Análise | Call of Duty: Black Ops Cold War
Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series X|S & PC
Cold War. Como um garotinho nascido no final da década de 70, a Guerra Fria foi algo que testemunhei, ainda que a pouca idade me impediu de entender o que tudo era aquilo exatamente. Mas puxando pela memória consigo lembrar que a perspectiva de uma guerra nuclear era bem aterrorizante.
Em plena década de 80, a temática de americanos versus russos era muito presente nas produções. Ver essa época sendo retratada nos games e nos filmes sempre me leva pro túnel do tempo da nostalgia, e lembro de quando brincava com meus Comandos em Ação, com os Joes sendo obviamente americanos e os bonecos do Cobra sendo russos. Essa rivalidade foi exaustivamente explorada nas últimas décadas, e a chamada “década perdida” ainda vai estar na mídia por um bom tempo.
E Call of Duty também tem estado na mídia há um bom tempo, encabeçando sempre o topo das listas de games mais vendidos, ainda que com alguns altos e baixos. Porém no caso da série Black Ops, todos os jogos foram bem aceitos entre a comunidade. Porém, existia uma lacuna entre o primeiro e o segundo jogo da série (os mais adorados pelos jogadores), e o CoD desse ano veio para ser a ponte que faltava entre eles, sendo uma sequência direto do primeiro jogo.
Respirando ares mais frescos
Call of Duty Black Ops Cold War chega com seu charme próprio, com uma Campanha com um jeitão meio diferente, apostando em um gameplay mais condizente com a temática de uma Guerra Fria, deixando um pouco de lado as cenas grandiosas de ação para momentos chaves, e assumindo um ritmo mais lento, com o jogador sendo levado a investigar pistas, e muitas vezes como um verdadeiro espião, estar mais preocupado em observar detalhes do que atirar em tudo que se move.
Jogue a missão na KGB e você vai ter que se espreitar nas sombras, se virar para não alarmar sentinelas, arrombar coisas e só aí, se der tudo errado, sentar o dedo no gatilho. Também junto com toda essa coisa nova de missão de infiltração vamos encontrar arcades e em alguns deles dá para jogar verdadeiros tesouros do passado da Activision como Barnstorming, Enduro, Pitfall!, River Raid, Kaboom!, Fishing Derby e Grand Prix.
Em vários momentos parecia que eu estava que eu estava jogando um Splinter Cell ao invés de um legítimo Call of Duty. Até mesmo momentos de puro stealth rolaram durante a história, tendo que passar por inimigos sem ser visto, abatê-los e ainda por cima esconder os corpos. Fãs mais antigos como eu com certeza também devem estranhar esses momentos, mas eles são muito importantes para validar a ambientação proposta pelo jogo. Sem dúvida é uma característica que merece ser explorada em jogos futuros.
Cold War é uma sequência direta da campanha do Black Ops original e traz uma narrativa cheia de reviravoltas que inclui o retorno de Alex Mason, Frank Woods e Jason Hudson. Além de jogar com o Mason, você criará o seu próprio agente e se juntará à força-tarefa liderada pela CIA em busca de uma ameaça global chamada “Perseu”, um agente soviético que está disposto a virar o jogo da Guerra Fria após décadas de inatividade.
Claro que o enredo não é nada de explodir cabeças, mas bebe na fonte de várias obras, com direito a reviravoltas e revelações. Durante a Campanha, o jogador é obrigado a fazer escolhas, levando a finais diferentes. Isso foi intencional por parte da equipe da desenvolvedora Raven, sendo uma homenagem direta as finais diferentes que Black Ops II oferece. Outro detalhe é que é possível fazer certas missões sem uma ordem específica, outro ponto que diferencia o jogo dos demais CoDs.
Tudo isso ajuda bastante no valor final de replay do game, já que a Campanha é curta esses diferenciais são legais de serem aproveitados ao jogar novamente esse modo. Outra novidade é que você assume o papel de um personagem com características escolhidas por você. Sim, pela primeira vez num CoD você cria seu personagem e isso afeta diretamente a jogabilidade, já que as escolhas alteram coisas como capacidade de recuperação, movimentação, velocidade de recarga, entre outras opções.
Aproveito para elogiar a dublagem brasileira, com vozes variadas e marcantes, algo fundamental para a imersão do jogador, combinando muito bem com os personagens. Aliás, a parte sonora do game como um todo merece muitos elogios, é fundamental jogar com um bom fone de ouvido! E as músicas, caramba, não tem jeito, é anos 80 e elas vão ficar na sua cabeça mesmo depois que parar de jogar.
A guerra online não esfriou
O Multiplayer conta com modos clássicos sem deixar de lado algumas novidades, como os modos Bomba Suja, Armas Combinadas e Escolta Suja, e o interessante desses modos é que eles promovem mais a cooperação entre membros do seu time do que apenas um tiroteio desenfreado.
E os modos clássicos mostram sua força com um ritmo de jogo mais acelerado, característico da série. Aqui o dedo da Treyarch é bem nítido, e na minha opinião é o multiplayer mais legal dos últimos CoDs. Inclusive joguei com o Campo de Visão dobrado, algo bem presente em jogos de PC mas ainda não muito difundido em consoles. Me adaptei muito bem a isso, e jogando com mouse e teclado, a sensação foi praticamente a mesma de se jogar em um PC.
Um aspecto que muitos apontam como negativo é que o jogo chegou com apenas oito mapas. Realmente é pouco face aos jogos dos últimos anos, mas vale lembrar que muita coisa ainda vai ser lançada nos próximos meses, e a Treyarch ainda teve que contar com um tempo de desenvolvimento mais curto do que o normal, e de quebra com uma pandemia assolando o mundo. Então, deixo aqui registrado minhas palmas para os times responsáveis pelo game.
Como é tradição desde World At War, o modo de jogo Zombies está presente e a Treyarch começa uma nova história, o que é muito bom para jogadores novatos, ainda mais que a jogabilidade e o modo de se jogar estão mais amigáveis do que nunca. Então, se nunca o fez, jogue Zombies e curta uma vibe diferente, de preferência com as luzes apagadas e som bem alto. Esse modo coloca você e mais três outros Operadores em uma luta contra legiões de mortos-vivos no papel de agentes do Réquiem, uma equipe internacional apoiada pela CIA e liderada por Grigori Weaver com o objetivo de investigar e eliminar anomalias sobrenaturais ao redor do mundo.
Ao ficar cara a cara com os rivais do Grupo Ômega, uma organização de liderança soviética que visa pesquisar e potencialmente obter o controle dessas anomalias, os agentes do Réquiem usarão Vantagens melhoráveis e um armamento zumbi da época da Guerra Fria para enfrentar ondas de mortos-vivos, além de descobrir segredos enterrados há décadas que poderiam bagunçar a ordem mundial. Mas tem um detalhe não tão legal nessa coisa de toda de zumbis, o modo Zombies Onslaught é exclusivo temporariamente para a galerinha do PlayStation.
Mas vamos voltar a falar de coisas boas? Claro que o multiplayer está integrado como o Warzone, e o modo Armeiro do último Modern Warfare aqui está presente ainda melhor e mais cheio de opções. Minha única reclamação nisso tudo é que está demorando demais para subir os níveis das armas, espero que logo saia uma correção para isso.
Outro modo de jogo interessante é o Dead Ops, que volta repaginado e ainda está surpreendendo muitos jogadores que nunca deram bola pra esse modo. Essa é a terceira versão do jogo arcade de tiro com perspectiva aérea da franquia Black Ops. Nela você entra em uma partida com a sua equipe no menu do Zombies e juntos tem que sobreviver o maior tempo possível em novas arenas, e em espaços de mundo aberto, áreas bônus e masmorras geradas aleatoriamente.
Com suporte para crossplay e permitindo que os jogadores mantenham sua progressão entre plataformas, além de um novo sistema de progressão que unifica o modo Multijogador e o Zombies, os jogadores podem disputar com os amigos e conquistar o título de Mestre do Prestígio a cada temporada, não importa a plataforma jogada, e temos então mais um belo acerto para esse game.
Uma guerra fria no desenvolvimento
Desde 2012, Actvision implementou um “rodízio” entre as desenvolvedores de CoD, conforme vemos abaixo:
2012 – Treyarch – Call of Duty: Black Ops II
2013 – Infinity Ward – Call of Duty: Ghosts
2014 – Sledgehammer – Call of Duty: Advanced Warfare
2015 – Treyarch – Call of Duty: Black Ops III
2016 – Infinity Ward – Call of Duty: Infinite Warfare
2017 – Sledgehammer – Call of Duty: WWII
2018 – Treyarch – Call of Duty: Black Ops IIII
2019 – Infinity Ward – Modern Warfare
Em 2020 seria a vez da Sledgehammer, porém de maneira supreendente a Raven foi colocada na posição de liderar o projeto. A Raven nos últimos anos vinha ajudando no desenvolvimento dos jogos de maneira cada vez mais e era um passo natural.
Curiosamente, uma guerra fria acabou acontecendo entre a Raven e a Sledgehammer, cada uma divergindo da outra sobre os rumos da Campanha. E nessa guerra o lado “vitorioso” acabou sendo a Raven. Claro que o fiel da balança foi a Treyarch, que recebeu da Activision a incumbência de levar adiante os rumos da sua franquia escolhendo a Raven. Talvez o CoD desse ano nem seria um Black Ops, mas com a Treyarch no comando o Black Ops de 2021 foi adiantado e talvez até mesmo mesclado com as ideias da Raven, e com certeza o tempo curto de desenvolvimento e a pandemia bagunçaram ainda mais as coisas.
Quanto a Sledgehammer, ela acabou por ter uma participação menor em Cold War, mas em breve o estúdio deve anunciar seu novo jogo no qual está trabalhando atualmente. Nunca saberemos como Cold War seria na visão da Sledgehammer, mas o resultado obtido pela Raven não deixa muito espaço para lamentos, pois a Raven sob a tutela da Treyarch conseguiu se posicionar como uma verdadeira desenvolvedora capaz de entregar um CoD de bom nível. Até nisso a Treyarch conseguiu acertar e Call of Duty Black Ops Cold War está na nossa lista de boas indicações para você jogar. E o melhor, dá pra fazer isso sem mullets!
Extra | Test drive no Xbox Series S
— Por Thiago Machuca
Saudações leitores! Enquanto o Mauri ficou incumbido da análise geral de Black Ops: Cold War, minha missão aqui foi um pouco mais específica: testá-lo no Xbox Series S e relatar aqui a experiência do título na nova geração de consoles que está entre nós.
Como começar? Bem, primeiro que o título tem duas versões distintas para cada plataforma Xbox, uma que roda no Xbox One e uma para Xbox Series X|S. Você precisa se atentar também que não é toda edição digital do título que dá o direito à esta versão para o novo console. É preciso procurar a edição multi-geração (cross-gen) ou definitiva (ultimate). Se guie por esta página que não tem como se perder.
“Tenho a versão normal, para Xbox One, e quero saber se ela vai rodar no Xbox Series X|S?” Sim, mas não vai ser a versão exatamente otimizada para a nova plataforma. Sim, é uma decisão estranha e diferente do que outros jogos de outros estúdio estão fazendo nessa transição de geração, mas também não é a única a fazer. Control, da Remedy, fez algo bem parecido, dando direito a uma versão otimizada de seu jogo apenas para quem adquiriu sua versão ultimate.
Indo adiante, a versão que testei foi exatamente a feita para o novo console. Alias, sequer encontrei uma opção que deixasse instalar apenas a versão Xbox One para testá-la no Xbox Series. Não descobri se algo assim é possível. Tendo a versão que dá direito a cross-gen, é esta que estará disponível. E se prepare, pois o título precisa de 121,2GB de espaço no armazenamento interno do novo console. E conforme novos conteúdos forem sendo lançados, esse número tende a aumentar.
A boa notícia é que dá para instalar seu conteúdo parcialmente, e assim poupar espaço de armazenamento no console. Não são todos os jogos otimizados do console que estão vindo com essa opção, mas achei inteligente a decisão da Treyarch de fazer isso para este lançamento. Dentro do gerenciamento é possível instalar: jogo principal (este é obrigatório), campanha, multiplayer, zumbis, Dead Ops Arcade, texturas HD e ray tracing. Você é destes que só joga multiplayer? Dá então para deixar todo o resto desinstalado e poupar espaço no console.
Quanto a parte prática, de ligar e sair jogando o novo título, o que posso dizer é que é maravilhoso. Não sou um destes jogadores que ficam contando pixel na tela ou que sente de forma intuitiva quando o jogo tem pequenas quedas de quadros (variação no framerate). Sou péssimo nisso, mas o jogo visivelmente roda suave e sem qualquer segundo de engasgo, independente da quantidade de informação que o jogo está processando.
Pego como exemplo, afim de não dar muito spoiler, um dos momentos iniciais da campanha, quando o jogador está em um veículo perseguindo um avião, enquanto outros veículos estão em seu encalço e você precisa atirar nos inimigos. Carros explodem em tempo real, inimigos saem voando, tudo em alta velocidade, enquanto um avião vai se aproximando, até tudo explodir, rodopiar e um grande acidente acontecer. Toda essa cena cinematográfica roda constante e sem uma queda de quadro no Xbox Series S. Ao menos não de forma perceptível aos olhos de jogadores comuns.
Na parte visual é difícil apontar que o salto é grande. A bem verdade é que os jogos da franquia Call of Duty são sempre impressionantes nessa categoria, até mesmo rodando no meu Xbox One S, já guerreiro nesse ciclo final de geração. O ponto é que para produzir tais gráficos, nem sempre os mesmos rodam suave. O que não percebi no Xbox Series S são elementos de cenário ou texturas carregando na minha cara. Tudo já está carregando quando estou jogando. Em outro exemplo, há uma perseguição em alguns telhados na missão introdutória do jogo, e apesar dela ser construída à noite, o que ajuda a disfarçar em consoles mais modestos, existem muitos elementos em tela. Não percebi nenhum objeto ou textura carregando enquanto avançava nesse momento.
Entretanto acredito que a principal discrepância entre consoles que posso ter percebido diz respeito ao multiplayer online, a qual o jogo roda constante a 60FPS – minha TV não é capaz de ir a 120FPS e o Series S também tem suas limitações para essa modalidade. Se a sua internet estiver de boa, sem lag, a partida realmente tende a ser incrível. É palpável a jogabilidade suave e ágil, a qual o jogo te responde de imediato qualquer comando no controle. Isso sim me impressionou. Dá um grande ânimo para ficar no multiplayer desse jeito.
Também testei o modo zumbis, que atualmente só possui um mapa. O objetivo era testar se o jogo engasgaria com muitos zumbis em tela, ainda mais em um multiplayer online. Nessa modalidade, não senti a jogabilidade tão suave quanto no versus normal, mas isso porque a ação é muito frenética e não há tempo para se observar demais. É uma modalidade que você precisa reagir primeiro e pensar depois. Houve uma partida em que joguei em que a conexão não se comportou como deveria e houve engasgos e lags, e aí o Series S não tinha muito o que fazer. Porém em outra, a qual sobrevivi por 18 ondas de zumbis (o que achei impressionante, já que não sou assíduo jogador desse modo), a partida foi sem problemas na conexão e a resposta do controle era sempre imediato. Inúmeros zumbis da tela não desaceleraram nem um segundo o processamento do jogo.
Estou chegando em uma nova geração de consoles vindo de uma experiência com o Xbox One S nestes últimos anos. De jogos que hoje em dia o One S já sofre para rodar de forma perfeitinha. Nunca tive um Xbox One X, e portanto essa coisa de gráficos 4K, ray tracing, texturas aprimoradas e 60FPS gravados são novidades pra mim. E pelo que posso notar, Black Ops: Cold War está tirando um belo proveito disso neste novo ciclo de consoles. Gostei e me impressionei.
Galeria
Dando uma nota
Não é só sobre atirar em coisas - 9
Nostalgia dos Anos 80 pra quem gosta! - 9
Os sons e trilha sonora estão incríveis - 9.5
Poucos mapas no Multiplayer - 7
Mesmo feito na correria o jogo continua em alto nível - 9.5
Bem adaptado a nova geração, mas é preciso de espaço nesse armazenamento - 8.9
8.8
Ótimo
Repleto de nostalgia anos 80 e com uma campanha de ritmo diferenciado, o CoD desse ano faz a franquia continuar entre os melhores do ano!