Análise | Kirby’s Dream Buffet

Disponível para Nintendo Switch

Kirby’s Dream Buffet oferece uma deliciosa disputa multiplayer, local e online, a qual jogadores competem entre si, afim de ver quem come mais morangos, sem que haja preocupação com elevados níveis de açúcar no organismo do carismático devorador de tudo, o rosado (e também multicolorido) Kirby.

O título, exclusivamente multiplayer, foi lançado, apenas no formato digital, no último dia 17 de agosto, com exclusividade para o Nintendo Switch. Seu desenvolvimento ficou a cargo da Hal Laboratory, estúdio que já cuida de basicamente todos os jogos do universo/franquia Kirby.

Há dois destaques bem legais que merecem ser apontados logo de cara: primeiro que o título está inteiramente localizado em português, algo que a Nintendo tem feito recentemente com diversos jogos com um status mais family fun (divertido em família), como Mario Party Superstars, Nintendo Switch Sports e Mario Strikers: Battle League. O jogo não apresenta áudios, portanto não há que se falar em dublagem, mas todos os textos e menus estão em nosso idioma.

Já o segundo destaque diz respeito a seu preço, menor do que o praticado com lançamentos tradicionais, que atualmente fixam-se na média de 60 dólares. Kirby’s Dream Buffet foi lançado por um valor muito mais amigável, custando 15 dólares no valor global. Quanto ao preço em reais, pois o jogo já se encontra oficialmente na eshop nacional do Nintendo Switch, fixou-se o valor de 77 reais, que na conversão de real para dólar, se mantém dentro do esperado. E já adianto: é um excelente valor para tudo que o jogo oferece.

Kirby’s Dream Buffet é um jogo do gênero multiplayer competitivo de corrida e arena, a qual jogadores disputam entre si para ver quem come mais morangos em percursos de obstáculos e circuitos fechados com itens para atrapalhar e atropelar seus adversários. Ao fim de quatro etapas, é feito uma somatória de quem comeu mais morangos e assim eleger o vencedor da disputa.

Kirby miniaturizado

A premissa de Kirby’s Dream Buffet é bem simples, ainda que não seja necessariamente uma narrativa: tudo tem início quando a simpática bolinha se encontra frente a um enorme e delicioso bolo de festa. Ao dar a primeira garfada, Kirby é miniaturizado para o tamanho um pouco maior do que um mero morango. Que fartura e visão se encontrar afundado em um gigantesco bolo, não?

Logo em seguida, outros Kirbys de diferentes cores se reúnem ao original, tendo início a uma competição de rolar por meio de cremes e outras comidas, atrás de mais e mais moranguinhos. Este conceito é importante porque dá o tom da aventura, que entrega diversos percursos com a temática de alimentos gigantescos, sob a perspectiva de um Kirby miniaturizado.

Bolos, hamburguês, ovos fritos, panquecas, bacon frito, donuts, sorvetes de casquinha e diversos outros quitutes dão palco as competições de quem come mais morangos, que se encontram espalhados por todo o percurso das disputas de corridas. Na linha de chegada há três grandes prêmios: um enorme doce com 50 morangos, outro com 20 e um terceiro com 10 morangos. Uma vez que o jogador atinja um destes doces, os demais competidores não podem mais alcançar tal opção. Contudo, ir comendo morangos pelo percurso se torna uma ótima estratégia para encurtar essa diferença numérica entre os prêmios da linha de chegada.

É precisa dar destaque e elogios à direção de arte do jogo, que entrega lindos ambientes com essa perspectiva de alimentos aumentados, criando caminhos a qual Kirby vai rolando por diversos tipos de comidas que soam realmente apetitosas. Você rola por meio grandes segmentos de ruas de chantilly, salta nas gemas de ovos fritos, escala melados de pilhas de panquecas, passa entre buracos de donuts e muito mais. Há uma criatividade incrível na montagem da cenografia, que em nenhum momento se perde de sua proposta.

Essa construção visual lhe conquista também pelos pequenos detalhes, como waffles douradinhos, açúcar polvilhado em panquecas, granulado em bolos. Tudo tem textura, cor e brilho. Só falta o cheiro, a qual infelizmente a atual tecnologia ainda não consegue entregar. Contudo é um título que realmente se come com os olhos, de tão vibrante são as comidas apresentadas em toda a temática apresentada.

Engorde e trapaceie

Outra sacada muito bom presente em Kirby’s Dream Buffet ocorre em meio a ação da competição: após comer tantos morangos, Kirby cresce repentinamente, aumentando seu peso. Comeu mais um pouco? Ele vai crescer novamente. Mais pesado permite maior velocidade em descidas, mas também fica mais difícil em subidas. Contudo normalmente ficar mais gordo que seus adversários vai lhe render algumas vantagens.

Isso porque durante as corridas os jogadores devem se enfrentar naquela acalorado estilo Mario Kart, empurrando uns aos outros, assim como usando alguns itens de trapaça. E é neste ponto de empurrar que se torna vantagem engordar o Kirby e bater no adversário que estiver em um tamanho inferior. É possível tirar o adversário do percurso, e aí como todos são Kirbys de diferentes cores e estilos, todos possuem a habilidade de voar por alguns segundos, apertando o A, fazendo-os que retornem a pista. Se nem voando se consegue voltar, aí o personagem cai e leva alguns segundos para retornar a partida.

Quanto aos itens de trapaça, há algumas opções básicas, mas ainda assim interessantes e coerentes com as muitas habilidades que tradicionalmente Kirby sempre possuiu. Dá para se transformar numa roda que funcionará como um turbo, acelerando seu personagem ao máximo. Em outra habilidade, Kirby se torna gelatinoso, o que lhe permite passar por algumas barreiras a qual os corredores devem quebrar afim de seguir adiante. Há um que o personagem se torna uma bola incandescente, queimando todos que estiverem em seu caminho, assim como um em que ele se torna uma barra que ao se impactar como o chão cria uma onda de impacto em todos ao redor.

Estes itens de trapaça também funcionam em outra modalidade de competição, de arenas. Estas missões, que funcionam como mini games, intercalam as corridas, mas ainda consistem em comer a maior quantidade possível de morango enquanto uma contagem regressiva dita o final da partida. Estes mini games são simples, mas ainda adoráveis. Em alguns você deve pular em xícaras que ficam surgindo na tela e onde caem morangos, em outra deve-se quebrar quadrados de biscoitos afim de liberar os morangos dentro deles. E há também as arenas em que simplesmente são usadas para pegar morangos que ficam caindo, enquanto se usam os itens de trapaça, e outras situações há bombas de espinhos também caem e explodem ao atingirem o chão.

O último round da competição também consiste em um evento de arena. E aí são mais itens, mais morangos e é cada um por si, num esquema meio que de batalha. Tire quem puder da arena, e isso o fará perder morangos, enquanto você ganha morangos. Mas também fique de olho nos eventos da arena, seja na cesta de muitos morangos sobrevoando aos arredores, quanto uma pinça que se lhe pegar o fará será desastre na certa. Nesta última rodada é possível reviravoltas nas contagens finais dos morangos, especialmente dos adversários que não tiverem uma alta vantagem numérica na contagem dos morangos.

Cada partida consiste em 4 rounds, compostas por dois rounds de corrida, um mini game e a batalha cada um por si que encerra a competição. O bacana é que Kirby’s Dream Buffet apresenta diversos percursos e arenas de mini games e batalhas, então cada partida acaba oferecendo ambientes diferentes, ainda que a jogabilidade siga um certo padrão. Os diversos cenários impedem uma sensação de repetição, e criam uma boa dinâmica entre partidas, o que lhe incentiva a jogar uma após a outra. Ainda que essencialmente seja um jogo de pequenas doses, a qual a longevidade está justamente em jogar um pouquinho por dia.

Biscoitos, músicas, chapéus e cores

Abordando essa cauda longa que Kirby’s Dream Buffet pode oferecer, há que se mencionar o sistema de recompensas que são obtidas ao final de cada partida. O jogador ganha experiência e sobe de nível enquanto vai participando de partidas, não é necessário vencer, mas é claro que são dados mais pontos quando se obtém uma vitória.

Subir de nível não oferece ao jogador vantagens em detrimento de outros jogadores em níveis menores. A escalada de nível apenas rendem extras dentro do jogo, como novas músicas, baseada em outros jogos de Kirby, que serão tocadas nas partidas e novas cores e chapéus para o personagem utilizar nas competições.

O jogador também ganha biscoitos, que vão preencher um grande álbum de figurinhas. Cada biscoito traz a imagem de cenas, personagens e itens de diversos outros jogos do universo Kirby, entregando assim uma extensa biblioteca do legado do personagem. E os biscoitos possuem diversos tipos, desde os achocolatados, transparentes (aqueles de açúcar cristalizado), os tradicionais de leite e assim por diante. São muito bem detalhadinhos, sempre com a descrição de qual jogo as artes são baseadas.

Também é interessante que subir de nível destrava novos percursos e arenas, o que incentiva muito que o jogador siga jogando e descobrindo novas fases, que vão entrar na rotatividade de estágios em futuras partidas. Por exemplo, dentre os estágios que esse sistema destrava, há um com imenso cones de sorvete de massa. E não é só um estágio que apresenta uma cenografia diferente, mas também tem mecânicas diferentes, porque o chão é escorregadio, então traz uma novidade dentre os percursos que até então se faziam presentes no início do jogo. Então há uma sensação de evolução. O jogo vai ficando mais legal quanto mais fases vão sendo destravadas por esse sistema. Isso alonga muito sua cauda de jogabilidade.

Então quanto mais se jogo, mais dinâmico o jogo vai ficando, porque o jogador vai ouvindo novas músicas, escolhendo novas skins, deixando seu personagem mais único, enquanto descobre novas fases. Por ser um jogo com um caráter apenas multiplayer, isso acaba sendo uma surpresa, pois o jogador vai com a impressão de que depois de duas ou três partidas, acabará não se surpreendendo, e ocorre justamente o contrário. Quando se percebe, você está ali querendo jogar mais uma partida, afim de descobrir o que o jogo irá desbloquear a seguir. E sim, você desbloqueia novos itens a cada partida, não importa se perder. Sempre haverá uma recompensa pela pura participação na competição.

Na hora do Online

Um outro aspecto que precisa ser colocado em pauta na análise é sobre a forma como o multiplayer funciona em Kirby’s Dream Buffet. Sem um modo single player, ou campanha, a obra foi produzida para ser apreciada com amigos, com a família ou outros jogadores online. Não foi feito para uma experiência solitária. Tenha isso em mente na hora de adquiri-lo.

Localmente o título só tem suporte para até dois jogadores em um único Nintendo Switch. O que parece uma pena, pois o título claramente poderia suportar quatro jogadores com a clássica tela dividia em quatro partes. Para quatro pessoas jogadores localmente, só mesmo tendo quatro Nintendo Switch e fazendo a conexão local entre eles. Claro que nestas situações com apenas dois jogadores, os demais são preenchidos por bots, que não oferecem muito desafio, mas estão ali para mostrarem presença. Até porque sem um certo número de personagens em tela, parte do desafio ficaria muito esvaziado.

O título reina mais quando se permite jogar online com até quatro pessoas. E aí há opções para salas privadas com amigos ou o bom e velho matchmaking com desconhecidos. A política da Nintendo de não oferecer suporte de voz aqui permanece, mas é possível interagir com alguns jogadores num hub de espera com pequenas mensagens, como um “oi” ou “olá“, só pela mera educação mesmo. Não há emojis ou stickers para pode ir adiante, nem mesmo ao final da partida, quando o vencedor é declarado. Acho que essa falta de interatividade não é um incômodo, mas acho que vez ou outra faz certa falta.

A minha preocupação fica apenas no fato de que foram poucas as partidas que disputei e o jogo conseguiu encontrar jogadores online. E quando isso ocorre, a partida segue com bots, o que também funciona, mas sinceramente gostaria de que então pudesse selecionar a dificuldade dos mesmos, para deixá-los um pouco mais agressivos e espertos. Fiz o teste em diversos dias, períodos e horários diferentes, e em todas as ocasiões foi difícil encontrar jogadores. Nunca encontrei uma partida a qual fechamos quatro jogadores. E o jogo é malandrão, porque coloca bots com nomes que soam muito como nomes de jogadores reais. Se não prestar atenção, passa fácil a impressão de estar com pessoas por ali.

Nesse momento não sei o que achar. Se há pouco jogadores online ou se é algo técnico que precisa ser melhorado para que o jogo conecte jogadores de todas as regiões afim de fechar salas inteiras. Ainda dá para se divertir, mas é preocupante que o título acabou de ser lançado e encontra um pouco de dificuldades nesse aspecto. Talvez a Nintendo devesse oferecer um período de trial para o título, afim de atrair mais jogadores.

Considerações finais

Kirby’s Cream Buffet é um jogo auto contido, não tenta demais ser além de um divertido jogo de multiplayer competitivo de partidas rápidas, que gera picos de satisfação e recompensa. Numa comparação, até um pouco injusta, lembra a proposta de títulos de gincana, como Fall Guys. E digo injusto porque o escopo de Fall Guys é muito maior, além de ser oferecido de graça e ser baseado em outro sistema de monetização. Acredito que Kirby não se sustentaria nesse mesmo modelo.

Mas dentro do escopo do universo do próprio personagem, a obra funciona. O título esbanja carisma e charme, atraindo jogadores de qualquer idade, por sua proposta casual, que é uma das propostas que a Nintendo leva muito a série há algumas gerações. Entrega assim um título que uma criança facilmente encara, da mesma forma que um adulto que nunca segurou um controle na vida também vai conseguir apreciar a jogabilidade.

O jogo não faz o uso de nenhum recurso de sensor de movimento do controle, o que segue como uma tendência dos jogos mais atuais do console, parte porque o Nintendo Switch Lite não tem os joy-cons destacáveis do console, o que impede certa liberdade com o mesmo. Mesmo assim não é preciso de grandes habilidades com o controle, sendo bem fácil e intuitivo controlar as bolinhas pelos percursos. Não tem, por exemplo, que ficar controlando a câmera do jogo, a qual jogadores casuais muitos vezes encontram muita dificuldade.

Faço meus elogios novamente a direção de arte de Kirby’s Dream Buffet, pois os ambientes baseados em diversas guloseimas estão incríveis, com textura, efeitos e a ideia de dimensionar estes alimentos para uma perspectiva gigantomizada funciona muito bem. Os detalhes da construção dos ambientes impressionam bastante.

Meu único receio a respeito com o jogo é realmente o multiplayer online com poucas pessoas jogando. Porém fico aliviado que as partidas aconteçam com bots, caso jogadores reais não sejam encontrados. E que se possa subir de nível nesse formato. Isso impede que o jogador se sinta frustrado de ficar esperando longos minutos esperando pela chance de alguma partida acontecer. Muitos jogos online no passado fracassaram feio por conta disso. Só acho que a Nintendo poderia acrescentar algumas opções para aprimorar a dificuldade dos bots quando a partida ocorresse apenas com eles.

No mais, Kirby’s Dream Buffet é o que foi aqui apresentado. Com um preço muito acessível, a obra é casual e pensada para se divertir em pequenas doses, com partidas rápidas e que sempre vão gerar alguma recompensa. Funcionaria se fosse uma experiência em um celular, tal qual funciona muito bem no Nintendo Switch. Entrega charme e criatividade. Soa as vezes como a Nintendo experimentando algo menor, mas nem por isso menos expressivo ou importante. Não senti falta de um single player, mas certamente seria ótimo se propostas assim entrassem na onda destes jogos que oferecem conteúdos de forma sazonal. Há potencial aqui, mas ainda que nada disso seja feito, o esforço aqui cumpre seu papel e o jogo entrega a diversão pretendida.

Galeria

Dando nota

Visualmente é saborosamente delicioso, ambientação muito bem construída, atenta a textura e detalhes de imensas comidas - 9
Jogabilidade entrega um estilo competitivo meio Mario Kart, empurre e use itens de trapaça para superar aversários - 8.5
Exclusivamente multiplayer, local e online, não que conteúdo single player faça falta (preço amigável) - 7.5
Ótima cauda de recompensas para incentivar os jogadores a seguirem jogando e subindo de nível - 8.5
Preocupa um pouco um Online que encontra dificuldade de achar jogadores, ainda que preencha a sala com bots - 6.5
Bons percursos de corridas, a qual se deve comer morangos, desviar de inimigos e usar itens de trapaças, entrega um ótimo level design - 8.8
Mini games e batalhas cada um por si são mais auto contidos, mas ainda assim são ótimo respiro entre as corridas - 7.8

8.1

Delícia

Kirby's Dream Buffet é direto ao que se propõem: ser um jogo multiplayer competitivo para amigos e família, no melhor estilo casual a qual a Nintendo sempre que pode aborda em seus títulos. Seu conteúdo é condizendo com seu preço, muito menor e mais acessível do que outros lançamentos maiores. O título tem uma ótima direção de arte, colocando Kirbys miniaturizados para navegar por enormes mundos de diversos tipos de alimentos, doces e salgados, na acirrada disputa por quem come mais morangos. Jogabilidade simples, mas funcional no meio estilo empurra empurra de um Mario Kart, com direito até mesmo a itens de trapaça. Um título para partidas rápidas, com muitas recompensas, de novas faixas sonoras, skins e biscoitos que trazem momentos de diversos jogos da franquia. A único preocupação fica por conta de um multiplayer online com poucas pessoas, e ainda bem que o jogo resolve isso colocando bots no lugar das mesmas. Não é o ideal, mas é uma solução funcional.

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