Análise | Infernax

Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch & PC

Infernax é um indie game de ação e aventura, desenvolvido pelo Berzerk Studio e publicado pelo The Arcade Crew, que nos leva de volta a década de 90 com seus metroidvanias ao estilo pixelart, com uma trilha sonora composta por chiptunes e cuidadosamente tudo se encaixa de forma perfeita. Seu lançamento aconteceu no último dia 14 de fevereiro deste ano, saindo para todos os consoles, assim como para PC. E o melhor: o jogo está completamente localizado em português e, até o momento deste review, está disponível gratuitamente para os assinantes do Xbox Game Pass (console e PC).

Para se tornar acessível a todos os jogadores, o game conta com 2 níveis de dificuldade, o que vai implicar em poder salvar ou não a sua progressão com maior frequência. Mesmo com essa “facilidade” o jogo é bem desafiador e não vai facilitar demais a sua jornada por esse mundo, já que teremos inclusive que ficar farmando exp (derrotar monstros consecutivamente a fim de juntar maior quantidade de experiência) para poder subir de nível e adquirir novas habilidades, ou simplesmente aumentar a força, vida ou magia do templário Alcedor, o personagem controlável da vez. Ele tem todo o jeito de um caçador de vampiros, o que nos remete imediatamente aos Castlevania da Konami, certamente uma influência a muitos games deste gênero.

Um lembrete: apesar de contar com um visual simples, temos cenas fortes e grotescas sendo arremessadas em nossa cara a todo momento, podemos inclusive ver inimigos se esbaldando nos restos mortais de soldados mortos a poucos minutos. Alcedor conta inclusive com cenas de morte diferentes para cada inimigo ou obstáculos do caminho, e estas conseguem nos chocar com seu nível de brutalidade. Então talvez seja recomendado tirar as crianças da sala.

De volta ao lar

Alcedor (duque de Upel) ficou um tempo fora de sua terra natal nas cruzadas e ao retornar para seu lar, em busca de um momento de descanso e paz, rapidamente descobre que durante sua ausência, um livro chegou à região e junto com ele hordas de demônios que estão se espalhando, corrompendo pessoas e infringindo o medo no coração dos homens. O templário rapidamente é colocado a par de tudo o que aconteceu pelo padre Henry que funciona como uma das vozes sábias da região, ele explica a necessidade de se ir atrás de 5 pedras necessárias para abrir o cadeado especial que bloqueia a entrada na cidade de Urzon, supostamente a fonte de todo o mal.

Ainda segundo Henry, desde que tal “cadeado” apareceu, as coisas ficaram fora do controle em Upel e as criaturas demoníacas surgiram por todos os lados. Tais pedras estão em santuários corrompidos, protegidos por hordas de monstros e seus poderosos demônios anciãos. A cada pedra coletada novos caminhos vão se tornando disponíveis, assim como Alcedor adquire novos movimentos, magias e habilidades.

Em algumas cidades ou casas ao longo do caminho, podemos ainda comprar peças de armadura, vidas e magias novas, algumas exclusivas da jornada do bem e outras da jornada do mal. Todas as suas escolhas morais acabam levando a acontecimentos únicos em cada caminho criando bifurcações na narrativa e nos inimigos que vão se apresentar em sua jornada. Temos inclusive uma mudança no visual do protagonista conforme seu nível de bondade ou maldade. Até mesmo sua fiel maça pode vir a ser substituída por outra arma ainda mais mortal.

Seria até simples se fosse somente isso, mas temos missões extras que são passadas por pessoas encontradas pelo caminho, na estalagem da primeira cidade por exemplo, a dona do local comenta que um esqueleto está rondando o túmulo de seu pai e pede para que você dê um fim nele. Outra mulher comenta que seu marido está agindo estranho e que o isolou em uma casa no subterrâneo da cidade, outro comenta que seus pesadelos estão o deixando louco e que você pode adentrar em seu sonhos e tentar acabar com esse mal. E essas são somente algumas das missões que vão fazer você ir de um lado para o outro para solucionar problemas e ir adquirindo itens no caminho além de dinheiro, é claro.

Determinadas missões ainda estão ligadas ao ciclo diurno e noturno, sendo possíveis de serem realizadas somente durante o dia ou durante a noite. Infernax conta com um sistema que após alguns minutos vai fazer a troca de “turno” com uma imagem demonstrando a mudança. No turno da noite teremos mais inimigos rondando as cidades e inclusive inimigos exclusivos em determinados locais. Certas áreas também se tornam acessíveis para exploração somente de dia ou à noite, tudo é muito bem pensado e faz sentido durante sua exploração. Não temos muitas dicas por parte dos NPCs, nos chefes, por exemplo, caberá ao jogador durante a batalha analisar o que eles fazem, como agem e escolher qual será sua estratégia para cada combate.

Ao longo da jornada podemos ainda encontrar soldados lutando contra monstros, se chegarmos a tempo e agirmos rápido talvez até consigamos salvar alguns deles, mas outros já estão fadados à morte certa. Os que conseguimos salvar nos agradecem por tal ato de coragem. Mas todos sabemos que o ser humano pode ser facilmente corrompido pelo desejo por poder, temos líderes corruptos, sacerdotes que estão jogando do outro lado e até um culto “oculto” que está ajudando as hordas demoníacas a se espalhar e tornar o caos ainda maior.

Testando sua moralidade

Em menos de 3 minutos de jogo já somos arremessados em uma escolha moral que vai ditar nosso futuro. Vou contá-la pois todo jogador vai encarar, então não tem porque esconder. Encontraremos um homem, sua aparência é horrível e claramente não está bem fisicamente. Ele implora para ser morto e assim se livrar deste tormento. Eis nossa primeira escolha moral: matá-lo ou tentar ajudá-lo?

Dependendo do que decidirmos aqui, podemos encarar nossa primeira batalha de chefe além de começarmos timidamente a forjar nossa imagem perante as outras pessoas, já que essa primeira “escolha” estava sendo observada. Quem nos observou vai aparecer em nosso caminho novamente e finalmente poderemos ver o impacto que nossa primeira escolha teve no mundo do jogo.

Os momentos importantes que vão virar a chave do futuro de Alcedor são inúmeros e surgem em momentos inesperados, e é isso que torna todas as nossas decisões importantes de uma forma ou outra. Podemos acabar com bandidos ou sentar e tomar uma bebida com eles? Podemos salvar um soldado ou deixá-lo à própria sorte? Mandar tropas salvar uma ou outra cidade? Barganhar com um demônio para nos beneficiarmos ou não aceitar a barganha e arranjarmos um inimigo poderoso no futuro?

Absolutamente tudo aqui vai levar a opções diferentes no futuro. Lembre-se de que toda escolha terá um reflexo no mundo ao seu redor, apesar de parecer que ninguém está olhando, sua escolha pode transformar, salvar ou dizimar vidas.

Para não acabar contando muito e vir a estragar sua experiência, fique sabendo que existem mais de dois finais, e que cada um deles conta com recompensas e destinos distintos para Alcedor e para a região de Upel. Tudo a depender das suas escolhas morais ao longo de toda a jornada.

Jogabilidade básica funcional

Não temos nada que seja de outro mundo ou que revolucione aqui, os  controles são muito simples, temos um botão de pulo, um para o ataque normal, outro para o ataque especial (magias) e outro para usarmos itens que estaremos carregando (frascos de poções). Todas as magias vão precisar de mana para serem utilizadas e a forma de recuperar a mesma será usando poções, dormindo na estalagem ou nas estátuas de salvamento.

Tudo isso funciona com a já conhecida mecânica de side scrolling, onde a visão é vista lateral do ângulo da câmera e a medida que o personagem avança para os lados, cima/baixo a tela rola com ele. Temos ainda elementos de RPG ao acumular experiência para melhorar atributos (força, vida e mana) e também a necessidade de adquirir e equipar armas e armaduras mais resistentes para sobreviver por mais tempo.

Mas essa simplicidade funciona muito bem, já que Infernax vai evoluindo juntamente com o jogador ao passo que novas magias e habilidades vão se tornando disponíveis, cada “fase” de chefe esconde uma habilidade ou arma nova então não basta achar e derrotar o chefe, temos que dar uma geral nas áreas para abrir o mapa talvez encontrar algo que vai facilitar nosso aventura a seguir. Nada é entregue de mão beijada para o jogador, você vai ter que explorar e ir atrás.

Alta no fator replay

Além de podermos terminar o game com diferentes níveis de bem/mal conforme as opções escolhidas, o que por si só já vai gerar a possibilidade de jogar, no mínimo, mais umas quatro vezes o game. Infernax conta ainda com diversos códigos de trapaça que podem ser acessados facilmente após localizarmos uma catedral e posicionarmos (digitarmos) os códigos em um livro.

Temos a opção de ganharmos um jetpack, pulos infinitos, troca da arma por uma motosserra, mana e vidas infinitas, começar com 99 vidas, entre outros. Além disso, podemos colocar certos nomes para nosso personagem e temos assim acesso a versões específicas de Alcedor, como exemplos, vou citar 2, os outros você acha facilmente no google. Colocando o nome como ASCEDOR teremos um machado como arma principal e GARDAKAN seremos um mago usado somente de magias para atacar.

E ainda tem mais, a cereja do bolo está em fazer o famoso Konami code (cima, cima, baixo, baixo, esquerda, direita, esquerda, direita, B, A, start) os botões mudam conforme a plataforma, mas é fácil de se achar. Ao realizarmos comando, Infernax se torna uma espécie de CONTRA, onde Alcedor comenta que vai agir de forma agressiva e inicia sua aventura com 30 vidas e passa a portar uma metralhadora, admito que é bem divertido encarar a aventura com essa nova versão, além é claro de facilitar já que podemos atirar infinitamente e derrotar os inimigos à distância.

Usar ou não esses códigos de trapaça fica a cargo de cada jogador. Não cheguei a usá-los para terminar o jogo, pois adorei a jogabilidade. O jogo é desafiador mesmo no modo casual, onde temos mais pontos de salvamento e contamos apenas com uma vida extra, a dificuldade dos inimigos e chefes continua a mesma.

Admito que levanto a possibilidade em um futuro próximo de usar algum desses códigos facilitadores e de tentar fazer o final “maligno” para ver como vai terminar a história de Alcedor. Acabei fazendo o final do bem perfeito jogando naturalmente e seguindo as escolhas morais que eu faria por conta própria sem recorrer a guias, mas a dúvida de se estava fazendo a escolha do “bem” sempre ficava em minha mente, pois a linha que separa o bem do mau é muito tênue aqui.

Por último, vale dizer que contamos com inúmeras homenagens a Castlevania, como uma bem específica onde podemos invocar um tornado (que leva o nome de Master of the Wind  sendo responsável por uma conquista/troféu com o mesmo nome). Realizá-la não é nada complexo, mas o resultado é bem inusitado e aposto não vai ser bem o que o jogador espera que vá acontecer. Lembrando que o local de realizá-la é uma clara referência ao antigo Castlevania 2 Simon’s Quest (1987 – NES).

Considerações finais

Infernax foi uma grata surpresa nesse começo de 2022, sem sombra de dúvidas. É um título direcionado fortemente aos fãs órfãos dos clássicos jogos da franquia Castlevania, seguindo à risca a fórmula dos tradicionais metroidvanias já conhecidos do pessoal. Sua temática é mais “sinistra” do que muitos Castlevania, exatamente por jogar cenas grotescas na cara do jogador, seja por cenas de ataques de monstros a pessoas, sejam pelas mortes de Alcedor ou pelo visual e modos de agir dos chefes (que são vários diga-se de passagem).

Há motivos de sobra para repetir a jornada, temos motivos para vasculhar o ambiente e não temos dicas jogadas aos montes, muitas vezes frases soltas ditas por alguém podem desencadear acontecimentos em locais e horários específicos, ficará a cargo do jogador captar essas dicas e dar procedimento a sua jornada nesse mundo sombrio.

Também ficará por sua conta tomar a decisão que vai ditar o futuro dessa jornada, levar o  templário Alcedor por um caminho de luz e boas ações ou partir para a ignorância e se transformar gradativamente no mais novo perigo de Upel, somente o jogador e ninguém mais poderá tomar essa decisão.

Um título com uma bela direção em pixelart, que emula muito bem o sentimento nostálgico de seu gênero de jogo, demonstrando uma jogabilidade básica, porém muito funcional, que combina com sua proposta. O universo construido para Infernax é muito bem idealizado, com todos estes valores morais que aumentam ainda mais o interesse do jogador em conhecer mais da trama. E tudo lindamente localizado em nosso idioma. Vale muito a pena se adentrar nesta jornada templária.

Galeria

1 / 100

Dando nota

Um ótimo metroidvania com pixelart e chiptunes, aqui, menos é mais - 8.5
Localização caprichada para o nosso português facilita muito a exploração - 9
Possui múltiplos finais a depender das escolhas morais feitas ao longo da jornada - 8.5
Possui uma jogabilidade bem básica, sem trazer nenhum tempero adicional ao conceito - 7.2
Necessidade de se rejogar tudo para mudar alguma escolha específica pode ser frustrante - 6.9
Violência exagerada pode acabar chocando pessoas mais sensíveis, mesmo sendo em 8bits - 7.2
Entrega um ótimo valor de replay, incluindo divertidos códigos de trapaça - 8.5

8

Bacana

Infernax é um jogo independente divertido, que emula muito bem o sentimento dos tradicionais Castlevania, entregando uma pixelart clássica, trilha chiptune, a qual entrega uma jogabilidade simples, porém funcional. O título tem uma boa aventura, com dilemas morais que constroem o final da narrativa, ótimos chefões de mundo e um interessante valor de replay. Para fãs de metroidvania, é um ótimo pedido.

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