Análise | One Piece Odyssey
Disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series & PC
One Piece Odyssey é uma viagem pela memória de mais de duas décadas da obra de Eiichiro Oda. E com tantas histórias, é difícil apontar as preferidas dos fãs, mas certamente existem arcos que definem a obra como um todo. Aqui, em meio a um novo enredo, os jogadores são levados a relembrar, juntamente com a tribulação do Chapéu de Palha, quatro destes eventos epopeicos, enquanto tentam recuperar poderes e habilidades perdidas, em uma ilha repleta de segredos a qual a Marinha não quer que ninguém descubra a respeito.
Os jogos do universo de One Piece mudam de gênero de tempos em tempos. De tudo um pouco já foi experimentado. Tivemos luta, musou, aventura… e desta vez a experiência é no campo do RPG, mas daquele nostálgico modelo das batalhas por turnos, que tanto nos alegrou no passado de ouro de jogos como Final Fantasy. Contudo, Odyssey traz algumas ideias diferentes no conceito de grupos e turnos que vão temperar essa proposta. Mais a frente desta análise explicarei melhor estes detalhes.
Seu desenvolvimento ficou a cargo do estúdio japonês ILCA, Inc., que esteve nos ouvidos dos jogadores em 2021, pois foi o estúdio que trabalhou no remake de Pokémon Diamond & Pearl quando lançados no Nintendo Switch. Foi um trabalho difícil, mas remakes são sempre complicados a depender da direção tomada. Desta vez, para One Piece Odyssey, o mesmo estúdio teve liberdade para trabalhar do zero, tomando as decisões que achou melhor para um RPG no mundo criado por Eiichiro Oda. A Bandai Namco, como sempre, ficou com a responsabilidade da distribuição global do jogo em todas as plataformas lançadas.
Curioso apontar que neste momento o título está disponível para Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC. Seu lançamento aconteceu no último dia 13 de janeiro. E apenas o Nintendo Switch ficou de fora, uma pena. Resta torcer para que eventualmente o mesmo possa ganhar um port, pois graficamente daria para ser feito isso. Mas assim, dada a dimensão dos ambientes abertos, além de criaturas e personagens andando (ou paradas) pelo mundo, dá para entender o porque nesse momento optou por deixar o console da Nintendo fora da aventura. Seria realmente necessário adaptar o título a um console menos potente em processamento de elementos em tela.
Também é importante apontar que One Piece Odyssey apresenta localização em português, através de legendas e tradução de menus e textos presentes na obra. O que já é suficiente para dar uma alta acessibilidade do título aos jogadores brasileiros, inclusive a um público mais jovem que pode apreciar o jogo. Na questão do áudio, infelizmente não foi desta vez que aconteceu sua dublagem, ainda que o animê esteja recebendo uma excelente adaptação dublada atualmente. Porém ouvir os Mugiwaras em japonês ainda é um deleite para os fãs, felizmente. E as vozes em japonês contam com os dubladores da animação, o que já é perfeito, claro.
Naufrágio em uma misteriosa ilha!
A trama de One Piece Odyssey tem um início catastrófico quando toda a tripulação do Chapéu de Palha é pega em uma estranha tempestade ao se aproximar de uma certa ilha, e logo em seguida uma Knock Up Stream (aquele turbilhão que leva os navios aos céus) leva o Sunny para as alturas, enquanto estranhas nuvens colocam todos os membros da tripulação em grande risco. O barquinho então naufraga na costa dessa misteriosa ilha, sofrendo grandes avarias, porém os problemas estão apenas começando.
Momentaneamente separados, Luffy e seus companheiros logo conseguem se reunir, mas descobrem que a ilha é habitada por estranhas criaturas que não hesitam em lhes atacar ao menor sinal de aproximação. Sunny está encalhado, todo destruído, gravemente avariado. Franky se compromete a arrumá-lo, mas precisa ficar com a embarcação, enquanto o resto do grupo precisa explorar a ilha. Não só isso, mas Brook também perdeu seu corpo, que está no fundo do oceano, e agora é só uma alma sem corpo. É preciso restaurar o mini submarino que se encontra no avariado Sunny.
Assim, Luffy, Zoro, Sanji, Usopp, Nami, Chopper e Robin ficam responsáveis pela exploração nesse ponto inicial da aventura. E logo são confrontados por um estranho colosso, a qual não possuem qualquer problema em derrotá-lo, afinal, estamos falando de uma tripulação que já enfrentou grandes perigos nos mares da Grand Line. Porém as coisas se complicam quando uma jovem garota aparece no meio da batalha e coloca a mão em todos os Chapéus de Palha. Estranhos cubos saem de seus corpos e partem em diferentes direções da ilha.
Essa jovem é Lim, uma habitante da ilha que odeia piratas. Afinal, piratas matam e saqueiam, mas sabemos que os Mugiwaras não são assim. E ela tem essa estranha habilidade de retirar das pessoas suas experiências de batalha, o que as tornam fracas, fazendo que se esqueçam como lutam e até mesmo como usar seus poderes. A batalha contra o colosso se torna perigosíssima após a interferência de Lim. Por sorte, outro habitante da ilha intervém na batalha e salva todo mundo, este é Adio Suerte.
Adio, que esteve observando a tripulação todo o tempo, percebe que eles não são maus. E então ele explica um pouco da situação da ilha, que guarda um grande segredo em sua área central, que é protegida pelos Colossos e que toda ilha é cercada por estas nuvens cristalizadas que impedem que qualquer embarcação entre ou saia com segurança da ilha, que agora sabemos seu nome: Waford. Ele acredita que o dispositivo que pode parar as nuvens também estão sendo protegida pelos Colossos.
E aqui estamos diante do plot central de One Piece Odyssey. Apesar de Lim ainda desconfiar de que piratas ainda serão piratas no final do dia, Adio a convence a dar um voto de confiança aos Mugiwaras. Contudo Lim não pode desfazer o que fez. Os cubos agora estão espalhados pela ilha, e não pode trazê-los de volta, mas ela concorda em uma jornada com Luffy & Cia atrás dos cubos, afim de restaurar seus poderes de batalha para assim derrotarem os Colossos de Waford.
Só que há um porém, Lim explica que seu poder as vezes age de forma misteriosa, e assim certos cubos precisam ser acessados em uma outra dimensão chamada Memoria. Isso porque alguns poderes latentes surgem em momentos decisivos da vida, e estão atrelados a memórias do momento em que ocorreram. E para serem restaurados, é preciso viajar até essas memórias e reviver o momento, afim de despertar novamente tais habilidades.
Viagem ao passado
Note que o plot, bem interessante por sinal, combina perfeitamente com gênero de entretenimento proposto de um jogo eletrônico. Você tem os personagens atuais, fortes inicialmente, mas que perdem poder de batalha e precisam encontrar cubos que irão restaurar suas experiências de combate. Não só isso, se estamos em uma outra mídia, é perfeito reviver momentos marcantes do passado do mangá/animê, então viajamos por memórias, recriamos momentos épicos de batalhas, e tudo funciona bem porque é um videogame. Dá para ser assim. É uma boa sacada, convenhamos.
O conceito deste aspecto de viajar por memórias do passado é que o jogo não se propõem a recriar a história de One Piece de forma exatamente como ela ocorreu. A proposta é levar os Mugiwaras desse presente a qual já passaram por inúmeras aventuras (após o arco de Dressrosa, no mínimo) para experienciarem aquilo que já viveram. Mas o que isso significa na prática?
Um belo exemplo disso ocorre logo que o jogador vai para o primeiro ambiente da dimensão Memoria. A tripulação é levada para Alabasta, no arco a qual Vivi e Carue eram seus companheiros de viajem e precisaram evitar o golpe de estado planejado por Crocodile. Sabem que mais estava nesse momento da história? O Going Merry, o primeiro barquinho do grupo. E eles reencontram o Merry mais uma vez, com as lembranças de tudo que ocorreu com ele. É lindo, não?
Só que não é somente esse detalhe que vai mexer com a trama já conhecida pelos fãs. A tripulação se lembra do que ocorreu então alguns fatos irão mudar. Desta vez Robin está com eles, não é mais a vilã da época desse arco, e eles conversam sobre isso. A bomba no relógio? Nami se lembra de onde ela está, então eles não precisam procurar por ela (e a forma como eles resolvem isso é bem divertido). Muito da trama é modificada, justamente para não tornar enfadonho reviver tudo nos exatos detalhes da trama original.
Isso não ocorre apenas em Alabasta, mas também nos outros três arcos que o jogo propõe a criar essa experiência de perspectiva: Water 7/Enies Lobby, Marineford e Dressrosa. Pode parecer pouco, mas fato este é que Odyssey tem de 30 a 40 horas de gameplay, podendo esticar ainda mais, só com estes quatro arcos, mais o ambiente da ilha de Waford. Condensar um animê de mais de 1000 episódios não é fácil. E como o jogo começou seu desenvolvimento há alguns anos atrás, Wano ainda não havia sido concluído afim de ser cogitado aqui (e por isso, nada de Gear Five), além disso Pirate Warriors 4 trabalhou com o arco de Whole Cake, que era bem recente na época e se situa após Dressrosa.
Além disso, faz muito sentido escolher estes quatro arcos. Alabasta foi o momento crucial em que o bando, como um todo, precisou se tornar mais forte afim de derrotar a Baroque Works. Nami fez sua primeira luta, Chopper havia acabado de entrar no bando, Zoro aprendeu a cortar o aço. Todo mundo saiu dali mais forte. Enies Lobby então nem se fala, porque o inimigo era assustador na época. Luffy se reinventou com Gear Second e Third. Marineford foi matar ou morrer, ainda que o bando não estivesse lá, aqui é uma chance deles acompanhem o fatídico evento. Já Dressrosa, nós fomos apresentados ao Gear Four, enquanto os inimigos lá foram poderosíssimos frente ao que veio nos arcos anteriores antes do salto de 2 anos na trama (Ilha dos Tritões e Punk Hazard). Ou seja, faz sentido como lembranças que precisam ser revividas para restaurar o poder de luta do bando todo.
Contudo, o ponto crítico aqui é que viajar pelos arcos do passado até é divertido, mas há momentos em que também se tornarão cansativos. Isso porque apesar dos eventos mudarem aqui e ali, ainda assim o jogador está revivendo um ambiente a qual conhece muito bem, pelas demais mídias da série e até mesmo por jogos antigos da franquia, que também resumiam estas aventuras. Há muitas novas linhas de diálogos para quebrar esse sentimento de deja vu nestes momentos, mas ainda assim há aquele sentimento de pressa, de querer terminar eles logo para voltar a trama principal da Waford. E se existe esse sentimento, é porque eles não funcionam perfeitamente como deveriam.
Talvez o arco mais visível desse sentimento seja o primeiro, em Alabasta, a qual o jogo arrasta a lembrança por horas e horas a fio. Demora-se pra encontrar a Vivi, o ambiente do deserto sempre será um visual que cansará o jogador, independente do jogo, o confronto com Crocodile é somente o último do arco… a condução não é a ideal para o que se propõe a ser. Senti falta das batalhas individuais da tripulação. Tem muitos aspectos nesse primeiro arco de lembrança que força demais o tempo do jogo. Aspecto esse que é muito melhor condensado nos três outros arcos no passado (bem menores em relação a Alabasta), vai entender.
Grupos & turnos
Indo adiante, também é imprescindível abordar os aspecto de gameplay de One Piece Odyssey. A começar pelo sistema de batalhas por turnos em sistema de grupos isolados, porém simultâneos.
Antes disso é importante dizer que o jogador irá controlar todos os membros da tripulação do Chapéu de Palha, com exceção do Jinbe, a qual no ponto cronológico do jogo ele ainda não se reuniu ao bando. Tirando isso, será possível explorar o mundo e usar todos os demais membros em batalha.
Contudo, talvez para não inflar demais o começo da aventura, ou talvez para dar um sabor extra a frente da jornada, Franky e Brook vão levar um tempinho pra se reunir ao bando clássico. Isso porque, como explicado lá no começo, Franky precisa consertar o Sunny e Brook está sem seu corpo. Depois que estes pontos são resolvidos, eles se reúnem ao resto do grupo.
As batalhas aqui ocorrem como em um RPG tradicional, o jogador encosta em um inimigo visível no cenário e um palco de batalha irá se abrir. Cada combatente então terá uma ação por turno, seja atacar, usar um item ou dar um golpe especial. Quando todos realizaram suas ações, intercalando jogador e inimigos, o turno acaba e se tem início um novo turno.
Entretanto existe algumas ideias bem interessante aqui. Como o bando de Luffy é numeroso, o jogador sempre poderá trocar sua equipe em batalha a qualquer momento sem que isso lhe custe a ação do turno. Isso é ouro! A troca ocorre em tempo real e não tem limites, contanto que o personagem a ser trocado ainda não tenha realizado uma ação no turno em questão. Se já tiver atacado ou usado um item, não é possível trocá-lo.
As batalha ocorrem apenas com quatro membros, e os demais ficam na reserva. Então se na equipe ativa, você tem a Nami, mas ela é incompatível com os inimigos, é possível trocá-la por alguém que não esteja em batalha, sem que isso custe uma ação de turno. E na próxima rodada, se quiser voltar com a Nami, também pode, sem custo da ação. Pode ficar trocando todo mundo à vontade, sem qualquer penalidade.
Quanto ao sistema de combate, assim como muitos RPGs japoneses fazem, ele é baseado no clássico modelo do pedra, papel e tesoura. No caso aqui, é Poder que vence Velocidade, Velocidade que vence Técnica e Técnica que vence Poder. Nami e Usopp são velozes, bons em atacar a distância. Zoro e Robin são da classe técnica, enquanto Luffy, Sanji e Chopper são do grupo poder, sendo que Chopper também funciona como suporte, pois é o único do bando que pode curar seus companheiros.
E os inimigos também seguem estas três regras de classes, obrigando o jogador a fazer essa dança de trocas dos membros da equipe, sempre afim de combinar a classe que se sobrepõem ao do inimigo. Afinal, manter um membro de classe que tem desvantagem em relação ao inimigo significa tomar um dano catastrófico do mesmo.
Só que aí entra outro aspecto desse sistema de batalha: os grupos! Funciona desta maneira: os combates dividem inimigos e membros da tripulação em grupos separados. Assim, você precisa vencer aquele inimigo do seu grupo, para então ir ajudar o companheiro que está em outro grupo. Claro que dá pra trapacear esse conceito fazendo as trocas de membros, como mencionado, mas isso não desfaz o grupo de qualquer forma.
Contudo existem membros, como o Usopp que pode atacar inimigos à distância, fora de seu grupo, auxiliando assim outros membros. Nami, Luffy e Sanji (inicialmente) possuem ataques especiais que também alcançam inimigos em outros grupos, só que golpes especiais custam mana – no jogo é PT, Pontos de Tensão.
Também existe uma vantagem em atacar a distância. Se você eliminar os inimigos do seu grupo e passar a atacar a distância, os inimigos presos em outros grupos não podem lhe alcançar, pois precisariam eliminar os membros da sua equipe que estão no grupo. Assim você fica com um personagem que não sofre ataques quando elimina todos os inimigos de seu grupo.
É bem interessante como é possível criar algumas estratégia nesse sentido, o de evitar mandar todo mundo para o mesmo grupo. Até porque em inimigos poderosos ou chefes, é normal que estes tenham ataques amplos, que causam dano a todo mundo do grupo, então manter um pessoal fora do grupo em si, acaba sendo uma ótima estratégia.
A respeito de cada membro da Tripulação, todos possuem golpes baseados no que os fãs conhecem da obra. Ataques que podem acertar um único inimigo ou diversos, variando entre o grupo em que você se encontra ou o de aliados. A Nami, por exemplo, pode usar seu golpe Thunder Bolt Tempo para eletrocutar todos os inimigos de todos os grupos ao mesmo tempo, porém não é um golpe que causa tanto dano, mas ajuda bastante, especialmente quando consegue paralisar um ou outro adversário.
Golpes especiais consomem a barra de TP, pontos para uso, mas o jogador pode enche-la novamente usando ataques normais, que só vão causar dano considerável se levar em consideração o esquema de pedra, papel e tesoura já mencionado.
Explicado tudo isso, vem um pormenor crítico: mesmo sendo um sistema de combate clássico, mas cheio destes elementos diferentes, mais modernos em termos de liberdade de troca de membros, golpes especiais mais frequentes, grupos isolados de combates… o ponto é que as batalhas de One Piece Odyssey são… fáceis demais. Mesmo contra chefes, a batalha acaba sendo mais de exaustão, impedir que o chefe lhe mate, enquanto vai baixando sua vida, o jogador atento não vai encontrar muitos problemas.
E é difícil apontar os motivos do combate de ser tão fácil. Certamente existe um desbalanceamento em como o jogo fortalece o jogador rapidamente, deixando muito mais forte do que seus inimigos. O que fiz para contornar um pouco a ausência de dificuldade no meu gameplay foi evitar o griding (lutar demais para subir mais rapidamente de nível). Como o jogo é longo e as batalhas tentem a se repetir na exploração de mundo, cheguei a conclusão que seria viável passar a evitar inimigos sempre que possível. Com isso os personagens não sobem tanto de level e evitam ficarem absurdamente fortes.
Parece uma tática ruim e estranho, mas na verdade RPGs tendem a exagerar na exposição de inimigos justamente porque o jogador sente essa necessidade de lutar contra tudo que aparece na tela, efetuar o griding, e se fortalecer muito rapidamente, afim de equilibrar a força com a escalada da dificuldade. Como aqui a dificuldade escala muito devagar, lutar demais vai estragar quem prefere um desafio melhor equilibrado. Fora isso, como expliquei acima, certos pontos do jogo se arrastam demais, sendo realmente desnecessário a quantidade do combate em paralelo ao desenrolar da trama.
Então esse é meu conselho, se pode escapar de uma batalha contra um inimigo já conhecido, assim o faça. Não se preocupe com a experiência, pois ela virá nos combates que não puder evitar e isso deixará o jogo equilibrado no nível de força entre jogador e CPU.
Explorando o mundo de One Piece
Outro aspecto de qualquer RPG, além de sua história e sistema de batalha, é o miolo que cola narrativa com ação, a forma como o jogador explora o mundo e interage com tudo ao redor. Em One Piece Odyssey encontramos amplos ambientes, porém eles não são totalmente livres para explorar, ao menos não inicialmente. A ilha de Waford não se abre por completo para exploração, sendo necessário trilhar o caminho conduzido pela trama. E o mesmo ocorre com os mundos de lembranças, ainda que nestes o jogador possa explorar mais os ambientes, afim de destravar diálogos dos personagens a respeito do que eles se recordam de cada cenário ou situação.
Existem inúmeros NPCs nas lembranças, vivendo a vida em Alabasta ou Water 7, por exemplo, e o jogador pode interagir com os mesmos, contudo, tirando um caso ou outro, estes NPCs nunca tem muita coisa pertinente ou interessante a dizer. O mais interessante são os pontos de lupa, que abrem diálogos entre os Chapéus de Palha e também seus companheiros de viagem, como Vivi ou a própria Lim, discutindo sobre a memória ou até mesmo bobagens do passado.
Também há muitos itens espalhados pelos ambientes, que permitem que o jogador crie pequenos itens consumíveis em batalha, sejam tipo de refeições criadas por Sanji ou bolinhas explosivas feitas por Usopp. Estes itens são encontrados em baús ou caixotes espalhados pelos cenários. Luffy é o mais útil para coletar itens, pois pode-se esticar seus braços ao alcance dos itens, sem que o jogador vá até os mesmos. Aliás, cada personagem pode ser usado para antes pelo mundo, sendo possível trocar entre eles a qualquer momento. E cada Mugiwara tem certa serventia no mundo.
Sanji pode enxergar itens como ingredientes para criar refeições que os demais personagens não enxergam. Diferente de Nami, que consegue enxergar dinheiro perdido nos ambientes. Já Zoro pode cortar portões e baús de ferro. Chopper consegue entrar em pequenos espaços, enquanto Usopp pode atirar em ninhos altos para derrubar itens. É um aspecto de interação bem mais legal do que ocorre em One Piece World Seeker, que em seu lançamento só se permitia jogar com Luffy.
Ao longo da aventura o jogador também passa a conhecer outros mecanismos de mundo, como atalhos entre pontos já explorados (que mais a frente, quando a progressão narrativa permitir, deixará o jogador visitar estes ambientes já conhecidos), e também realizar missões paralelas e secundárias, que irão envolver coisas simples do gênero RPG, como levar itens de um NPC a outro, coletar coisas que os mesmos pedem ao batalhar com criaturas, caçar bandidos procurados e afins.
Boa parte das missões secundárias são realizadas durante a própria progressão da história, não exigindo que o jogador se desvie demais de seus objetivos principais, mas ainda é uma opção bacana para quem não quer jogar de maneira acelerada. Fora que tudo no jogo tem diálogos entre os personagens, e tudo é feito com muito bom humor, típico da escrita de One Piece, que sabe ser reflexivo e sério nos momentos de tensão, enquanto também é leve e descontraído em todos os demais momentos.
No geral, ainda que muito simples, gosto como Odyssey apresenta seu mundo e suas pequenas interações. Por exemplo, nas masmorras do jogo, existe até mesmo uma certa verticalidade, o jogador sobre em estruturas, vê caminhos que ainda não percorreu, vai pra lá, vem pra cá, ainda que sempre haja somente um caminho certo, mas nos becos sem saídas sempre haverá algo, seja um baú, seja um inimigo. Também não é um jogo que explora a fundo puzzles, e os poucos que existem são bem simples.
Considerações finais
One Piece Odyssey é um jogo divertido, especialmente para fãs da obra de Eiichiro Oda, que colaborou em alguns aspectos para o desenvolvimento do jogo, ao ter feitos diversos rascunhos para muitas das criaturas do jogo (e o autor curte muito desenhar animais estranhos), assim como os visuais de Adio e Lim. Oda também supervisionou pontos narrativos de roteiro, assim como sempre fez em outras mídias que trabalhem histórias paralelas ao mangá, como as atuais animações para o cinema ou até mesmo o live-action em produção pela Netflix. O autor coloca um dedinho em tudo, tamanho é sua paixão por sua criação.
Dito isso, achei muito divertido a trama proposta e os personagens criados pela obra. Adio tem uma boa apresentação e logo de cara deixa o jogador com uma pulguinha atrás da orelha ao não saber realmente suas reais intenções. Lim, mais ingênua, acaba acompanhando o grupo pela aventura e cria muitos momentos interessantes de diálogos, especialmente pelo fato dela ser muito sozinha e não entender muito bem o conceito de companheiros e amizade, sempre estranhando os laços da tripulação e daqueles que são seus companheiros.
A experiência na ilha de Waford é muito boa, porque é um ambiente inédito que o fã tem a possibilidade de conhecer e explorar pela primeira vez. Fora que ela tem enigmas dignos de uma obra de One Piece, e você anseia por destravar os segredos dessa ilha. O que ela realmente representa e o que diabos está escondendo. Já na dimensão de Memoria, revivendo o passado, fiquei aliviado de não precisar seguir a história à risca de como ela aconteceu, permitindo que o jogo explorasse novos caminhos, conversas dos Mugiwaras do presente atual sobre o que passaram e reencontrando companheiros de longa data. A condução se arrasta na experiência de jogo, mas narrativamente é sempre muito divertido.
Vale aquela pergunta de quem não é fã e nunca acompanhou One Piece. Vou me divertir? Vou entender? Aí é uma questão complicado. Sinceramente dá para acompanhar a trama, tomando grandes spoilers se algum dia resolver assistir One Piece, mas não acho que o jogador que não conheça a obra e que não seja fã, vá conseguir apreciar as nuances daquilo que a narrativa se propõe a te contar e mostrar. E somente como um RPG de turno, o jogo se sustenta de forma mediana, sem ser incrível, mas também não é ruim.
De fato é na parte de gameplay que o jogo derrapa um poucos e o jogador não tiver um cuidado com o balanceamento do combate. A ausência de uma opção de seleção de dificuldade faz um pouco de falta aqui. Gostei muito, mas muito mesmo do sistema de combate, de poder trocar os membros da equipe no meio de batalhas, dos golpes usados, do sistema de grupos isolados. Toda a estrutura para combate é excelente, mas o pecado está em não conseguir entregar ao jogador um modo de dificuldade mais elevado, mais desafiador.
Se o jogo foi desenvolvido pensando no público fã do mangá e do animê, independente de ser jogador ou veterano de RPGs, não teria problema nenhum na inserção de uma opção de dificuldade elevada para quem já está habituado com o gênero. Especialmente quando se pensa no público japonês, tão fã e habituado com o gênero. Não precisava que o jogo fosse tão fácil assim.
Nos aspectos técnicos, não tenho muito a pontuar. Visualmente o jogo é muito bem feito e o 3D do jogo é expressivamente bem animado. Os personagens tem boas expressões faciais e as criaturas criadas para a aventura são incríveis. Os cenários, principalmente aqueles que os fãs conhecem, foram recriados com uma gama de detalhes impressionante, ainda que nem todos sejam fiéis ao que de fato ocorreu no passado. E mesmo assim existe uma explicação dada por Lim para que a dimensão de Memoria não recrie com perfeição essas lembranças. Uma recordação é falha, porque não conseguimos nos lembras dos detalhes sempre com exatidão perfeita. Memórias podem ser traiçoeiras também. Gosto desse conceito na hora de construir estes mundos.
Na parte de som, também não há o que reclamar. Os dubladores japoneses recriam as vozes de seus respectivos personagens com perfeição. E há muitos, mas muitos diálogos em áudio ao longo de toda a aventura. Há realmente poucas situações em que há somente texto, e mesmo assim, também bato palmas para a Bandai Namco pela decisão de localizar o jogo com textos e legendas em português para os fãs brasileiros. Quanto aos efeitos de som, como golpes e outros efeitos sonoros, tudo está ótimo. Inclusive a trilha sonora, que não usa muito a trilha do animê, mas segue um padrão bem semelhante.
Ao fim, One Piece Odyssey é uma linda obra para fãs. Como um jogo eletrônico vai escorrer em alguns aspectos técnicos de gameplay e dificuldade, como todo RPG vai ser repetitivo em alguns momentos, mas ainda assim é um título que entrega boas e novas ideias a um esquema de turno que é uma relíquia ao passado deste gênero. Gostei muito das ideias, adorei a liberdade de utilização de todos os membros da Tripulação, e claro, vibrei com o fato de ter o poder de escolher a estratégia de combate do bando, quem vai lutar, quem vai atacar primeiro, qual golpe usar e como vencer o combate contra alguns dos icônicos vilões da série. Como fã, isso realmente não tem preço.
Galeria
Dando nota
Universo de One Piece é sempre maravilhoso para se contar novas e intrigantes aventuras pela Grand Line - 9
Jogar com todos os membros da tribulação, na exploração e nos combates em RPG, é o que fãs pediam há tempos - 9
Mesmo para um RPG por turno clássico, entrega-se boas e criativas ideias (troca em tempo real e combate de grupos) - 9
Baixa dificuldade do jogo torna as batalhas pouco desafiadoras, o que frusta um pouco frente a um sistema tão legal de combate - 6
Localização em português por textos e legendas dá acessibilidade ao público brasileiro - 8
Arcos do passado arrastam um pouco o ritmo do jogo, especialmente Alabasta - 7
Reviver as lembranças sob a perspectiva da Tripulação do atual presente cria momentos bem interessantes de diálogos - 8
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Fanbase
One Piece Odyssey é um jogo claramente feito para os fãs da obra de Eiichiro Oda. Aqui encontramos uma história inédita que coloca a tribulação do Chapéu de Palha em uma curiosa aventura em uma ilha misteriosa em meio a lembranças que precisam ser experienciadas mais uma vez. Como um Jogo de RPG por turno, há ideias novas e interessantes, como a troca de membros a qualquer momento dos combates e o sistema de grupos de confronto. A exploração não é totalmente livre, mas guarda boas surpresas. O grande porém do jogo é sua baixa dificuldade nos combates, que se tornam repetitivos e desinteressantes se o jogador não tomar cuidado e subir demais seu nível, ficando forte demais frente aos adversários. Vale a jornada, mas o desafio poderia ser um pouco melhor equilibrado.