Editorial | Pandemia, escolas fechadas, distanciamento social e mãos lavadas

Um momento na história do mundo como nenhum outro

O mundo vive um momento singular. Não é nossa primeira pandemia, possivelmente sequer será a última. Mas é um cenário incomum, em uma era digital na qual a informação chega a uma velocidade alucinante, assim como notícias falsas ou alarmistas frente a tanta informação verídica que as vezes é até difícil um do outro. Há um certo grau de histeria social, atrelado a ansiedade e expectativas pelo que ainda não aconteceu em meio a uma recomendação de distanciamento social que desagrada a muitos.

É muito difícil predizer o que ver por aí. Não se trata apenas um problema de risco da doença, porque este sequer é o único problema do Brasil, e até mesmo do mundo. Há um colapso econômico em meio a tudo isso. Por aqui o dólar disparou, com reflexos que ainda não iremos sentir nesse momento, mas eu me pergunto como isso afetará certos eletrônicos no futuro. A próxima geração de consoles está virando a esquina, por mais que pareça fútil pensar em videogames nesse momento.

Também é impressionante ver como o mundo do entretenimento foi abruptamente pausado. Grandes estreias no cinema canceladas, algumas por tempo indeterminado, outras jogadas somente para o ano que vem. Lá nos Estados Unidos há produção de seriados e outros programas que também foram pausados. A última vez que vi algo assim foi na greve dos roteiristas, uma parada totalmente diferente e que ainda assim teve um grande impacto em diversas séries de sucesso na época.

Poder e controle

As coisas estão fora do controle na tentativa de manter o controle. Particularmente tenho minhas ressalvas em relação a decisão de fechar (gradativamente) as escolas dos pequenos. Ao menos por enquanto. Não adianta as escolas fechadas se os adultos ainda precisam ir trabalhar. Como se as crianças fossem ficar sozinhas em casa. Fora que o ambiente escolar ainda é mais fácil de controlar do que os cenários em que os adultos indo trabalhar e lidando com os transportes públicos.

Não sei. Dizer para não deixar as crianças com os avós é uma coisa, outra bem diferente é achar uma solução para isso não acontecer. Quem tem pequenos comércios devem acabar levando a criança consigo, e aí o risco não está aí? Como se a criança fosse ficar dentro de um ambiente desinfetado e seguro. Enfim, há tantas outras variáveis, como a comunidade muito carente que depende da merenda escolar (que vai ser mantida, provando o quão importante é para esse lado da sociedade). Fora tudo isso, Educação é algo que não pode ser paralisada por muito tempo, sob o risco de perda do ano letivo. Além do quê, educar é criar seres humanos melhores. É capaz das crianças terem uma melhor consciência sobre a prevenção de uma pandemia do que os próprios adultos. Fechar as escolas é tirar um poder importante para estes pequenos.

Indo adiante, há todo um cenário político, a qual sinceramente sequer gostaria de entrar em pauta. Não importa se gosto ou não do presidente atual. O Brasil vive um período histórico muito tênue, entre rupturas de seu sistema, ou mudanças que podem soar perigosas para o país. Talvez seja só alarmismo, talvez não. Sinceramente é um péssimo momento para tudo isso. Mas é preciso lidar com isso também. Julgo que a sociedade sequer tem capacidade para discutir sistema e formas de Governo, sendo que mal estendemos realmente como legislativo e executivo funcionam.

O que claramente parece existir, e isso não vem exclusivamente do atual governo Bolsonaro, é uma clara alienação da massa. Como sociedade queremos mudanças, mas muitas vezes sequer nos culpamos pelas coisas como estão. Não queremos assumir riscos ou danos colaterais que precisam existir para um melhor Brasil. Além disso sinto que temos um grande problema em olhar a longa cauda, querendo que as mudanças cheguem para ontem. E não me peça respostas, pois não acredito que as tenha.

Lockdown

Chegamos então ao momento de lockdown, o tal distanciamento social. Evite aglomerações, não vá em locais com muitas pessoas, sob o risco de contágio de uma doença que não nos parece incrivelmente mortal, porém que pode vir a ser, dado alguns fatores sociais, como a histeria das pessoas de estocar coisas essenciais para os dias a seguir, ou ao sobrecarregar o sistema público de saúde que pode não vir a dar conta de tratar todo mundo.

Dá minha parte? Não tenho do que reclamar ficar em casa, saindo apenas para trabalhar ou para comprar os mantimentos habituais da semana no supermercado. Há uma pilha de livros para serem terminados, inúmeras séries e filmes para ver nos serviços de streaming a qual sou assinante. Fora o backlog de jogos para garantir mais incontáveis centenas de horas que poderia ter com inúmeros jogos. Além disso, sempre tem a internet (e as redes sociais) para nos roubar incontáveis horas do dia.

O verdadeiro cenário apocalíptico seria se a eletricidade ou até mesmo a internet fosse derrubada por um mundo em colapso e doente. Ter essa disruptura social sem internet seria um grande problema. Posso me lembrar de como os dias podiam ser incrivelmente tediosos lá no início dos anos 90. Quando não havia internet, quando televisão era aquilo que estava na TV aberta, tendo que assistir seus programas favoritos na hora em que os canais queriam que você estivesse sentado no sofá. Bem diferente da liberdade que as pessoas hoje tem para fazer sua própria programação. Videogame então? A coleção quase sempre se resumia a um ou dois jogos, dependendo de ter que ir até a locadora para pegar algo diferente para um único final de semana. Confinamento domiciliar nos dias de hoje parecem uma maravilha frente ao que poderia ser há 30 anos atrás.

Diante de todo esse cenário, uma das coisas que mais tem me admirado é o quanto os noticiários precisam reforçar coisas básicas de cidadania. Não estoquem as coisas em casa, pois você tira do mercado produtos essenciais, deixando outras pessoas sem ou até mesmo elevando os preços do produto. Lavar as mãos, algo tão básico, e até mesmo que deveria ser natural, precisando ser reforçado. Curioso. Mais problemático do que o próprio vírus é a forma de como a sociedade lida com um cenário que apenas precisa de atenção e certo alerta.

Como sobreviver a essa pandemia? Siga informado, não entre em pânico. Talvez você seja daquele grupo que está achando tudo muito exagerado, até mesmo fantasioso. É seu direito individual, a qual a sociedade começa a discutir se está acima do coletivo – e o coletivo pode sim lhe descer o cacete se sentir-se ameaçado. Então pelo sim, pelo não, jogue seguro. Se precaver e passar algumas semanas em casa, sem sair, sem entrar em confronto, não vai lhe fazer mal. Saia para trabalhar, saia para o que for necessário, lembre-se de sempre lavar as mãos e siga a vida. Por enquanto é só isso que podemos fazer.

Obs: a imagem que abre a postagem é lá da página no Facebook do desenhista Tony Fernandez e a HQ do templário vi hoje lá no Twitter oficial da Laerte Coutinho (publicado hoje na Folha de São Paulo).

Sair da versão mobile