Análise | Townscaper
Disponível para Nintendo Switch, PC e dispositivos móveis
Townscaper é uma imersiva brincadeira envolvendo a tecnologia a serviço da criatividade. Essa é uma boa forma de resumir a experiência proporcionada por esse projeto desenvolvido pelo game designer Oskar Stalberg, e distribuído globalmente pela Raw Fury.
O título foi lançado no último dia 26 de agosto, no Nintendo Switch e também no PC (via Steam). Para dispositivos móveis, nos sistemas iOS e Android, Townscaper tem data prevista para lançamento no próximo mês, mais precisamente no dia 20 de outubro. Já é possível acessar sua página nestas plataformas mobiles e deixar listado que deseja ser notificado quando o lançamento ocorrer, o que é uma boa sugestão.
Interessante também comentar que Oskar Stalberg, que já trabalhou como Artista Técnico na Ubisoft, se especializou em modelos de Geração Procedural (conteúdos gerados proceduralmente), e também é o criador de Bad North, um jogo de estratégia com um design incrivelmente minimalista a qual tive o prazer de escrever sua análise em 2018. A Raw Fury também atuou como publisher do jogo na época, o que certamente serviu para dar apoio ao artista nesse projeto realmente singular.
Townscaper é um simulador instantâneo e automatizado para construção de cidades. Não acredito que tenha outra forma de explicar o jogo – que nem dá para se chamar de jogo, mas iremos chegar a isso em instantes. A proposta aqui é realmente simples: clique na tela e você construirá um alicerce, clique de novo no mesmo ponto e ele se tornará uma casa, clique pela terceira vez e a casa agora tem dois andares. Faça o mesmo no ponto ao lado ou em outros pontos, e vá descobrindo como a inteligência automatizada do game vai conectando suas estruturas. Ao fim, admire sua bela cidade.
Afinal, é ou não um jogo?
Há muita subjetividade nessa pergunta hoje em dia, especialmente com tantos gêneros e subgêneros de jogos existentes. Afinal existe toda uma linha de jogos em visual novel em que o jogador apenas fica acompanhando um enredo, fazendo pouquíssimas interações. Mas não é este o caso de Townscaper, pois todo o que se tem aqui é interação pura, mas o título é carente de outros elementos que normalmente compõem jogos, como objetivos, enredos e progressão.
Se coubesse a minha pessoa classificar o que Townscaper é, diria que o título está muito mais para um aplicativo de interação, do que exatamente um jogo eletrônico. E não acho que isso desmereça em nada sua proposta, que continua sendo algo casual, porém divertido e impressionantemente imersivo. O que lhe falta são as camadas que compõe os desafios de um jogo de videogame, e talvez só por isso entendo que chamá-lo de aplicativo seja o mais correto.
E Townscaper não está tentando lhe enganar dizendo que é uma coisa, ao invés de outra, apenas para lhe cobrar mais caro por isso. Não senhor. Seu preço é totalmente honesto e amigável, fixado em meros 5 dólares lá fora. Na Steam dá para encontrá-lo por 12 reais, enquanto na eshop nacional do Switch custa 30 reais, o que faz sentido dado o valor da nossa moeda frente ao dólar. Na minha opinião, vale o preço.
Proposta simplificada
Como abordado lá no começo, Townscaper é um construtor automático de cidades, você clica e as construções vão sendo construidas, de uma forma procedural, mas seguindo uma certa estrutura lógica, a qual o jogador tem pequenos poderes para construir e desconstruir.
O básico também já expliquei: você clica na tela do jogo (com o dedo ou com o controle) e uma estrutura surge no meio do terreno, que é todo aquático (puro charme). A primeira estrutura é sempre uma plataforma, afinal você está na água. Depois disso os prédios ou novas estruturas vão se formando, conforme o usuário clica em novos espaços ou em espaços com estruturas já construidas. O resultado é muito impressionante e satisfatório.
Ao usuário (não acho que convém dizer jogador) é dado alguns poderes de escolha. Por exemplo, existe uma ampla paleta de cores, posicionadas a esquerda da tela, em que se pode escolher a cor desejada para o prédio a ser criado. Não dá para mudar a cor de um prédio já estabelecido, a menos que você o destrua e faça novamente com a nova cor selecionada.
Para destruir é bem simples, no controle você usa um botão de desfazer ações, enquanto na tela de touch, no Switch é muito maravilhoso usá-la, por sinal, basta segurar a construção por um segundo e depois soltá-la. Haverá um pequeno efeito de desinchar (como se encolhesse minimamente), basta soltar o dedo nesse momento. Simples e funcional.
Outras opções dada ao usuário é controlar a luminosidade temporal, podendo mudar posicionamento do que seria o sol iluminando a cidade, ou então colocando-o totalmente para dormir e fazendo o anoitecer surgir, a qual a iluminação de todas as construções vão perder seu colorido e todas as janelinhas dos prédios se acenderam. Um detalhe lindamente bem pensado.
Também é possível visualizar a grade de cada ponto de construção da área, o que vai lhe dar alguns dicas do porque alguns prédios não se posicional de forma quadricular, pois os espaços são deformados propositalmente para criar algumas quinas e efeitos bem interessantes. Além disso a grade deixa bem claro que sua área de construção não é infinita, dando-lhe uma ideia da dimensão de toda a cidade. Não é uma área pequena, diga-se de passagem. Dá para construir grandes projetos arquitetônicos.
Há também três modelos de visualização gráfica, mas o modelo padrão é o mais bonito. Um destes estilo tira totalmente a paleta de cores e textura das construções, deixando modelos brancos e puramente estruturais, como se fosse uma maquete ainda sem pintar. O outro estilo é um cel-shading sem sombras, com cores mais chapadas do que o visual padrão que tem toda uma textura e iluminação.
Contemplado todas as opções, e são somente estas, Townscaper segue uma proposta muito minimalista e simplificada de interface. Qualquer pessoa, de qualquer idade, entende a proposta básica e como navegar pelo jogo ou aplicativo, como desejar chamá-lo. Nos controles tradicionais, utilizando os analógicos talvez seja mais complicado, porém no Nintendo Switch é possível usar controle touch juntos, isso se você estiver no modo portátil. No dock, obviamente você usará os controles joy-cons.
A hora inicial com Townscaper é muito de descobertas. O usuário vai testar as conexões entre os pontos próximos, a horizontalidade e verticalidade de seu projeto. E a programação do jogo se adapta muito bem as loucuras que você desejar criar. Por exemplo, criou um prédio de seis andares, e agora quer colocar um novo andar ao lado do sexto, sem nenhum estrutura abaixo dele? Você pode fazer isso e o jogo vai criar toda uma estrutura para segurar essa sua ideia, seja criando pilastras diagonais um andar abaixo, seja criando uma pilastra que vai do andar paralelo ao sexta andar até a estrutura do térreo. Uma coisa ou outra. Nem sempre fica claro entender como o jogo fará isso, mas com o tempo você vai pegando algumas de suas programações.
E isso dá o poder de criar as mais loucas estruturas, sem se preocupar com a infraestrutura lógica da ideia. Meu prédio pode desmoronar? Jamais, porque o jogo vai criando as conexões necessários para isso. É simplesmente genial! E dá para criar quantos projetos você quiser, pois o game suporta salvar projetos e iniciar novos, sem deletar os previamente criados.
Considerações finais
Townscaper é um agradável aplicativo de interação automatizada. É algo simples e hipnotizante, principalmente quando lhe apresentado a uma primeira vez. Casual e perfeito para relaxar naquelas situações em que sua cabeça não consegue fazer mais nada que exija extrema concentração, ou que tenha que pensar demais. Imagino que um protótipo disso para a área dos profissionais de arquitetura, com ferramentas mais complexas, se é que já não exista, seria um feito muito interessante. Para nós, meros mortais, é só uma brincadeira para desestressar e desligar um pouco o cérebro.
Com crianças a proposta do título parece encantar e extrapolar um pouco mais, dado o alto poder de criatividade dos mais jovens. Fui testar o jogo perto do meu filho, de 9 anos, e vi seus olhinhos curiosos a respeito do que eu estava fazendo no Nintendo Switch. Quando dei por mim, ele já estava com o Switch em suas mãos e criando sua própria cidade. Absorto na proposta. Me disse onde seria a prefeitura, que aquele prédio seria uma escola e aí por diante. Para ver o poder do aplicativo/jogo. Acabei inclusive registrado esse momento lá na nossa página do Instagram, com um pequeno vídeo de como funciona a interface.
Note que a câmera é totalmente livre para que o usuário a controle como quiser. No touch inclusive o movimento de pinça funciona perfeitamente, para diminuir ou aumentar a proximidade da tela, nos controles são os gatilhos que fazem isso. No pequeno vídeo dá para ver claramente como é preciso criar, destruir e criar de novo com um outro efeito a depender do local em que se constrói. Incrível, não?
De pontos negativos, se é que dá para qualificar nessa forma, é só o desejo de que Townscaper implementasse uma melhor gameficação na proposta. Que talvez me desse alguns modelos prontos e me instigasse a construir certos projetos, mudar ambientes, me desafiasse a algo que não fosse totalmente livre a minha criatividade. Acho importante esse modelo livre e aberto, mas também acho que caberia a proposta alguma coisa no sentido de tornar a obra algo mais parecido com a estrutura de um jogo eletrônico. Não acaba com sua proposta, contudo dá uma sensação de que poderia ir um pouco mais adiante.
Sinto que assim que Townscaper sair nos dispositivos móveis, vou desejar ter o aplicativo em meu celular e tablet. No Switch é bacana, contudo não há a praticidade de usar o jogo em qualquer lugar, já que não o transporto para ambientes fora da minha casa. Em um celular poderia brincar mais com a proposta, enquanto estiver em uma fila no banco ou no supermercado, enquanto espero uma consulta médica ou até mesmo no banheiro. Aguardo animado para este lançamento mobile em 20 de outubro. Valerá o investimento.
Claro que no Switch também há seu charme. Os controles são uma alternativa bacana para quem deseja ver seu projeto em um grande televisor, com todos os detalhes incríveis que uma TV de alta resolução pode entregar. Dá para ver direitinho os vasos de plantas, as aves e todo os pequeninos detalhes que existe nesse modelo de geração automatizado. Detalhes estes que certamente dão um charme a ideia.
Não posso encerrar a análise sem tecer elogios aos efeitos sonoros de Townscaper. Pontualmente relaxante essa sonorização, que parece como se o jogador deixasse uma gota cair na água, e dela florescer uma construção. É um trabalho minimalista sim, mas com tanta atenção nos menores detalhes. É inacreditável. Não importa se é um jogo ou é um aplicativo, o que importa, no final das contas, é a incrível experiência relaxante a qual o título se propõe a ser. E isso Townscaper cumpre com louvor.
Galeria
Dando uma nota
Visualmente é charmoso, e os efeitos sonoros são tranquilizadores - 8.5
Não é bem um jogo, está mais para um aplicativo de interação - 7.5
Interface simples de entender, com resultados impressionantes - 9.5
Imersivo dentro de sua proposta hipnotizante - 8.5
Jogabilidade com tela de toque é fantástica - 9.5
Se pensar como um jogo, faltam objetivos entre outros elementos - 6
Estimula a criatividade, principalmente em crianças - 9
8.4
Incrível
Townscaper é uma obra de interação procedural automatizada de impressionar os olhos. Difícil chamar de jogo, está mais para um aplicativo interativo, mas taxá-lo não o torna mais ou menos curioso. Divertido, relaxante, imersivo, impressionante são alguns dos adjetivos que se pode usar para qualificá-los. Casual, com uma jogabilidade intuitiva, especialmente em telas de toque. Com crianças, estimulando sua criatividade, é ainda mais interessante. Com um preço super acessível. É um projeto realmente bacana de se experimentar e de ter em dias em que se precisa se desligar um pouco da realidade.