Criado por Ian Fleming na década de 50, o agente James Bond apareceu inicialmente em pocket books. Mais tarde, sua figura emblemática explodiu nos cinemas com O Satânico Dr. No (1962), dirigido por Terence Young. Pode não ser a mais marcantes das obras, mas era o início de tudo. Os produtores ainda faziam alguns experimentos sobre as ações do personagem que faria Sean Connery um ator icônico.
Falecido no último 31 de outubro aos 90 anos, Sean Connery era apenas um ator de filmes e séries de pouco destaque até aquele momento. E apesar de seu carisma ultrapassar as barreiras da interpretação, os críticos foram mordazes ao apontar falhas tanto no roteiro quanto em sua performance. O público, porém, abraçou o filme que levaria Connery ao estrelato.
O segundo filme (Moscou contra 007) veio para mostrar o quanto a experiência pode ser vital: Connery apareceu mais à vontade e mostrou todo o potencial que as produções poderiam ter. Tanto, que ele fez ao todo sete filmes (um não oficial) na pele do agente, sendo posteriormente substituído por George Lazenby (em uma rápida passagem), Roger Moore (um dos preferidos do público), Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig (que assumiu o posto em 2006).
O agente ficou conhecido por seu estilo e hábitos que iam desde a escolha de sua dose preferida de martini (batido, não mexido), ternos feitos sob medida e um número nas apostas de roleta. Sua presença constante em cassinos, por exemplo, também influenciou várias gerações que buscaram aprender jogos como poker e outras modalidades como Texas Hold’em, presentes em vários de seus filmes. Outra presença na cultura foi a popularização de carros que acabaram sendo peças buscadas por colecionadores.
De lá para cá, como podemos perceber, muitas águas já rolaram, guerras iniciaram e tiveram fim e assuntos antes importantes são vistos como históricos. James Bond acompanhou a Guerra Fria e atualizou-se com as novidades tecnológicas, mas ficava claro que algo a mais deveria ser feito.
Apesar da aclamação e sucesso imenso que se renova ano a ano, suas histórias nunca foram uma unanimidade e ferrenhos críticos discutiam sobre comportamentos que pareciam ter parado no tempo: como a forma como as mulheres eram retratadas em seus filmes. E embora as bond girls tivessem trazido um toque a mais e levado ao estrelato atrizes como Ursula Andress, Honor Blackman e Diana Rigg, estava claro que a presença feminina deveria ser apresentada de outro modo. E é o que o próximo filme da franquia promete fazer.
Em 007 Sem Tempo para Morrer, Lashana Lynch será, após 58 anos e mais de 24 filmes, a primeira mulher a interpretar a agente com licença para matar. A personagem surge para substituir o Bond de Daniel Craig, após esse se aposentar do serviço secreto. A presença de Lynch marcará um momento histórico e comportamental, algo bem necessário nos tempos atuais.
A notícia se espalhou rapidamente, embora tivesse sido guardada à sete chaves e a atriz chegou a enfrentar muito preconceito pelo fato de ser mulher e negra. Os ataques foram tão vorazes que Lynch chegou a excluir suas redes sociais. Porém, ela não desanimou.
Em uma entrevista concedida à conceituada Harper’s Bazaar, a atriz que também participou ativamente de Capitã Marvel afirmou que, com sua personagem, pretende mudar a maneira como a personagem feminina será vista pelo público. Ela está ciente do caráter revolucionário do momento. Lynch chegou a declarar:
“Eu não quis perder a oportunidade quando vi o que Nomi (a personagem) poderia representar. Procurei por pelo menos um momento no roteiro em que os membros negros da audiência acenariam com a cabeça, em reclamação pela realidade, mas felizes em ver sua vida real representada“. E complementou: “Em cada projeto do qual faço parte, não importa o orçamento ou o gênero, a experiência negra que estou apresentando precisa ser 100% autêntica”.
O filme dirigido por Cary Fukunaga teve sua estreia adiada para 2021 e contará, além de Daniel Craig (Quantum Solace) e Lashana Lynch, com as presenças de Rami Malek e Ana de Armas, além de Lea Seydoux e Christoph Waltz que retornam em seus papéis.
Neste momento os dois fatos ocorridos ligam o antigo ao novo: a morte de Connery leva milhares de fãs a buscarem seus filmes nas plataformas de streaming, enquanto que a presença feminina promete mudar e dar um novo fôlego para a franquia que está prestes a chegar aos 60 anos.
Lembrando que um de seus símbolos, a pistola Walther PP utilizada no primeiro filme, está prestes a ser leiloada, e o diretor-executivo da Julien’s Auctions chegou a falar no comunicado que: “A silhueta de 007 segurando esta arma se tornaria a imagem mais emblemática da franquia James Bond e uma das referências pop mais reconhecíveis de todos os tempos”. Com a chegada de uma personagem feminina de destaque, espera-se que outros símbolos sejam criados e impressos na história do cinema.