Análise | Saints Row (2022)
Disponível para PlayStation 3 e 4, Xbox One e Series & PC
Saints Row retorna as suas origens, com altos e baixos ao fazer isso, colocando o jogador para liberar sua própria gangue, The Saints, em meio a uma guerra de muitas gangues, afim de dominar o mundo do crime em toda a cidade ficcional de Santo Ileso. Uma nova investida na franquia, que resolve deixar de lado parte da loucura absurda de suas últimas edições, buscando algo mais próximo de um GTA (Grand Theft Auto), porém mantendo o bom humor consagrado da série.
O título segue nas mãos da mesma desenvolvedora que sempre cuidou da franquia, a Volition, que desde 2013 passou a se chamar oficialmente de Deep Silver Volition, se tornando uma subsidiária da própria Deep Silver, quando a mesma a adquiriu da antiga THQ (que posteriormente teve parte da companhia adquirida pela Nordic games). A Deep Silver também atua como publisher deste título, que foi lançado no último dia 23 de agosto.
Vale apontar que este reboot não necessariamente aconteceu por conta desta troca entre donos do estúdio, pois foi na gestão da Deep Silver que os aclamados Saints Row IV (2014) e Saints Row: Gat Out of Hell (2015) foram lançados. O reboot parece ter surgido mais da necessidade de normalizar a franquia, a qual talvez tenha ido longe demais em suas últimas edições, tornando difícil aos desenvolvedores irem ainda mais além de toda a loucura e bizarrice criada.
Saints Row (2022) segue como um jogo de ação de mundo aberto (sandbox) com perspectiva em terceira pessoa, seguindo uma cartilha muito básica desta fórmula, vá de um ponto A ao ponto B, normalmente com um carro, atire em inimigos, exploda coisas e assim por diante. O mundo do jogo é repleto de atividades secundárias, desde procurar caçambas de lixo, derrotar líderes de gangues, para até mesmo tirar fotos de monumentos.
Antes de seguir adiante, é interessante dizer que o jogo encontra-se localizado em português, contudo apenas por meio de legendas (sem dublagem PT-BR), assim como seus menus e tutoriais seguem totalmente em nosso idioma, o que certamente ajuda em muito a acessibilidade de quem não está habituado com o inglês. É uma atenção bacana que este lançamento oferece ao nosso mercado nacional.
Vida bandida
Este novo Saints Row aposta no batido clichê do grupo de personagens que está cansado da vida que leva e resolve entrar para a vida do crime, sob a premissa de que é mais fácil atingir o sucesso por essa forma do que obedecendo as regras. Tudo bem que seu personagem tem aquele estilo de atrair problemas para si, enquanto os resolve causando sempre grandes estragos por onde passa.
A hora inicial trabalha um pouco esse aspecto, mostrando um pouco o futuro do plot, com seu personagem sendo enterrado, vivo, talvez morto, após uma cena mostrando o império que seu grupo conseguiu conquistar, o que nos faz voltar um pouco no tempo, ao começo de tudo. Após algumas missões iniciais trabalhando para um grupo militar, caçando alvos de alto valor, e depois sendo contratado por um magnata cheio da grana que lhe incube de cuidar de alguns de seus negócios, e ser despedido de ambos os empregos por causar grandes estragos em confrontos, você resolve ser seu próprio patrão e criar sua própria gangue, junto com seus três amigos, cada qual com suas próprias habilidades.
Um destaque para esse conceito de que o jogador é o protagonista dessa narrativa se dá por conta de um ótimo sistema de customização de personagem, digno dos jogos anteriores da série. Defina seu gênero, o estilo do seu corpo, suas feições faciais, estilo de cabelo, tatuagens, roupas e até mesmo a cor da pelo. Dá para montar aquelas combinações bizarras e surreais que logo vão aparecer aos montes no YouTube, como um Shrek, um Smurf enorme ou aquelas personagens demônios parecendo as muitas versões do Diabo. Nesse ponto o título mantém a tradição da franquia.
Só o interesse nesse aspecto da customização, é que ela não é feita apenas antes da aventura começar. O jogador pode, a qualquer momento da aventura, mudar totalmente seu personagem. De gordo para magro, cor de pele, tipo de cabelo e até mesmo seu gênero. Seu avatar não é imutável. Altera o quanto quiser, a qualquer momento do gameplay. Não é preciso de um novo save para mudar seu avatar. Isso é bem maneiro, admito. Não é todo jogo que permite mexer tanto assim após um avatar criado.
Customização, por sinal é um dos pontos fortes deste Saints Row. Isso porque não é apenas o protagonista que pode ser customizado. Eventualmente, conforme se progride na história, outras customizações vão surgindo, desde seus companheiros de equipe, qualquer um de seus carros (e nos mínimos detalhes) e até mesmo o quartel general de sua nova gangue, pois é repleto de pontos de customizações através dos monumentos colecionáveis encontrados pela cidade do jogo. Há uma liberdade muito grande nesse aspecto de fazer seu império do crime ter a sua cara e estilo.
Claro que mesmo com esse alto poder de customizações, não tira o fato de que sua premissa fica presa em velhos estereótipos do gênero sandbox, especialmente de mecânicas muito influenciadas do universo de GTA. E apesar disso soar bacana para que é fã desse modelo, também é ruim porque segura demais o título de andar com suas próprias pernas e se permitir ser mais criativo e original, algo que a franquia já havia conseguido conquistar em suas últimas edições. Ao voltar ao modelo de suas origens, pegando premissas modernas de GTA, este novo Saints Row se torna algo seguro demais e pouco ousado.
Até mesmo na questão narrativa, com suas linhas de diálogos entre o protagonista e seu grupo de amigos ou outros NPCs a qual há algumas interações. Vai ter ali uma ou outra conversa mais divertida, algumas piadas bem humoradas, existe construção destes personagens, mas ainda assim é tudo um tanto genérico, do tipo que não vai deixar nada glorioso na memória do jogador. Enredo não é o forte deste Saints Row, ainda que sim, haja uma construção do mesmo.
Gameplay na cidade do crime
Se em sua apresentação Saints Row não se destaca, tendo em vista tudo que a série já fez em suas últimas edições, ao menos o jogo tem lá seus méritos quando todo esse palco de fundo é deixado de lado e a jogabilidade pode tomar algumas das rédeas desta nova proposta da franquia.
Claro que parte disso é mérito do próprio segmento e gênero a qual a franquia faz parte, de ser um jogo de ação em mundo aberto, dando muita liberdade para que jogador dite o ritmo e a dinâmica da jogabilidade. Sandbox são divertidos por natureza, claro que a depender muito do jogador que assume o controle das muitas possibilidades. Particularmente é um gênero que me atrai muito, além de ser duradouro, o que normalmente faz valer a pena o investimento nesse tipo de jogo, levando em consideração o quanto jogos custam aqui no Brasil.
A própria cidade de Santo Ileso tem uma apresentação bacana, que parece ter sido inspirada por uma região similar ao sudoeste dos Estados Unidos, possuindo uma ambientação mais árida, desértica e de grandes canyons. Contudo, ainda há espaço para diferentes biomas, pois a região possui um enorme lago, que dá a arquitetura para uma gigantesca ponte, assim como locais com mini metrópoles e seus grandes arranha-céus. Suas estradas se dividem tanto em asfalto quanto de terra. Ao todo o jogo divide seu mundo em 15 distritos, cada com seu próprio estilo e arte.
Além de seu mundo aberto, o jogador irá encontrar muitos cenários próprios das missões principais, que podem ocorrer dentro de edifícios ou locais únicos. Por exemplo, um das primeiras missões do jogo ocorre em uma grande estrada de terra em meio a uma tempestade de areia, que compromete propositalmente parte da visibilidade da perseguição de carros que ocorre ali. Do outro lado desse exemplo, outra destas missões iniciais ocorre dentro de um enorme museu, com diversas atrações e andares. Ou seja, a ambientação não fica apenas restrita no mundo aberto por si só. O jogo prepara ambientes próprios quando trabalha com sua narrativa através das missões principais de história.
Quando não se está em missão, a cidade de Santo Ileso oferece algumas atividades secundárias. Primeiro que há lojas espalhadas por toda a cidade, cada uma com inventário próprio, possibilitando o jogador comprar roupas estilosas ou armas únicas. Carros também podem sofrer upgrades e melhorias visuais em oficinas. Acho interessante que as lojas possuem itens próprios. Meio que instiga o jogador a explorar e visitar tudo.
Além das lojas, caçambas de lixo marcadas no mapa podem conter itens, incluindo dinheiro ou itens do vestiário, e algumas destas que beiram o ridículo, como um chapéu feito de caixa de pizza. Aliás, estes uniformes de mascotes de lojas também estão disponíveis para compra, como o de uma casquinha de sorvete gigante. Há também elevadores que podem te levar ao ponto mais alto dos edifícios, o que lhe permite saltar com sua wingsuit (traje que lhe permite planar no ar).
O jogador também irá encontrar pontos de ameaças no mapa, precisando lidar com valentões que ficam andando pelo local marcado, assim como colecionáveis de história local, locais de roubo que lhe rende dinheiro, galerias de tiros e até mesmo locais de fotografia, que são um grande atrativo de exploração. Estas missões de fotografia são bem interessantes, porque coloca o jogador atrás de grandes monumentos e atrações do mundo aberto, enquanto que sempre que forem fotografados, estes itens se tornam peças decorativas em seu quartel general. Uma ideia bem engenhosa.
No aspecto mais procedimental do jogo, Saints Row não chega exatamente a impressionar, ainda que tenha suas momentos. O jogador tem acesso as missões principais e desafios secundários por meio de um smartphone que abre um menu que cobre um terço da tela do jogo. Lá também estão diversos outros recursos, como sua árvore de habilidade. Esse formato interativo também já é usado em diversos jogos assim, desde GTA a Watch Dogs. As missões normalmente consistem em sair de um ponto, geralmente seu QG até um ponto específico do mapa/mundo do jogo. Chegando lá é preciso enfrentar inimigos, acompanhar a história, ou participar de outras atividades como correr pelo mapa, destruir coisas e afins.
Mas nesse aspecto, algumas missões de história se sobressaem e acabam nos lembrando que Saints Row é uma série conhecida por certas loucuras. Uma das primeiras missões do jogo lhe coloca atrás de um bandido, que saiu de um cenário de velho oeste em meio a um jato sônico, a qual você pula em cima do mesmo e fica atirando no bandido e em capangas enquanto a tela do jogo vira e desvira em diversos ângulos. Também mencionei mais acima a missão em meio uma tempestade de areia, enquanto se pula de carros em carros, explodindo-os tentando parar um imenso comboio. Existe então estas mega sequências de ação que são bem montadas e são realmente muito bem divertidas, ainda que não necessariamente sejam super desafiadoras.
Os méritos destes segmentos ficam aos desenvolvedores, que parecem ter se inspirados em muitos filmes de ação e perseguição do atual cinema norte americano, como Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) e a atual franquia Velozes e Furiosos. O mesmo vale para alguns segmentos de execuções contra inimigos – a qual já vou elucidar – mas que são uma clara inspiração vinda de filmes da franquia John Wick.
Ainda na parte do gameplay, temos então dois momentos: em veículos e nos combates a pé. Nos veículos existe uma mecânica até interessante e diferente, que permite que o jogador saia do veículo em movimento, subindo em cima do mesmo, e habilitando que ele atire em inimigos que estejam próximos. Em muitas das cenas de ação mencionada acima, um NPC companheiro acaba assumindo o volante e o jogador fica no capô do carro metendo bala nos inimigos. É legal, admito.
Em outros momentos, de maior liberdade pelo mundo aberto, o jogador pode sair do veículo a qual está dirigindo para se firmar no capô e sair do mesmo dando um rasante com sua wingsuit, a qual o jogo trava sua visão em outro carro próximo, permitindo que você pouse em outro capô com muito êxito, e assim possa roubar o carro de seja lá quem estiver dirigindo. Prático e impressionantemente funcional. Inclusive a wingsuit é um aparato que surge do nada, sem muito contexto, mas que você pode usar a qualquer momento, ainda que normalmente vá esquecer que ela está ali.
Neste aspecto da direção, Saints Row optou por um sistema de direção bem arcade, sem pensar demais em controles realistas. Há um botão para drift, e um outro para impulsionar seu carro na lateral de outros carros que estiverem lhe perseguindo, num estilo Burnout, porém de uma forma bem menos eficiente. A direção não é a coisa mais memorável dos games, contudo cumpre sua função, ainda que um pouco desajeitada pelo estilo arcade.
O outro aspecto que necessita ser abordado diz respeito aos controles do combate, com armas de fogo, armas brancas e ativação de golpes especiais e habilidades. Aqui as coisas se dividem um pouco, o sistema de tiro de Saints Row não é tão bom quanto poderia se esperar. As armas tem coice, a mira é impressiva e o atira não é tão bom quanto diversos outros jogos de tiro da atualidade. Há algo estranho aqui. E nesse aspecto é de se esperar que fosse melhor, pois o jogador enfrenta uma horda de inimigos, então um sistema mais sólido de tiro ajudaria nessa experiência.
Um incômodo constante nesse sistema, a meu ver, se dá pelo fato de que o mesmo não respeita um sistema de cobertura. Não existe um botão para se esconder, e seu personagem está sempre de pé, andando como um louco, no meio de uma saraivada de tiros. E consigo imaginar os motivos dos desenvolvedores pensarem que faria mais sentido assim, do que permitir que o personagem se esconda e atira, coisa, inclusive que os inimigos e outros NPCs fazem: isso ocorre por conta do sistema de habilidades e execuções. Vou explicar.
Como seu personagem não se esconde, a menos que você fique atrás de um carro ou alguma parede, de uma forma bem ineficaz, ocorre que você está constantemente tomando dano, o que lhe obriga a gerenciar um sistema de execuções próximas a um inimigo, que recupera sua saúde. Essa é a execução estilo John Wick mencionada mais acima. Quando o símbolo no centro inferior da tela estiver com o logo do game, você pode executar o movimento em qualquer personagem que não esteja com uma barra de escudo (se estiver, você primeiro precisa quebrá-la metendo bala).
Alias, em termos de design, acho até meio deselegante visualmente o símbolo no tamanho de uma moeda posicionada nesse local da tela. Esclarecido isso, os movimentos de execução ao menos são maneiros e diversos, e pelas primeiras horas do jogo, vão surpreender um pouco pela violência com a qual seu personagem executa seus inimigos. É um belo recurso, mas novamente, um jogo de tiro, em que você tem que chegar na cara do inimigo para executá-lo, causa essa certa sensação de que os pesos e medidas do jogo estão duelando contra um sistema que deveria soar coeso, e não é.
E então há as habilidades, que são destravadas conforme se sobe de nível. E estas são funcionais e interessantes, ainda que hajas algumas mais estranhas ou pelo fato de que só quatro podem ser equipadas por vez. Por sinal, a primeira habilidade desbloqueada provavelmente é uma que você vai seguir com ela por boa parte da campanha, dada quão útil ela é dentro desse sistema caótico de combate com armas, sem cover e que lhe obriga a ficar próximos dos inimigos que vão descarregar o pente de suas armas em ti. esta habilidade permite que você pegue um inimigo pelas calças, enfie uma granada dentro da mesma, e em seguida o arremesse pelo cenário. Ao explodir, este leva consigo outros que estiverem próximos. Útil, e total cara de Saints Row, não concorda?
Usar estas habilidade tem outra utilidade, pois lembre que o jogador está sempre manejando sua barra de saúde com as execuções que a recarregam, contudo estas execuções também precisam de um tempo para serem novamente utilizada, sendo que esse período de recarga vai mais rápido conforme seu personagem vai matando outros inimigos. É nessa lacuna de tempo que as habilidades se provam eficientes, pois podem eliminar vários inimigos ao mesmo tempo, acelerando o uso da execução infalível. Nota os malabarismos desse sistema?
E esse jogo de cintura vem de todo lado, como por exemplo a habilidade de bomba de fumaça, a qual ao ser arremessada no chão faz com que os inimigos fiquem com um pouco de dificuldade para acertar os tiros em você. E isso é o jogo dizendo “bom, sabemos que o sistema de cobertura não vai rolar, então temos que criar outras formas dos inimigos não lhe fuzilar antes do botão de execução se recarregar por completo“.
Enfim, talvez seja picuinha minha. Talvez fosse uma tentativa de sair do que se esperaria de um jogo assim. Talvez fosse a forma de se distanciar um pouco do estilo GTA, a qual o jogo já sofre muita influência em muitos aspectos. Talvez. Talvez.
Sabe o que é curioso? Pensando um pouco em Agents of Mayhem, lançado em 2017, também pela Volition, penso que o título, que se passava no mesmo universo louco de Saints Row antes deste reboot, tinha uma ambientação bem mais interessante e entregava um gameplay realmente coerente com a identidade do que até então era Saints Row, ainda que na época em que foi lançado, foi muito comparado com Crackdown, que na ocasião também ensaiava um retorno (o que foi acontecer em 2019). Este novo reboot patina um pouco ao flertar as origens da franquia, mas não consegue atualizar sua jogabilidade para algo que seja mais coerente com o salto proposto desde então. Inclusive acaba desmerecendo muito dos méritos que a franquia atingiu em suas últimas edições.
Considerações finais
Saints Row (2022) assumiu riscos enormes ao rebootar seu universo, deixando de lado parte daquilo que justamente tornou o título atrativo em suas últimas edições. Não acho que se inspirar no estilo GTA, sabendo a eloquência deste forte concorrente, sendo que não se conseguiria tamanha expertise, tenha sido realmente uma boa ideia. É uma tentativa, e não há problema nenhum em tentar, é claro. Isso não torna automaticamente esta iniciativa ruim, mas também não a torna boa, e ainda empobrece um pouco os méritos que a franquia já havia conquistado.
Mas não posso encerrar a análise sem abordar alguns aspectos técnicos ainda não mencionados, como os gráficos do jogo, que também sofre de altos e baixos. Quando precisa de cutscenes com os personagens com grande destaque na tela, a animação é um desastre total, especialmente nos consoles da atual geração, o Xbox Series e o PlayStation 5. Não são animações dignas do que estes consoles podem fazer. Baixa expressão facial, cabelos duros e sem vida, expressões corporais mínimas. Tem jogos que já conseguem um nível muito maior de qualidade nestes aspectos.
Contudo a direção de arte com ambientes se sobressai muito melhor do as animações dos personagens. Os cenários são realmente lindos e bem trabalhados, e o sistema que trabalha luz, sombra e reflexos fazem um ótimo trabalho nos consoles da atual geração. O mundo do jogo é bonito sim, ainda que esvaziado quando se coloca em perspectiva o tamanho de elementos de cenografia de um GTA V. E essa comparação é muito injusta, dada as proporções de cada um destes estúdios, eu sei. Além disso, no Xbox Series S, vi carros aparecendo do nada, enquanto avançava em alta velocidade, o que indica que o jogo não carrega tudo antes que eu chegasse ao ponto em que o objeto deveria ter mostrado.
No aspecto da inteligência artificial, seja das pessoas andando pelo mundo, seja pelos inimigos, não houve nada que tenha me impressionado. Cumpre o papel básico de um sandbox, sendo que neste ponto da atual indústria de jogos eletrônicos, admito que já espero um pouco mais. Claro que dá pra relativizar um pouco esse aspecto quando se reflete que este é um título que também precisa segurar as pontas nos consoles da geração passada, que ainda estão em atividade no atual mercado mundial. Sendo um título também lançado no Xbox One e PlayStation 4, é de se esperar que isso comprometa o pleno potencial do jogo nos consoles mais avançados.
Com um gameplay muito básico, ainda assim o jogo ganha alguns pontos positivos, como os momentos de jogabilidade com um misto de filmes de ação, saltos de carros em movimentos, o uso da wingsuit a qualquer momento, as habilidades e as execuções estilo John Wick. As customizações com ampla opções, deixando o jogador ser bem criativo em seus personagens também é um ótimo ponto, demonstrando certa evolução neste elemento da franquia. No contra ponto dos elogios, ficam a ausência de um sistema de cobertura e essa sensação de algo desbalanceado em atirar e ficar tomando dano, enquanto gerencia meios de recuperar a saúde, o que tira um pouco da liberdade e diversão de um tiroteio dentro de um jogo sandbox.
Ao final, fico com a sensação de que Saints Row não atinge as expectativas dos fãs, e não cumpre o papel que a franquia estabeleceu em suas últimas edições. Isso não o torna o jogo essencialmente ruim, mas enfraquece em muito seu potencial. Talvez haja uma má interpretação de minha parte? Talvez. Certamente há também uma parte da comunidade que acabou se afastando da franquia quando houve esse ponto de virada para coisas loucas, bizarras e surreais. Acredito que mesmo com tudo um tanto básico, só pelo fato de ser um título de exploração em terceira pessoa de mundo aberto, já vá atrair fãs do gênero. É um jogo que rende certa cauda de replay, mesmo que preso em um ciclo de repetição previsível. Se você chegou até aqui e aceita estes pormenores do reboot, não acho que verá tantos problemas com esta nova investida.
Galeria
Dando nota
Narrativa super clichê, sem surpresas, na pegada de história "vida de crime" - 6.8
Visualmente acerta na ambientação, com bons visuais, mas a animação dos personagens é ultrapassada - 7.5
Sistema de combate estranho, sem cobertura, e que exige proximidade para execuções e especiais - 6.5
Há diversas missões principais com bons segmentos de ação com veículos - 8
Pertencente ao gênero de mundo aberto, dá para o jogador ditar ritmo e dinâmica - 8
Inspira-se demais em GTA, mas não chega a qualidade do mesmo - 6.5
Perda de toda a loucura das edições anteriores tira certo charme conquistado - 6
7
Hum...
Saints Row (2022) é um reboot difícil de compreender, pois deixa de lado muitos elementos que tornaram a franquia muito apreciada em suas últimas edições. Busca voltar as suas origens, mas entrega uma fórmula datada para os dias de hoje. Inspira-se em GTA, mas não atinge a mesma qualidade. No visual, se destaca com belos cenários, mas escorrega nas animações dos personagens. Gameplay também é um pouco confuso, entregando uma ação de tiro em terceira pessoa, sem sistema de cobertura, que te empurra a combates de proximidade, sempre com a pressão de realizar execuções afim de restaurar a barra de saúde já que se toma dano constantemente. Ao fim, o título funciona porque faz parte do gênero mundo aberto, o que permite que o jogador determine ritmo e dinâmica. O resultado não é um jogo ruim, mas que fica em cima do muro, consegue divertir, mas não entrega a qualidade que a franquia andou entregando em suas últimas edições.