Análise | Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões

Disponível para PlayStation 5

Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões é pacote oportuno para quem está chegando agora ao mundo PlayStation e precisa conhecer uma das franquias mais icônicas das últimas gerações dos consoles Sony. Seu lançamento ocorreu no último dia 28 de janeiro, de forma exclusiva no PlayStation 5, contudo a coleção também será lançada no PC em algum momento (ainda a ser anunciado) em 2022.

O pacote é composto pelas duas últimas aventuras da franquia: Uncharted 4: A Thief’s End (2016) e Uncharted: The Lost Legacy (2017). Ambos os títulos chegam ao PlayStation 5 com uma melhora visual e de performance, atingindo a máxima resolução de 4K e taxa de quadros em diferentes modos, tanto para 30/60/120 quadros, a depender da resolução e tipo de TV selecionada. Além disso o carregamento é praticamente instantâneo, assim como o jogo utiliza alguns recursos do controle DualSense, como os gatilhos adaptáveis a pressão.

Também é importante informar que jogadores que possuem os jogos no PlayStation 4 e desejam ter a experiência aprimorada no PlayStation 5 podem adquirir o novo pacote pagando uma taxa de R$50 (U$10) para realizar o upgrade a nova versão. Infelizmente a Sony não irá oferecer esse upgrade de forma gratuita. Outro ponto é que aqueles que receberam Uncharted 4 por meio da PlayStation Plus não são elegíveis a fazer esse upgrade. Para mais informações, vale uma espiada nesta página da PlayStation Store.

Indo adiante, Uncharted 4: A Thief’s End é a última aventura (até o momento) do protagonista da franquia, Nathan Drake, que se vê obrigado a sair de sua aposentadoria como caçador de tesouros quando um dilema envolvendo família é colocado em pauta. Enquanto isso, Uncharted: The Lost Legacy é uma aventura paralela, envolvendo as personagens Chloe Frazer e Nadine Ross, que estão presentes em outras aventuras da franquia, e que aqui se unem afim de descobrir um tesouro perdido no coração da Índia. Uma aventura que cronologicamente ocorre alguns meses depois dos eventos de Uncharted 4.

Momento “Uncharted

Este é um bom momento para ficar curioso para conhecer a franquia Uncharted, principalmente porque ela está ganhando vida própria em uma outra mídia: o cinema, com a estreia do filme Uncharted: Fora do Mapa, com o ator (queridinho da vizinhança) Tom Holland no papel de um jovem Nathan Drake.

Digo isso, o filme que está estreando nos cinemas brasileiros neste final de semana, apresenta muitos elementos dos quatro jogos da franquia, mas tem muitas particularidades com o último jogo, presente neste coleção, por envolver Sam, o irmão “perdido” de Nathan. O filme não segue a narrativa dos jogos, optando por dar uma nova visão ao universo da série, mas isso não o impede de usar e abusar de diversos momentos clássicos das aventuras estabelecidas nos games.

Ou seja, esse é um bom momento para jogar (se ainda não o fez) A Thief’s End e também The Lost Legacy, já que o rol de personagens que estão presentes no filme, estão em ambos os jogos. Ambos são títulos que foram desenvolvidos diretamente para o PlayStation 4, e portanto apresentam os melhores gráficos da franquia, especialmente na parte da cenografia e ambientação, dando um passo adiante do que a trilogia original fez no PlayStation 3. Sem desprezar os três primeiros jogos, é claro.

Outro ponto bacana é que as aventuras propostas pelos jogos da franquia Uncharted funcionam de forma independente, não exigindo que o jogador tenha que ter jogado algum título anterior, para apreciar o que estiver jogando no momento. Claro que os personagens crescem ao longo dos jogos, relacionamentos e amizades amadurecem, mas a aventura em si, sempre uma caça a um tesouro perdido, é conclusivo dentro da narrativa de cada jogo. Tal como os clássicos filmes do Indiana Jones, sabe? Dá para assisti-los em qualquer ordem e a aventura ainda será divertida.

Se você tem um PlayStation 5 e quer conhecer a franquia, a melhor opção, neste momento, é começar pelos jogos que estão plenamente adaptados para desempenhar a melhor performance no console. Claro que isso não lhe impede de ir atrás da trilogia original, que tem uma versão em coletânea no PS4 chamada Uncharted: The Nathan Drake Collection e que roda via retrocompatibilidade no PS5. Recentemente foi assim que joguei a primeira aventura da série. Só não se confunda, pois essa coleção é composta apenas pelos três primeiros jogos, sem possuir os dois jogos dessa nova coleção debatida neste texto.

Experiência PlayStation 5

Então tenho que falar sobre a experiência da Coleção Legado dos Ladrões no mais novo console da Sony. Antes disso vamos arrancar um band-aid, tudo bem? Se você já jogou A Thief’s End e The Lost Legacy a exaustão no PlayStation 4, do tipo “já platinei“, fiz dezenas de horas de gameplay… vai ser inevitável a pergunta: “tem algo aqui que me faça querer jogar estes jogos novamente?“. A meu ver a resposta mais sincera é “não”.

Digo isso sem nenhuma maldade. Claro que dá para transportar o save do PS4, se você não tiver terminado os jogos, e quiser terminar a aventura no PS5. Claro que você pode jogar tudo novamente, apenas para curtir um jogo mais lindo, mais suave na taxa de quadros, sem loadings, com uma leve pressão nos gatilhos do DualSense. Mas isso seria o suficiente para investir de novo, e aí digo comprar os jogos uma segunda vez? Não sei. Eu, pessoalmente não faria algo assim.

Acho totalmente válido o relançamento de ambos os jogos aprimorados no PlayStation 5, entretanto a meu ver o público alvo aqui deveria ser os jogadores que não jogaram e adorariam conhecer os games nesse momento. Quem já jogou de cabo a rabo, não deve chegar aqui esperando explodir suas cabeças com algo muito mais incrível do que suas experiências originais. Se chegar aqui dessa forma, vai acabar se decepcionando.

Quanto a performance dos dois títulos no PlayStation 5, não tenho nada a reclamar. Visualmente os jogos são lindos, e graficamente não chega nem a soar como algo geração passada. A qualidade artística dos exclusivos do PlayStation atravessam tranquilamente gerações. Em particular o mundo semi aberto de The Lost Legacy, que poderia muito bem enganar qualquer um se a gente não soubesse que ele foi lançado no PS4, há quase 5 anos atrás. É muito impressionante nesse sentido.

Na parte de gameplay tenho que admitir que senti uma pontinha, ainda que pequena, de decepção. Isso porque quando joguei Ghost of Tsushima Diretor’s Cut no PS5 encontrei um título totalmente adaptado a todas as funções que DualSense pode oferecer. E também é um título que veio do PS4. A vibração era toda especial, dedicada a momento de imersão e contemplação da experiência de jogo, assim como os efeitos sonoros emitidos pelo próprio controle (recurso este que acho fabuloso).

Em Legado dos Ladrões, o DualSense apenas entrega uma vibração normal, semelhante ao do PS4, enquanto os gatilhos adaptativos, estes sim, fazem um certo trabalho de pressão nos momentos de ação. O pressionar dos gatilhos é interessante, mais pesado, mas ainda assim não é um efeito de explodir a mente. O recurso sonoro do controle, a meu ver, entregar uma experiência imersiva que outros consoles não conseguem entregar e para esta coleção, foi totalmente ignorado. Uma pena.

Veja bem, não estou dizendo que a experiência destes jogos em suas novas versões do PlayStation 5 são ruins. Estou apenas dizendo que não senti que os títulos explorem toda a plenitude que o controle do console pode fazer e já fez em outros jogos que também vieram do PS4, e que foram muito bem adaptados para esse controle. Na parte visual, na parte técnica, na parte sonora dos jogos em si, rodando no console, não tenho nada do que reclamar, pois estão exatamente como se esperaria frente ao poderio do console.

Há também um outro pormenor, que talvez nem seja tão pequeno assim: esta coleção para o PlayStation 5 apresenta somente as campanhas single-player destes dois sucessos da franquia. Todo o aspecto multiplayer que existe, especialmente em Uncharted 4, a qual a Naughty Dog inclusive trabalhou por meses no pós lançamento, para adicionar novos conteúdos e modos, foi completamente deixado de lado aqui. Será que esse conteúdo precisava mesmo ser deixado de lado? Ainda mais sabendo que ele segue funcionando nas versões de PS4? É para se pensar a respeito.

Últimas aventuras

No que diz respeito aos jogos em si, há que se dizer que Uncharted 4: A Thief’s End é um jogo fantástico. A fórmula da franquia se mantém intacta desde o primeiro jogo, Drake’s Fortune (2007), mas foi sendo refinada ao longo de suas sequências, até chegar aqui, a última aventura lançada.

O quarto game mantém os elementos de escalada e exploração de cenários fechados, combate por arma de fogo e sistema de cobertura, além de trazer uma narrativa que entrega uma progressão linear, sem dar muita folga para quebra de ritmo ou para que o jogador saia do escopo de sua trama. Porém, novos elementos são adicionados nessa receita.

Por exemplo, o combate aqui apresenta alguns elementos de abordagem sorrateira, deixando ao jogador decidir realizar o confronto com o peito aberto, metendo bala e deixando a ação comer solta, ou ir com mais calma, permitindo que Nathan se esconda na grama alta, elimine inimigos furtivamente, além de permiti o uso de uma corda para saltar e cair em cima dos mesmos.

O gancho para se pendurar também é um elemento que se faz mais presente aqui, com o jogador encontrando pontos em que deve saltar e lançar essa corda com o gancho em pleno ar, enquanto atravessa obstáculos em pleno ar. A verticalidade e as possibilidades são amplamente exploradas nessa última aventura. Isso, claro, sem nunca perder o chamado da aventura, com segmentos de muita ação, fuga, exploração e numa narrativa densa, com Nathan precisando lidar com um irmão até então dado como morto, em uma aventura que inicialmente ele sequer desejava participar. É um roteiro realmente muito bem estruturado.

Agora no que diz respeito a Uncharted: The Lost Legacy, vale apontar que é uma aventura bem menor, pois originalmente foi idealizada para ser um DLC de Uncharted 4, mas que acabou se tornando uma expansão independente, o que de fato foi uma boa sacada. A título de comparação, enquanto A Thief’s End entrega uma campanha que pode ser finalizada em torno de 20 horas (em média, já que caçar tudo no jogo pode aumentar esse tempo de forma considerável), Lost Legacy é uma aventura de aproximadamente 10 horas, o que também pode aumentar dependendo do engajamento do jogador com a exploração de seu mundo e colecionáveis.

A grande pegada de The Lost Legacy foi testar a experiência de adicionar a franquia Uncharted o conceito de permitir que o jogador explore um mundo mais aberto, deixando-o decidir qual caminho tomar e como conduzir certa parte da história, quando Chloe e Nadine precisam sair por aí de jipe em busca de três templos perdidos em uma grande área florestal.

Tenho que dizer que é um conceito que não me agradou totalmente. Tive uma leve impressão que dar ao jogador a ideia de explorar uma área com múltiplos caminhos, mas sem nunca indicar muito bem a trilha em si, quebra um pouco daquela dinâmica cinemática que os títulos da franquia sempre entregaram. Não achei uma adição que melhorou a experiência da série como um todo. Vale a tentativa, mas não é o que torceria para ver se novo (ao menos desse jeito) em um futuro título da franquia.

Fora isso, The Lost Legacy foi desenvolvido tendo como base a estrutura de Uncharted 4, então o gameplay entre ambos é bem semelhante, inclusive na dinâmica do jogador sempre andar pelo mundo com um parceiro controlado pela IA do jogo, auxiliando-o a subir plataformas ou para manter a conversa ativa a todo tempo. Contudo ainda me surpreendi com algumas coisas, como ter que atirar em inimigos estando pendurado em um penhasco ou de terem adicionado armas com silenciadores, afim de incrementar a abordagem sorrateira em algumas áreas para combate.

Mas no aspecto geral, gosto muito mais de quando a campanha me guia de forma cinemática em meio a ação. O segmento, bem no início de The Lost Legacy, quando Chloe e Nadine precisa fugir saltando por telhados de uma cidade na Índia, é exatamente o que espero encontrar em um Uncharted. Ação com interação, dentro de uma narrativa que te leva para dentro da aventura.

Contudo um mérito muito bem colocado em The Lost Legacy é o fato de que a franquia funciona bem sem que Nathan Drake se apresente como protagonista da aventura. Dar ao jogador o controle de Chloe nesta aventura, enquanto mantém os elementos da franquia, funciona perfeitamente. A personagem tem um carisma fantástico para possuir sua própria aventura. Abre um leque interessante de spin-offs para seu universo.

O fato é que quem procura entender o que é Uncharted, são duas ótimas campanhas para isso, enquanto se aguarda qualquer outra novidade em futuros títulos, que ainda não foram anunciados, diga-se de passagem. E é curioso, porque The Lost Legacy foi lançado em 2017. Estamos indo para cinco anos sem o anúncio de uma quinta aventura ou novo spin-off. Tudo bem que a Naughty Dog andou bem ocupada com os jogos de The Last of Us nestes últimos anos, mas será que são mesmo estas as últimas aventuras no universo Uncharted? Tomara que não!

Considerações finais

Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões (Legacy of Thieves) é uma tremenda adição a biblioteca do PlayStation 5, uma versão até mesmo essencial eu diria, independente de ambos os títulos rodarem em retrocompatibilidade com suas versões de PS4. Dá a oportunidade de apresentar todo o potencial de ambas as obras, que são as mais atuais que a franquia Uncharted tem a oferecer. Aquece nossos corações para a possibilidade de novos jogos em algum momento da vida do atual console.

É uma versão perfeita? Infelizmente não dá para dizer que é, por conta de alguns pequenos tropeços, como a eliminação dos modos multiplayer que originalmente eram parte da experiência completa destes jogos, assim como um uso maior das funções que o DualSense já mostrou que possui. Claro que se você não se importa muito com estes aspectos, tendo um maior interesse na melhor resolução e performance possível de ambos os jogos, está no lugar certo e deve ficar satisfeito com a coleção.

Há também o contraponto de quem já jogou os títulos na geração passada. Vale a pena revisitar a nova versão? Também é uma pergunta de cunho bem pessoal e que vai gerar uma resposta individual para cada um. No senso geral, são os mesmos jogos, apenas rodando mais livre de queda nas taxas de quadros e tão bonitos quanto podem ser em sua plena capacidade graças ao poderio do hardware do PlayStation 5. Se você tem a vontade de revisitar os jogos, é válido se interessar. Contudo se você é destes que não tem muito tempo para jogar aquilo que um dia já experimentou em sua plena capacidade, não vai encontrar nada realmente novo para se engajar.

Um ponto crítico sobre revisitar ou não estas obras, se dá também pelo fato da Sony decidir cobrar uma taxa, ainda que pequena, pelo upgrade para o novo console. Dado o que o pacote oferece, é uma atualização que poderia ser gratuita a quem já investiu nas obras na geração passada. Não havia a necessidade de cobrar isso. Acho válido sua venda a novos usuários, importante afim de atrair futuros jogadores para a franquia, mas para quem já comprou, é fã e só gostaria de ver um pouco como os jogos rodam no PS5, a cobrança pelo upgrade se torna uma barreira, não muito alto, mas ainda uma muretinha. É uma política estranha que a Sony adota, mas não é de hoje, e não é uma surpresa.

Quanto aos jogos, são tudo aquilo que se pode esperar de um exclusivo de sucesso nos consoles PlayStation. São jogos de aventura e ação, com grandes narrativas, excelente gameplay, tanto no combate quanto na exploração e nos desafios de escalada e plataforma. É a história de Nathan Drake que vale a pena conhecer, assim como Chloe e Nadine não deixam a peteca cair quando é a vez delas apresentar uma aventura solo. Tramas que independem do jogador conhecer os games anteriores, e funcionam bem individualmente.

Além disso me agrada muito que são dois jogos que possuem localização em português, com dublagem em nisso idioma. Tudo bem que as vozes originais em inglês tem um elenco de peso, mas não dá para desmerecer a nossa dublagem, sempre muito competente.

Por fim, fica claro que Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões é um ótimo pacote, que traz uma ótima experiência no universo Uncharted, com dois título que podem aproveitar o máximo do poderio do PlayStation 5. Não entrega tudo que poderia entregar, mas são excelente jogos, que apesar de já estarem por aí há quase 5 anos, demonstram que resistem a passagem de uma  nova geração de consoles e continuam tão empolgantes quanto quando foram lançados. Games que reapresenta a franquia a potenciais novos jogadores, enquanto nos faz desejar por novas sequências. Quem nunca jogou, essa é a melhor versão para jogar!

Galeria

1 / 62

Dando nota

Visualmente ambos os títulos estão fabulosos, não dá para dizer - 9.5
Excelente performance no PS5, roda perfeito, na taxa de quadros que você selecionar - 9
Deixa a desejar na parte do DualSense, ao não entregar todas as funções que o controle é capaz de ter - 7.5
Uncharted 4: A Thief's End é o ápice da franquia, em todos os sentidos possíveis - 9.5
Uncharted: The Lost Legacy apresenta a ideia de mundo semi aberto, e isso compromete um pouco o ritmo narrativo - 8
Excelente experiência para aqueles que desejam adentrar no universo Uncharted - 9
Não entrega nada realmente imperdível para quem jogou ambos os títulos no PS4, além da perda do multiplayer - 6.5

8.4

2 em 1

Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões é uma grande oportunidade para adentrar no universo da franquia, caso ainda não tenha feito, e com a experiência que o PlayStation 5 tem a oferecer. São as duas últimas aventuras, que meio que fecham um marcante ciclo para a franquia, em um pacote talvez tenha alguns tropeços, mas ainda é tecnicamente maravilhoso. São jogos que não dão sinais de envelhecimento e que permanecem incríveis e fantásticos, cada um com seus próprios atrativos. Talvez quem os tenha apreciado no PS4 fique desapontado por não encontrar nada realmente novo, mas ainda é uma aventura que vale ser apreciada mais uma vez, se você é do tipo que gosta de tal proposta. E para quem está chegando agora, é uma coleção imperdível.

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