Análise | Pokémon Brilliant Diamond & Pokémon Shining Pearl

Disponível para Nintendo Switch

Pokémon Brilliant Diamond & Pokémon Shining Pearl é uma charmosa viagem de volta para a icônica quarta geração de Pokémon, mais precisamente para a região de Sinnoh, em um remake que preza bastante a experiência dos jogos originais, com um cuidado clínico naquilo que precisava ser refinado para combinar com uma experiência mais atual da franquia, já em sua oitava geração.

Seu lançamento ocorreu agora no último dia 19 de novembro, exclusivamente para o Nintendo Switch. Interessante apontar que esta é a primeira vez que um título principal da série não tem como desenvolvedora a equipe da Game Freak, tendo o título sido desenvolvido pelo estúdio japonês ILCA, Inc.. Contudo o diretor dos jogos originais, Junichi Masuda, auxiliou o estúdio e atuou como um dos diretores do remake.

Fazendo um pequeno tour ao passado, estes dois títulos tem como base suas versões originais para o Nintendo DS, lançado lá em 2006, há mais de 15 anos. E eu estava lá quando isso aconteceu. Tenho em minhas memórias o fenômeno que o título foi naquele momento, a qual a série finalmente fazia um salto dos portáteis da linha Game Boy, para o novo portátil da Nintendo, com duas telas, tela de toque, comunicação online entre outras funções que naquela época pareciam incomuns em videogames.

Minhas experiências com a franquia Pokémon começou exatamente com Pokémon Diamond, ainda que bem timidamente. Só fui me interessar mais pelos jogos, na quinta geração, com Pokémon Black & White (que apresentava apenas novos pokémons) e depois com o fenômeno de Pokémon X & Y, aí já no Nintendo 3DS. E não tenho vergonha alguma de dizer que é uma franquia que demorou para me “pegar”.

Quem chega hoje ao mundo pokémon tem um milhão de coisas para aprender – não que o jogo em sua essência não seja simples, até é, mas tem tantas camadas de complexidade para quem deseja se aprofundar. Meios de evolução, os tipos e golpes em batalhas, como usar os movimentos de status ao seu benefício, a captura e as naturezas dos pokémons, o cruzamento para linhagens com melhores status e por aí vai. E isso as vezes arranha só a superfície desse sistema. Lembro que precisei passar por alguns jogos até começar a entender melhor tudo isso.

Contudo, em sua essência, e também isso vale para estes remakes, Pokémon continua sendo um jogo de aventura exploratória, a qual o jogador anda e interage por um enorme mundo aberto, capturando pequenos monstrinhos de bolso (daí o termo Pocket Monsters) que são utilizados para batalhar com outros monstrinhos, em meio a um inteligente (e único) sistema de batalhas por turnos. Entre os objetivos do jogo estão a captura de todas as criaturas, o que para isso exige ambas as versões do jogo, além de vencer todos os líderes de ginásio, pois os combates possuem uma alcunha esportiva, afim de se tornar o campeão “mestre treinador” de toda a região.

De volta para Sinnoh

Retornar para a quarta geração de Pokémon, para a região de Sinnoh, tendo conhecido os jogos mais recentes da franquia talvez possa causar um impacto em alguns jogadores. Existe sim um sentimento nostálgico para jogadores veteranos, enquanto novatos podem sentir certa estranheza, especialmente se tiveram a oportunidade de jogar Pokémon Sword & Shield, lançado em 2019 no Nintendo Switch. E já adianto: se você está chegando agora ao Switch e precisa escolher um Pokémon, escolha um dos jogos de 2019, que contempla a oitava geração da série.

Não querendo desmerecer Brilliant Diamond & Shining Pearl, é claro, mas ao revisitar o título, fica claro trata-se de uma experiência muito mas voltada ao saudosismo de que modernizar um clássico. O jogo exige um pouco desse olhar crítico, exigindo que o jogador entenda que é uma aventura do passado, com alguns soluços de uma era passada da franquia.

A aventura em Sinnoh começa como tantas outras do mundo Pokémon, você é um garoto, ou garota, de uma pequena vila da região, que está prestar a iniciar sua jornada para completar sua pokedéx, uma agenda eletrônica que registra seus pokémons encontrados e capturados, enquanto treina seus próprios pokémons para enfrentar os donos dos oito ginásios existentes na região, afim de se tornar um campeão dentre os maiores mestres pokémon.

Em Brilliant Diamond & Shining Pearl o protagonista meio que parte nessa jornada meio que repentinamente, ao observar o Professor Rowan esquecer uma maleta no meio de uma floresta, justamente na grama alta. Ao adentrar na grama, pokémons lhe atacam e você descobre que há três pokémons na maleta, fazendo que o jogador faça a clássica escolha de qual dos três iniciais iniciar sua jornada: Turtwig (tipo planta), Chimchar (tipo fogo) ou Piplup (tipo água).

Normalmente cada fã tem aquele grupo de iniciais favoritos dentre as diversas gerações de Pokémon. Pessoalmente gosto muito dos iniciais da 1ª, 2ª e 5ª geração. Mas estamos na quarta e aqui posso me dizer que me simpatizo com Turtwig, que é uma tartaruguinha bem simpática que em sua evolução final acaba tão grande que até cabe uma árvore em suas costas. É maneiro demais! Não consegui fazer uma escolha diferente da que fiz quando joguei o game lá em 2006.

Alias, em minha concepção, estes três tipos de pokémons definem um pouco o nível de dificuldade a qual o jogador quer iniciar sua aventura. Por exemplo, começar a aventura com um pokémon do tipo fogo tende a deixar as coisas um pouco mais fáceis do que quando escolhemos um pokémon do tipo água. Mas talvez eu seja ruim com pokémons tipo água (o que é meio verdade). O tipo planta meio que fica em um meio termo nessa matemática, pois lida bem com diversos outros tipos de elementos, ainda que apanhe de lavada para pokémons de fogo. Contudo, pokémons selvagens do tipo fogo existem em menor números do que dos próprios tipo planta, inseto e água, por isso é meio difícil temê-los estando com um pokémon de planta.

Outro detalhe ao começar a jornada por Sinnoh, um dos primeiros pokémons selvagens que o jogador deve encontrar é um Shinx, que é do tipo elétrico, e que normalmente se sai bem contra quase todos os tipos básicos de pokémons. Mantenha ele em sua equipe, e você não deve ter problema nos primeiros confrontos e batalhas de ginásio.

Fora que é um pokémon que não precisa de nenhuma ação especial para evoluir. No level 15 ele se torna um Luxio e no level 30 um Luxray. Um companheiro para toda a jornada, não deixe de capturá-lo assim que o encontrar. Ele funciona como um Pikachu para esta versão. Tente manter um movimento Dark e um Elétrico nele, e se dará bem em boa parte das batalhas. Se o pokémon for resistente a eletricidade, o golpe Bite, deve resolver o problema. Fica a dica!

Mas voltando a Sinnoh, os ambientes, agora remodelados em um charmoso 3D no Switch, entregam um mundo bem habitual do imaginário dos primeiro jogos de Pokémon. Pequenas cidades, vilas, bosques, florestas, tem montanhas, litoral e até mesmo cavernas e uma área repleta de neve. Visualmente a região é inspirada na ilha de Hokkaidō, no Japão e por isso não chega a ser tão marcante quanto as regiões das gerações seguintes, como Unova (baseado em Nova York) e Kalos (baseado na França, especialmente a arquitetura de cidades como Paris). Galar, de Sword & Shield, por sinal, é baseado na Grã-Bretanha.

Sinnoh ainda é um ambiente um tanto comum quando se comparado com o quão inspirado foram as próximas gerações em termos de locações e inspirações arquitetônicas. Ainda assim, para este remake, a atualização gráfica deixou o jogo bem charmoso, especialmente alguns efeitos, como os encontrados em ambientes com poças, lagos e o oceano. O efeito de reflexo dos personagens em certos tipos de pisos é também bem impressionante, o tal efeito de ray-tracing que tanto se fala na atual geração de consoles. Ver algo assim sendo feito no Switch é muito bacana.

Os gráficos também saltam aos olhos na hora da ação, quando os pokémons estão batalhando, com diversos movimentos com lindos efeitos especiais, como raios, lasers, sombras, efeitos elementais de água, rocha entre outros. Os pokémons estão bem articulados e possuem diversas expressões nesta versão, tal como já estavam em Sword & Shield.

Ainda nesse aspecto do design de arte e direção do jogo, há que se comentar sobre a decisão de manter os personagens no estilo chibi, aquele efeito oriental em que os personagens ficam com cabeções enormes em pequenos corpinhos, quase como os bonecos da Funko Pop. É um contraste bem grande em relação ao padrão humanos normais de Sword & Shield, ainda que claramente foram inspirados no estilo cabeçudinhos que primeiros jogos de Pokémon possuíam quando ainda se utilizavam bastante a arte pixelada.

No geral, a arte chibi funciona para a exploração do mundo, enquanto a câmera segue aquela estilo quase top-down, que é quando fica em um ângulo mais superior, como se estivesse lhe filmando a alguns metros acima do chão. A estranheza surge apenas em alguns momentos, quando surgem cutscenes dentro do mundo, a qual a câmera dá um close muito perto dos personagens. É fofo? É, mas também é meio bizarro o quão grandes são suas cabeças, ainda que as feições no rosto funcionem em boa parte das vezes.

Vale se atentar que a arte muda quando as batalhas são acionadas. O protagonista volta a ter proporções em uma arte mais realista, inclusive os NPCs que desafiam o jogador sempre que estão em seu campo de visão, possuem as mesmas poses originais do jogo de 2006, se mantendo estáticas por alguns segundos, até o plano da batalha surgir e assim a animação sendo feita com estes arremessando suas pokébolas. Um detalhe pequeno, mas que certamente enaltece o saudosismo a qual o título deseja emular.

Em um aspecto geral, revisitar essa Sinnoh remodelada trouxeram-me sentimentos conflitantes. Basicamente porque o design original era de fato muito mais modesto do que o que a Game Freak fez na sequências da franquia. Mas ainda assim encontrar os pokémons das quatro primeiras gerações, aqui reunidos, deixando para lá os que vieram posteriormente, enaltece em muito essa linhagem criativa inicial, bem antes de muitos designs estranhos surgirem, e que até hoje não agradam a tantos puristas dos tempos originais.

Em termos de trama, ainda que esta nunca tenha sido o forte dos jogos da franquia, os jogadores irão conhecer (ou relembrar) a história dos pokémons lendários Palkia e Dialga, que são os guardiões do Espaço e do Tempo. Por sinal, até hoje sinto que o jogo perde uma chance interessante de brincar com mecânicas e elementos justamente de espaço-tempo dentro dos ambientes.

Os antagonistas da aventura são os membros da organização criminosa Team Galactic, que são realmente maus quando se pensa que o desejo deles era de destruir o universo, enquanto recriariam um novo só para eles. Contudo no jogo, estes esquisitos apenas ficam atrapalhando seu caminho, bloqueando rotas e segurando sua progressão em sua jornada. Cabelos azul clarinho e corte de tigelinha? Fica difícil levá-los a sério.

Gameplay de uma jornada

Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl segue a fórmula tradicional e consagrada na franquia. O jogador terá acesso de forma progressiva a toda região de Sinnoh, conforme for cumprindo as metas narrativas da campanha, que são exibidas em um menu – caso exista alguma dúvida do que fazer ou para onde ir. Um mapa do mundo inteiro também lhe auxilia a se posicionar dentro da região, com as tradicionais rotas bem delimitadas. Sinnoh não é um mapa complexo, sendo de fácil exploração.

E alguns elementos são os mesmos de sempre. Grama alta indica pontos em que vão surgir, de forma aleatória, batalhas contra pokémons selvagens. A indicação de um pokémon se movimentando ou até mesmo de visualizar um pokémon, algo que surgiu na atual geração, ainda não se fazia presente nessa época, e não foram inseridos neste remake. Andar em cavernas também ativam batalhas aleatórias, os pokémons aqui também não são visualizados. É um contraste interessante de como a fórmula evoluiu desde, então, não?

Os treinadores NPCs que ficam andando pelas rotas entre cidades existem por aqui. Alguns sempre olhando para uma direção certa, outros andando (o que permite o jogador desviar destes), outros olhando para diferentes pontos, mas sem se moverem. Algumas destas batalhas podem ser evitadas, afim de não fatigar o jogador, mas normalmente o jogo exige que se faça algumas para se manter o level da aventura nivelada com a progressão medida pelos estádios a serem vencidos.

Brilliant Diamond & Shining Pearl possuem os mesmos estádios e cidades, não existe nada relativamente exclusiva nesse sentido entre as versões, mantendo apenas a dinâmica de que cada versão tem alguns pokémons exclusivos, exigindo que os jogadores troquem, ou tenham ambas as versões, para que consigam completar a pokédex. Em Sword & Shield, por exemplo, as versões possuem estádios exclusivos, afim de criar essa motivação para que os jogadores tenham experiências diferentes entre os jogos, ainda que tragam a mesma história basicamente.

Em números de pokémons presente no jogo, a pokédex de Sinnoh tem 151 entradas, a quarta geração tem um pouco mais de 100 novas criaturas em relação as que já existiam, e que elevaram naquela época, para 493 criaturas. A pokedéx national, que se ganha após completar a de Sinnoh, tem exatamente esse último número de entradas, o que indica que as quatro primeiras gerações de pokémons podem ser adquiridas neste remake. E aqui cabe algumas pontuações.

Diferente dos jogos mais atuais, que possuem um enorme esforço para que cada rota, cada local de captura de pokémons, tenham seus próprias espécies, sem repetir demais encontros contra os mesmos pokémons, Brilliant Diamond & Shining Pearl ainda me soou engessado a um formato menos animador, a qual há um grupo de pokémons que se repetem demais por diferentes rotas e regiões, o que torna a caçada por novos membros na sua equipe uma tarefa por vezes frustrante.

Dou aqui o exemplo da Starly, e sua evolução Staravia. Um dos primeiros pokémons aves que você encontra logo na hora inicial do jogo. E passado mais de 15 horas de gameplay, e mais de metade do mapa explorado, o jogador ainda irá ficar encontrando ela constantemente na grama alta. Isso é uma coisa que os jogos mais atuais buscam evitar, pois a programação entende que o jogador já deve ter capturado essa espécie, não fazendo sentido seguir colocando ela em grama alta em todos os locais do jogo, em pontos avançados da progressão. Nesse aspecto, deu para sentir a fórmula um pouco envelhecida a qual Brilliant Diamond & Shining Pearl se baseiam.

E nesse sentido entendo a fidelidade a qual a ILCA tentou manter dentro destes jogos, não aumentando o rooster original de pokémons encontrados na experiência original da aventura. Mas tem um contraponto: a área subterrânea denominada The Underground.

O subterrâneo é uma modalidade que também existia no jogo original, mas que no remake passou por alguns aprimoramentos. Trata-se de um imenso labirinto de túneis a qual o jogador irá encontrar diverso biomas de vários tipos de pokémons, a qual eles estarão andando pelo ambiente, algo bem mais semelhante aos jogos mais recentes da franquia. O jogador poderá capturar estes pokémons e levá-los para a superfície e continuar sua aventura com eles.

Há uma vantagem bacana em fazer isso: no subterrâneo os pokémons tem a média de level idêntica ao do jogador, o que significa que se sua equipe estiver em level 30, os pokémons encontrados ali também estarão. Outra mudança que faz o contraste do que estava dizendo mais acima: há pokémons que só são encontrados no subterrâneo, e conforme a aventura vai progredindo, novas espécies vão surgindo lá, inclusive os iniciais das três gerações passadas (eventualmente, após completar a pokedéx de Sinnoh.

Acho bacana essa ideia do subterrâneo, que também oferece outras atrações, como um mini game de escavação, bem inteligente, a qual o jogador pode bater em uma parede por um certo número de vezes antes que ela colapse, com o objetivo de encontrar pedras preciosas, fósseis e até mesmo baús especiais contendo estátuas de pokémons, a qual podem ser levadas a uma base secreta que também se permite que o jogador a crie nesse local gigantesco.

Contudo a razoabilidade sempre manda ter bom senso. Se há uma gama enorme de pokémons surgindo abaixo do solo ao longo da aventura, porque também não aprimorar a diversidade daqueles que se apresentam na grama alta na superfície? Pois é, nesse sentido fiquei com a impressão de que faltou um olhar mais apurado nessa direção.

Ainda abordando pequenas mudanças feitas em relação ao jogo original, tem uma bem curiosa no que diz respeito a classificação do tipo elemental do pokémon. Em 2006 ainda não se havia criado e reclassificado alguns pokémons como tipo fada. Bem, soaria muito estranho se o remake não levasse isso em consideração, e portanto, nesta nova versão os pokémons do tipo fada são classificados como tal, e alguns movimentos também foram inseridos para fazer sentido a esta remodelagem. Detalhes pequenos, porém importantes.

Quanto as batalhas de pokémons, a estrutura se mantém no formato consagrado da franquia. Cada jogador pode carregar um total de até seis pokémons em sua jornada, e cada pokémon tem 4 movimentos, podendo ser movimentos de ataques diretos, ou movimentos que podem causar algum efeito de status, tanto no pokémon, quanto no adversários. E sempre no esquema inspirado na clássica brincadeira do pedra, papel e tesoura, com elementos que darão super efetividade ao golpe contra alguns tipos de pokémons, como ataques de fogo contra grama, ou ataques que são apenas efetivos, assim como há também os ataques que são apenas normais, ou então ataques que não são efetivos, como ataques de fogo contra pokémons do tipo água.

Inicialmente parece um sistema simples, mas quando mais o jogador vai aprendendo e se aprofundando nas técnicas, se percebe que é um sistema muito complexo, com golpes que vão diminuir ou aumentar status dos pokémons, mexendo em suas defesas, ataques, velocidade, chances de evadir de um ataque e assim por diante. Há também movimentos que atribuem uma condição a um pokémon, como paralisia, congelamento e até mesmo fazer o pokémon dormir. Atributos que fazem o adversário perder o movimento de seu turno, e velocidade é uma das chaves principais para a vitória. Bons treinadores querem acaba com as batalhas em um ou dois turnos, afim de impedir que o adversário troque ou pense em uma estratégia para lhe contra atacar.

Nesse aspecto Brilliant Diamond & Shining Pearl não deixa nada a desejar, mantendo o padrão de toda a franquia, trazendo consigo uma gama de movimentos para os pokémons, que vão podendo ganhar novos golpes e trocando pelo set de 4 slots para preenche-los. Os movimentos estão com belíssimas animações e são exatamente o que se espera que sejam.

A dificuldade do jogo não tem exatamente nada que mereça grandes destaques. Os NPCs de treinadores que ficam nas rotas entre as cidades normalmente não oferecem grande desafio, muito menos aqueles que precedem os donos de ginásios, mas estes sim tendem a oferecer um ou dois pokémons que vão pegar o jogador desprevenido caso não haja um plano B se o seu principal pokémon for abatido. Além disso, as maiores batalhas ficam mesmo para o final do jogo e o conteúdo pós-game, além, é claro, das batalhas online.

Falando em batalhas, e até mesmo trocas de pokémons, por meio do sistema online, aqui cabe algumas observações sobre o como Brilliant Diamond & Shining Pearl oferece tal conteúdo. Mantendo a fidelidade da estrutura original do Nintendo DS, a ILCA resolveu manter o sistema de salas online que existiam abaixo dos Centros Pokémons, existentes em cada cidade do jogo. Você entra em uma sala online, sem código ou cria seu próprio código, e fica esperando outros jogadores aparecerem e usam dois gestos, “trocar” ou “batalhar”, para decidir o que quer desta outra pessoa.

Lá em 2006, quando o DS estava realizando suas primeiras investidas no mundo dos jogos online, esse era um sistema razoável, mas hoje, passados 15 anos, vendo a automatização que os games mais recentes da série podem oferecer… bem, é um sistema que deixa bastante a desejar. Havia também, nesta época, o sistema chamado GTS (Global Trade System), a qual o jogador mandava qualquer pokémon para o servidor e automaticamente receberia um outro pokémon, vindo de qualquer outro jogador que fizesse o mesmo. Havia também, uma espécie de classificado, a qual você deixava um pokémon como anúncio, e dizia o que gostaria em trocar. Bem, ambos os sistemas não estão aqui, neste momento.

O sistema de GTS foi trocado nos jogos mais recentes pelo GWS (Global Wonder System), que basicamente faz a mesma coisa, mas o faz de forma mais chique, por assim dizer. E a Nintendo já se posicionou dizendo que irá inserir o GWS em Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl uma futura atualização gratuita, e que a estação de troca ficará em Jubilife City. Vale ficar de olho então.

E se você estiver se perguntando se estes remakes já estão prontos para se conectar com o aplicativo Pokémon Home, que permite armazenar pokémons de diferentes games do passado da franquia e mandá-los para outros jogos… sinto informar que neste momento não. A Nintendo também já se posicionou dizendo que essa compatibilidade virá, mas somente em algum momento de 2022.

Além disso, há um modo de batalhas online chamado Colosseum que também não está funcionando neste lançamento, um NPC lhe avisa que em breve eles estarão prontos para abrir suas portas. O que existe, por outro lado, é um modo online que permite explorar o subterrâneo do jogo com outras pessoas, já nesse momento. Para quem precisa de um pequeno elemento online nesse momento do lançamento, é uma opção válida. Os jogadores podem participar junto das escavações, trocar itens e visitar as salas de troféus de outras pessoas. Já é alguma coisa.

Talvez o que importa neste momento do lançamento de Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl seja realmente a sua experiência single player. Realizar a campanha principal, deixar os jogadores em seus mundos, coletando e completando suas pokédex, descobrindo o conteúdo pós-game e se deliciando com as mais de 40 horas que essa experiência tem a oferecer, antes de permitir que o mundo do jogo seja inundado com outros pokémons, e que os jogadores desconhecidos possam se encontrar para oferecer batalhas mais competitivas.

Antes de encerrar este segmento da análise, e partir para as considerações finais, sinto que devo mencionar o dispositivo Poketch. Logo nas primeiras horas da aventura o jogador deve ganhar de um NPC um dispositivo que funciona como um smart watch, um relógio inteligente com uma série de aplicativos. Lá em 2006, nos jogos originais, esse elemento funcionava na tela inferior do DS, enquanto o jogo acontecia na tela superior. Aqui no Switch, essa telinha foi reproduzida no canto superior da direita do jogo, podendo se expandir para a tela inteira caso seja necessário. E se o jogador quiser que ela suma do cantinho da tela, basta segurar por um segundo a mais o botão R (bumber direito do joy-con) para que ela suma e reapareça, caso necessário.

O Poketch não é realmente uma parada incrível e fenomenal, repleta de recursos maravilhosos e necessários. Afinal, me diga se você realmente precisa de uma calculadora dentro do jogo? Dentre outras coisas há contador de passos (o que pode ser útil para quem estiver carregando um ovo pokémon), hora em tempo real, demonstrador de status de sua equipe (o que o menu principal do jogo demonstra em maiores e melhores detalhes), dentro outras coisas. Conforme a campanha avança, NPCs vão instalando novos aplicativos em seu Poketch.

Contudo o que importa aqui são as Técnicas Especiais. Aqueles movimentos que existem em todos os jogos da franquia e que funcionam para serem usados em batalhas, mas também tem funções de interação na parte de exploração do jogo, como quebrar uma rocha, cortar um arbusto e até mesmo permitir que o jogador voe de uma cidade a outra ou até mesmo saia explorando lagos e parte do oceano do jogo, em cima de um pokémon.

O que acontecia até os jogos mais recentes é que o jogador precisava ensinar estas técnicas a um pokémon de sua equipe, afim de poder interagir no mundo com a mesma. Brilliant Diamond & Shining Pearl muda essa premissa, permitindo que o jogador aprenda isso e o vincule apenas ao Poketch, sendo desnecessário ensinar estes movimentos a seu pokémon. Parece um mero detalhe, mas me soa muito inteligente, afinal os movimentos destas técnica nem sempre são os melhores a serem usados em batalhas.

É muito comum, até então, que o jogador tivesse um pokémon “coringa” que carregasse todos estes movimentos e não servisse para uso em batalhas. Desvincular isso a sua equipe me pareceu uma ideia muito inteligente. Não que precisassem inventar um aplicativo dentro do jogo para tal. Mas o conceito em si, de como trabalhar com estas habilidades que interferem diretamente no mundo e na exploração, parece ter sido aprimorada aqui e se espera que reflita nos futuros jogos da franquia.

Considerações finais

Pokémon Brilliant Diamond & Pokémon Shining Pearl são remakes que já eram esperados e muito aguardados pelos fãs da franquia, afinal as três primeiras gerações ganharam seus remakes no passado e a sequência lógica seriam exatamente os títulos de 2006. E há sempre uma retórica sobre o que esperar de um remake, que normalmente vai um pouco além do que se espera de um jogo remasterizado.

Acredito que estas novas versões cumpram o papel nostálgico que se pede da obra, e atualiza diversos de seus elementos básicos, como melhores controles, visual renovado, a oportunidade de estarem em um console de maior resolução, e dinamismo, do que um pequeno portátil de duas telas.

De adições, realmente foram feitas pontuais, a inclusão dos pokémons fadas, uma turbinada no conceito da exploração do subterrâneo, a forma como as técnicas de habilidades funcionam na hora de exploração do mundo, poder trocar a roupa do seu personagem, permitir que o pokémon ande fora da pokébola depois de um certo ponto do jogo, há também pequenas mudanças naquela competição de performance (dança e visual) que nada mais é do que um mini game de ritmo, assim como o que virá futuramente com as adições online do sistema GWS e da compatibilidade com Pokémon Home.

Ao público brasileiro é sempre bom observar que ainda não é desta vez que veremos um jogo de Pokémon oficialmente localizado ao nosso português. Dentre as opções de idioma, nos restam o inglês e o espanhol. A Nintendo fez uma experiência recente com Mario Party Superstars, localizando-o em português, mas ainda é cedo para vermos o resultados disso.

Mecanicamente, é preciso entender que Brilliant Diamond & Shining Pearl estão um tanto envelhecidos pelo tempo, especialmente por quem tem jogado versões mais recentes da franquia. Tem algumas ressalvas quanto a ritmo e algumas dinâmicas do jogo, como a repetição dos pokémons na grama alta e padrões do ciclo de jogo que soam repetitivos em vários momentos. Não é uma falha do jogo, mas demonstra o quanto a fórmula evoluiu desde a quarta geração, e na decisão do remake de não mexer demais nesse conceito ao trazer uma experiência muito perto do jogo original. Alguns vão adorar, outros podem estranhar. Sempre haverá estas duas faces da moeda.

Inclusive é até incomum que os remakes não tenham elementos e conteúdos oriundos de Pokémon Platinum, lançado em 2008 no Nintendo DS, sendo aquela tradicional versão definitiva que havia na franquia em cada geração. Houve essa opção de deixar de lado a versão Platinum, que talvez até fosse interessante ver alguma coisa inserida nestas novas versões.

A decisão de dar um aspecto visual chibi para os personagens não incomoda, mas é difícil dizer que supere a direção artística empregada em Pokémon Sword & Shield. É agradável, mas não é superior ao que os donos do Switch já experimentaram. As cutscenes, com cabeças gigantes na tela de um televisor de 40 polegadas soa um pouco estranho mesmo. Há um charme, vamos admitir, mas talvez seja apenas isso mesmo.

Volto a dizer, se você se tornou um dono recentemente de um Nintendo Switch, minha recomendação é ir atrás dos games de 2019, Sword & Shield, e experimentar Pokémon em seu auge atual. É um título já consolidado, com expansões e um modo online com plena capacidade de entreter. Brilliant Diamond & Shining Pearl são clássicos que soam mais interessante para quem ainda tem fome da fórmula tradicional de pokémon, e sei que muitos fãs se encontram nessa situação, e querem revisitar esse passado da franquia, ao menos enquanto uma nova geração não é anunciada, o que talvez ainda leve mais alguns anos.

Em resumo, posso dizer que Pokémon Brilliant Diamond & Pokémon Shining Pearl são bons remakes, contudo não chegam aqui para ditar uma reinvenção da fórmula, tal como outros remakes já fizeram no passado. Não estão aqui para entregar uma experiência revigorada além de seus elementos mais clássicos. Mas uma coisa é certa: os fãs de pokémon vão se divertir, independente dos altos e baixos que este lançamento possa ter. Porque essa é a mágica que os jogos de Pokémon possuem. Simples assim!

Galeria

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Dando uma nota

São remakes essencialmente fiéis a estrutura de seus jogos originais - 8
Acesso aos pokémons das primeiras quatro gerações - 8.5
Visualmente tem seu charme, mas a arte chibi soa estranho em alguns momentos - 7.5
Há um ritmo e elementos que dão um certo sinal de envelhecimento - 7
Parte dos sistemas online ainda estão - 6.5
Sem localização em português, é um título que encontra barreiras com jogadores mais novinhos - 6.5
Pontuais adições tornam os remakes mais agradáveis, especialmente a parte do subterrâneo - 8.5

7.5

Legal

Pokémon Brilliant Diamond & Pokémon Shining Pearl trazem certa nostalgia de tempos mais simples do universo Pokémon, reimaginados para o Nintendo Switch com a proposta de entregar bastante fidelidade com os jogos originais em suas mecânicas, enquanto oferecem um novo visual, que agradam em sua grande parte. Existem adições em seu conteúdo, porém são bem tímidas, e servem para atualizar um pouco a fórmula, sem oferecer necessariamente algo marcante para quem jogou os títulos originais. Contudo, a parte do subterrâneo deve agradar bastante os jogadores, na busca por estátuas, pokémons exclusivos e na montagem de suas bases secretas.

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