Análise | The Last of Us Part I (PS5)

Disponível para PlayStation 5 (e para PC em breve)

The Last of Us Part I é um evento singular, pois trata-se um dos mais aclamados títulos dos consoles PlayStation reconstruido quase do zero para uma experiência singular e completa no PlayStation 5, aproveitando tudo que a modernidade do atual console pode fazer para um universo rico de elementos, personagens e emoção. Quem ama este jogo vai amar o que foi feito aqui. E quanto a quem nunca jogou, esta é a melhor e mais incrível versão a qual se deve procurar ter tal experiência pela primeira vez.

Voltando ao passado, The Last of Us foi lançado lá em 2013, ainda no PlayStation 3. Título desenvolvido pela Naughty Dog, o mesmo estúdio famoso pela trilogia original de Crash Bandicoot, assim como os três títulos iniciais da série Jak and Daxter, e da franquia Uncharted, momento este em que o estúdio se permitiu deixar os mascotes de lado para trabalhar com personagens humanos, dando um sabor mais realista, com cara de cinema às suas produções. The Last of Us é o resultado de tamanha experiência ao longo de tantas produções.

A versão original de The Last of US, à época, foi muito aclamada, obtendo notas máxima nos principais veículos de impressa a sua época de lançamento. O jogo era lindo, e espremia o máximo da capacidade do PS3. Contudo 2013 também marcou o lançamento do um novo console, o PlayStation 4. Com isso, em julho de 2014 o estúdio relançou o título, agora aproveitando o que o PS4 podia oferecer para a obra. E então surge The Last of Us Remastered, versão remasterizada, gráficos atualizados, melhora na taxa de quadros (agora em 60FPS), reunindo a expansão em DLC, Left Behind, comentários em áudio das cutscenes, assim como a utilização das funções do controle DualShock 4.

Fiz essa volta porque é importante frisar que enquanto no PS4 o título ganhou uma bela remasterização, o agora chamado The Last of Us Part I no PlayStation 5 é mais do que isso, é um senhor remake, a qual o estúdio vem até mesmo utilizando o termo “rebuilt“, ou seja, como uma recriação, seguindo fielmente o projeto original, porém refazendo tudo que possa melhorar os diversos elementos que o jogo tem a oferecer, utilizando o padrão estabelecido e aprendido com The Last of Us Part II, sua sequência (ainda mais aclamada) lançada em 2020.

Experiência nível PlayStation 5

Antes continuar preciso confessar que este foi meu primeiro contato genuíno jogando The Last of Us. Claro que já conhecia a franquia, assim como parte de sua trama. Ao longo dos anos assisti a diversos vídeos, ouvi podcasts a seu respeito e vi diversas imagens do jogo pela internet. Mas jogar mesmo… isso só aconteceu agora – culpa de não ter tido um PS3 ou PS4 nas últimas gerações de consoles, não foi exatamente má vontade, só para deixar claro.

Isso significa que acredito que eu seja parte do exato público alvo a qual este título está tentando alcançar: os marinheiros de primeira viagem, os curiosos que talvez conheçam, mas nunca tenham tido a oportunidade até então. E será que para esse público novato, The Last of Us ainda tem aquele brilho mágico que teve para com quem o descobriu em 2013? Quero acreditar que sim.

Veja bem, uma das reflexões a respeito de se resgatar clássicos de outras gerações de consoles é frisar os pontos de fadiga que uma outra época de desenvolvimento de jogos possuía. Muitos jogos envelhecem, isso é fato. E nem todos envelhecem bem, deixando transparecer (no presente) uma séries de elementos problemáticos de um passado a qual hardware e mecânicas podiam limitar o resultado final.

Por isso é tão importante pontuar que The Last of Us Part I é uma reconstrução aprimorada de uma experiência do passado. Porque o time de desenvolvimento trabalhou com muita atenção e capricho para apagar os rastros do tempo, dando ao título a impressão de uma obra nova, como se tivesse acabado de sair do forno, com aquela aparência e sabor irresistível.

Tome, por exemplo, a forma como Ellie, a companheiro NPC de Joel, protagonista do título, gesticula nos diversos diálogos que existem dentro do jogo, seja in-game, seja em cutscenes. São coisas sutis, como cruzar os braços, pegar um livro de piadas, fazer caretas, a expressão de seus olhos indicando sua emoção, sua face, que sim já existiam ali na obra original do PS3 e na remaster do PS4, porém aqui na versão do PS5 ganham ainda mais fluidez e profundidade, novos movimentos e mais expressões.

Por diversas vezes me peguei parado, sem avançar pelo jogo, olhando para Ellie. Simplesmente porque a forma como ela, que está sempre atrás de mim, começava a se expressar e a gesticular (e não é como um arquivo de áudio passando enquanto os personagens apenas andam pelo cenário). Me peguei pensando “Nossa, em que momento personagens NPCs começaram a se expressar com tamanha naturalidade? Caramba…

Não só isso, mas também notei que os NPCs são espertos o suficiente para naturalmente saírem da frente de inimigos nos momentos em que estou tentando uma abordagem furtiva. Veja bem, tudo bem que os inimigos não vão engatilhar um confronto se verem esses NPCs, contudo ter um aliado andando no meio dos inimigos, e os mesmos não notarem,  facilmente tira a imersão do jogador da realidade ali do mundo. Normalmente quando isso ocorre só resta aquela pontinha de humor, debochando de sua inteligência artificial.

Entretanto na versão do PS5 há um esforço enorme para que os NPCs não passem ou fiquem pelo campo de visão dos inimigos. Por diversas vezes vi a Ellie sair de uma cobertura para outra, enquanto eu estava simplesmente parado, apenas porque o inimigo estava indo em sua direção. É nestes momentos que se percebe o cuidado aos detalhes, para lhe deixar o tempo todo na imersão da experiência furtiva.

Mas além destes detalhes, claramente o impacto visual gráfico de The Last of Us Part I é de embasbacar até mesmo quem já teve a experiência com o título. Para isso convidei a minha casa dois amigos que tiveram contato com o título no passado. Um havia jogado apenas no PS3 e o outro apenas no PS4, e ambos ficaram impressionados com a qualidade visual do jogo no PS5. “Caramba, não me recordo do jogo ser tão bonito assim“. Esse foi o relato de ambos.

Já a minha percepção foi a de um contato com um jogo com genuínos gráficos de um PlayStation 5. Nada em sua construção visual lembra uma geração de consoles atrás. Nada mesmo. A equipe que trabalhou no título levou muito a sério o conceito de recriar tudo do zero, especialmente os ambientes e cenários. Não tiraram nada do lugar, um carro destruído na rua ainda permanece no exato ponto do original, mas as camadas de detalhes para esse carro recebeu é absurda. Sombra, luz, destruição, partículas de poeira, líquidos, tudo beira um realismo impressionante. E não há limites para a quantidade de texturas e elementos visuais e gráficos que agora podem ser carregados simultaneamente.

E não só isso, mas também foi retrabalhado todo o conceito de partículas e objetos dentro do ambiente que podem sofrer dano e com isso ter suas partículas espalhadas em meio a ação do combate. Uma granada ao explodir perto de janelas irão explodir as vidraças. Balcões de madeira vão soltar lascas, paredes de concretos vão se despedaçar, objetos vão sofrer dano pelos tiros e podem até mesmo serem totalmente destruídas. Isso dá um realismo de mundo impressionante.

Há também que se mencionar o DualSense e sua experiência para com esta nova apresentação de The Last of Us. Aqui também se aproveitou a experiência completa a qual o controle do PS5 pode oferecer ao usuário. O gatilho sensível a pressão tem diferentes níveis de tensão para cada uma das armas do jogo, em especial ao arco e ao utilizar o kit médico. A vibração é pontual também, sempre sutil, mas constantemente presente. Até mesmo o giroscópio se faz presente, pois a luz de sua lanterna falha as vezes e é preciso dar uma sacudida no controle para ela voltar a funcionar. Trata-se de uma experiência realmente imersiva, a qual o controle auxilia em muito neste aspecto.

A sensação de fato é estar jogando um título com o peso da experiência que o PlayStation 5 pode oferecer. Em nenhum momento existe aquele sentimento de estar jogando um jogo de uma outra era dos consoles. Ao ser reconstruido para o atual console o título passa por um refinamento impressionante, seja visual, seja na inteligência artificial, seja na jogabilidade. Não fica nenhum elemento que possa soar datado.

Jogo cinema

Quanto a experiência de The Last of Us Part I para alguém que está tendo o primeiro contato com a obra, posso dizer que é algo muito impressionante. O título vem naquela pegada que muitos exclusivos do PlayStation passaram a ter de algumas gerações para cá, ao entregarem uma experiência imersiva narrativa linear, dando um ar mais cinemático as produções, deixando de lago a simples alcunha de um mero jogo eletrônico. A trama importa, a construção narrativa importa, e a experiência single player, como protagonista disso tudo importa ainda mais. Algo que, inclusive, hoje em dia faz um pouco de falta nos consoles concorrentes do PlayStation.

Para quem saiu de uma caverna e nunca ouviu ou jogou esta obra, trata-se de um jogo de aventura e ação, com a perspectiva em terceira pessoa, a qual você acompanhar um mundo precário, devastado por uma praga que dizimou a população e o que restou são grupos de humanos que lutam entre si por conta dos escassos recursos para se sobreviver, lidando com infectados que seguem espalhando a doença por aí.

O protagonista é Joel, a qual inicialmente o conhecemos 20 anos mais novo, no exato momento em que o mundo acaba, quando o surto de infectados causa pânico e as pessoas são obrigadas a sair de suas casas. Joel sobre uma grande tragédia nesse momento, que serve como prólogo para tudo que virá a seguir. Então saltamos 20 anos no futuro, e agora esse é o presente da trama. E o mundo de Joel está novamente prestes a virar de ponta cabeça quando uma jovem de 14 anos, chamada Ellie, entra em sua vida. Joel precisa levar Ellie para uma jornada além dos muros de onde reside, onde perigos estão em toda parte, dos infectados, aos seres humanos que não mais possuem o tato de viverem em harmonia entre si.

Mesmo que muitos já conheçam a trama de The Last of Us, acredito que possa evitar maiores spoilers afim de poupar os poucos que estão conhecendo essa obra com este lançamento. O que posso dizer é que trata-se de uma história repleta de emoção, a qual você vai se simpatizar com a construção dos personagens que irão rodear a jornada de Joel e Ellie, sabendo que nesse tipo de trama não é todo mundo que consegue sair com vida. E perdas ocorrerão e fatalmente sensibilizarão o jogador que entrar de cabeça nessa história.

Mecanicamente o título segue uma fórmula linear de explorar ambientes, acompanhar uma narrativa e entrar em combates em áreas recheadas de possibilidades táticas de cobertura. Este é um formato que recebeu muito destaque na geração do PS3/X360, me fazendo lembrar muito do sentimento que tive quando joguei o primeiro Gears of War no Xbox 360 (console que tive naquela geração), com os personagens andando por ambientes corredores, enquanto constroem a história e narrativa da aventura, antes da ação se retomada um segmento adiante.

Claro que ambos os títulos possuem tons diferentes para elementos que compartilham entre si. O combate de Gears é acelerado, pesado, de impacto, enquanto The Last of Us tem como influência o sistema mais cadenciado de Uncharted, sugestivamente indicando ao jogador uma abordagem mais furtiva e cuidadosa. Isso porque munição é um recurso limitada aqui. Entrar com o pé na porta, metendo bala pra cima e não se preocupando com dano tomado não funciona aqui nem se o jogador quiser tentar dessa forma.

Também é admirável essa evolução proposta pela Naughty Dog com o sistema de cobertura de Uncharted para The Last of Us. O personagem naturalmente entra em cobertura ao chegar em um ponto em que pode se agachar e se esconder. O que faz total sentido! Isso entrega uma jogabilidade muito fluida, orgânica, a qual o jogador não fica confuso ou irritado pelo personagem não responder ao óbvio: se há uma cobertura, abaixe e esconda-se oras! Não é preciso um botão para decidir isso.

Os momentos de confronto são intensos, seja contra os infectados, a qual entrar com os punhos e eliminando-os pelas costas é mais indicado, restando as armas de fogo quando se é detectado e sua desvantagem numérica surge. Contra inimigos humanos, normalmente o combate acaba tendo algum momento em que as armas serão sacadas. Aqui sigo com aquele sentimento de que atirar não é aquela coisa mais natural e fácil que jogos do gênero normalmente pregam. Não que não haja opções no menu que facilitem mira e coice das armas, mas não é o padrão da jogabilidade, claro.

Dentro destes dois aspectos, gostei muito dos momentos em que a abordagem furtiva funciona, especialmente contra os infectados. Ir com calma, eliminando um a um é uma vitória por vez. Há ainda os infectados mais complicados de se lidar, como os Estaladores, que não podem ser nocauteados estando de mãos vazias, precisando usar uma faca (que é um recurso que quebra e é escasso no game) ou apelando para armas de fogo, a qual o barulho alerta a todos os inimigos ao redor. Já o Baiacu, um inimigo gordo e grandão, é algo que me fez suar em todos os momentos em que apareceu, me obrigando a usar todos meus recursos possíveis e muito da minha munição tão cuidadosamente poupada.

Já contra os humanos, os combates foram mais feijão com arroz, especialmente quando a abordagem furtiva não funcionava muito bem. Ainda assim, elogios devem ser feitos para a inteligência artificial dos inimigos humanos, que te flanqueiam e fazer de tudo para lhe pegar desprevenido. Quando morria e os combates reiniciavam, eles nem sempre tomavam as mesmas decisões, os mesmos caminhos para me pegar. Achei isso bem interessante. Também achei ótimo que mesmo descoberto pelos inimigos, ainda é possível correr deles e voltar a se esconder, para voltar a pegá-los furtivamente. Nesse cenários ele não “te esquecem”, e continuam em modo de busca, contudo não voltam a lhe detectar a menos que você entre no campo de visão de alguém e o mesmo volte a alertá-los de sua última posição.

Até mesmo a experiência de explorar os cenários e o ambiente do jogo é muito bem estruturado e agradável. E esse elemento não ocorre somente porque o jogador está em busca dos colecionáveis do jogo, que vão desde docs de sobreviventes, a gibis e insígnias de um grupo de rebeldes, mas também porque os recursos são extremamente escassos. E não digo apenas da já mencionada munição, mas até mesmo de itens que vão permitir a fabricação de kits médicos ou coquetéis molotov, sendo que no caso destes dois, ambos utilizam os mesmos itens, cabendo então ao jogador decidir se vai gastar com um item ofensivo ou protetivo.

Estes recursos e colecionáveis estão espalhados pelo mundo, geralmente entre os respiros da ação, enquanto os personagens conversam ou observam o mundo ao redor. E como nesta versão para PlayStation 5 o mundo está muito mais rico em detalhes, nem sempre é fácil notar estes itens coletáveis, sendo necessário um olhar mais afiado para tal (sem bem que tem uma opção para facilitar isso na parte de acessibilidades, caso esteja achando difícil demais notá-los).

Por último, ainda sob essa perspectiva de estar acompanhando essa bela narrativa pela primeiríssima vez, não posso deixar de elogiar como o roteiro é majestosamente bem construído. A história trabalho muito bem temas como solidão, tristeza, assim como o preenchimento de um vazio que um mundo desolado afeta alguns personagens. A relação humana é um item chave para sobreviver mentalmente em um mundo doente e cruel. Só que a narrativa balança muito entre a realidade cruel e esse sentimento de reencontrar energias para viver o próximo dia. Os personagens vivem sobre uma áurea pesada e sombria, sem nunca conseguirem atingir a plena felicidade, deixada em um passado que agora apenas os mais velhos se recordam. Há um choque de realidade entre Joel e Ellie que mexe com o jogador. É de fato um roteiro pronto para o salto entre mídia, e não é pra menos que será adaptada como uma série pela HBO, a ser lançada no começo do próximo ano.

Acessibilidade a qualquer audiência

Outro aspecto desta nova versão de The Last of Us que pode não interessar a todos, mas certamente é importante apontar sua existência, diz a respeito sobre as muitas opções de acessibilidade do título para pessoas que tenham qualquer tipo de deficiência, tanto motora, visual, auditiva e afins. Os desenvolvedores se esforçaram muito para repetir a gama de opções de acessibilidade que entregaram em The Last of Us Part II também nesta nova experiência da primeira parte da saga.

Sendo assim a experiência de jogo pode ser facilmente customizada para qualquer tipo de debilidade que qualquer jogador possa ter. O DualSense pode ajudar deficiente auditivos a sentir pegadas ou outros elementos sonoros, por exemplo, assim com a inserção de indicadores visuais. Os gráficos podem muda o padrão de cores, simplificando texturas e cores, afim de que deficientes visuais possam enxergar elementos que o tom realista não os permita ver. Os controles podem ser completamente remapeados e até simplificados, caso haja a necessidade com pessoas com qualquer problema com os controles convencionais. As cenas possuem descrição de áudio (e não apenas legendas de diálogos) para que pessoas que não podem enxergar nada, possam acompanhar as expressões e sentimentos dos personagens nas animações. É uma gama muito impressionante de possibilidades, pensadas com carinho especialmente a esse público.

Claro que já também as opções de acessibilidade para aqueles não habituados com videogames. O jogo tem diversos modos de dificuldade, incluindo um super fácil, para quem quiser apenas acompanhar a narrativa em si. Mas quem não quiser ir a tanto, há outras opções, como auxílio de mira, por exemplo. Ou seja, qualquer pessoa consegue jogar o título, se divertindo no nível a qual sua habilidade permite, sem a frustração de não conseguir ir adiante nesta bela experiência de jogo. Acessibilidade é realmente algo bacana em jogos assim, pois tudo mundo pode curtir, independente da dificuldade de cada um.

Por outro lado, sei que há aquela parcela do público que quer exatamente o contrário, que a dificuldade e o desafio vá aos extremos e até nisso o jogo vai oferecer, com dois níveis de dificuldade acima do padrão normal, além dos modos speedrun e com morte permanente.

E não só isso, mas The Last of Us Part I ainda vez com uma série de extras interessantes para alongar a cauda de replay que o título tem a oferecer após as 20 horas médias que leva para completar a aventura. Há os tradicionais modificadores, como munição infinita e eliminar os inimigos com um único tiro, mas também diversas roupas extras para mudar o visual de Joel e Ellie. Além disso a expansão Left Behind, que apresenta uma nova mini campanha com mais três horas em média de história, trazendo um pouco mais do passado de Ellie antes da campanha principal, também foi refeita e está presente no pacote.

Outro extra que achei interessantíssimo que se libera após finalizar a campanha principal pela primeira vez é a possibilidade de jogá-la novamente ouvindo os comentários dos produtores do jogo, cena a cena, momento a momento, contando bastidores e história de criação do jogo. Não é demais isso? Além disso há um longo documentário em vídeo sobre a obra, além de episódios de podcasts oficial da série, que já haviam sido previamente lançados pela internet, mas foram reunidos e compilados aqui.

E os extras não estariam completos se não houvesse uma extensa galeria de artes, storyboards, estudos e rascunhos de produção do jogo. Afinal, estamos falando de um pacote com a experiência completa de um clássico absoluto da Naughty Dog.

É preciso discutir o preço?

Aí está um elefante na sala que nem sempre gosto muito de abordar nas análises que faço aqui para o site, porque muitas vezes o preço não deve ser um parâmetro para medir qualidade ou deméritos de certos jogos. Até porque os jogos no Brasil são caros e ponto final. Não dá para culpar um estúdio de desenvolvimento pela forma como a legislação e os impostos tratam (injustamente) os jogos eletrônicos por aqui. Existe de fato uma sensação de que pagamos muito mais por um jogo do que jogadores em países mais desenvolvidos, ainda que existe uma equivalência de preço, não tem uma equivalência do custo de vida entre tais locais.

Entretanto acontece, sim, de rolar essa conversa vez ou outra, mas sempre em casos onde o preço pode ir além do que o jogo merecia custar em sua tabela mundial de preço. Como o de um jogo independente que possa custar o preço de um grande lançamento, a qual o mercado apelida de AAA (triple A, em inglês), ou vice versa. O que temos aqui é algo um pouco semelhante, a de um grande clássico custar o preço de um jogo de lançamento. Se não seria o caso do mesmo custar um pouquinho menos. Seria mais justo?

Isso é muito comum de acontecer em jogos remasterizados muitas vezes. Isso porque se diz que os estúdios levam muito mais tempo para criar do zero um jogo desse nível de qualidade (AAA) do que para remasterizar quando já estão prontos. Novas IPs (novos jogos) chegam a ficar anos em desenvolvimento, é verdade, e possuem custos com tecnologia e salários de todo um longo período de produção com uma enorme equipe envolvida. E uma vez lançado, vendido milhões de unidades (é o que almejam), esse custo vai se pagando com as vendas.

Assim, na hora de remasterizar, há um custo menor, pois leva-se menos tempo e pessoas (o que enxuga a folha de pagamento) e o custo original do jogo, tecnicamente, já se pagou. Ou seja uma remaster pode, em tese, custar menos que o lançamento original. Mas olha só… “pode custar“. Não que isso aconteça sempre. Estamos num mundo capitalista e as empresas precisam de dinheiro para continuarem existindo. E a gente quer que nossos estúdios favoritos tenham dinheiro para continuar fazendo jogos, certo? Pois é.

Contudo, lembra do que expliquei no início dessa análise? The Last of Us Part I não é uma remaster, mas um remake, que de fato recriou uma infinidade de elementos do jogo (ainda que fosse com base na versão do PS4, que aí sim foi um remaster) afim de oferecer uma experiência completa no PlayStation 5, aproveitando todos os recursos que o console tem a oferecer, indo além do que a versão de PS4 fez lá em 2014. A sensação, como já mencionado, é que o jogo soa e parece um título realmente novo, feito para o poderoso console. E se soa como algo novo, por que não vendê-lo no preço padrão de um lançamento? Faz sentido.

Tudo bem, concordo com quem venha aqui e diga que fãs estariam comprando o jogo pela terceira vez. Mas cada experiência para com estas muitas versões não aprimorou ainda mais a experiência original? Coisas novas foram apresentadas, e o jogo continuar sensacional. Então, é isso. A Nintendo faz isso com diversos de seus clássicos e os fãs continuam apoiando. É mercado, é assim que as coisas funcionam. E neste caso, não é um problema especificamente do mercado nacional de jogos. Menos mal.

Claro que penso que neste caso a Sony podia ter feito um afago para todo mundo que comprou a versão de PS4 e oferecido um upgrade pago com um valor menor a essa público. Mal não faria, mas a Sony já deixou bem claro que não está interessada nestas políticas. Isso é capitalismo, fora que o mundo vive uma situação nada fácil para a economia, então entendo a decisão. Além disso, você sempre pode esperar que eventualmente o título apareça no novo serviço de jogos por catálogo (a PS Plus Extra). Pode demorar, mas acredito que vá aparecer futuramente. E se você jogou no passado, pode esperar, não?

Agora se você nunca jogou, independente dos motivos, digo que a experiência pela primeira vez de The Last of Us Part I vale o atual preço de lançamento. E o mesmo vale para o fã da franquia que não tem problema nenhum em pagar o preço cheio pelo jogo. Se você pode pagar, e quer sentir a experiência PS5, vai fundo. Não acho que vá se arrepender. Agora sei que tem uma parte da comunidade a qual as moedinhas são contadas. Se você já jogou, e pode esperar uma promoção, certamente acho que dá para considerar a opção. Leve isso em consideração.

Considerações finais

The Last of Us Part I talvez não seja aquele título que convença alguém a comprar um PlayStation 5, mas certamente é um título que quem já tem o console vai querer conhecer, caso ainda não o tenha feito em gerações passadas. Trata-se de um clássico que já se provou atemporal, tendo sobrevivido com relevância por três gerações de PlayStation.

E não só pela bela construção do enredo, que trabalha muito bem temas como perdas, valores humanos e sobrevivência num mundo que discute sobre esperança e encontrar um meio de seguir em frente, mas toda a fórmula dentro das mecânicas de jogabilidade ainda funcionam perfeitamente. E talvez até mais do que se possa imaginar, pensando numa indústria atual que tem focado demais em jogos como serviço, deixando de lado experiências mais imersivas de single player e na forma de contar uma história. The Last of Us ainda se agarra num modelo então muito apreciado, mas pouco investido atualmente.

E esta nova versão do PlayStation 5 usa todas as ferramentas possíveis para trazer uma experiência completa, em todos os aspectos técnicos possíveis. Aprimora a jogabilidade com todos os apetrechos e recursos tecnológicos que o DualSense pode oferecer, desde as vibrações em diferentes situações, como a pressão dos gatilhos para diferentes armas. Visualmente coloca a direção de arte do jogo em um novo nível, digno de qualquer título que possa de chamado de nova geração, trabalhando de forma muito impressionante ambientação e efeitos do mundo, da luz, sombra, reflexos, líquidos e especialmente partículas de poeira quando todos estes elementos começam a se misturar entre si.

Acessibilidade também é outro ponto chave dessa nova versão. Não só pela sua excelente localização em português, com áudio dublado em nossa língua, mas por toda uma game de opções para qualquer jogador que possa ter alguma deficiência, seja motora, visual ou auditiva. É incrível o quanto o jogo se permite customizar para atender a demanda de qualquer jogador, até mesmo de quem não tem qualquer habilidade com jogos, mas tem interesse em acompanhar a emocionante aventura. E na contra ponta, aos amantes de um bom desafio, o jogo oferece altos níveis de dificuldade e outras bravatas, como modo com morte permanente e speedrun.

Os extras também não desapontam, com extensa galeria de artes, documentários sobre produção, com direito até mesmo a uma faixa de áudio com comentários dos desenvolvedores enquanto joga a aventura, assim como skins com roupas para os personagens e os clássicos cheats (trapaças) que podem ser desbloqueadas uma vez que se conclui a campanha uma primeira vez. O que deixa a aventura mais divertida numa segunda rodada, quando se pode, por exemplo, optar por munição infinita para seguir novamente sem tanta pressão assim do cuidado com as batalhas.

Mas antes mesmo de pensar nessa longa cauda de replay, The Last of Us Part I oferece um gameplay realmente satisfatório. Explorar o mundo é incrível, e tem suas recompensas, desde colecionáveis, a encontrar itens e munição que serão essenciais para sua jornada. O jogo sabe dar valor e peso para estes pequenos momentos, enquanto que na hora do combate, o apelo furtivo dá uma densidade altamente imersiva, lhe deixando tenso na medida certa. Além disso, existe um balanceamento consistente entre batalhas contra os perigosos inimigos infectados pela doença que assolou o mundo, contra as facções de humanos que só querem eliminar qualquer um que invada seu espaço.

Quanto ao preço, discutimos isso mais acima, mas volto a repetir: quem nunca jogou, sinta-se confortável para adquirir o jogo e resolver tal gafe. Quem já jogou, adora e quer jogar de novo, e tem condições para isso já no lançamento do título? Vai fundo. Não vai se arrepender, caso esteja apenas com um pé atrás se este remake ficou como prometido, pois de fato ficou e está incrível. Mas claro, há uma parte do público que jogou no PS3, jogou no PS4 e o dinheiro é suado e conquistada mês a mês, e não dá pra pegar sem planejar ou pensar. Desse público, digo que dá para aguentar uma promoção. Segure a ansiedade, mas jogue assim que puder. Acredito que vá gostar desta nova experiência, ainda que dê uma sensação de estar revisitando algo amplamente conhecido.

Ao fim, sinto que a Naughty Dog tomou a decisão correta de reconstruir The Last of Us para uma versão exclusiva para o PlayStation 5. Refinar e aprimorar, nesse nível de cuidado, um material que já era de excelente qualidade, permite um nível de obsessão técnica que o público só tem a ganhar. Desde novas expressões dos personagens, até na forma como o jogo ganha vida com um muito visualmente mais realista, vivo e vibrante. O nível de imersão aumenta. E também serve para entendermos melhor o potencial de cada nova geração de consoles nos traz. O nível do que se conquista aqui e do que de pode almejar no futuro para novos jogos. E quando o jogo é realmente bom, não importa quantas vezes você já o jogou… sempre haverá espaço para revisitá-lo mais uma vez e ainda se impressionar com sua qualidade. Essa é a verdade.

Galeria

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Dando nota

Visualmente é um absurdamente fantástico, gráficos de nova geração, dignos do PS5 - 10
Mesmo que a história seja conhecida, ainda é uma trama que prende e envolve, personagens estão muito mais expressivos - 9.5
DualSense cumpre seu papel (gatilhos, vibrações) e entrega uma jogabilidade atualizada, o que já era bom ficou ainda melhor - 9.5
Opções de acessibilidade permitem a experiência plena de qualquer jogador com alguma debilidade, isso é incrível - 10
Tem uma ótima cauda de replay, com bons extras, mini campanha DLC, modificadores, skins, graus de dificuldade e afins - 9
Preço de lançamento pode ser um entrave para alguns, mas não impacta o belo trabalho apresentado - 8.5
São nos detalhes que o título te ganha, desde partículas de poeira, NPCs gesticulando ou inimigos mais inteligentes - 10

9.5

Excelente

The Last of Us Part I talvez não tenho o mesmo impacto de seu lançamento inicial, ou de quando foi remasterizado para o PS4, mas isso não diminui a grandeza de sua produção ou do trabalho feito neste remake que reconstrói toda a experiência original. Visualmente a nova versão ficou de tirar o fôlego, com gráficos dignos do PS5. Na jogabilidade o controle DualSense tira a melhor experiência possível das muitas mecânicas do jogo, dos gatilhos a vibração, fora a inteligência artificial do jogo como um todo refinada e melhorada. Destaque também as muitas funções de acessibilidade, que permitem que o jogo seja apreciado por qualquer um, independente de qualquer deficiência ou inexperiência com jogos, o que é um cuidado muito respeitoso para com fãs e público. Quem nunca jogou, certamente deve procurar esta experiência máxima. Aos fãs, jogar mais uma vez, em tal qualidade, certamente ainda será divertido, especialmente em um título que tem sobrevivido muito bem ao longo destes últimos anos.

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