Análise | Big Brain Academy: Brain vs. Brain
Disponível para Nintendo Switch
Big Brain Academy: Brain vs. Brain é uma brincadeira divertida de exercitar a mente com rápidos puzzles que exigem agilidade e raciocínio rápido. Seu lançamento aconteceu no último dia 3 de dezembro, agora no já finalizado ano de 2021, de forma exclusiva para o Nintendo Switch.
Seu desenvolvimento veio de duas frontes, a principal pelo estúdio japonês Indieszero Corporation, com suporte e parceria com a Nintendo EDP (Nintendo Entertainment Planning & Development). Lembrando que a indieszero (o estúdio usa a nomenclatura em minúsculo para se referenciar) já trabalha com a Nintendo de longa data, desde Sutte Hakkun (1997, SNES). No entanto, é provável que seu jogo mais famoso aqui no ocidente seja Electroplankton, lançado em abril de 2005 no Nintendo DS.
Quanto a franquia Big Brain Academy, a mesma também começou no Nintendo DS, e curiosamente também no mesmo ano de Electroplankton, em junho de 2005. A série tem certa semelhança com Brain Age, outra franquia que surgiu em (veja só) em 2005 (e também no DS!), cuja a proposta são atividades de estímulo do processo lógico cerebral, e neste caso, criadas em parceria com o neurocientista, o Dr. Ryuta Kawashima.
Apesar de parecidas em suas propostas, Brain Age e Big Brain Academy possuem algumas atividades e exercícios diferentes entre suas séries. Brain Age parece ter feito mais sucesso com o público, pois desde sua criação, a série já recebeu cinco jogos, sendo seu último o Dr Kawashima’s Brain Training for Nintendo Switch, lançado no Japão e na Europa na virada de 2019 para 2020, mas que até hoje ainda não foi lançado nas Américas.
Já Big Brain Academy é uma franquia de três jogos. O primeiro, como já mencionado, lançado no Nintendo DS, um segundo jogo lançado em 2007 no Nintendo Wii chamado Big Brain Academy: Wii Degree, e esta novíssima edição, distante em 14 anos desde sua última versão, sendo atualizado e reinventado para o Nintendo Switch.
Big Brain Academy: Brain vs. Brain é um lançamento que foge do escopo de preços de lançamento a 59 dólares, tendo sido lançado no mercado norte-americano por 29 dólares. Aqui no Brasil, por meio da nossa eshop nacional, seu preço foi convertido em amigáveis 149 reais – o que não está nada mal comparado aos lançamentos de 300 reais da atualidade, convenhamos.
Visualize, Analise, Calcule, Identifique e Memorize
De uma forma bem objetiva, os verbos do subtítulo acima categorizam os cinco tipos de atividades encontradas em Big Brain Academy: Brain vs. Brain. Dentro de cada categoria há quatro tipos de brincadeiras de raciocínio, observação e agilidade. Sendo assim, o título vem com 20 mini games puzzles para se conferir.
Jogos simples, muitas vezes apresentados em uma roupagem como se fossem brincadeiras infantis, como acertar o objeto específico com uma marreta dentro da toca de uma marmota, jogo da memória, retirar blocos numéricos de madeira de um conjunto afim do resultado da soma dar o número pedido em tela, adivinhar o animal que vai aparecer em uma imagem parcial, adivinhar onde o pássaro está em um jogo de movimentar gaiolas cobertas por uma cortina, encaixar direções de um trilho de trem, estourar balões pela ordem crescente, colocar imagens apresentadas em tela a partir da ordem decrescente e assim por diante.
Jogos simples de serem solucionados inicialmente, é verdade, mas adicione o fato de que o jogador tem uma contagem regressiva ao iniciar a atividade escolhida e sua pontuação é definida pelo maior número de acertos dentro do tempo estabelecido, sendo que errar também lhe tira pontos. E a cada tantos acertos, a dificuldade da atividade vai escalando para níveis que podem lhe deixar de cabelos arrepiados.
Pegue o jogo de estourar balões de acordo com o número dentro do mesmo. É preciso seguir a ordem crescente aos números ali apresentados. Mas tem que ficar esperto para que seu cérebro não seja enganado pelo tamanho dos balões. Como eles possuem diversos tamanhos, as vocês seu cérebro vai do menor ao maior, mas o menor balão pode ser um 21, enquanto o maior balão um 19. E eles ficam girando, então você pode olhar esse balão enorme e pensar “é 91” se o número estiver de ponta cabeça.
Mas aí você fica esperto depois de algumas vezes. Então consegue ir mais a frente dos exercícios. E aí o jogo lhe dá números negativos dentro dos balões! E aí vem o -75 vem primeiro do que -65, certo? Afinal é ordem crescente. Mas no meio dos negativos tem positivos. E aí tudo se confunde novamente. E que saber? Esse mini game fica ainda mais cabreiro quando começa a lhe apresentar números fracionários (!!). Qual mesmo vem primeiro na ordem crescente? 3/2, 2/3, 3/3, 4/2, 2/4? É assim que as coisas vão escalando.
Isso vai acontecer basicamente com todos os mini games do jogo. Aquele de achar o pássaro na gaiola? Moleza quando é um pássaro e duas gaiolas vazias. Mas então de repente você tem três pássaros e mais três gaiolas vazias. E então quatro pássaros e mais quatro gaiolas. Todas se mexendo. E você tem que lembrar quais se mexeram, pra onde foram, e quais mesmo tinham pássaros? Não soa tão simples agora, né.
Tem um outro envolvendo números que também é o terror. Basicamente é um teclado telefônico. Começa simples. A tela lhe mostra rapidamente dois números e você precisa digitar eles. Então sobe para três, quatro, e agora tem um símbolo no meio da sequência. E então são cinco dígitos, seis, sete (!!) e o jogo lhe mostra a sequência em questão de 2 ou 3 segundos. É olhar, memorizar no tempo suficiente que se tem para ler a sequência e já começar a digitar. Um dígito errado e o exercício é dado como erro.
E a marmota? Começa simples. Acerte o objeto. Mesmo que seja quatro buracos e duas marmotas. Mas então a coisa escala para quatro marmotas, quatro objetos diferentes, e uma sequência de objetos que ela não lhe mostra na ordem, mas que você tem que acertar o mais rápido possível antes que o relógio marque zero. Não é tão molezinha assim.
Basicamente é esta a proposta de Big Brain Academy: Brain vs. Brain, lhe apresentar mini games que podem soar bobos e simples inicialmente, mas que vão desafiar a sua capacidade de pensar e reagir ao que está acontecendo em tela. Começa fácil, mas a dificuldade está lá. E quando você treina dia a dia estes desafios, com o tempo começa a perceber que está indo cada vez mais longo, respondendo a desafios cada vez mais difíceis. Parte porque você começa a decorar alguns padrões? Talvez, mas nem todo mini game permite algo assim, e mesmo assim, memorizar padrões também é uma forma de exercitar o cérebro.
Vale também apontar que o título permite ser jogado tanto com controles tradicionais quanto na tela de toque do console, ou seja, isso o torna totalmente compatível com o Nintendo Switch Lite. Notou que a Nintendo tem usado cada vez menos os joy-cons em sua potencialidade? Isso é por conta de incapacidade do Switch Lite de desacoplar seus controles para usá-los com os sensores de movimentos que sua versão padrão permite. Não que isso estrague a experiência deste título, ainda que sensores e movimentos tenham sido usados em sua versão anterior, para o Nintendo Wii.
Quanto a usar os controles ou a tela de touch (quando jogado em modo portátil), preciso admitir que achei a tela de toque muito mais prático e rápido em diversos mini games. Não que não dê para competir com os controles normais, mais requer maior agilidade e destreza do jogador. Para aqueles membros mais casuais da família, a tela de touch é muito acessível e tranquila para interação.
Prática vs desafios
Passando para os modos de jogos de Big Brain Academy: Brain vs. Brain, a simplicidade de todo seu conceito parece permanecer por aqui. Basicamente temos um modo de treinamento (Practice), a qual podemos ganhar medalhas em diversos níveis, para nos aperfeiçoarmos nos mini jogos e entendermos suas regras e padrões. O bacana aqui é que as atividades começam da forma mais simples possível, então é bem tranquilo. Ganhando medalhas de ouro em todas as atividades, o jogo libera o modo Super Practice, a qual o nível de dificuldade começa um pouco mais elevado, tornando a pontuação para a medalha de ouro um pouco mais desafiadora.
E há então o modo Ghost Clash, que irá permitir que o jogador jogue lado a lado com outros fantasmas de jogadores reais de todas as partes e idades do mundo inteiro. Neste modo também é possível tentar bater os recordes de seus amigos e membros da família que tiverem saves no mesmo Switch. O conceito é o mesmo, a tela se divide em duas e o jogador fica lado a lado com um fantasma que repete exatamente o tempo que um jogador real levou para fechar aquela atividade. Sua meta é conseguir antes dele.
Admito que gostei muito da modalidade online, de competir contra outros jogadores mundo afora, de forma aleatória, o que cria certas injustiças, mas dá para entender as razões. Competir com o fantasma de um garoto de 8 anos em desafios de matemática talvez não seja lá tão justo assim, convenhamos. Mas está todo mundo ali, no bolão, tentando ficar no ranking mensal da modalidade. Sem divisão por idades ou classe.
E faz sentido jogar com um fantasma que está repetindo o tempo daquele jogador. De fato não precisa que o jogo coloque um jogador em tempo real ali. Basta a CPU repetir a atividade gravada daquele jogador e ver se alguém bate seu tempo. É simples, porém funcional.
Claro que localmente é possível jogar com outros membros da família em tempo real. A tela vai se dividir da mesma forma do que com os fantasma de outros jogadores, inclusive no modo portátil a tela de touch permite que duas pessoas interajam em tempo real em um mesmo Switch.
Daí vem o subtítulo Brain vs Brain deste jogo. Justo, mas ainda acho que faltou um pouco mais. A modalidade de Ghosts poderia ter um modo mais desafiador. Que pudesse escolher jogadores com um ranking de tempo maior do que os meus, para me sentir realmente desafiado a todo momento. A bem verdade é que chega a ser fácil bater os fantasmas, ao menos inicialmente. Posso tentar ir subindo no ranking, pontuando de forma acumulada ao longo do mês, e tentando alcançar aqueles no tempo da lista. Mas achei um pouco cansativo repetir a mesma modalidade tantas e tantas vezes apenas para isso. Queria ir diretamente para uma modalidade de ghosts desafiadores.
Por fim, o último modo volta a ser single player, a modalidade Test. Aqui o jogador passa por cinco mini games de uma só vez, de cada uma das cinco categorias já mencionadas, e no final o jogo monta um gráfico que vai mostrar a sua afinidade as melhores categorias pontuadas, assim como lhe dizer em quais deve treinar e trabalhar mais seu desenvolvimento. É um teste mesmo.
Contudo esse teste não é tão exato quanto se pode esperar, porque os cinco jogos sempre serão aleatórios e tem jogos em que você será melhor e outros que terá menor afinidade. Isso dentro de cada categoria. No Calcular, por exemplo, tem uma atividade de regular um relógio de pontual conforme o jogo lhe pede e bem, eu sou péssimo disso. Contudo, nas demais atividades da categoria Calcular, já não me dou tão mal assim. Então sempre que realizou esse teste, posso me dar bem ou mal na categoria Calcular de acordo com a atividade que virá nessa maratona de cinco desafios. O que vai sempre mudar meus resultados de acordo com a minha afinidade em certas atividades.
Considerações finais
Big Brain Academy: Brain vs. Brain foi uma grata surpresa, pois me diverti bem mais do que pensei que me divertiria. Foi meu primeiro contato com a franquia e fiquei com uma impressão muito boa em torno do título. Contudo algumas ressalvas precisam ser feitas.
A primeira, e possivelmente a mais importante crítica, gira em torno da decisão da indisponibilidade de localização em português. E olha que o jogo tem localização em 10 idiomas: japonês, inglês, francês, alemão, italiano, espanhol, coreano, holandês, russo e chinês. Isso traz sérios problemas de acessibilidade ao público brasileiro ao game, especialmente aos mais novinhos, como as crianças.
Pude perceber isso na prática. Meu filho de 9 anos ficou interessado pelo jogo, mas não teve a iniciativa de jogá-lo, preferindo apenas me ver jogando. O mesmo vale para a minha esposa, que achou muito legal, e que também preferiu ficar respondendo meus puzzles enquanto jogava, ao invés dela mesmo assumir o controle. O domínio do inglês deles não é igual ao meu, e certamente isso intimida um pouco na hora de entender o que o jogo está lhe pedindo em um outro idioma, enquanto ainda tem que resolver o problema.
Isso é muito mais explícito em um mini game em que o jogo lhe faz perguntas e você tem que responder marcando as imagens que correspondem ao que lhe foi perguntado. A pergunta, mesmo que simples, é feita em inglês. Coisas como: aqueles que não possuem cauda, selecione do menor ao maior, quem não é uma ave, veículo mais rápido, ou mais veloz em ordem crescente etc. É um jogo bem maneiro, mas existe um delay cerebral aí em entender a pergunta em outro idioma e respondê-la. E quem não tem essa capacidade de traduzir rapidamente, se perde por completo nessa atividade. Com o tempo, o que lhe resta é decorar perguntas e suas respostas.
Considerando a intenção da obra, acho que seria imprescindível que o jogo recebesse localização em português. A Nintendo já fez isso com Mario Party Superstars, e Big Brain Academy não tem uma tonelada de textos para tradução. Não é um processo que seria tão complicado assim. Dá uma sensação de que houve um relaxo aí. Infelizmente.
Passando por esse ponto, outra crítica que poderia ser feita diz respeito ao número de mini games disponíveis no total do jogo. Vinte atividades é um número relativamente pequeno, no limiar do razoável. É um jogo que você rapidamente passa por tudo que ele tem a oferecer em um único dia. Nos dias seguintes você se esforça para bater sua pontuação prévia e estas atividades escalam suas atividades, mas ainda assim é uma experiência que rapidamente para de lhe trazer novidades. Seria interessante se a Nintendo pudesse adicionar novas atividades por meio de novas atualizações.
Isso também pode se justificar com o fato de que algumas atividades são visualmente parecidas. Tem três atividades, em particular, de encontrar o maior número de imagens (1), montar um conjunto numérico usando figuras diferentes (2) e encontrar a sombra certa entre algumas opções de figuras (3) que basicamente usam os mesmos desenhos. São jogos que poderia usar elementos visuais mais expressivos.
É estranho, por exemplo, que em nenhuma das atividades de Big Brain Academy faça qualquer brincadeira com outros títulos da Nintendo. Porque não usar, por exemplo, imagens que fizessem referências a jogos como Super Mario ou The Legend of Zelda? O próprio game de montar conjunto de figuras poderia oferecer algo nesse sentido. Poderia haver um modo extra com atividades para fãs da Nintendo (do tipo adivinhar a imagem do jogo, por exemplo), apenas pela diversão, um conteúdo adicional.
Mas só para deixar claro, as 20 atividades oferecidas pelo jogo são legais, não estou dizendo o contrário. O ponto é que o conteúdo rapidamente se torna… rotineiro. E aí o elemento da surpresa desaparece após poucas horas de jogo.
E parece que os desenvolvedores notaram esse aspecto da obra, pois um dos maiores estímulos para seguir jogando Big Brain Academy dia após dia parece estar na recompensa de acessórios e roupas para o avatar que o jogador deve criar assim que inicia o game. No começo tem opções realmente básicas, mas conforme se vai jogando, moedas vão recompensando o jogador e a cada um estoque de 10 moedas, um acessório visual é dado ao jogador. Pode ser uma roupa, um acessório para o rosto, um chapéu. É bacana, admito, mas é um sistema de recompensa muito, mas muito simplório. Não agrega muito a sua experiência de replay.
Por fim, acredito que dê para afirmar que Big Brain Academy: Brain vs. Brain é uma obra interessante e razoavelmente divertida. Simples, talvez, mas bem inteligente naquilo que oferece. A ideia de competir com fantasmas de outros jogadores do mundo todo é realmente uma boa sacada e funciona muito bem. O suporte a multiplayer local em tempo real também pode oferecer uma atividade muito prazerosa em família ou com amigos. O maior lamento, ao nosso mercado, é a indisponibilidade de localização em nosso idioma. Tem um preço mais acessível, mas na contra medida, o conteúdo também é mais modesto.
Certamente é um título que diverte e vale a pena dar uma olhada se você tiver a chance, mas a impressão final é que ainda não é uma edição que atinja todo seu pleno potencial. Mas certamente é uma evolução em relação as edições anteriores, e é muito bom ver Big Brain Academy de volta depois de um hiato de mais de uma década.
Galeria
Dando nota
Proposta interessante, que instiga a mente, de pensar com agilidade, atenção na observação e fazer cálculos rápidos - 8.5
Visual simples, não precisa de super gráficos, e sim de um ambiente agradável aos puzzles - 7.2
Boas atividades, porém em uma quantidade que te deixa querendo mais - 7.5
Desafios escalam sua dificuldade de uma forma que realmente prende o interesse do jogador - 8
Sistema de multiplayer local ou contra fantasmas de jogadores reais do mundo inteiro dão longevidade a obra - 8.8
Ótima jogabilidade, seja com os controles tradicionais, seja com o o touch da tela em modo portátil - 8.5
Infelizmente não possui localização em português, e isso compromete parte de sua acessibilidade ao público brasileiro - 5
7.6
Legal
Big Brain Academy: Brain vs. Brain é um divertido retorno de franquia que esteve em hiato há mais de uma década. Oferecendo boas atividades, o jogador realmente vai se sentir estimulado a pensar, observar e calcular. Perfeito tanto no controle, quanto no touch em modo portátil. Oferece multiplayer local e também um divertido modo fantasma, contra jogadores ao redor do globo. Contudo não há como fechar os olhos a certos pontos fracos, como a ausência de localização em português e o desejo de mais conteúdos. Vale a pena a brincadeira, mas é uma edição que ainda não consegue aproveitar todo o potencial da franquia.