Análise | Steel Assault

Disponível para Nintendo Switch & PC

Steel Assault é um primor em sua jogabilidade, emulando uma sensação muito característica dos jogos de ação e plataforma da era do Super Nintendo e Mega Drive, porém traduzida para a modernidade dos atuais jogos eletrônicos, ainda que isso não crie pequenos conflitos em suas intenções. Contudo, ainda é um indie game impressionantemente charmoso e cheio de identidade.

O título foi desenvolvido pela Zenovia Interactive, pequeno estúdio indie, localizado em Nova York (EUA), fundado em 2019 pelo game designer e produtor Sri Kankanahalli. Antes disso, o mesmo criou um financiamento coletivo para o jogo, lá em 2015, a qual obteve sucesso em arredar o valor solicitado. Aliás, é muito curioso ver como a arte do jogo evoluiu desde então. Ao final de 2020, a Tribute Games (Flinthook, Panzer Paladin) firmou parceria com o estúdio para se tornar a publisher do jogo.

Seu lançamento aconteceu agora no último dia 28 de setembro, e apenas no PC e Nintendo Switch. Sem informação ou previsão da possibilidade de sua chegada em demais plataformas.

Steel Assault é um jogo de ação acelerada e plataforma, claramente inspirado em clássicos como Castlevania: Bloodlines (1994) e Contra: Hard Corps (1994), mas que dá para ir mais além destes títulos, pois consegui sentir boas vibes de clássicos como Bionic Commando (1988) e Ninja Gaiden (1988). É aquela tradicional fórmula de ir avançando pela tela, eliminando todos os inimigos que surgirem para lhe atacar, enquanto pula e escala plataformas afim de conseguir avançar até o ponto final da fase. Não encoste nos inimigos ou armadilhas, desvie de projéteis e se mantenha vivo até onde puder.

Erro no Switch?

IMPORTANTE: se você tem se deparado com a mensagem “O software foi fechado porque ocorreu um erro” ao tentar inicializar Steel Assault em seu Nintendo Switch, mude o idioma do seu console para o inglês. No momento em que publico essa análise o jogo não parece conseguir rodar enquanto o idioma do console está configurado para o português.

Os devs já estão ciente disso e devem liberar um patch consertar o problema em breve. Ah! Dentro das opções do jogo. na tela principal, você pode colocar o idioma em português. Não é preciso jogá-lo em inglês por conta da mudança nas configurações do console.

Guerra de um homem só

Steel Assault apresenta uma narrativa bem simples, que serve apenas em função de dar um contexto para a ação, quando o jogador é apresentado a um futuro distópico, pós-apocalíptico, a qual a América está sobre o poder de um ditador maluco gênio que sabe criar grandes máquinas robóticas, enquanto você está do outro lado, sendo um soldado extremamente capacitado, pertencente a resistência a tirania deste governo.

Há diversos clichês nesse enredo, que mais parece oriundo de um sci-fi do cinema lá dos anos 80. É uma apresentação que justifica os meios, que no caso é colocar um soldado/herói high-tech lutando em um mundo dominado e destruído, em meio ao embate contra grandes máquinas e soldados com alta tecnologia para combatê-lo. Uma função muito comum aos jogos das antigas, a qual não se tinha muito espaço dentro do gameplay em si para contar grandiosas tramas.

Contudo, há que se dizer que a apresentação visual do jogo é impressionante. Os cenários são riquíssimos em detalhes, com bela fotografia em pixel art, entregando grandes cenários, desde cidades abandonadas, instalações industriais, grandes batalhas nos céus e muito mais. O riqueza de objetos pelos ambientes, com o intuito apenas de embelezar a cenografia, assim como os efeitos de explosões e até mesmo sombras e texturas dos objetos é de saltar os olhos.

E assim, ainda que a trama não seja um dos destaques do jogo, há que se admitir que o desenvolvedor se esforçou para criar algo bacana ao jogador. O jogo é dividido em cinco capítulos, e a cada um, temos o protagonista conversando com outros de seus aliados, criando esse momento de enredo, sempre nos lembrando que há um roteiro e que existe um sentido para toda essa matança. Até mesmo antes de algumas batalhas de chefes existem pequenos e curtos diálogos.

Ou seja, existe uma história aqui, mesmo que no fim das contas, o jogador dificilmente acabe fisgado pelo enredo e suas premissas básicas. E cá entre nós, o protagonista é estiloso e tem carisma, mas o mesmo não pode ser tido aos demais personagens do jogo, seja seus aliados, seja os vilões.

Chicoteie todos

Steel Assault irá brilhar mesmo quando colocamos no escopo seu gameplay, oferecendo boas mecânicas e uma jogabilidade muito ágil e divertida. Interessante observar que dado o contexto do jogo, seria muito fácil dar uma metralhadora ao protagonista e fazer o jogador sair correndo pelo cenário no melhor estilo “run & gun“. Mas não, nada de armas de fogo para Taro Takahashi, o protagonista da aventura. Sua arma será um chicote elétrico, no melhor estilo de gameplay de diversos jogos da série Castlevania.

O alcance do ataque do chicote é bem generoso, mas ainda assim não dá para pegar todo e qualquer personagem mantendo grande distância. É sempre preciso chegar perto dos inimigos, ficando exposto a seus ataques, sendo que estes sim usam armas de fogo, possuem lança-chamas entre outras armas explosivas.

E o chicote de Taro tem algumas vantagens, como ser usado em oito direções pelo direcional dos controles. Então dá para chicotear para cima, para baixo e até mesmo nas quatro diagonais. Ele também pode bloquear quase todos os tipos de projéteis dos inimigos, exceto aqueles com um brilho diferenciado, a qual você logo aprende a distinguir qual é. Certos inimigos precisam ser chicoteados por mais de uma vez até serem derrotados, mas há também os básicos que morrem ao serem atingidos uma única vez.

Escale e conecte

Indo adiante, outro elemento diferenciado dentro das mecânicas de Steel Assault é uma… tirolesa. O jogador dispõe de um dispositivo que aciona infinitas tirolesas, apenas ao pressionar um dos botões do controle. Essa tirolesa também pode ser redirecionada em até oito direções, sendo que ela pode se conectar de forma vertical, horizontal e até mesmo na diagonal, com apenas uma regra para isso acontecer: é preciso que haja superfície em ambos os extremos da corda.

Ou seja, sua tirolesa vai se conectar a uma plataforma acima da cabeça do personagem, de forma vertical, contanto que abaixo dela haja uma superfície (chão) para que ela conecte ambas as pontas. O mesmo vale para uma conexão horizontal: sua corda não vai grudar em uma parede se não houve outra no extremo oposto para a conexão em ambos os lados. A regra na diagonal é a mesma, dá para conectar nesse ângulo contanto que haja uma superfície horizontal e uma vertical para que as pontas da corda fiquem presas de ambos os lados.

Atirar a tirolesa não causa dano nos inimigos, contudo ao ser utilizada, o personagem se mantém no ar por preciosos milissegundos, o que torna perfeito para grandes saltos, a qual você só precisa ficar mais um fiozinho de cabelo no ar até chegar a outra ponta da plataforma. Você atira, o personagem faz a animação, ainda no ar, seguindo o pulo, e ela pode não se conectar a nada, mas ainda assim já se ajudou a planar o suficiente para chegar do outro lado. E sim, independente disso, há um pulo duplo, então essa técnica pode ser considerada uma terceira ação no ar, antes da gravidade fazer o efeito.

Esse elemento da tirolesa é muito importante para a dinâmica e ritmo das fases. Não é uma firula sem sentido, pelo contrário, diversas fases foram construídas pensado em tal habilidade. Existem cenários em que o jogador só tem acesso as plataformas superiores se escalar com a tirolesa até lá, onde irá encontrar novos inimigos e baú de itens, quase uma mini rota alternativa dentro do estágio.

Entretanto há diversos momentos em que usar a tirolesa é obrigatório para avançar pela fase. Existem situações em que o jogador deve escalar verticalmente grandes paredes, desviando de inimigos, e sem cair, pois aí o processo de escalada precisa recomeçar tudo novamente.

Inclusive há pontuais momentos em que a fase se utilizada de um clássico recurso dos jogos side-scrolling a qual o avança passa a ser automatizado, com o jogador apenas seguindo o fluxo de ameaças que vão surgindo. Existem alguns destes momentos em que se deve escalar com a tirolesa, subindo sem poder cair. Tem um momento com plataforma esteira, a qual a corda da tirolesa se movimenta com a esteira, se desconectando ao chegar a ponta da plataforma. É um momento bem tenso, cheio de inimigos, esteiras rompendo a tirolesa, e uma água verde (ácida provavelmente) subindo pela área. Tenso, porém desafiador e divertido.

Fases conectadas, grandes batalhas de chefes

Outro aspecto de Steel Assault que me deixou bastante impressionado foi a forma em como as fases fluem por ambientes que puxam uma transição orgânica entre as áreas. Tanto é que o jogo é dividido em cinco capítulos, que funcionam como atos. Cada capítulo tem duas a três fases menores, que se conectam a cenografia proposta.

Isso cria a impressão de um capítulo que se comporta como uma fase gigante, que flui com um ritmo muito natural entre a mudança dos cenários, mas sendo bem pontual e inteligente ao fazer isso, pois cada mudança acaba representando um checkpoint a se retornar caso seu personagem morra. Acaba sendo muito generoso estes pontos de salvamento, afim de evitar que o jogador refaça grandes pedaços das fases já vencidas. Isso claro, nos modos de campanha, que possui diversos níveis de dificuldade para se selecionar, pois há o modo arcade que é outra história e o abordarei daqui a pouco.

Também me agrada muito as muitas batalhas de chefes e sub chefes que o jogo. Sub chefes fazem uma transição entre certo momento da fase, enquanto o chefão em si surge ao final de cada um dos cinco capítulos. Sub chefes tendem a serem ligeiramente mais fáceis que os chefes, possuindo uma barra de energia menor. Mas o desafio em ambos os casos é bem semelhante, com o jogador precisando analisar quais são os ataques e como desviar dos mesmos, procurando uma brecha para chicotear o boss.

Estas batalhas normalmente grandes maquinários, desde um em que seu ponto fraco é em sua traseira, quanto em outro é sua grande broca que fica voando ao redor ao seu redor. Há um dragão mecanizado de suas cabeças, assim como um robôs gigante e uma batalha contra dois chefes ao mesmo tempo. São batalhas singulares e divertidas, ainda que nem todas sejam muito difícil, outro assunto a qual já iremos conversar.

O ponto aqui é aquela bonita apresentação relatada no começo deste texto também se traduz para estas elementos, em como a cenografia transita entre novos momentos, em meio a grandes oponentes que oferecem distintas batalhas. A direção de arte do jogo é de tirar o chapéu.

Pontos críticos

Normalmente não gosto de separar um segmento de uma análise apenas para reforçar pontos fracos dos jogos, porém as vezes se faz necessário, pois é preciso refletir a respeito dos mesmo com um pouco mais de calma e paciência, observando e entendendo os motivos que levam a serem apontados.

A começar pelo conteúdo de jogo versus seu preço. Steel Assault é um jogo em que na dificuldade normal pode ser finalizando em uma pouco mais de um hora e quinze minutos (foi o tempo em que levei). Dito isso, talvez se ao invés de cinco, fossem sete ou oito capítulos, sua durabilidade seria mais confortável. O fato é que você termina o jogo e ainda não fica totalmente satisfeito com a experiência.

Trata-se de um jogo que lá fora custa 15 dólares, enquanto aqui no Brasil a conversão é sempre aquela loucura. No Nintendo Switch é vendido por 63 reais, e na Steam por 35 reais. No Switch esse valor parece muito inchado para um título em que você pode se sentir satisfeito no próprio dia em que o adquiriu. Até lá fora há algumas discussões se o jogo não deveria custar um pouquinho menos, ou então ter um ou dois capítulos a mais.

O próprio valor de replay do jogo pode ser colocado nessa balança para ser pesado. O Modo Arcade traz o desafio de virar todo o jogo com apenas uma vida. Algo que poucos irão tentar tal audácia. Fora que chamar de “arcade”? Não estaria mais para um Modo Survival? Além disso, o jogo não tem qualquer sistema de pontuação ou placar de ranking por conta disso. Quando se olha esse tipo de jogo no passado era muito comum um sistema de pontuação – que ninguém entendia como se calculava, mas ainda assim estava lá, na busca por escrever as iniciais de seu nome no placar dos melhores.

Talvez o modo arcade fosse mais “arcade” se permitisse que o jogador customizasse algumas de suas regras, como limite de vidas ou continues. Por sinal, no modo campanha, há vidas e continues infinitos, caso você tenha ficado preocupado em saber como o modo padrão funciona.

Outro ponto que também é preciso refletir é sobre a dificuldade do jogo. A dificuldade normal, tal qual o desenvolvedor indica começar para a maioria dos jogadores é… fácil demais. E o difícil é absurda demais, criando uma ponte grande demais entre uma dificuldade, sem oferecer nada no meio termo. Talvez fosse necessários repensar isso.

E há uma última observação: esse é um tipo de jogo que pede por uma modalidade multiplayer local para dois jogadores. Infelizmente o título só tem a opção de single player. Talvez na dificuldade maior fizesse muito mais sentido ter um segundo jogador ao seu lado no sofá para lhe ajudar. Seria muito legal essa possibilidade. Facilitaria a proposta de um modo arcade um tanto punitivo demais.

Considerações gerais

Steel Assault é uma joia indie, não tenho qualquer dúvida disso. Existem diversos aspectos positivos em sua proposta, com um destaque forte a uma sólida jogabilidade, repleta de ação e boa fluidez. Sua direção de arte então é inacreditável, entregando um belíssimo efeito em pixel art de cair o queixo.

Existe claro, ponderações importantes a serem feitas em torno de seus aspectos mais fracos, como sua duração e preço pelo conteúdo ofertado. Contudo são aspectos que podem ser relevados quando se pensa justamente que é um jogo independente, o primeiro de um estúdio pequeno, e que teve uma campanha de financiamento coletivo realmente modesto (em comparação a outros mais famosos).

Quando se olha para o projeto original, lá de 2015, e olha para o resultado agora recém lançado, há uma clara percepção de que seu desenvolvedor verdadeiramente se esforçou para entregar o melhor trabalho possível, diante das capacidades de sua estrutura de desenvolvimento. Para uma primeira vez, é uma experiência a ser apreciada, e que até mesmo abre margem para uma sequência mais imponente, caso se consiga tal feito.

Além disso é louvável diversos outros pequenos aspectos do jogo, e que acabei não mencionando até o momento. A trilha sonora é impecável, envolvente e moldada nas características dos clássicos da era 16-bits. O jogo foi localizado em diversos idiomas, incluindo o nosso português. Além disso já todo um pacote de filtros que podem ser selecionados para que o visual do jogo reproduza os antigos efeitos das TVs de tubo. Até mesmo seu formato fullscreen emula a nostalgia de uma época que tanto adoramos revisitar hoje em dia.

Chego ao final desta análise com a conclusão de que Steel Assault pode ter defeitos sim, pode ser curtinho, porém entrega uma experiência de alta qualidade, refinada, com altas doses de um resgate bem pensado a uma diferente era dos jogos eletrônicos, mas que ainda assim não deve em nada a muitos jogos da atual era de indies. Modesto em seu conteúdo sim, porém feito com uma qualidade que não se vê a todo momento. Sendo o primeiro game do estúdio, já posso afirmar que já estou aguardando animado o que virá a seguir.

Galeria

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Dando uma nota

Visualmente a pixel art é incrível, o nível de detalhes na ambientação é fantástica - 9.5
Jogabilidade ágil, com um combate bacana atrávés de um chicote de energia - 8.5
Mecânica da tirolesa define muito o layout dos estágios, algo bem inteligente afim de fugir da mesmice do gênero - 8.8
No modo normal é fácil demais, no difícil é difícil demais, faltou um melhor balanceamento nessa escalada - 6
Modo arcade é na verdade um survival, e que falta faz um multiplayer coop local - 5.5
Oferece uma experiência de jogo intensa, porém é curtinho, te deixa querendo mais ao fim - 7.2
Ótima transição entre as fases, ótimas batalhas contra os chefes - 8.3

7.7

Legal

Steel Assault é um belíssimo indie game, entregando uma jogabilidade ágil, divertida e que emula muito bem a sensação de um jogo da era de ouro dos jogos de ação de 16 bits. Visualmente é incrível. Não fica isento de alguns pontos fracos, como ser curtinho demais e na dificuldade um tanto desbalanceado entre fácil ou muito difícil, sem conseguir um meio termo entre isso. Ainda assim é impressionante em diversos momentos, tem ritmo, segmentos originais e ótimas situações de batalhas. Dar um chicote e uma tirolesa ao protagonista, ao invés de uma simples arma de fogo, dá um charme próprio as mecânicas e na forma de como o jogo funciona.

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