Aventuras perdidas no tempo, essa é uma forma de resumir essa coletânea, publicada pela SNK, lançada no último 03 de agosto, no formato digital para o Nintendo Switch. Contém os jogos (originalmente) de arcade Mega Man: The Power Battle, lançado em 1995, e Mega Man 2: The Power Fighters, lançado em 1996, compilados em suas versões para o raríssimo NEOGEO Pocket Color, portátil da própria SNK que muitos só ouviram falar, e que surgiu lá no distante ano de 1999.
Há que se apontar que trata-se de um título de uma biblioteca de ports que o Nintendo Switch tem recebido da própria SNK há algum tempo, sempre reproduzindo, com certa fidelidade, a experiência de grandes clássicos do NEOGEO. Por isso possuem esse mosaico em tela do clássico portátil. Mega Man Battle & Fighters é só mais um dos inúmeros títulos nessa linha que estão disponíveis na eshop do Switch.
Aqui temos então acesso às versões lançadas para o NEOGEO Pocket Color, clássico portátil que renderizava os jogos com notável sutileza e deixava tudo mais bonito, mas infelizmente este bundle traz apenas as versões em japonês destes dois jogos, com pouquíssimas frases em inglês, geralmente unicamente no momento da liberação de um dos poderes dos chefes e no momento de selecionar a arma adquirida em lutas posteriores, o restante estará tudo em japonês.
Podemos acessar um manual em inglês dentro das opções do jogo (no modo TV basta apertar o botão menos e no modo portátil basta tocar a tela do Switch), mas ficar toda hora abrindo e conferindo se torna cansativo.
Vale apontar que ambos os jogos também reapareceram recentemente como DLCs para Capcom Arcade 2nd Stadium (lançado em 22 de julho deste ano para Nintendo Switch, PC, PlayStation 4 e Xbox One), contudo lá foram as versões originais de arcade, visualmente mais bonitas e que estão em inglês, o que certamente tira o brilho dessa versão do NEOGEO Pocket Color.
Como adições aqui temos a possibilidade de retroceder o tempo caso algum erro seja cometido, mas admito que usei somente uma vez para testar a funcionalidade, pois retroceder alguns segundo na luta acaba não tendo uma necessidade a meu ver. Aprendemos com a prática e cometer erros faz parte disso.
Explicando os jogos
Então o que temos aqui são basicamente 2 jogos de luta onde controlamos e enfrentamos vilões da franquia Mega Man. Em Mega Man: The Power Battle temos a oportunidade de jogar como Mega Man, Proto Man ou Bass e podemos escolher 1 entre 3 caminhos, a qual cada um deles remete a uma coletânea ou a um game em si. Temos então estes caminhos: Mega Man 1 e 2, onde enfrentaremos chefes como os clássicos Guts Man, Napalm Man, Crash Man e Cut Man; Mega Man 3 a 6, com Gyro Man, Gemini Man, Shadow Man e outros; e Mega Man 7, onde encontramos Cloud Man, Slash Man, Junk Man e outros.
Após derrotar os chefes em seus respectivos lares – vale a pena observar o cenário de fundo das lutas, cada qual com animações acontecendo no desenrolar de nossas lutas – iremos para o espaço nas clássicas lutas contra os últimos protetores do maligno Dr. Wily, onde enfrentamos robôs maiores e mais poderosos e o próprio Wily em sequência, resumidamente vamos encarar adversários como Yellow Devil, Wily Machine, Wily Capsule e outros.
A escolha de qual personagem você vai controlar não vai mudar em nada o jogo em si, já que os golpes padrão de todos tem o mesmo nível de poder, apesar de seus ataques iniciais mudarem conforme o personagem escolhido. Ver Proto Man trocando de cores devido aos poderes recebidos é bem legal visualmente.
Por falar em mudar de cor, sempre ao derrotarmos um dos chefes iremos adquirir sua respectiva habilidade especifica, e poderemos usar da mesma para “atirar” com este poder nos próximos chefes, alguns têm maior eficiência contra outros e alguns tem menos eficiência, é a mesma premissa que usávamos para jogar os Mega Man clássicos, a diferença é que aqui vamos direto as lutas de chefe, sem percorrer por estágios.
Há um fato que precisa ser melhor explicado, já que o jogo não fornece essa informação. Podemos ser derrotados e continuar a mesma luta onde fomos derrotados sem qualquer penalidade aparente, voltamos com a vida cheia, podemos inclusive alterar nosso personagem e o chefe continua com a energia que tinha no momento que nos derrotou. Isso deixa o jogo significativamente mais fácil, convenhamos. Caso consigamos derrotar o chefe sem perdermos e usarmos um continue, receberemos um códice com dados dele, mas aqui como vai estar tudo em japonês não vai fazer tanta importância assim. Nosso objetivo ao derrotarmos todos é somente alcançar uma pontuação maior e entrar no ranking do jogo.
Mega Man Battle & Fighters se diferencia de outros jogos de luta pelo fato dos chefes terem um padrão de ataque facilmente perceptível e previsível e já que estamos atirando neles, de podermos até mesmo acertar eles fora da tela. A ordem de sequência das batalhas é determinada por uma roleta, onde apertando um botão iremos parar a mesma e enfrentarmos o “dono da casa”, mas com um pouco de cuidado e atenção podemos escolher exatamente a ordem em que iremos enfrentá-los, se soubermos as vantagens e desvantagens de cada um e a ordem correta de adquirir suas habilidades a jornada fica ainda mais tranquila.
Pausar a luta no meio, permite a seleção de qualquer armamento ganho em batalhas anteriores e como já mencionei anteriormente, alguns são eficazes e outros não contra inimigos específicos. Vendo os 2 jogos como um, temos uma enorme lista de chefes abrangendo os primeiros sete títulos de Mega Man, certamente vai exigir um pouco de seu tempo encarar e vencer todos eles, o que pode compensar em parte a ausência de um modo multijogador.
A estrutura dos 2 jogos é praticamente idêntica, as mudanças encontradas do segundo em relação ao primeiro, são inicialmente a possibilidade de selecionar um lutador novo, já que em Mega Man 2: The Power Fighters além do trio anterior (Mega Man, Proto Man e Bass) temos a estreia de Duo.
As ordens dos chefes são diferentes em relação ao primeiro, podemos escolher diretamente contra quem vamos lutar primeiro e os desafios estão, por sua vez, mesclando chefes de diferentes jogos. Ao coletarmos gemas, deixadas pelos chefes durante as batalhas, podemos aumentar a barra de vida ou o poder de nossa arma.
E temos ainda cápsulas que permitem a assistência nas lutas de um ajudante, que varia conforme nosso escolha de protagonista. Mega Man é auxiliado por seu velho amigo Rush, Bass recebe o auxílio de Treble, enquanto Duo e Proto Man recebem auxílio de Beat. Cada ajudante tem um desempenho diferente dependendo da forma como você está agindo na luta, se você está atirando normalmente ou engajando seu tiro carregado, correndo contra o inimigo ou, no caso de Beat, fornecendo escudos com períodos limitados de invulnerabilidade.
Considerações finais
Será que a experiência de Mega Man Battle & Fighters vale a pena? Aqui a balança pode pender para um lado dependendo do seu nível de “amor” por Mega Man e por jogos do NEOGEO Pocket Color. No meu caso, nunca havia jogado os títulos e pouco sabia sobre a existência dos mesmos, então acabei ficando curioso para conferir, mas me decepcionei por estar praticamente tudo em japonês. Isso me levou a pesquisar e descobrir da existência dos mesmos, em inglês, como conteúdo adicional para o título Capcom Arcade 2nd Stadium. É altamente provável que no futuro acabe dando uma conferida nesta versão, já que lá eles vão estar em inglês.
Para os saudosistas e colecionadores de versões digitais de jogos do NEOGEO Pocket Color é uma oportunidade, até mesmo por já existir mais jogos dele na biblioteca digital do Switch, como a coletânea NEOGEO Pocket Color Selection Vol.1 que possui 10 jogos sendo eles: Fatal Fury: First Contact, King of Fighters R-2, The Last Blade: Beyond the Destiny, Samurai Shodown! 2, SNK Gals’ Fighters, SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium, Big Tournament Golf, Dark Arms: Beast Buster, Metal Slug: 1st Mission e Metal Slug: 2nd Mission.
Mas analisando Mega Man Battle & Fighters isoladamente, não fazendo parte de uma coleção de títulos para o NEOGEO Pocket Color, claramente temos coisas que acabam incomodando. Jogar o título dentro da “moldura” de um NEOGEO Pocket Color torna horrível jogar no modo portátil, já que tudo vai ficar muito pequeno. Jogar em uma televisão no entanto torna a experiência mais aceitável. Outra coisa que incomoda é a impossibilidade de jogar o jogo em outro idioma que não seja o japonês das versões originais.
Muito do que o jogo pode oferecer acaba se perdendo, ficar “caçando” as opções e ter que ficar olhando o manual não é algo agradável, diga-se de passagem. Em um mundo onde os jogos nem mesmo possuem mais manual, forçar o jogador a olhar o manual para traduzir o jogo é algo que incomoda. No entanto, ainda assim recomendo a experiência com o título, pois o mesmo me divertiu, já que nunca havia derrotado tantos chefes de Mega Man em um único dia e muitos desses eu nem mesmo conhecia. Entretanto, se você se interessou na proposta, e não é um apaixonado ferrenho pelo NEOGEO, considere ir atrás desse clássico através do Capcom Arcade 2nd Stadium, pois certamente será uma experiência bem mais agradável.
Galeria
Dando nota
Se você não é um fã ou curioso pelo NEOGEO Pocket Color a experiência pode ser frustrante - 5
Idioma apenas em japonês dificulta sua acessibilidade e compreensão - 3
Jogar no modo portátil do Switch é cansativo visualmente dada a moldura do NEOGEO Pocket Color - 6
Ambos os jogos funcionam muito bem e não apresentam engasgos - 7
Para a época e portátil em que foi lançado, os jogos visualmente era agradáveis - 7
Rebobinar a ação e continue infinitos garantem a acessibilidade aos jogos, menos que não sejam muito difíceis - 7.5
A proposta de ambos os jogos em si, de oferecerem apenas lutas conta chefes, funciona e é realmente divertido - 8
6.2
Regular
Mega Man Battle & Fighters reúne dois clássico interessantes, porém envelopados dentro da experiência oferecida pelo esquecido portátil NEOGEO Pocket Color. Seu maior demérito é estar totalmente em japonês, sem sequer localização em inglês. O mesmo título pode ser encontrado em outra coletânea da Capcom, em inglês e com uma experiência de tela melhor. Contudo, aos fãs de NEOGEO, o título pode agradar e ativar certas memórias nostálgicas. Na prática, é um destes jogos obscuros de Mega Man, mas com uma proposta bem divertida e que vale a pena se conhecer.