Há duas semanas a fanbase de One Piece aguardou com muita ansiedade o capítulos desta semana, dado os angustiantes eventos iniciados nos capítulos #1.042 (Vencedores não precisam de epíteto) e #1.043 (Vamos morrer juntos!!!). E certamente tem uma galera que adorou o que Eiichiro Oda fez com o Luffy e quem ainda está receoso tanto com o conceito adotado, quanto a forma como isso foi feito. Particularmente estou indeciso sobre o que achei e espero que este texto me ajude a me decidir.
Antes de adentrar, por mais que o título já tenha alertado, reforço que este texto está repleto de spoilers sobre os atuais eventos do mangá de One Piece. Se você o acompanha por meio do animê (e espero que seja pela Crunchyroll) volte aqui daqui um ano e meio (mais ou menos), porque é o quanto a animação está atrás em relação ao mangá. E se você está acompanhando pela Editora Panini, o atual volume 101 está em pré-venda e ainda está um pouco longe deste momento, que provavelmente será encadernado no volume 103 ou 104, que ainda não foram publicados nem mesmo no Japão (lá está para ser lançado o volume 102 em abril), então, você também vai ter que aguardar um pouquinho. De forma oficial, o capítulo #1.044 deve ser lançado neste domingo, dia 27, na Mangá Plus da Shueisha, já extraoficialmente… bem a internet está aí para isso, certo?
Anteriormente em Wano…
Já que a última vez que conversei aqui sobre o mangá de One Piece foi no capítulo #1.002, em janeiro do ano passado, acho que posso tecer alguns comentários do que achei a respeito dos últimos confrontos do arco. Não pretendo me alongar demais, mas é porque realmente quero comentar alguns momentos desde a última vez que escrevi sobre o atual arco.
Por exemplo, a situação atual do Zoro é realmente alarmante. Obviamente não dá para acreditar que ele morreu, mas o Oda realmente conseguiu dar uma sensação de peso em relação a sua batalha contra o King, um personagem que realmente se mostrou muito interessante, seja por sua raça, a qual parecer ter um certo misticismo em cima dela, seja pela forma bizarra como o mesmo utiliza alguns de seus golpes. Em um contexto geral, a batalha entre ambos foi animal. Zoro parece ter escalado um pouco mais seu nível de força, ainda que isso quase o tenha levado à morte. O quão mais ele pode se empurrar nesse penhasco, afim de se tornar mais forte? Dito isso, ainda acho sensacional que lá atrás, ele tenha conseguido lutar ao lado de Luffy contra o Kaido.
Contudo, devo dizer que no geral não achei os generais do Kaido, tanto o King quanto o Queen, tão impressionantes quanto pensei que seriam. Tipo, a Big Mom parece ter um pessoal no escalão de força dela que são muito mais assustadores, mas que infelizmente não tiveram tanto destaque. Por exemplo, queria ter visto muito mais das habilidades da Charlotte Smoothie, a ideia dela espremer pessoas como se fossem uma fruta para se fazer suco me soa muito assustador. Além disso achei bem fraco que apenas o Perospero tenha tido alguma participação nessa batalha em Onigashima, sendo que a Big Mom havia ido com uma galera para Wano. A tripulação dela praticamente foi deixado de lado em todo o arco.
Indo para uma outra direção, gostei também como o Oda brincou com o Sanji em sua batalha contra o Queen. Pena que parece que a preocupação dele, sobre se tornar mais desumano, não passou de um mal entendido. Eu gostaria que essa preocupação fosse um pouco mais real. Quanto ao Queen, apesar de hilário seus golpes e a forma como dinossauros claramente não se comportam, achei o personagem bem vazio, super irritando e muito chato. Sei lá, ao fim, fiquei na dúvida se ele era realmente forte, ou só era um xarope cheio de surpresas inesperadas. Fiquei com a impressão de que ele seria um personagem interessante para o Chooper ou o Franky lutar, e que o Sanji merecia um adversário mais sério, já que infelizmente ele não pode ir trocar uns socos com o Kaido como o Zoro fez.
Quanto a uma batalha que gostei, talvez uma das melhores do arco, tenha sido com a Robin e a Black Maria. A personagem demonstrou novas habilidades com sua fruta e foi muito impressionante. Houve um desgaste ali de seu poder, mas quase não houve dúvidas que a Robin sairia vitoriosa dessa batalha. Adorei essa coisa do Sanji admitir que não venceria a Black Maria, por razões óbvias, e ter chamado a Robin logo de cara. Melhor ainda a Robin toda feliz por ele ter confiado nela para vencer a adversária. Fantástico.
Já nos demais Mugiwaras, não sei. Acho que a Nami e o Usopp tiveram falas interessantes, mas meio que passaram a maior parte do arco apenas correndo pra lá e pra cá. A guria dos dangos também veio como uma luva para suporte a dupla. Chooper passou o arco sendo médico, pouco lutou. Brook também andou pra lá e pra cá, sendo que eu esperava menos suporte dele e mais ação na linha de frente dos confrontos. Franky lutou com um outro lá meio aleatório e também não me impressionou muito. Nem mesmo Jinbe, que lutou com um cara que deu a dica para o que ocorreu neste capítulo 1.044 foi também marcante assim. Ficou claro que o Jinbe daria conta de seu adversário tranquilamente.
A bem verdade é que os subalternos do Kaido não eram, afinal das contas, tão assustadores quanto imaginei. Sei lá, quando volto alguns arcos, fico pensando que o Doflamingo e a Big Mom, tinha subalternos mais interessantes e marcantes. O escopo da tribulação do Kaido tem muito dessa coisa dos bestiais, dinossauros e pessoas com animais colados em seus corpos… e no fim, não dá uma impressão de icônicos inimigos. São personagens esquecíveis no final das contas. Os cinco ou seis principais, lá do alto escalão dele, não foram tão impressionantes pra mim. Dinossauro por dinossauro, já havíamos visto algo assim lá atrás, em Little Garden.
Por último, tenho que dizer que adorei Kid e Law conseguindo vencer a Big Mom. Ainda acho que Law tem uma das habilidades mais roubadas e apelonas de todo o universo da série, e que o Oda vive segurando um pouco o que a fruta dele por ou não fazer. De toda forma, foi muito legal vê-los tirando a Big Mom de Onigashima. E sei não, ainda acho que ela vai voltar, não neste arco, mas ela deve continuar correndo atrás do Luffy, não acho que case com a personalidade da personagem desistir de uma obsessão.
Tem ainda Yamato e a decisão do Momonosuke de se tornar adulto diante da habilidade da Shinobu, habilidade este que até então não havia sido muito demonstrada (o que soa como “algo que veio a calhar“, porque a série tá tinha uma das supernovas que tem uma akuma no mi que tem estes efeitos de rejuvenescer e envelhecer). Oda ainda não demonstrou Momonosuke adulto, mas acredito que ele deve estar parecido com o Oden mesmo, o que vai acabar sendo importante para ele ficar em Wano e abrir suas fronteiras, e dar a Yamato a liberdade de partir como novo membro dos Chapéu de Palha, o que seria legal. Acho que Yamato representa uma força considerável para a tripulação e o fato dela estar presa na ilha há tantos anos, é a liberdade que representa muito a tripulação do Luffy.
E então… #1.044 – Guerreiro da Libertação
Acho que não dá para falar deste capítulo sem voltar a dois antes, quando o desfecho da luta entre Kaido e Luffy chega ao seu ápice. Ali dá a entender que apesar da força monstruosa de Kaido, Luffy claramente acabaria vencendo a batalha, muito provável pela persistência em si, enquanto Kaido já demonstrava estar mais abatido após estar lutando durante todo o arco.
E se você parar para pensar, a resistência e força do Kaido é deveras monstruosa. Ele realmente está lutando desde o início do arco. Contras Kin’emon e os bainhas, depois fez dupla com a Big Mom para segurar Luffy, Zoro, Kid e Law. E aí ficou só o Luffy, depois teve o Yamato e voltou o Luffy. Ele não parou um minuto. É impressionante mesmo sua resistência. Muita gente teve que cansar o cara para chegar nesse desfecho.
Então tem esse desfecho, quando o xarope da Cipher Pol atrapalha tudo, e Luffy toma um golpe que certamente não iria tomar na intensidade que tomou. Ser um contador de histórias é isso, ter que precisar surpreender sua audiência. E Oda tem estes momentos que nos surpreende demais. Eu fiquei todo o arco apreensivo com estes caras da Cipher Pol. Acho que o trauma que esse grupo causa na fanbase, desde Water 7 é palpável. Primeiro eles ficam observando, comentando que os rebeldes não tem forças para vencer, depois saem caçando a Robin, mesmo em meio a guerra, ninguém os consegue segurar, e então tem essa ordem de caçar o Luffy, a coragem de intervir na batalha final? Cacetada. É de deixar a gente sem ar.
E é claro que me revoltei com essa interferência. Nosso protagonista estava a alguns golpes da vitória, de um longo arco que não vejo a hora de acabar para saber o quem vem a seguir! Eu quero saber o que aconteceu com a Vivi, por exemplo. Oda não nos disse tudo que aconteceu em Reverie, o que é muito angustiante porque foi um prólogo antes de Wano se iniciar. Cadê o Barba Negra, pois nesse ponto, até me pergunto se ele continuará como vilão, qual o pretexto dele? Porque não consigo me esquecer do primeiro encontro todo camarada dele com o Luffy, lá em Jaya. Será que nunca batalha contra o Governo Mundial, Barba Negra não é uma peça central para essa força que precisa ir contra a Marinha? E tem o Exército Revolucionário, com o Sabo e Dragon. Será que nunca mais veremos o Bon-clay? Não sei vocês, mas já estou satisfeito com Wano. Vambora seguir viagem.
E aí vem o #1.043 com Kaido anunciando que Luffy caiu. Melhor ainda… que morreu. Personagens não escutam mais a sua “voz“. Nami mais uma vez se sobressai, dizendo que não irá se render, que Luffy não morreu, que a gente precisa acreditar. É maravilhoso. Kaido também demonstra que não gostou da forma como venceu, eliminando o cara da Cipher Pol, o que é meio “tudo bem, o maldito nem sequer tentou fugir“. Contudo se não tem corpo… talvez não tenha morrido. O que até faz sentido, tendo em vista que o outro membro da Cipher estava observando e não sabemos suas habilidades. Talvez ele tenha conseguido resgatar o companheiro. E o capítulo termina daquele jeito…dando a entender que Luffy é Joy-boy, essa figura nunca muito bem explicada, mas repleta de teorias. Algo reencarnou e Luffy não é mais o Luffy? Duas semanas de espera para tais respostas.
Mas vamos lá. Você já leu o capítulo #1.044 – Guerreiro da Libertação e sabe o que aconteceu. A fruta do diabo de Luffy parece ter despertado, fruta esta que agora também tem outro nome, outra classificação (algo que inicialmente a gente dizia ser paramecia e agora é zoan, e ainda mítica). Sinceramente me soa um tanto exagero essa reclassificação, não sei se gosto disso, mas confio no Oda para o que ele quer fazer. Afinal, desde aquela cena do Chapéu de Palha gigante (e nem me recordo onde ou quando isso foi mostrado) acho que já dava a entender que Luffy tinha uma predestinação a algo maior do que um personagem simples, que tem construido sua força do zero. Mangás shonen tem disso. A gente viu acontecer com Naruto, Bleach e Dragon Ball, e achar que One Piece não iria brincar disso seria sonhar demais.
Contudo, ainda não entendo o porque reclassificar, o porque dar outro nome, e ainda justificar que ninguém sabia até então. O Luffy está se esticando e malhando gente há tempos na série. E ninguém achou estranho isso? Ninguém somou dois mais dois? Isso ainda não estou convencido. Se uma das premissas da tal Hito Hito no Mi era os poderes de borracha, não seria o caso de se atentar mais ao piratinha que pode se esticar? Pois é. Não sei. Ainda tenho que processar mais estes conceitos.
Entretanto, sobre esse novo poder ser o despertar de sua Akuma no Mi, isso sim faz total sentido. Em partes ao menos. Tipo o de se expandir livremente, como quando ele mete a mão pelo domo e pega o Kaido com uma mão gigante (sem ter inflado ela) é genial, e exatamente o que deveria ocorrer com uma liberdade maior para se usar um corpo feito de borracha. Quando olhamos para quadrinhos da Marvel, neste lado do planeta, o Senhor Fantástico (do Quarteto) e até mesmo a Ms. Marvel (Kamala Khan) já fazem isso há um certo tempo. Até demorou para o Luffy poder brincar dessa forma. E aí é preciso pensar se ele poderá reter algum tipo de habilidade depois que esse despertar passar (ou se vai ter que continuar inflando as mãos soprando, por exemplo). Seria legal se ele não precisasse mais para fazer coisas assim, que seria mais simples.
Já no outro espectro deste despertar, aí sim está a habilidade que sempre achei que aconteceria: o de mudar a matéria ao seu redor, como a cena em que ele pega um pedaço do chão e o transforma em borracha. O Doflamingo fez isso com cordas em seu arco, e desde então sempre achei que chegaria o momento em que o Luffy também faria algo assim, transformando superfícies duras em borrachas. Uma habilidade esta que acredito que só dê para fazer despertando sua fruta. Não espero que ele faça isso quando não estiver nesse estado.
E aí há o terceiro elemento dessa transformação, que é a felicidade descontrolada, o que dá a ele um pouquinho de insanidade cômica, o que tem muita gente na internet dizendo que tem um tiquinho daquela pegada de O Máskara, de Pica Pau e Looney Tunes. Esse elemento ainda quero ver como o Oda vai explicar melhor a obrigatoriedade dessa perda do controle do humor, e se sempre será assim. Porque não é algo inerente a fruta em si, mas a essa questão da representação do Deus Nika e da figura de joy-boy, que hoje sabemos ser um título para aqueles que passam por esse estado da Gomu Gomu no Mi, sendo que joy é alegria em inglês. Faz total sentido.
Melhor ainda é como Oda trabalha na representação dessa ideia, dando pequenos toques deste desenhos animados insanos dentro do escopo do mangá. Quero muito ver como o traço sério do atual animê vai brincar com isso quando chegar o momento de animar estas cenas. A principal referência são os olhos saltados para fora do traço do rosto. É genial, e o Oda faz isso em tempos em que o resgate nostálgico desse tipo de animação está surgindo novamente, basta ver o sucesso de Cuphead, seja nos games, seja em sua nova série animada na Netflix. Até mesmo os novos desenhos dos Looneys Tunes voltarama fazer isso. E não é apenas o Luffy que faz isso, mas ele altera essa percepção ao redor, pois até mesmo Kaido tem esse efeito de olhos saltados em uma cena. É muito legal, e criativo da parte do autor brincar dessa forma. Não quer dizer que One Piece será isso daqui em diante, mas que há uma liberdade criativa de estilos a qual o autor se permite brincar.
Sequer fica claro se Luffy vai poder voltar a usar tal habilidade. Ao menos não desta forma. Está claro que ele despertou sem querer. Será que ele poderá voltar a fazer isso? Vai rolar um treinamento? Ou ele entedeu como fazer? E mesmo que faça, será que com o tempo, esse despertar não será mais auto contigo, com esse humor que extravassa sendo melhor controlado? E ele vai conseguir desativar isso após derrotar o Kaido? O Máskara tinha esse conceito de descontrole e as vezes isso refletia até mesmo em pessoas que ele não gostaria, em seu bom senso, ver machucadas. Ainda não dá para saber todos os aspectos disto que o Oda acaba de nos apresentar.
Em outro aspecto,o Luffy chama isso de Gears 5, o que vai implicar dele conseguir controlar esse poder. E se for, por mim tudo bem. Adorei que o Gears 5 seja uma forma totalmente diferente das variações do Gears 4, a qual Luffy se apresenta todo sério, sempre parecendo bravo, total contrário de sua personalidade. O Gears 5 resgata o Luffy brincalhão, lá do começo do mangá, quando enchia a barriga de água, só para guspir no Crocodile. Do Luffy que usava o Gears 3, e depois ficava pequenininho. Gosto muito dessa ideia de que ele agora pode brincar com a borracha de uma forma muito mais livre, mais inventiva. Se ele puder controlar isso, será ótimo! Ainda que a gente, como leitor, gosta de protagonistas que perdem um pouco do controle frente a grandes poderes. A gente amava quando o Ichigo ficava todo dark com sua máscara, e quando passou a conseguir controlar ficou maior chatão. Um pouco de descontrole então é positivo.
Voltando ao capítulo, não me importo que a luta contra o Kaido tenha descabido para algo mais lunático, por assim dizer. Mais irreverente, voltado ao humor cômido. O Oda já nos deu a uta séria, mais de uma vez neste arco. É hora de deixar Luffy brincar. Kaido já foi derrotado, essa é a verdade. O que vem agora é só para nos divertir no melhor estilo das lutas clássicas do Luffy.
O capítulo ainda tem aquela cena com o Hiyori e o Orochi, que apesar de legal, está aqui para segurar um pouco daquilo que o Oda ainda quer mostrar com o Luffy. A cena é legal, mas assim, já deu de Orichi, né? Que ele realmente queime e não retorne mais. Dá paz para a Hiyori e vamos seguir adiante. Acho que combina esse desfecho está muito mais voltado a ela do que se o Momonosuke acabasse com ele. Se bem que ainda pode acontecer também, mas quando todo o resto estiver resolvido, por favor.
Para encerrar, porque o texto já está enorme, volto a dizer: existe muito genealidade do Oda com o que ele está fazendo com o Luffy neste momento de sua obra. Com certeza não é algo que vai agradar a todo mundo, porque One Piece tinha tomado rumos mais sérios e deixado de lado lutas absurdas e cômicas com o Luffy. Se o autor tirou da cartola um poder que ele não deveria ter? Não acho. Os aspectos da fruta da borracha estão dentro do que sempre achei que poderia ser em um despertar. A minha surpresa fica em sua reclassificação, e nessa coisa do Luffy precisar ser uma entidade reencarnada. Me parece ser mais uma coisa cultural dos japoneses, mas até aí… sendo o Luffy ainda Luffy, não me incomoda muito. Minha preocupação era o despertar significar uma outra presença ali em seu corpo, o que agora sabemos não ser o caso. Pra mim o Gears 5 é um total contraste daquilo que o Gears 4 justamente não é. E gostei muito dessa ideia.