Análise | Super Mario Bros. 35
Disponível apenas para membros do serviço Online do Nintendo Switch
Super Mario Bros. 35 é uma nova forma de revisitar um clássico absoluto, utilizando ferramentas do universo atual dos jogos eletrônicos. O título foi lançado gratuitamente no último dia 1º de outubro, estando disponível apenas para assinantes do serviço Online do Nintendo Switch. Se você não é assinante não pode comprar ou ter acesso ao jogo, que estranhamente estará disponível para ser apreciado somente até o dia 31 de março de 2021. Depois disso o título irá sumir da loja, seus servidores serão desligados e o mesmo deixará de funcionar.
Seu desenvolvimento foi realizado pelo estúdio japonês Arika, dos mesmos idealizadores de Tetris 99, lançado ano passado, também de forma gratuita aos assinantes do serviço Online do Switch. A fórmula utilizada, inclusive, é muito parecida entre estes dois jogos, que apresentam uma massiva competição online entre jogadores, mas cada um em sua própria tela, interferindo nos jogos de seus adversários conforme progride em seu próprio jogo.
Regras da competição
Como seu título sugere, Super Mario Bros. 35 coloca trinta e cinco jogadores online em uma partida para ver quem sobrevive por mais tempo jogando o clássico jogo de plataforma lançado em 1985 para o icônico console Nintendo Entertainment System (NES). Você tem apenas uma vida, e deve se manter vivo até que todos os outros 34 jogadores morram, sejam por encostar em qualquer inimigo ou caindo em algum buraco.
A física se mantém bem semelhante ao título original, com aquele pulo em que o jogador consegue desacelerar no ar e as vezes ficando confuso aonde exatamente irá descer. Há também aquela acelerada que o Mario consegue ao segurar um dos botões do controle e que ao frear repentinamente o mesmo desliza um pouco, sempre com aquele risco de acabar encostando em um inimigo ou precisando pular perto de um buraco rapidamente.
A maior mudança aqui diz respeito a como o jogo progride, pois não segue a mesma sequência de fases do jogo original. As fases são um tanto aleatórias, com os jogadores podendo escolher qual gostariam que estivesse no mix de fases, o que explica porque nesse momento muitas partidas ocorrem nos estágios iniciais. Para que você destrave as fases do jogo afim de poder votar quando uma partida está prestes a iniciar, é preciso já tê-la jogado anteriormente e conseguido passá-la. Por isso, as quatro fases do primeiro mundo são as mais comuns de aparecerem – são as que todo mundo tem. Com o tempo, e novas fases sendo descobertas e vencidas pela comunidade, mais opções devem se abrir no mix das partidas. Afinal, o título permite todas as fases de todos os mundos do Super Mario Bros. original.
Bem, estabelecido que se trata do mesmo jogo de 85, agora resta explicar as regras novas, que se equiparam as ideias inseridas em Tetris 99, de forma a dar o título ar de competitividade online, tornando-o uma experiência bem diferente de apenas jogar o clássico em seu formato original. A começar pela tela do game, a qual (nas laterais) é possível ver outras trinta e quatro telas menores mostrando os demais adversários e a progressão de cada um em tempo real ao seu.
Esse “campo de visão” de trinta e quatro telas menores é interessante porque lhe prende a atenção de uma forma que você não está ligado só no que está jogando, mas em como outros jogadores estão se portando ou até mesmo quem está em uma fase diferente da sua. Mesmo que estrategicamente seja impossível interagir com uma das telas diretamente, a observação dos adversários pode ser interessante vez ou outra.
Então entra a outra característica da competição: todo inimigo que você elimina cria um clone desse inimigo e o envia para alguém que esteja na competição. Ele tem uma coloração mais azulada quando é enviado para alguém, e portanto quanto você os encontrar em sua tela, saberá que foi o presente de alguém que o eliminou em seu próprio jogo. E isso não se limita a Goombas, até mesmo o Bowser quando eliminado acaba indo um clone para algum outro jogador! Não importa se ele está na primeira fase ou qualquer outra. E em alguns lugares o Bowser pode de fato impedir sua passagem pela fase.
Quando a disputa aperta, tornando um jogador contra o outro, percebi que o Bowser derrotado (por uma flor de fogo, por exemplo) fica indo e voltando para os dois jogadores finais. Isso não ocorre no começo da partida, quando inimigos fantasma são eliminados e não vão para lugar algum. Achei curioso esse bate e volta, pois o jogador pode decidir desviar do Bowser e tirar ele da jogada, deixando-o em sua fase, porém para trás.
E então há a segunda parte da estratégia, que também existe no Tetris 99. Com o analógico da direita (R), o jogador pode escolher quem priorizar para enviar inimigos: mandar de forma aleatória, para o jogador com mais moedas, com o que tiver menor tempo ou aquele que estiver lhe enviando inimigos. No início, me parece que deixar aleatório é a melhor estratégia, mas ao longo da partida você pode ir mudando essa tática.
Tempo também é outro fator importante na hora da competição. Isso porque o jogo sempre teve um relógio que faz a contagem regressiva do tempo. Ao zerar, você morre. Como impedir isso? Eliminando inimigos! Seja os originais da fase, seja os enviados pelos outros jogadores. Por isso as vezes é essencial receber inimigos. Eliminá-los com a flor de fogo, a uma distância segura, lhe dá 1 segundo apenas no relógio, mas pular neles em sequência cria combos de segundos, de 3 a 5 segundos por inimigos. Jogar um casco também faz isso. E estando com a flor de fogo e pegando outra, ou uma vida (1up) lhe garante mais 15 segundos. Chegar ao final da fase e pular quase no topo do mostro também lhe dá 15 segundos, mas pode dar menos dependendo da altura que você conseguir. Quando falta 5 jogadores na partida, a música acelera, como se todos mundo estivesse sem tempo, e quando só há 2 jogadores, o tempo fica em vermelho e começa a desacelerar mais rapidamente, se tornando apenas uma questão de tempo quem irá justamente morrer pelo contador chegando a zero. É adrenalina pura esse momento.
É interessante então como os desenvolvedores inserem esse elementos clássicos do título, mas com funções essenciais ao funcionamento do jogo como uma competição. Inimigos se acumulam em fases, enquanto o tempo é essencial para se manter na partida. As fases clássicas estão fora de ordem e por isso você nunca sabe o que vem a seguir. E então temos as moedas, elas também possuem uma função importante no jogo, já que agora elas não garantem vidas extras.
Todo jogador tem uma espécie de roleta de power ups no canto superior esquerdo da tela. Ali você pode tirar um cogumelo, uma flor de fogo, uma estrela (te deixa invencível por alguns segundos) ou uma caixa de Pow (que elimina todos os inimigos em tela). E como você ativa essa roleta? Pagando 20 moedas! Por isso é importante acumular moedas e estar preparado caso Mario seja atingindo, ficando em sua forma pequena ou até mesmo perdendo o pode da flor de fogo em um percurso recheado de inimigos enviados por seus adversários. Por isso você precisa estar sempre com moedas para tentar a sorte e se recuperar de algum vacilo.
É assim que funciona, então, Super Mario Bros. 35. Você joga as fases desse clássico de todos os tempos, correndo contra um relógio, eliminando inimigos para ganhar preciosos segundos, enquanto coleta moedas e torce para outros adversários se dar mal antes que você dê. Estabeleça a regra para quem seus inimigos eliminados irão e torça para não receber nada que vá quebrar a sua passagem, como uma planta carnívora na única plataforma acessível ou até mesmo o Bowser em inesperadas fases comuns do jogo. Outros inimigos, como o Hammer Bro e o Lakitu também estão presentes, podendo surgir para outros jogadores nas mais improváveis situações.
Há ainda uma outra função na relatada, mas que vale a menção, afinal o título não tem um tutorial e não lhe explica as coisas até você perceber que elas estão ali por algum motivo. Ao jogar as partidas, você ganha moedas e elas se acumulam no perfil do jogador. Isso ocorre porque antes de começar uma nova partida, ao escolher a fase, o jogador pode também decidir comprar um power up e começar a fase já com o mesmo ativado. É uma vantagem muito pequena, mas útil aos apressados que gostam de sair voando da primeira fase e ver o conteúdo de fases do mix da partida. Só ressaltando que esse power up funcionará como os demais do jogo, ou seja, se for uma estrela ela acabará após alguns segundos, enquanto o cogumelo ou a flor de fogo perdem eficácia ao encostar em um inimigo. Não são perks ou atributos permanentes. São apenas os bons e velhos itens do jogo.
Clássico em evidência
Como um título criado para celebrar os 35 anos da franquia Super Mario Bros, a Nintendo parece ter acertado em cheio em como revitalizar um clássico de forma que ele se comunique muito bem com a atual era dos jogos eletrônicos. Não me lembro da última vez em que havia olhado para Super Mario Bros. de uma maneira tão revigorante como olhei nestes últimos dias enquanto jogava sua versão 35.
É uma sensação diferente de encarar um clássico, como se desta vez estivesse tentando desvendar cada mínimo detalhe. Cada caminho mais rápido, cada cano a se entrar, cada caixa de bloco escondido. Memorizar quais são os inimigos de cada estágio, quais os blocos de interrogação possuem power ups e estrelas. São detalhes que nunca prestei tanta atenção enquanto jogava esse clássico na infância. É uma experiência diferente, mais intensa. Tudo isso com um relógio te colocando pressão e outros jogadores tentando lhe sacanear em tempo real. Aliás dá para saber quando você sacaneou um jogador, pois um indicador dourado vai destacar a tela desse adversário que morreu por um inimigo que você enviou para o jogo dele.
Vale apontar que Super Mario Bros., em sua versão original, ainda está presente no Nintendo Switch, dentro dos títulos do catálogo de clássicos dos NES que os assinantes do serviço Online também podem baixar sem custo adicional. Mas cá entre nós, a versão 35 é muito mais divertida. O original é um título já um tanto datado, especialmente quando se olha os Super Marios posteriores, como Super Mario Bros 3 ou Super Mario World. Isso pra não mencionar que o que a comunidade online faz com a paleta de Super Mario Bros em Super Mario Maker 2, tornando o desafio desse jogo em um outro nível que o original nunca realmente ofereceu. Então sim, Super Mario Bros. 35 traz um tempero especial a um clássico que hoje já não é tão divertido como foi em outrora.
Graças a esse olhar mais apurado aos detalhes que a versão 35 acaba entregando ao jogador, fica bem evidente que apesar do design de fase ser bem inteligente para os padrões da década de 80, quando o gênero plataforma ainda estava sendo reinventado e redefinido exatamente por este título, hoje são estágios que soam bem comuns e fáceis em relação ao desafio. Não seria ruim, por sinal, se a Nintendo e a Arika chegassem a um acordo de inserir os estágios de Super Mario Bros.: The Lost Levels (Super Mario Bros. 2 no Japão) ao pacote que a versão 35 já está ofertando. Apimentaria ainda mais as coisas, sem dúvida alguma.
De toda forma, Super Mario Bros. 35 é, de fato, uma linda forma de homenagear algo tão icônico no mundo dos videogames e que talvez nem todo mundo o tenha experimentado nos dias de hoje. Meu pequeno, de 8 anos, por exemplo, já tinha sido apresentado a esse clássico, porém nunca teve realmente vontade de jogar. Afinal ele conhece os títulos mais atuais do Mario. Foi só aqui, na versão 35, que ele genuinamente sentiu vontade de experimentar, e que vibrou comigo jogando e tentando ficar em primeiro lugar. É esse o poder desta versão para com um clássico eterno, mas não tão jogável assim nos dias de hoje.
Considerações finais
Chegando ao final desta análise, após muitas explicações sobre a proposta do título, assim como elogios ao clássico, foram realizadas. Entretanto é preciso separar um espaço para pontuar alguns pormenores para com a experiência que se pode ter com Super Mario Bros. 35. O valor de replay e o ciclo de repetição não muito longo é um destes pormenores.
Por mais que o título seja divertido e lhe faça olhar Super Mario Bros. de uma forma a qual não olhava há muito tempo, essa diversão tem um prazo limitado. Após alguns dias jogando-o, senti que sua experiência foi ficando mais e mais cansativo, assim como mais previsível. Justamente por um ponto que mencionei lá no começo deste meu texto: a constate repetição das fases iniciais dentro do mix de fases de cada partida.
Pode ser que os planos dos desenvolvedores seja justamente segurar mais fases conforme os meses forem passando até março do ano que vem, e portanto não seria inteligente liberar tudo agora. Se for isso, entendo que seja um título que não se dá para jogar todos os dias. É algo para se divertir um pouquinho por semana e ir vendo sua evolução ao longo dos próximos meses. Mas não soa estranho isso? Sabendo que ele irá ter seus serviços interrompidos em março do próximo ano? Aliás, pra quê isso Nintendo?
Se esta é uma experiência, que Super Mario Bros. 35 possa evoluir para algo ainda maior, mesmo que seja em uma versão paga. Eu imagino que fosse ser legal um jogo neste formato com fases de outros jogos do Mario, exatamente como Super Mario Maker trabalha alternado as paletas e adaptando inimigos e cenários. O escopo da fórmula pode expandir muito além do jogo de 1985. Senão algo tão maluco assim, ao menos a mencionada sequência The Lost Levels devesse ser considerada. Até porque ela é realmente uma evolução deste Super Mario, sendo mais difícil e com diversas novas ideias. E é bem menos conhecido.
Além disso a experiência de Super Mario Bros. 35 é limitada em duas modalidades de partida, a padrão, explicada lá para cima deste texto, e uma outra modalidade que se categoriza como um evento especial de tempo limitado. Na primeira semana foi um evento com fases dos dois primeiros mundo, a diferença é que estas fases sempre ocorrem na mesma ordem para todo mundo, algo que pode não acontecer no modo padrão. Este evento de estreia acabou, e hoje começou um evento que inclusive libera uma fase do quarto mundo do jogo, algo que não havia visto, mesmo jogando o título com frequência na última semana. O que reforça a minha hipótese de que dessa forma o título acaba destravando essa fase a mais jogadores e com isso ela torna a ser mais comum. É legal.
Dentre outras funções do jogo, há um monte de formato de placares de líderes e estatísticas, como quais e quantos inimigos já derrotou, quantas moedas coletou e quantas partidas jogou. Inclusive um destes menus de estatísticas só se destrava quando se consegue ganhar pela primeira vez dentro do jogo. Além disso, cada partida dá ao jogador experiência que o permite escalar um sistema de level que existe dentro de seu perfil. Essa progressão de nível não muda nada em termos da sua experiência coma jogabilidade, porém lhe dá novos sprites em pixel para coloca como a imagem de seu avatar no ranking global e online. Um detalhe pequeno, porém legal.
Sendo um título comemorativo de aniversário, bem que essa progressão poderia destravar extras do tipo os que a Capom traz sem suas coletâneas de clássicos, como artes originais, produtos e documentos originais do desenvolvido dessa preciosidade. Isso certamente seria um incentivo para querer ver toda a história documental deste clássico. Soa como uma oportunidade desperdiçada.
Para encerrar, acho que nesse formato, entregue de forma gratuita aos assinantes do serviço Online, Super Mario Bros. 35 é uma bonita iniciativa para comemorar um icônico aniversário, em meio a um ano tão complicado para o mundo inteiro. Cumpre aquilo a que se propõem a ser, e surpreende por nos fazer rever um clássico em um formato diferente, mas ainda fiel as suas origens. Se você é assinante do serviço, não tem porque não conferir. Mas vale assinar o serviço para testá-lo? Esse título por si só, talvez não. Ou uma assinatura mensal, só pra ver qualé.
O ponto é que se Super Mario Bros. 35 tiver a chance de ser um título pago depois de março do ano que vem, a minha opinião é que a Arika deveria trabalhar em alguns pontos, como maior número de fases e alguns modos extras. A ideia é excelente, mas na prática é um título que pode entregar bem mais, e imagino que seja algo que os fãs desejarão com o passar dos próximos meses. Com Tetris 99 foi assim, aqui não deve ser diferente.
Galeria
Dando uma nota
É uma incrível maneira de rever um clássico inesquecível - 9
Coloca novas perspectivas e reapresenta o jogo original ressaltando todos seus detalhes e possibilidades - 9
Proposta competitiva funciona muito bem, dá emoção e tensão em vários momentos - 8.5
Ciclo de repetição dos estágios iniciais compromete seu valor de replay após certo tempo - 7
Sistema de progressão do jogador é simples, desperdiça um potencial para ir além do que meros sprites - 7.5
Fórmula de Tetris 99 se enciaxa com perfeição aqui - 9
Triste saber que é um jogo que desaparecerá após março de 2021 - 6
8
Divertido
Super Mario Bros. 35 é uma excelente forma de rever um dos maiores clássicos dos videogames sob uma nova ótica, entregando uma experiência mais competitiva, a qual todos os detalhes e atenção estão voltadas aos detalhes de suas marcantes fases. Chega a ser uma pena imaginar que o título desaparecerá após 31 de março do próximo ano. Que a Nintendo repense isso!