Análise | Marvel’s Spider-Man 2018 (revisitando)

Disponível para PlayStation 4 & PlayStation 5

Marvel’s Spider-Man é algo único, porque essencialmente consegue evitar velhos clichês dos jogos eletrônicos baseados em super heróis, ou naqueles que tentam conversar diretamente com outras mídias. O título é uma produção da Insomniac Games (Ratchet & Clank, Resistance), que em parceria com a Sony Interactive Entertainment (publisher) apresentaram um novo universo original para o amigão da vizinhança que todos conhecem tão bem.

Vamos revisitar esse incrível jogo, que foi (e ainda é) sucesso absoluto, lançado em setembro de 2018, exclusivamente no PlayStation 4, e que recentemente voltou aos holofotes com uma nova versão lançada exclusivamente para o também lançado PlayStation 5, juntamente com uma nova sequência, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, a qual espero poder escrever a seu respeito em um futuro próximo.

Opa, mas então… espere… vale à pena jogar Spider-Man 2018 antes de seguir para Miles Moraes?

Apesar de ser um jogo lançado no segundo semestre de 2018, o título vem envelhecendo muito bem, pois em questão de qualidade não deixa a desejar em nada com outros jogos que foram lançados nos últimos meses. É um jogo indispensável para quem adquire um PlayStation 4 ou até mesmo para quem está indo diretamente para o PlayStation 5.

Importante lembrar que a versão do jogo para PlayStation 5 não está a venda (neste momento) de maneira individual. O título vem incluso, de forma exclusiva, com a Versão Ultimate de Marvel’s Spider-Man: Miles Morales. Esta é a versão que apresenta um tratamento gráfico melhorado em relação ao jogo de 2018, incluindo um novo rosto ao Peter Parker, que o deixa mais parecido com o Tom Holland (ator que interpreta o Peter nos atuais filmes para a cinema), mas que na realidade foi inspirado no rosto do dublador do personagem no jogo, interpretado/dublado por Yuri Lowenthal. Então a versão de 2018 do jogo de PS4, mesmo rodando no PlayStation 5, não apresenta estas mudanças/melhorias.

Sendo assim, com o recente lançamento do jogo protagonizado pelo Miles Morales, você pode se perguntar se deve jogar o primeiro Spider-Man de 2018 ou se já vai direto pra sequência… bem, na minha opinião, com certeza a versão de 2018 deve ser a escolhida. Não só pelo título fazer uma fantástica introdução a este novo universo do Aranha nos videogames, como também apresentar as primeiras aparições do Miles na história. Até porque, os eventos de Marvel’s Spider-Man: Miles Morales ocorrem depois deste primeiro título, e isso deixará a experiência deste novo universo da Insomniac/Sony muito mais completa.

Não é mais uma história de origem!

Peter Parker é um dos personagens mais conhecidos do mundo, mas se por ventura você nunca ouviu a seu respeito (como? me diga… como?!), acho válido dizer que estamos falando do cara que ao ser picado por uma aranha alterada geneticamente ganha poderes sobre-humanos. Que depois de alguns eventos negligentes em sua jovem vida resolve que com grandes poderes surgem grandes responsabilidades. Assim, Peter se torna o Homem-Aranha e passa a utilizar seus poderes, juntamente de muitas bugigangas criadas por ele próprio, para defender a vizinhança e quem mais estiver correndo perigo por aí.

Entretanto o que torna Marvel’s Spider-Man narrativamente tão fantástico e fenomenal é que não estamos mais uma vez dentro de uma trama de origem, com aqueles clássicos, e já batidos, elementos de início de carreira de um super herói, tio Ben, a vida escolar do Peter, primeiros vilões que todo mundo conhece e blá blá blá. Não! O que o jogo entrega é um jovem adulto Peter Paker, já não mais na escola, vivendo seu primeiros eventos da vida adulta. Momentos que nem mesmo os atuais filmes exploraram, mas que os quadrinhos (em suas muitas versões) sim. Aqui temos Peter com 23 anos.

A criação de um novo universo para o jogo é uma aposta fora da curva, especialmente em se tratando de jogos eletrônicos… tão acostumados a pegar um filme, série ou algo pronto de outra mídia e apenas adaptar para tal mídia interativa. Existe um vídeo, lá de 2018, da IGN US, com o diretor criativo Byran Intihar falando a respeito desse processo de criação, que certamente vale a pena assistir para entender mais a respeito deste processo.

Aqui temos um jogo que traz personagens já bem conhecidos, mas com pequenas reinvenções que casam com a proposta de um jogo além dos velhos clichês conhecidos. Peter e Mary Jane, por exemplo, estão em sua fase clássica de um relacionamento, a qual a personagem já sabe o segredo de Peter. O grande trunfo aqui é que a aposta não é mais naquele velho clichê da atriz/modelo com os altos e baixos da fama. Aqui encontramos um Mary Jane jornalista, muito mais semelhante com a dinâmica de um Superman & Lois Lane. Uma dinâmica diferente para o mundo do Homem-Aranha. O jogador inclusive assume o papel da personagem em alguns momentos do título, um elemento inesperado de gameplay, sem dúvida alguma.

Também é bacana que o jogo explore outros vilões menos carnavalescos, como Rei do Crime e o Senhor Negativo. Neste último, é ainda mais legal, pois se pegou um fantástico vilão que surgiu em 2007 nos quadrinhos e que até então não tinha sido adaptado para outros mídias de uma forma tão impactante quanto o game faz – ok, o vilão fez uma pontinha em uma série animada do Aranha em 2017, mas vamos combinar que aqui foi bem mais legal. E esse é um vilão tão interessante, pelo revés de quem ele é e o que faz quando não está na “vestimenta” do vilão, e como isso tem aquele impacto da discussão sobre o caráter humano e sua bipolaridade.

Além de tudo isso, temos aqui a inserção do Miles Morales, o outro Homem-Aranha, que durante muitos anos morou apenas no universo Ultimate dos quadrinhos, e levou décadas para a Marvel decidir colocá-lo no universo tradicional do Aranha. E vamos lembrar que este jogo saiu antes de Miles explodir no longa-animado Spider-Man: Into the Spider-Verse, lançado no final de 2018. Pra se ver o quão em sintonia a equipe de desenvolvimento estava na época com o material que tinha em mãos para trabalhar.

Acredito que utilizar uma grande quantidade de personagens já consagrados pode ter sido um dos principais chamarizes para a nova saga do Aranha nos videogames. Pois ao mesmo tempo que são rostos bem conhecidos, temos aqui uma história contada de sua maneira e que em muitos momentos deixa o jogador interessado em saber o que esta acontecendo por trás dos acontecimentos. Claro que conforme o jogo avança alguns destinos já são esperados de acontecerem, mas ainda assim isso não impacta para uma má experiência, pois a narrativa faz o seu papel de maneira muito bem desenvolvida.

Jogabilidade-aranha

Além da trama principal o jogo traz diversos desafios paralelos ou missões secundárias para se fazer pela cidade. Posso citar ações como consertar algumas antenas que emitem sinal de rádio, resgatar pombos que fugiram de seu dono e tirar fotografias de monumentos históricos da região como algumas coisas possíveis de se fazer durante a jogatina. O que faz com que balançar por aí com a teia se torne algo bem atrativo e não um simples passeio sem objetivos. Cumprir determinadas missões, seja da história principal ou seja de outro tipo, liberam algumas fichas que são essenciais para o desenvolvimento de trajes, dispositivos e evolução de equipamentos.

A jogabilidade pelos arranha-céus sempre foi uma das coisas mais esperadas pelos jogadores que querem controlar o Homem-Aranha nos videogames, e aqui a liberdade encontrada é enorme. Além do tradicional balançar lançando as teias de um lado e do outro também é possível dar impulsos e fazer cambalhotas pelo ar que te dão até pontos de habilidade, ou mesmo se lançar diretamente para locais próximos com precisão para admirar a cidade dos pontos mais altos. É incrível sobrevoar com o uso das teias ainda mais com a qualidade gráfica que o jogo possui, detalhando muito bem cada prédio, praça, carros e tudo mais que compõe o mapa. Nova York nunca esteve tão incrível quanto aqui.

A todo momento o jogador recebe a informação de que está havendo crimes pela cidade. Então se quiser fugir um pouco da história central, você pode simplesmente sair por aí que sempre será notificado por alguma gangue tentando invadir algum local, bandidos colocando bombas pela cidade ou até mesmo assaltos acontecendo em tempo real e, é claro que, além de ser ótimas opções para diversificar na gameplay, vale muito a pena aproveitar esses momentos para desenvolver novos combos e subir os níveis de habilidade do personagem, aumentando assim seu leque de movimentos e profundidade para com a jogabilidade.

Com pouco tempo de jogo já fui me habituando aos comandos e em como funcionava o controle do personagem no geral, pois aqui a jogabilidade inclui não só os combates que todos adoramos nos jogos de super-heróis e que ficaram incríveis, mas Marvel’s Spider-Man tem também toda a implementação da jogabilidade com a teia e uso de dispositivos que são personalizados durante o avanço no jogo.

Por padrão nosso herói tem poucos golpes e combos, mas conforme vai subindo de nível e ganhando pontos de habilidade, temos uma árvores de habilidade que lhe permite desbloquear novas funções, sejam ofensivas, defensivas ou de movimentação. E conforme o evoluímos fica muito mais divertido os combates com uma gama incrível de combos e que, na minha opinião foram, muito bem implementados aqui.

Mas calma lá, pois além das habilidades que podemos evoluir no personagem, há também trajes de diferentes estilos (de outros universo do Aranha) que podem ser desbloqueados, seja cumprindo missões específicas no jogo, ou juntando fichas conquistadas em diferentes desafios para liberá-las. E o melhor: alguns trajes liberam algum poder novo junto deles, como por exemplo uma habilidade especial que fazem surgir diversos clones que ajudam no combate contra muitos inimigos. Esses poderes extras de traje são de uso limitado, conforme uma barra de foco se enche durante os combates.

Para ajudar nas lutas, há também os dispositivos que podem ser criados conforme o avanço na história. Estes podem ser usados em conjunto nas lutas, pois são selecionados por uma roda de opções que aparecem ao clicar L1 durante a pancadaria, que diminui a passagem do tempo para que consiga criar combos de maneiras diferentes contra seus inimigos. Esses dispositivos podem ser evoluídos, e achei bem bacana que eles possuem um certo cooldown (tempo de espera) para serem usados novamente, o que não deixa as batalhas tão sem graça com o uso excessivo deles. O Tiro de Impacto, por exemplo, foi um dos dispositivos que mais usei, pois estando próximo de paredes, carros ou lugares que prendem o inimigo, o oponente é lançado diretamente e fica lá, quietinho esperando a polícia aparecer!

Entretanto devo fazer um alerta sobre toda a essa gama de ações, missões opcionais e de se perder demais no mundo do jogo: não abuse muito desses desafios paralelos para que não enjoe rapidamente, pois mesmo com essa gama diversa de situações, conforme o tempo passa podem ficar um pouco maçantes apenas bater em inimigos sem dar sequência na história. Equilíbrio, essa é a palavra chave quando se trata de jogos de mundo aberto.

Como mencionei alguns parágrafos acima, em alguns momentos do jogo a ação frenética com o Aranha fica de lado para que possamos jogar com a Mary Jane, em situações furtivas e silenciosas, onde atua de maneira investigativa para auxiliar o Cabeça de Teia a solucionar os casos e avançar na história. É uma ótima maneira de implementar um estilo diferente de gameplay na história, sem tirar o contexto do jogo. E não é somente a senhorita Watson que deixa a pancadaria de lado, como em alguns momentos você irá desempenhar momentos de pura inteligência na pele do próprio Peter Parker, resolvendo alguns puzzles para realizar consertos em equipamentos ou até mesmo para descobrir algumas substâncias secretas encontradas.

Gráficos e som

Acho que a primeira coisa que logo nota-se ao jogar Marvel’s Spider-Man, mesmo sendo a versão 2018, é a sua qualidade gráfica, que diga-se de passagem está impecável. O visual dos trajes e de toda a cidade trazem aos videogames a qualidade que esperávamos desde os primórdios dos jogos do personagem. Afinal, por mais que alguns dos jogos do Aranha nas últimas décadas sejam interessantes, o ponto fraco sempre era a qualidade gráfica. Por mais que utilizassem sempre grande poder dos consoles em que os jogos saiam.

O ponto aqui todos entendemos: nunca é fácil fazer um jogo de mundo aberto vivo e repleto de vida. Sempre será um trabalho muito difícil. Entretanto aqui é palpável que a Insomniac Games deu seu melhor e usou e abusou do poder gráfico encontrado no PlayStation 4 para entregar um trabalho excelente. Imagine só como deve estar a versão otimizada para o PlayStation 5 (a qual mencionei lá no começo deste texto).

Cito a versão de PS5, porque para mim esta versão 2018 só não recebe um 10  porque pecou (infelizmente) no tratamento visual dado aos rostos dos personagens. Um jogo tão bonito como este merecia animações e expressões um pouco mais trabalhadas, já que em muitos momentos da história envolve um clímax que utiliza muito do que cada personagem está sentindo. Fico na curiosidade se esse aspecto sofreu mudanças significativas na versão otimizada do novo console recém-lançado. Mas em todo o resto – ambientação e o Aranha em si – está tudo fantástico.

Quanto ao som do jogo, este cumpre seu papel. Há bastante diálogo sempre, seja de inimigos lhe xingando, de conversas com a Mary Jane, outros personagens e até mesmo o programa do J.J. Jameson sempre sintonizado no seu Spider-Rádio. E é sempre importante apontar que aqui no Brasil o jogo recebeu uma completa localização em nosso idioma, estando totalmente dublado em português.

Por último, na parte dos efeitos técnicos de som, posso dizer que os combates trazem sons precisos e que mesclam muito bem a todo o resto, seja com as animações encontradas nos combates ou com os disparadores de teia quando se está passeando pela cidade.

Considerações finais

Posso dizer tranquilamente que essa foi a melhor experiência que já tive nos videogames com o nosso querido Homem-Aranha. Há combates muito bem projetados, investigações, missões diversas para fugir um pouco da história central e resoluções diversos de puzzles para diferenciar o gameplay. Sobrevoar Nova York com suas teias ficou incrível e tudo isso envolvido em uma história muito bem conduzida, que não se preocupa em correr com a trama ou em deixar algo em aberto. Há um ciclo narrativo que é iniciado e fechado nesse jogo, e que ainda deixa em aberto um universo todo de Spider-Man para o desenvolvimento de continuações.

Não é pra menos que o lançamento de Marvel’s Spider-Man: Miles Morales para PS4/PS5 agora em novembro deste ano mostra que a Sony pretende não só seguir, mas expandir o máximo que puder todo esse maravilhoso universo criado exclusivamente para seu console. E eu aprovo essa atitude, pois depois da experiência que tive aqui com Marvel’s Spider-Man, acredito que está é um universo que não cairá mais no esquecimento e que muita coisa boa ainda pode ser feito com o mesmo, inclusive em outras mídias.

Mesmo um pouco mais de dois anos após seu lançamento original, Marvel’s Spider-Man, continua sendo um título obrigatório para os donos do console PlayStation, seja do 4 ou 5. É uma das melhores ideias em games que o personagem recebera nas últimas décadas, respeitando totalmente o legado de um personagem que já teve sua origem recontada incansáveis vezes, e que aqui se decidiu não readaptar mais uma vez algo já conhecido, e sim apresentar uma versão totalmente inédita, repensada para ser um frescor ao fã que já conhece todas as possíveis história do Amigão da Vizinhança de cor e salteado. Isso somado a um gameplay moderno, acessível e pensado na diversão do jogador em controlar um super herói tão versátil como o Aranha é, conseguindo recriar com grande naturalidade todo o malabarismo e contorcionismo aéreo que o personagem sempre apresentou em outras mídias, seja quadrinhos, seja nas telonas. É a experiência definitiva do universo Aranha. Sem mais.

Galeria

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Dando uma nota

História sensacional e emocionante, apesar de personagens já bem conhecidos pelos fãs do Aranha - 9
Combates incríveis, uma gama de opções para combos conforme o personagem evolui - 10
Gráficos surreais, é um colírio para os olhos do inicio ao fim - 8.9
Diversos tipos de missões fazem o jogo não se prender a história principal e aumenta o replay - 9.5
O som da teia vai ficar na sua cabeça de tão prazeroso que é sobrevoar a cidade atrás de bandidos - 9.5
Universo original criado para o jogo entrega um frescor que não é fácil dos fãs encontrarem por aí - 9.5
Estando totalmente localizado, com dublagem em português, torna-se 100% acessível ao público brasileiro - 10

9.5

Fantástico

Marvel's Spider-Man apresenta um universo original, repleto de novas ideias para se trabalhar um personagem que já teve sua origem recontada incontáveis vezes. Faz se uma aposta ousada, mas certeira de apresentar um Peter Paker além da vida escolar. Ao fim, o título também entrega muito bem um mundo vasto de opções e uma jogabilidade bem dinâmica e divertida, dando ao jogador uma legítima experiência interativa de viver o Cabeça de Teia nos mundo dos videogames.

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