Persona 5 Strikers e toda a equipe dos Phantom Thieves chegaram globalmente em 23 de fevereiro deste ano para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC – curiosamente no Japão o título já havia sido lançado em fevereiro do ano passado, exceto no caso do PC. O jogo foi desenvolvido pelos estúdios japoneses Omega Force (subsidiária da Koei Tecmo) e P-Studio (subsidiária da Sega), com distribuição da Atlus.
Encontramos aqui um título que abrange uma mistura dos gêneros RPG de ação, aventura, hack & slash e, em uma boa intensidade, o gênero musou. Também vale apontar que não contamos com localização para o nosso idioma. Então por padrão temos dublagem em inglês para as falas dos personagens, entretanto existe a opção de colocar em japonês caso seja da preferência do jogador. A versão utilizada para este review foi de Nintendo Switch.
Carinhosamente apelidado de P5 Strikers, o título traz finalmente o gênero musou ao mundo de Persona 5, que apesar de não estar disponível para os donos do Nintendo Switch, fez um tremendo sucesso nos consoles da Sony, tanto no PlayStation 3, quanto no PlayStation 4, sendo que este último console recebeu uma nova versão chamada de Persona 5 Royal, que apresentou novidades (como cenários extras, finais alternativos, novos Personas e um novo personagem), e, por fim, Persona 5 também está disponível via retrocompatibilidade no PlayStation 5.
Uma ressalva para quem jogou essa versão Royal: os novos personagens apresentados na versão não estão disponíveis em Persona 5 Strikers, pois o tempo de desenvolvimento dos jogos se cruzaram, porém nada impede que eles surjam como um conteúdo extra para o próprio Strikers no futuro, ainda que nada tenha sido anunciado neste momento.
Espera aí… e quem não jogou Persona 5?
Pois é, veja bem, eu não cheguei a jogar Persona 5. Entretanto pela pesquisa que fiz, e pelas notas nos sites especializados. dá para dizer o título é um dos maiores JRPGs de todos os tempos. Poder continuar a aventura anterior é um prato cheio para quem o acompanhou, mas… e para quem não experimentou?
A pergunta é válida, pois Persona 5 Strikers é uma sequência direta de Persona 5, ambientada seis meses depois que os Phantom Thieves terminaram sua aventura original. P5 Strikers traz uma abordagem de RPG de ação musou no estilo de outros spin-offs de séries populares como Hyrule Warriors: Age of Calamity (baseado em The Legend of Zelda e que temos um review aqui), Fire Emblem Warriors (baseado em Fire Emblem) ou One Piece Pirate Warriors (existem vários e todos são baseados em diferentes sagas da obra original, sendo o mais recente este aqui). Alias, todos estes jogos também desenvolvidos pela Omega Force.
Como característica marcante em comparação a Persona 5, temos a troca da estratégia baseada em turnos, para o aperto de botões freneticamente em meio a multidões de inimigos e obstáculos. Mas mesmo com essa mudança na forma de combate, a mecânica stealth que existe em Persona 5 continua sendo usada aqui. Podemos nos esgueirar em cantos dos cenários ou mesmo no alto de veículos e prédios e realizar emboscadas nos inimigos. Nem sempre sair como um louco para ao meio da batalha é a solução mais prática nos Persona.
Enfim, mesmo sendo uma sequência, P5 Strikers funciona de forma autônoma para quem não jogou o game anterior. Existe um esforço para situar os novos jogadores no mundo onde vive Joker e a sua turma. Em vários momentos da história, recebemos informações de fatos passados, sobre quem são os personagens, como se conheceram e tal. Entretanto, ainda assim, particularmente senti a necessidade de ler um resumo de Persona 5 para conseguir conhecer melhor os personagens e o mundo proposto pelo jogo.
Então, mesmo com a contextualização, o mais indicado seria que o jogador tenha jogado Persona 5. E até dá para compreender que isso ocorra nos consoles do PlayStation, de boas. Só fica ruim para o publico do Nintendo Switch e PC, que não possuem tal opção, afinal Persona 5 nunca esteve disponíveis em tais plataformas. Ou seja, dá para se divertir, dá para entender, mas a vontade de jogar o que deu origem a tudo se complica nestas plataformas que não o possuem. Puxa vida.
Joker e uma trama para se entender
Persona 5 gira em torno de Joker (ele pode receber um nome a escolha do jogador, mas como dentro da aventura recebemos a nomenclatura de Joker vamos usar esta como seu nome oficial aqui), um jovem estudante do ensino médio, que certa noite acaba por presenciar uma jovem sendo assediada e agredida por um desconhecido e imediatamente parte para ajudá-la, mas em uma reviravolta do destino, o agressor consegue manipular a história e coloca Joker como culpado e o mesmo acaba sendo preso.
Após vários fatos, Joker acaba indo parar na academia Suijin em Tóquio e fica sob a responsabilidade de Sojiro Sakura, o dono da cafeteria onde Joker reside e acaba mais tarde se tornando o QG dos Phantom Thieves. Em sua primeira noite no novo ambiente, Joker tem um sonho em que aparece preso em uma cela, dentro de uma sala de veludo (que vem a ser a Velvet Room). Lá Igor, que é um daqueles seres que parece saber milhares de segredos do universo, avisa sobre a chegada de uma ruína iminente e que Joker deve ser reabilitado para que consiga tentar evitar essa catástrofe. Simplificando então, esse é o início de todas as aventuras de Joker e sua turma.
Importante entender que a Velvet Room é famosa por não existir no nosso plano físico, ela é um lugar “entre os sonhos e a realidade”, mas esta sala somente pode ser vista por quem precisa vê-la. Apesar de existir em todos os Personas, essa sala sempre assume formas diferentes, variando conforme a temática do Persona (cada jogo em si) e da consciência presente no coração do protagonista. Em P5 Strikers é exatamente neste local onde podemos fazer o controle dos Personas, seja registrá-los, fazer fusões entre Personas para obter seres mais poderosos, comprar mais deles (após registrar os mesmos, mas somente para substituir algum usado como material em uma fusão) ou ainda aumentar o nível dele, evolução essa que fica limitada ao desenvolvimento do personagem com o qual o Persona está ligado.
No começo de Persona 5 Strikers, a turma (os Phantom Thieves) se reúne novamente para curtir as merecidas férias juntos. Mas as férias são interrompidas pelo aparecimento de prisão (local governado por uma pessoa, não muito diferente dos palácios de Persona 5). Após investigarem por um longo período Joker e seus amigos descobrem que os problemas enfrentados anteriormente (em Persona 5) estão de volta, mas de uma forma um pouco diferente. O que deixa várias dúvidas no ar, dúvidas estas ainda maiores para o jogador que não parar para ler as extensas conversas entre os personagens. E assim, para encontrarem o motivo desse novo problema, uma nova viagem ao Metaverse é necessária.
Após entrarem no Metaverse (o mundo dos Personas) e resgatarem as pessoas desaparecidas que tiveram seus corações roubadas pelo monarca da primeira prisão (resolvendo o problema dele e tentando ou não salvá-lo no processo), toma-se o conhecimento de que mais prisões apareceram pelo Japão, e de que o aparecimento de todas elas podem estar ligadas, fazendo parte de algo muito maior. O fato da prisão não ter desaparecido, como acontecia com os palácios na aventura anterior, deixa os Phantom Thieves apreensivos e mostra que as coisas podem ser bem diferentes desta vez.
A jogabilidade
A clássica jogabilidade presente em jogos do gênero musou persiste aqui. Você controla seu personagem e outros três são controlados pela inteligência artificial, lutam contra muitos inimigos ao mesmo tempo, que podem exigir ações específicas e planejamento estratégico para serem derrotados. Junto a isso, é claro, itens para serem coletados e mecanismos ligados a passagens (que devem ser abertas para permitirem o acesso a novas áreas). A diferença, se comparado a outros jogos do mesmo estilo, é que aqui temos muita leitura entre as batalhas e isso pode afastar um poucos os jogadores mais ávidos por ação e lutas constantes.
Seguindo a premissa de Persona 5, explorar as cidades e conversar com os personagens, vai levar a descoberta de informações cruciais para descobrir e compreender o que levou ao sentimento/trauma que fez com que a prisão fosse gerada por seu monarca no mundo, assim como eram com os palácios em Persona 5. Derrotar o monarca leva à extinção da prisão e ao resgate dos inocentes.
Algo a se destacar é que não ficamos presos a jogar somente com Joker (o herói principal de Persona 5) e podemos assumir o controle de outros personagens, como, por exemplo, Makoto, Yusuke e Ryuji. A troca para jogar com outro personagem de sua equipe de quatro acontece ao simples apertar de um botão, como temos uma equipe com 4 membros o apertar cada um dos direcionais realiza a troca (chamada aqui de Baton Pass, ou seja, um passe de bastão). Se esta troca for realizada exatamente após algum ataque realizado, poderemos criar combos em conjunto, e eventualmente conseguirmos fazer um All-Out Attack (ataque total) onde todos os membros do time atacam juntos. Ao carregar a barra individual de Showtime de um personagem poderemos realizar um ataque devastador deste personagem.
Cada personagem por sua vez apresenta habilidades especiais específicas de seus Personas (os golpes especiais dos Personas). Os ataques normais não envolvendo o Persona do personagem acontece por meio de suas armas básicas, como facas, espadas, sabres ou os próprios punhos. Após derrotar alguns inimigos em sequência podemos realizar um ataque especial onde o personagem une forças com seu Persona para a execução de um golpe, pense em algo como soltar um Kamehameha com o Goku. Se bem administrada essa técnica pode ser disparada em sequência com a troca de personagens na mesma situação dentro de uma mesma batalha.
Outras situações específicas, como agir de forma stealth e emboscar inimigos geram danos adicionais e evitam que certos inimigos chamem reforços para a batalha. Além da turma já conhecida dos Phantom Thieves, temos logo no começo a adição de uma nova personagem, a inteligência artificial chamada Sophia. Ela fica dentro do celular de Joker no mundo real e permite a compra de itens, equipamento e fornece informações como a localização das prisões no mundo real, já dentro do Metaverso ela toma uma forma “humana” e podemos inclusive controlar ela nas batalhas.
Por falar em Sophia, se você estiver jogando Persona 5 Strikers no Nintendo Switch e possuir o jogo Super Smash Bros Ultimate, vai ganhar um spirit exclusivo de Sophia para usar no seu Smash Bros, caso os saves de ambos os jogos estejam no mesmo console. Lembrando ainda, por falar de Super Smash Bros. Ultimate, que Joker está disponível como um lutador convidado presente nas DLCs do jogo e na lista de spirits temos outros membros dos Phantom Thieves.
Afinal de contas, o que é um Persona?
Se você, assim como eu, nunca teve contato com esse universo, talvez esteja se perguntando sobre isso. Vamos lá então. Cada personagem possui ao seu comando um Persona (podendo alterar entre outros e sua posse ao longo da jornada e ainda fundir os mesmos criando seres mais poderosos).
Persona é um termo criado pelo psicanalista Carl Jung e de forma simples seria a máscara social que mostramos ao mundo, criando assim uma impressão ao nosso respeito aos outros, escondendo portanto nossa verdadeira natureza. Ao longo da vida uma pessoa pode mudar de Persona ou fundir características delas. Seria por exemplo, nos mostrarmos fortes, cruéis e implacáveis no nosso ambiente de trabalho, mas nos revelarmos carinhosos e gentis com nossa família.
Parte de quem somos, é como os outros nos percebem, e é assim que “nós” somos criados. A Persona é o poder para que possamos proteger nosso eu interior do mundo. Por serem formados pela mente das pessoas e seus sentimentos, podem assumir formas de seres como deuses, piratas, máquinas, fantasmas e etc, sempre tomando a forma escolhida pelo seu “dono”.
Todos possuímos um Persona, mas a habilidade de conseguir controlá-los e poder manipular seus poderes em batalhas somente se manifesta para determinados indivíduos (os personagens dos jogos nesse caso) devido a fortes cargas emocionais, como situações de extremo perigo ou perdas significativas, mas para tanto devemos aceitar a persona como parte de nós e assim revelar ao mundo o nosso outro “eu” que escondemos dentro de nós.
Personas fora de controle, e sem um “mestre”, são conhecidos como Shadows. Os Shadows são as expressões dos sentimentos negativos (pecados) dos seres humanos, como gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça. Então, um ser humano pode gerar mais de um Shadow. Para piorar, uma mega corporação descobre sobre os Shadows e ao realizar experiências a fim de controlá-los, acaba por difundir uma anomalia que traz eles ao nosso mundo real sem estarem ligados a um usuário, simplificando, imagine um Persona maligno, descontrolado e sem um mestre. Com esse descontrole dos Shadows, coisas estranhas começam a acontecer no nosso mundo e cabe os Phantom Thieves (o grupo formado por Joker e seus amigos) resolver e salvar todos.
Considerações finais
Fazendo algumas conclusões derradeiras sobre Persona 5 Strikers, dá para dizer que mesmo com tantas opções durante as batalhas as coisas podem ficar desgastantes às vezes, pois passamos muito tempo apertando botões freneticamente nas dificuldades mais altas, já que os inimigos surgem em grande quantidade e acabam não sendo derrotados com um ou dois golpes – para não quer sofrer tanto, mude para uma dificuldade mais fácil, as lutas contra os chefes continuam sendo desafiadoras, somente as lutas contra os inimigos comuns que vão ser mais rápidas e menos cansativas.
Em contrapartida, as músicas apresentadas no jogo são literalmente um presente para os ouvidos dos jogadores. Daquelas que você para no meio do dia e percebe que elas estão na sua cabeça. Já me peguei cantarolando mentalmente a música tema do jogo mais de uma vez nos últimos dias. As animações em determinadas partes da história e obviamente na abertura do jogo são muito bonitas e nos presenteiam com animações clássicas no estilo anime. No mais, dentro do jogo em si é aquela coisa né, os maiores detalhes visuais obviamente estão nos personagens controlados pelo jogador e nos chefes especiais de áreas.
Outra coisa que é de praxe em outros jogos JRPG são as extensas conversas entre os personagens, só que para os amantes de jogos do gênero musou, que gostam mais de partir para as batalhas, vai ser um martírio ficar às vezes por mais de 40 minutos lendo conversas sem poder partir sem culpa para a ação.
Cada um dos monarcas das prisões é semelhante a algum dos Phantom Thieves, e isso é facilmente percebido durante as interações entre eles. A lição moral aqui é que os heróis poderiam facilmente vir a se tornar vilões, já que as coisas não são tão preto no branco, e às vezes podem cair para o cinza. Um monarca aqui em Strikers está machucando pessoas pois foi machucado no passado, não somente por ser mau como eram em Persona 5. Aqui você pode se identificar com os motivos que o levaram a tal ato e sempre fica aquele pensamento: será que eles estavam realmente totalmente errados ou pode ser que venham a mudar se forem curados deste ferimento que os levaram a ferir os outros?
Há diferentes formas de indicar Persona 5 Strikers para cada um dos públicos alvos que podem ser atingidos por este jogo. Para aqueles que jogaram bastante e finalizaram Persona 5, esta é uma continuação obrigatória, seja para ficar mais um pouco nesse mundo e aproveitar mais a companhia dos Phantom Thieves, ou somente para descobrir o que vai acontecer com essa turma dessa vez.
Já para os novatos no mundo de Persona, que é o meu caso, é uma boa chance de conhecer este universo e criar um vínculo com seu universo. Digo que gostei do que experimentei até agora e vou continuar jogando para ver no que vai dar.
Por fim, tem o terceiro grupo, formado exclusivamente pelos fãs de jogos musou, que chegaram a P5 Strikers após jogar algum dos outros jogos do estúdio e podem de fato estranhar o grande volume de conversas e em como isso demora a dar o gatilho para as batalhas. Felizmente na hora das batalhas contra inúmeros inimigos ao mesmo tempo o jogo brilha, e fazer parte dessa experiência sim. Digo que vale jogar, basta ter um pouco de paciência neste caso.
Galeria
Dando uma nota
Primeiro jogo Persona a chegar ao Nintendo Switch, que isso abra caminho para os jogos futuros da série - 9
Trilha Sonora vai ficar tocando na sua cabeça mesmo quando não estiver jogando - 9
Uma grande quantidade de “coisas para ler” pode afastar os fãs de musou mais sedentos por batalhas rápidas - 6
Continuação direta da história de Persona 5, para os fãs é algo fantástico - 9
Para os novatos nesse mundo de Persona, existe todo um esforço de ambientação para não ficarem totalmente perdidos na história - 8
Prato cheio para os amantes de RPG, vai durar varias dezenas de horas ate ser finalizado em sua totalidade - 9
A presença do nosso idioma faria toda a diferença em um jogo com tanta história para contar - 6
8
Ótimo
Persona 5 Strikers é mais musou baseado em outra série que dá certo, desta vez tomando como temática o universo de Persona 5. Inclusive funcionando como uma continuação direta da história apresentada no game que deu origem, o que traz consigo uma bagagem do game original. Isso pode se tornar um obstáculo para quem está chegando agora, mas longe de ser uma barreira. O gameplay tem tudo que se espera do gênero, os chefes apresentam bons desafios, há missões secundárias e uma representação muito fiel do mundo de Persona 5. A única coisa que talvez possa assustar um pouco é a imensa quantidade de diálogos, o que funciona em um RPG, mas soa meio como uma sobrecarga em um jogo com uma pegada mais ação. De toda forma, tudo funciona e diverte. Vale a pena aos fãs da franquia.