mais do que certas provas olímpicas. São diferentes e inusitadas. Vale a pena explorar o modo história para destravá-las. Não que o modo história seja ruim. Ele tem um bom toque de humor, porém a forma como sua história é narrada pode cansar um pouco os jogadores. Há muitas caixas de textos que contam a trama, que apesar de não ser genial, tem seus momentos de humor, principalmente com os personagens que estão presos em 64.
A exploração do ambiente no modo história é que não é lá muito inspirado, sendo áreas pequenas fechadas em que o jogador anda para conversar com outros personagens, enquanto busca pela próxima disputa esportiva. Entretanto achei bem maneiro o mapa de Tokyo, no lado 2020, que representa uma mini Tokyo mesmo. No mais, também me agradou que nestas áreas entre as missões existam colecionáveis que agem como curiosidades sobre as olimpíadas, assim como os fatos e dados dos personagens presentes nos universo de Mario e Sonic. É um aspecto bacana desse modo.
Competidores e as disputas olímpicas
Em versões anteriores de Mario & Sonic apesar de uma grande gama de personagens, apenas alguns eram selecionáveis para cada modalidade. Em Tokyo 2020 a Sega resolveu colocar 20 personagens fixos para serem selecionados em qualquer modalidade olímpica, sendo 10 da franquia do Mario e 10 da franquia do Sonic. Porém tem uma cereja escondida aí nesse bolo, pois o modo história permite que você libere ao decorrer da campanha alguns personagens extras, como os vilões de Sonic World ou Toadette e Rosalina, para serem utilizados de forma exclusiva em determinadas modalidades olímpicas.
Como sempre nos jogos da franquia, cada personagem vem acompanhado de uma habilidade pessoal que influencia diretamente na modalidade em questão, então apesar da liberdade de escolha para qual personagem utilizar, ainda haverá vantagens significativas para quem utilizar um personagem mais veloz em uma corrida de 100 metros livres, por exemplo. Não é algo que quebre o jogo, evitando torná-lo desbalanceado, mas é um incentivo para ver como cada personagem se comporta na modalidade esportiva que lhe concede uma pequena vantagem.
Entrando na área dos eventos olímpicos, cabe aqui dizer que todos são mini games bem simples, incluindo modalidades que poderiam ser mais complexas, como futebol, tênis de mesa ou vôlei, que se resumem a poucos botões, movimentos travados e situações onde automação faça parte da mecânica dentro do jogo. Isso pode desapontar alguns jogadores. Posso dar alguns exemplos. No tênis de mesa e badminton, os jogadores não controlam os personagens, que se posicionam automaticamente no loca certo da rebatida. Algo parecido ocorre no vôlei, onde os personagens ficam sempre certinhos, deixando o jogador pronto apenas para lançar a bola para cima e bater para o outro lado, ainda que neste caso possa haver bloqueios, boa parte das partidas é bem automatizada. Futebol também não fica de fora, possuindo um sistema bem simplório de botões, que ficam anos luz do saudoso Super Mario Strikers. É chutar, passar e só basicamente. Há outras possibilidades, mas quase nunca são estimuladas a serem usadas.
Há muitos eventos também em que boa parte deles se limitam apenas a esmurram botões para pegar velocidade, como as disputas de atletismo, e com um outro botão para executar um segundo comando, como saltar ou passar o bastão. Os mini games de Super Mario Party deixam alguns dos jogos encontrados aqui no chinelo, de tão simples que podem soar. Mesmo que sejam partidas que possam levar menos de 1 minutos, ainda assim são mais simples do que você desejaria que fossem.
Claro que nem tudo é perdido. Há provas interessantes, que mesmo com uma simplicidade de comandos, acabam sendo divertidas, como as disputas de hipismo, de rúgbi de sete (é uma espécie de futebol americano simplificado, e que ficou realmente divertido aqui). Surfe também me impressionou, visualmente é incrível, ainda que não seja super complexo e que manobras ocorram quase que automaticamente, algo que também acontece com as provas com skate, cujo o jogador apenas aperta um botão na hora certa e a manobra é realizada com perfeição.
Destaques maiores também podem ser colocados em provas como de escalada, esgrime e caratê, que exigem um pouco mais de observação e atenção do jogador, para responder ao ambiente ou ao adversário nestas provas. Boxe também se provou bem divertido e me impressionou como o impacto dos socos funciona bem aqui, dando emoção à disputa. Na parte que talvez envolva movimentos complicados demais, apenas o evento de ginástica entraria nessa modalidade. É bem difícil acertar o timing dos comandos dessa modalidade.
Na parte retrô, posso dar destaque ao Judô, que funciona tão bem quanto o Caratê, porém foi a prova de maratona que mais me chamou atenção. Aqui tem que se correr por uma longa distância administrando uma barra de vigor que está sempre em queda se estiver correndo ao invés de andar, enquanto tenta não esbarrar em nada e coletar água nos pontos de abastecimento. É bem diferente e inesperado. Um mini game retrô simples, porém cativante.
Quanto as três modalidades fantásticas, os tais dream events, posso dizer que não me impressionaram tanto quanto gostaria. Não são ruins, mas também seguem uma simplicidade que não junto que fosse necessária aqui. Corrida Fantástica mistura algo como Sonic Riders com Mario Kart tem um conceito interessante, mas novamente os comandos simplicistas atrapalham um pouco a velocidade, tempo de ação e movimentação do personagem. Tiro Fantástico é muito interessante, com aquele tipo de potencial que poderia ser algo que até poderia virar um jogo inteiro se a Nintendo se interessasse nessa ideia. Controles de movimento servem como mira, enquanto o analógico do controle movimenta o jogador por um ambiente bem oriental. Por fim, Caratê Fantástico tem um conceito legal, mas não chega a ser tão bom quanto o Caratê normal. É uma arena com quatro jogadores se esmurrando e batendo uns nos outros no chão. Ganha aquele que pintar o chão com mais marcas que o represente. E é isso. Não dá a sensação de que poderiam ter mais modalidades assim? Os Dream Events são um conceito legal, mas aqui talvez tenham ficado mais modestos do que precisariam.
Aperte ou chacoalhe, um legado do Nintendo Wii
Se o primeiro jogo da série olímpica estrelando Mario e Sonic saiu para Nintendo Wii, na qual os controles por movimento estavam super em alta e era a novidade do momento, a nova versão do jogo chega para o Nintendo Switch sem esquecer de suas origens, dando opção do tradicional uso de botões, porém também traz sensores de movimento em seus joy-cons em quase todas as modalidades olímpicas.
Mario & Sonic Tokyo 2020 faz uso de ambos os estilos de controles, mas com uma ressalva: antes de iniciar a disputa na modalidade é preciso escolher qual tipo de comando será utilizado. Isso quer dizer que nada de disputar usando os movimentos contra alguém esmagando os botões, o que parece justo. Dentre as possibilidades há modos que precisam dos dois joy-cons, outras precisam apenas de um para chacoalhar e todos os modos aceitam apenas o uso dos tradicionais botões, com um ou outro evento que também usa o sensor de movimento e o giroscópio do Switch para dar uma naturalidade melhor ao esquema de botões, como a mira no evento de Tiro Fantástico, que mesmo com botões, ainda tem sensores sendo utilizado.
Na prática, intendente de como você controla seu personagem, são bem legais as opções que temos de modalidades. Agrada os dois lados do público, os mais casuais que curtem esse legado deixado pelo Wii e os mais tradicionais, que não sentem problema em esmagar botões. Enfim, para quem cresceu jogando Party Games irá gostar bastante de se desafiar em diferentes estilos, alguns bem simples outros que exigem maior precisão e treino. Apenas sinto que faltou uma opção para fazer uma pré-seleção de modalidades para jogar com os amigos, pois no jogo rápido a única opção possível é ir selecionando uma por uma, o que acaba quebrando o ritmo da jogatina, ainda mais se houver uma grande quantidade de pessoas se desafiando em Tokyo 2020.
Considerações finais
Apesar de trazer pouco avanço desde sua ultima versão que saiu no Wii U, os gráficos de Mario & Sonic at the Olympic Games Tokyo 2020 são bem polidos, e em nada atrapalham a experiência e imersão do jogo. Fora que a ideia de trazer modelos retrô dos personagem em pixel art dá uma sensação muito nostálgica e interessante à obra. Certamente é um conceito que não me surpreenderia se voltasse em futuras edições da série. Deu uma personalidade adicional a esta versão.
Quanto ao modo história, posso dizer que sua campanha poderia ser um pouco mais dinâmica, talvez mais inovadora. Porém admito que esse gostinho clichê, que já vem desde os primórdios da franquia, ainda casa bem com a proposta executada nesse jogo. Claro que nem todos vão curtir, mas não é algo que vá detonar a experiência. Apenas não vai impressionar.
E preciso voltar e reforçar: talvez o maior ponto positivo do título foi a inclusão de uma narração em português (do Brasil mesmo) para alguns eventos e para todo o jogo em geral, indo dos anúncios de cada prova, até mesmo a todo um texto muito bem localizado, que conseguiu manter o bom humor do texto original. Isso demonstra um certo carinho e atenção da Sega para com este lançamento em nosso mercado. É algo a se agradecer à empresa, sem dúvida alguma.
Acabei não falando muito sobre o modo online de Mario & Sonic at the Olympic Games Tokyo 2020. Mas a verdade é que não há muito o que dizer aqui. Funciona de forma bem simples, com o jogador podendo entrar em uma sala ou abrindo uma para jogar de forma online as provas presentes no jogo. É um modo para até quatro jogadores, com filtros para escolher provas e se desafiarem online. Encerrando a partida, o jogador volta a sala e uma nova seleção de provas pode acontecer. Para esta análise, o site teve acesso ao jogo de forma bem antecipada, então encontrar pessoas online ainda não era tão simples assim, então não foi uma modalidade a qual pude testar com afinco para esta análise de lançamento. Funciona, mas se as partidas são rápidas e sem lag, vai depender mais da comunidade e como cada região irá abraçar o título. No fim, acho importante que seja uma modalidade presente aqui, mas este é um título que claramente é mais divertido de se brincar com os amigos reunidos localmente, ao invés de desconhecidos mundo afora.
Concluindo, acredito que se você procura um jogo para se divertir entre amigos, Mario & Sonic nos Jogos Olímpicos Tokyo 2020 é um jogo que irá cumprir seu papel. Não é um jogo muito divertido de se jogar sozinho, entretanto, pois o modo história apesar de legal e de trazer também diversas curiosidades sobre as olimpíadas, não é tão auto suficiente assim para justificar o jogador que se importa apenas com o single player. Alias, ainda nesse pensamento, as provas olímpicas individuais possuem um seletor de dificuldade, caso você insista que dá para se divertir sozinho com o título, buscando por melhores recordes e tal. Se não for este o caso, e você goste de party games, se diverte com jogos casuais, para brincar com a família e crianças pequenas, Mario & Sonic Tokyo 2020 é uma boa sugestão. Ainda não é uma reinvenção que talvez a franquia precise, mas mantém o mesmo charme e interessa deixado por suas versões anteriores.
Galeria
Dando uma nota
Muitas modalidades olímpicas, incluindo os retrôs e alguns inesperados dentro do modo história - 8.5
Modo história é interessante e bem humorado, mas tropeça em alguns elementos de narrativa ultrapassados - 7.5
Visualmente segue um padrão semelhante ao Wii U, não impressionanto muito em seu 3D - 7
Parte retrô acerta em vários elementos, mas Mario em 8bits não cai tão bem quanto os lindos pixels de Sonic - 8
Jogue como quiser, com botões ou sensores de movimento, fica a gosto do freguês - 8.5
Totalmente localizado em português, textos e dublagem (narração) - 10
Jogabilidade é uma montanha russa, alguns eventos são simples demais - 7
8.1
Bacana
Mario & Sonic at the Olympic Games Tokyo 2020 é uma edição realmente especial, especialmente para os fãs aqui do Brasil, graças a excelente localização em português que o título recebeu. A brincadeira com os personagens virando suas versões clássicas também funciona, ainda que o modo história tropece em certas mecânicas engessadas em tempos modernos. Os mini games são em sua grande parte simples, mas também possuem bastante charme. Ao fim, é um party game para se ter e jogar com amigos. Não é um título muito recomendado para aqueles que apenas apreciam jogar sozinho.