Wonder Boy: Asha in Monster World é uma viagem a uma outra era dos videogames, em diversos aspectos, alguns positivos, outros nem tanto. O título foi desenvolvido pelo estúdio japonês STUDIOARTDINK e publicado neste lado do globo pela ININ Games. Aqui os jogadores irão encontrar um jogo que abrange os gêneros plataforma, ação e aventura tendo um visual 3D, porém em uma formato tradicional 2D de avanço de tela.
Seu lançamento ocorreu no último 28 de maio, para PlayStation 4 (e PS5 por retrocompatibilidade), Nintendo Switch e PC. Nada de Xbox, sinto informar. A versão utilizada para esta análise foi a do PlayStation 4. O jogo infelizmente não conta com português como uma de suas opções de idioma, fica o aviso. Ainda sobre localização, curioso apontar também que sua dublagem está toda em japonês, enquanto somente as legendas possuem opção em inglês.
Isso talvez ocorra porque este game é um remake de Monster World IV, que chegou ao Mega Drive no Japão lá em 1994. Nessa época o título não ganhou um lançamento ocidental, embora tenha sido lançado em 2012 com localização no Virtual Console do Nintendo Wii. Este é um dos jogos que somente um punhado de fãs específicos estão familiarizados. Logo Wonder Boy: Asha in Monster World é um remake de um jogo que você provavelmente nunca jogou antes, sendo assim também é uma ótima nova oportunidade de entrada para os novatos à franquia Monster World.
E se você ficou confuso com esses títulos “Monster World” e “Wonder Boy“, bem ambas são exatamente a mesma coisa. Wonder Boy é como a famosa franquia japonesa ficou conhecida no ocidente, que teve essa localização em seu nome, enquanto no Japão estes jogos sempre foram chamados de Monster World.
Por último, uma curiosidade: as versões físicas de Wonder Boy: Asha in Monster World de Nintendo Switch acompanham o jogo original de 1994 no cartucho como bônus incluso, enquanto as versões de PlayStation 4 incluem um código para download desta versão. Infelizmente as versões digitais do jogo, por sua vez, não acompanham tal bônus. Além disso, oficialmente as versões físicas não foram, até o momento, lançadas no Brasil. Quem se interessar por elas, precisaria importar.
Wonder Girl
Como protagonista desta aventura temos Asha, uma jovem com cabelos verdes com o destino de (é claro) salvar o mundo. Ela consegue ouvir os espíritos elementais sussurrando por ajuda em sua vila e parte em uma jornada para encontrá-los e ajudá-los. Não sem antes passar por provações para completar a clássica jornada do herói.
“A história se repete. Pessoas morrem e reinos caem. Enquanto muito se perde nas areias do tempo, os pedaços de contos que perduram se tornaram lendas. Ao refletir sobre o que aconteceu, foi como contado na lenda antiga. Eles vieram de todos os confins do céu para saquear esta terra. Quando os espíritos perderam seu poder e as trevas estavam prestes a nos consumir…
Conheci um herói, aparentemente não mais do que uma garotinha.”
Estas foram as palavras ditas por Praprill XIII, a rainha de Monster World, logo no começo do jogo, mas se revelam ser um relato do final da aventura. No começo da jornada a rainha alegremente concede a Asha o título de guerreira e imediatamente solicita que ela procure os 4 espíritos que protegem o Monster World. Lotto, que é o espírito da Terra; Shano, o espírito da lua; Hotta, o espírito do Sol; e Priscilla, o espírito do vento. Todos foram capturados pelos 4 magos elementais que estão obedecendo ordens de um ser superior, a ser revelado no ato final dessa jornada.
Seu parceiro, um Pepelogoo
Um dos diferenciais na forma de combate neste jogo é que as espadas aumentam seu poder de ataque a cada golpe bem sucedido aplicado aos inimigos (atacamos com os botões bolinha ou quadrado), temos um medidor no canto esquerdo da tela que armazena esse poder da espada e que pode ser facilmente “lançado” contra o próximo inimigo, ao segurar o botão R2 ou L2 (os gatinhos do controle). Asha vai ficar com uma aura ao seu redor e o próximo golpe será devastador para a maioria dos inimigos, inclusive os chefes de fase.
Asha também consegue balançar sua espada para cima, para baixo e transversalmente enquanto está no ar, dependendo da direção que é pressionada (se pularmos e enquanto estivermos no ar, apertarmos para baixo no direcional e o botão de ataque poderemos quicar sobre inimigos com a espada). Ela também pode usar seu escudo pressionando o L1, ou apertando para baixo no direcional. Ah, pulamos com o botão X e caso estejamos com Pepe (já irei falar sobre ele) sob nossa cabeça teremos um pulo duplo com sua ajuda.
Logo no começo da aventura, Asha recebe a ajuda de um Pepelogoo, uma espécie de pequeno monstro de forma esférica que bate suas orelhas para voar. A maioria dos Pepelogoos são amarelos, mas este é azul, uma característica dos monstros com poderes mágicos, o que os torna ameaçados de extinção, e consequentemente raros. Ele fica voando ao redor da protagonista e pode dar algumas ajudas necessárias para o desenvolver da aventura. Rapidamente Asha começa a chamar ele de Pepe, então vamos chamar ele assim também.
Em sua primeira forma Pepe pode ficar sob a cabeça de Asha (se apertarmos o R1 uma vez vamos chamar ele para perto e ao segurar o R1 vamos segurar ele sob a cabeça de Asha), oferecendo proteção contra projéteis de fogo e ser usado como elevador em determinadas situações (não vou contar para não dar spoilers). Pepe também pode ser arremessado (apertar e soltar o botão R1 quando Pepe estiver sob a cabeça de Asha) para apertar botões e/ou coletar itens, além de servir de paraquedas (diminuindo a velocidade de queda de alturas por parte de Asha). Fora o já mencionado impulso para dar um pulo duplo, que passa a ser essencial na aventura para atingir determinadas plataformas nas fases.
Por falar em fases, elas são acessadas ao se posicionar com uma das medalhas elementais no tempo na cidade de Rapadahna, que serve como hub para o mundo principal do jogo. Conseguimos uma nova medalha elemental, que vai permitir o acesso à próxima área, ao derrotarmos o chefe da área anterior e visitarmos certas casas na cidade. Dar uma volta completa pela cidade após vencer cada área é algo crucial e necessário para o desenrolar da aventura, como possibilita a compra de novos equipamentos nas lojas da cidade. Obviamente cada fase nos apresenta desafios diferentes e correspondentes obviamente com a temática dos mesmos, que varia entre floresta, deserto de gelo, montanhas, vulcão, deserto, cavernas, pirâmides e etc.
Durante a progressão da campanha, Pepe ainda assume uma segunda forma, a qual ele fica muito pesado para ser carregado sobre a cabeça de Asha, e a forma de usá-lo também muda um pouco. Já sua terceira forma aparece mais no final do jogo e… falar dela seria contar detalhe do final da aventura. Desculpe!
Colorido e encantador
É a primeira vez que jogo um jogo da série Wonder Boy/Monster World e devo admitir que o jogo é muito colorido e bonito esteticamente, não é nada fora da realidade dos games 2D, mas é tudo muito bem feito e tem muito carisma. Todos os personagens fazem caras e bocas durante a aventura, e Asha por si só já é um encanto com as animações de susto, surpresa e encantamento. Tem até uma animação exclusiva para a abertura de baús, a lá Link nos jogos da série The Legend of Zelda.
Quando a parte de trilha sonora, temos o uso de clipes de voz para os personagens principais, mas tudo baseado em frases soltas de chefes, a maior parte são gritos e risadas, mas todas as falas são em japonês, então talvez não vai fazer tanta diferença para quem não é nativo no idioma. Asha tem algumas faixas a mais representando atitudes dela durante o jogo e reações a acontecimentos. A narrativa é toda descrita por frases (em inglês) na parte inferior da tela.
Na parte das músicas, todas as fases contam com trilhas sonoras únicas com uma pegada bem Oriente Médio e as músicas ficam mais fortes para as clássicas batalhas de chefes. Como era clássico nos jogos antigamente a liberação de extras por meio de comunicações de botões, se fizermos uma combinação de botões no menu inicial, liberamos a trilha sonora do jogo clássico para ser utilizada nessa nova versão. Quer saber qual a combinação? Lá vai: cima, baixo, cima, baixo, esquerda, esquerda, direita, direita.
Desafio e não se esqueça de salvar (!)
Há duas opções de dificuldade: Easy e Normal. A diferença entre elas acaba sendo a quantidade de corações iniciais de Asha, a quantidade de itens para recuperar energia e o fato da coleta das moedas ser automática no Easy, você pode simplesmente derrotar os inimigos e as moedas vão vir ao seu encontro, o que convenhamos, vai facilitar em muito a coleta delas e assim tornar possível o acúmulo delas para se comprar todos os equipamentos nas lojas. Os inimigos em si continuam na mesma quantidade e com a mesma dificuldade para serem derrotados.
Por falar em equipamentos, para causar ainda mais dano nos inimigos e progredir mais facilmente nessa jornada, podemos adquirir novas espadas na loja na cidade central do jogo, assim como escudos elementais (fogo, gelo e elétrico) e pulseiras que fornecem mais corações para Asha. Por falar em corações, ao se adquirir 10 Life Drop, item encontrados em baús, áreas secretas ou em partes de difícil acesso, ou até mesmo ao derrotar alguns inimigos, obtemos um novo coração de vida.
Caso o jogador tenha a companhia de Pepe e possua um Elixir no inventário, ele vai pegar a mesma e reviver Asha caso ela morra, o que é uma mão na roda, mas também pode terminar com seus Elixir rapidamente se não tomar cuidado. As fases possuem uma máquina de vendas, tipo as máquinas de refrigerante onde o Lamp Spirit (uma espécie de gênio da lâmpada) vende potes com corações ou ervas que recuperam corações de Asha ao custo, obviamente, de várias moedas. Por falar nele, este Gênio pode ser convocado ao se usar a lâmpada no inventario e assim levar Asha de volta à cidade, o que é outra mão na outra roda para quando as coisas apertam e a derrota parece iminente. Contudo essa tática não funciona no meio das batalhas de chefes, somente na progressão dos estágios mesmo.
Parte do desafio acaba sendo se localizar nas fases e achar as saídas corretas dos labirinto apresentados, nem todos tem mapas (as pirâmides possuem), cair em uma parte e ter que fazer todo um percurso novamente acaba acontecendo frequentemente, mais pela falta de habilidade do jogador do que por algum defeito do jogo, que fique claro isso.
Podemos salvar o jogo a qualquer momento, então não temos desculpa para não fazer o salvamento em momentos cruciais e antes de encarar os chefes de fase. Temos espaço para 12 saves. Porém há que se ter um cuidado aqui: o jogo não tem salvamento automático. Ou seja: se você esquecer de salvar e tomar uma tela de Game Over, e não tiver feito o salvamento recente, vai ser obrigado a voltar para a última vez que o fez. Pode ser terrível jogar por uma ou duas horas, morrer e se lembrar que não salvou nada dentro dessa janela. Checkpoints e um pequeno save automático certamente aliviariam esse fardo para o jogador, e não há nada disso aqui.
Por fim, caso esteja perdido, o ideal é sair falando com todo mundo, pois acaba sendo a forma de descobrir para onde ir em seguida, o que pode travar um pouco a jogabilidade para quem não tenha conhecimento de inglês, ainda que os diálogos sejam bem simples e destaquem bem coisas pela qual ficar atento.
Valor de replay
O jogador pode jogar a aventura mais uma vez após completá-la pela primeira vez. Inclusive para os caçadores de troféus nos consoles da Sony, jogar a aventura uma segunda vez, pelo menos parte dela é necessária para a conquista da tão cobiçada platina. Há 200 Life Drops para serem coletados, todas as áreas do jogo contém vários deles e é basicamente isso que também vai liberar um acontecimento extra no jogo que é somente citado para você por um mensageiro da cidade, caso você não esteja de posse dos 200 Life Drops.
Você até pode coletar eles na sua primeira jogada, mas vai precisar acompanhar algum guia, e fazer isso vai estragar a sua experiência. Recomendo jogar o jogo de boa, descobrindo as mecânicas e se surpreendendo com o desenrolar e depois faça essa limpeza nas fases. Obviamente coletar todos os Life Drops vai dar um up gigantesco na sua vida, o que vai facilitar a aventura obviamente, já que a cada 10 conseguimos um coração extra de energia para Asha.
Temos também um mercador mágico que somente vai aparecer em Rapadahna na segunda jogada, e somente ainda se você derrotar rapidamente o primeiro chefe de fase e com mais duas condições ainda.. não salvar o jogo até fazê-lo e não usar itens para recuperação de energia.. ah viu só, para completar tudo não dá para se fazer de primeira.
Considerações finais
Wonder Boy – Asha in Monster World é um resgate muito bem feito em cima de um clássico perdido da série Monster World, certamente vale a pena conhecê-lo. A jogabilidade funciona e flui perfeitamente bem e mesmo quem nunca jogou o original pode aproveitar e se divertir com essa aventura. Não ter conhecimentos anteriores sobre a série e seus personagens não vai dificultar o entendimento da trama ou colocar empecilhos no entendimento da história. O visual é convidativo para jogar um pouco mais e ver o que vai acontecer a seguir e a trilha sonora não é aquela coisa enjoativa que vai fazer mal aos seus ouvidos, tudo casa perfeitamente.
Nada nele é cansativo: as fases sempre são diferentes (nos contemplando com desafios únicos em cada uma delas), os inimigos sempre mudam e todos são possíveis de serem derrotados, a exploração funciona e vai se modificando conforme avançamos e nos acostumamos com as mecânicas anteriores, até mesmo os chefes são de boa e você dificilmente vai acabar estressado.
Claro que Asha in Monster World é um game estacionado no tempo. O visual foi modernizado, a trilha sonora refeita, e as arestas de sua apresentação agora estão encantadoras, contudo, ainda é um jogo que funciona com mecânicas e um jogabilidade datada do tempo de seu original. Não espere combates elaborados, mil e uma habilidades e árvores de habilidade, assim como estes elementos existem nos games atuais. A vibe é propositalmente nostálgica nesse sentido. Ainda que um sistema de checkpoints e saves automáticos certamente não feririam tal proposta. Mesmo assim, é uma viagem linda por um passado que encantou muitos jogadores, na qual jogos de aventuras eram mais simples, mas nem por isso menos divertidos.
Galeria
Dando uma nota
Visualmente encantador, mesclando 2D com 3D, muito colorido e rico em detalhes - 9.5
Super acessível até para os recém-chegados ao mundo de Monster World - 9
Apesar do visual moderno, em sua espinha é um jogo da era dos 16 bits - 8.5
Controlers funcionam muito bem, sempre respondendo na hora exato o jogador - 8.8
Sem checkpoints ou saves automatizados, não se esqueça de salvar manualmente - 5.5
Para um jogo neste escopo, não faria mal ser localizado em mais alguns idiomas, incluindo o português - 6.5
Tem uma dificuldade mediana, sem frustar, mas também pode não desafiar o esperado - 7
7.8
Bacana
Wonder Boy: Asha in Monster World é um belo resgate a um clássico da franquia Monster World. Seus novos gráficos encantam a qualquer um, especialmente as limitações gráficos do original. Em termos de mecânica segue muito fiel ao original de 16 bits, o que funciona na pagada nostálgica, que nem sempre agrada a todos. O sistema de save manual é um perigo aos esquecidos, mas dificuldade não é um ponto central da aventura. É um jogo para se encantar, divertir e matar a saudade de tempos mais simples dos videogames.