Semana passa a internet quase entrou em convulsão com o lançamento do aguardado trailer (teaser) de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, terceiro filme solo do Aranha com Tom Holland no papel. E as portas do multiverso estão abertas e o que todos os rumores apontam parece mais perto de acontecer: ter todos os atores que encarnaram os três últimos Homem-Aranha em um mesmo filme.
Quer dizer… o trailer não entrega o ouro de mão beijada e não mostra o que exatamente o que todo mundo quer ver:
Mas as referências dos filmes antigos estão por toda parte, com a mais óbvia de todas que é o retorno do ator Alfred Molina encarnando novamente o Doutor Octopus. Não tem como não ficar animado. E caí nesse hype e resolvi nesse final de semana reassistir os últimos dois filmes da trilogia Sam Raimi e Tobey Maguire pela simples e pura nostalgia. Pulei o primeiro porque dentre os três foi o que mais reassisti e não tinha interesse em rever o filme de origem.
A quem se interessar, os dois primeiros filmes do Aranha Maguire estão disponíveis no catálogo da Netflix, enquanto o terceiro você vai encontrar no HBO Max.
Homem-Aranha 2 continua bem…
Quanto as minhas impressões… posso dizer que o segundo filme continua sendo uma obra prima dos filmes do Aranha. E veja bem, ele tem lá sua “cacofonia” dado o fato de ser um filme de 2004, mais de 17 anos atrás. Os efeitos não são grande coisa comparado aos filmes de heróis atuais, tem batalhas que são rápidas demais, tem um ritmo diferente, mas todos os bons elementos estão lá, dentre a trama com o carismático vilão, um herói dividido no sacrifício de sua própria vida em detrimento ao bem dos indefesos entre outras pontos criadas do primeiro filme.
As memoráveis cenas estão todas intactas, conservadas muito bem com o passar do tempo. Incluindo aquela do Maguire vestido de Aranha descendo o elevador, todo constrangido porque seus poderes estão falhando. Outro ponto que não me recordava direito nessa versão Sam Raimi era justamente que as teais do Aranha são produzidas pelo próprio corpo do Peter. Eca! Contudo uma sacada inteligentíssima de roteiro deixar o emocional do Peter interferir em seus poderes.
Não me lembrava exatamente do final do destino do Octopus no filme. Se de fato ele morria. Lembrava que ele, ao final, tinha sua redenção, deixando de ouvir os braços mecânicos e afundando sua invenção no fundo do rio. Contudo não lembrava da cena final dele também se entregando ao rio. O filme não deixa qualquer pontinha do vilão estar vivo. E o terceiro filme não volta a citá-lo. O que cabe a pergunta se o Octopus do novo trailer é o mesmo apresentado nesse filme, ou de uma outra linha temporal. Não que isso importa muito.
De qualquer forma o segundo filme acaba de uma forma muito satisfatório. Depois do Peter Parker sofrer do azar Aranha o filme inteiro, sem saber dividir estudos, trabalho, seu relacionamento com a Mary Jane e o fardo de somente ele saber sobre seu segredo, o segundo filme nivela um pouco essa responsabilidade. Peter e MJ finalmente se acertam.
E então… o terceiro
Eu sei que o terceiro filme é ruim. Não tem como esquecer disso. A história todos sabemos: os produtores e a Sony encheram o saco e pressionaram o Sam Raimi a incluir o Venom no filme, porque muita gente desejava isso e o diretor sob a pressão dos chefões fez o que dava pra fazer, ainda que a contragosto. Deu no que deu: um filme costurado com diversos roteiros desconexos que não se amarra direitinho.
Fui com essa expectativa, mas admito que me peguei pensando: “será que é tão ruim quanto me lembro?“. E veja só, o primeiro ato do filme até que não é de todo mal. O J. Jonah Jameson continua impagável na versão do talentosíssimo J. K. Simmons. A cena com a mesa tremendo e os remédios é de rachar de rir. A decisão de trazer de volta o ator ao papel do J.J. é acertadíssima.
O ponto é que o filme trabalha duas narrativas que são importantes para abrirem a trama, que é a ascensão da popularidade do Homem-Aranha, que deixa o Peter confiante demais, enquanto Mary Jane passa pelo oposto, com o fracasso de sua peça na Broadway e a perda de sua própria confiança. A polaridade do casal se inverte em relação ao segundo filme, e o roteiro parece trabalhar bem isso até certo ponto do filme.
Nesse enrosco tem os vilões que não importam em nada no roteiro, porque em grande parte não ajudam a refinar os conflitos acima explanados. O Homem Areia até tem uma trama bacana. Nos gibis ele é muito humanizado, mas o personagem se perde totalmente no filme, graças a inserção do Venom no final do segundo ato. Com isso o Homem Areia vira um vilão de passagem… está ali apenas para inchar o roteiro.
E aí tem o conflito do Harry Osborn, que sinceramente até poderia dar uma boa história. Gosto do começo do filme, aquela batalha no pego, com o Harry cheio de ódio. E depois existe um sentimento de pena com o personagem, quando ele volta com amnésia e todo feliz. Você sente a compaixão, porque sabe que o personagem é do bem, mas foi envenenado de uma forma que não tem mais volta. O ponto é que o conflito Harry versus seu legado não deveria ter sido resolvido nesse filme… que já havia elementos demais para serem trabalhados. O desfecho do personagem aqui é o pior possível… ele se lembra, ele volta a odiar todo mundo, ele atrapalha o relacionamento de Peter e MJ e pra quê? No final se redime e morre ajudando os amigos. Tudo isso em um único filme… é coisa demais.
Não quero nem falar do Venom ou de Gwen Stacy, dois personagens que sequer precisavam aparecer por aqui. O segundo termina com Peter e MJ finalmente se acertando, e o terceiro filme mal tem tempo para explorar a dinâmica dos dois juntos para colocar Gwen no meio de ambos… de uma forma bem desinteressante.
Alias há uma cena péssima no filme, que é o momento em que Eddie Brock, interpretado pelo ator Topher Grace, admite namorar a Gwen para seu pai, o Capitão Stacy, enquanto a mesma está pendurada no 26º andar de um prédio preste a desabar. A fala é feita de uma forma tão tranquila, quase como um deboche, a qual não há qualquer preocupação com o status quo da garota, pendurada e preste a cair para a morte (claro que o Aranha chega e salva ela). É uma cena tão mal feita…
Enfim, o problema nem é todos estes problemas que o filme apresenta. O que me motivou a escrever esse pequeno texto é o final mesmo. A forma como Sam Raimi conclui a sua trilogia de filmes do Homem-Aranha. Você se lembra como termina? É um final tão melancólico…
Tirando a parte dos eventos Homem-Aranha, vilões derrotados e inclusive perdoados (caso do Homem Areia), o relacionamento de Peter e Mary Jane segue um tanto abalado. Rola uma cena final com eles juntos, dançando abraçados. Mas é aquela cena de reconciliação dolorosa, a qual o casal aceita dar mais uma chance, mas não estão totalmente curados das cicatrizes deixadas por tudo que rolou.
MJ segue cantando no barzinho, sem ter visto sua carreira entrar de volta aos trilhos. Harry morreu porque no final das contas, seus amigos não cuidaram dele como deveriam (dentre outras coisas) e o status quo do Peter Paker de Maguire é meio indefinido. Claro, ele aprendeu a perdoar, mas é isso? Vai curar e bola pra frente? Não fica claro o que viria a seguir para um personagem que errou aos montes. E a impressão que fiquei é que ele pagou muito menos do que àqueles ao seu redor.
Mas é um final triste, saca? Claramente não é o final que se poderia esperar de uma trilogia. E sinceramente, dado que assistir Homem Aranha 3 tão poucas vezes (fui ao cinema e talvez tenha visto umas duas vezes em DVD), sinceramente não me lembrava desse final baixo astral.
Se de fato os universos dos filmes vão se misturar em Sem Volta Para Casa, espero que os roteiristas possam mexer um pouquinho em como as coisas foram deixadas de lado no universo do Aranha do Sam Raimi. Apresentando, quem sabe, como Peter e MJ se resolveram nessa linha do tempo. Certamente os personagens mereciam um final mais digno lá atrás.
Alias, quem estiver imaginando que Homem-Aranha 3 acaba desse jeito porque era de se esperar que Homem-Aranha 4 fosse existir, está corretíssimo. Mas no fim, Sam Raimi não conseguiu fechar um roteiro, e a Sony ansiava por um reboot da franquia. Tem uma excelente matéria na Legião dos Heróis sobre isso, vale a leitura.
Por fim, acho que para quem resolver rever o Homem-Aranha de Tobey Maguire, talvez deva considerar ver somente o segundo filme mesmo. O terceiro leva esse universo para uma parada muito melancólica, seja porque o roteiro é ruim, seja porque os personagens principais detém um desfecho nada satisfatório para um encerramento de um ciclo cinematográfico do Homem-Aranha.