Análise | Blanc

Disponível para Nintendo Switch & PC

Blanc é um carismático jogo independente, sobre cooperação entre dois pequenos animais que se perdem de suas respectivas famílias e descobrem que, para reencontrá-los, precisarão trabalhar juntos, ainda que suas naturezas sejam conflitantes, afinal é um predador, enquanto o outro uma presa. Uma jornada em uma região tomada por um duro inverno, com uma linda direção de arte preto e branco.

O jogo é um projeto de um estúdio francês chamado Casus Ludi, sendo o primeiro jogo eletrônico do estúdio. O mesmo está sendo distribuído globalmente pela Gearbox Publishing. O título foi lançado no último dia 14 de fevereiro, e está disponível apenas para Nintendo Switch e PC, e no momento não há informações dele em outras plataformas.

Quero fazer um parênteses aqui, convidando o leitor a visitar o site oficial do jogo, a qual irá encontrar um tutorial ensinando, a qual se interessar, a fabricar versões em crochê dos filhotinhos protagonistas da aventura. Certamente é um mimo muito diferente, e uma forma divertida de entregar um extra bacana no site oficial.

De volta ao jogo, Blanc é um jogo de aventura cooperativa, a qual dois jogadores assumem o controle de um filhote de cervo e um filhote de lobo, que precisam rastrear suas famílias, enquanto lidam com um ambiente bloqueado por uma nevasca, obrigando-os a trabalham juntos afim de irem abrindo caminho em uma gélida jornada. Observe, explore e resolva pequenos puzzles, indo de desafio a desafio, enquanto acompanha os desdobramento dessa inusitada jornada.

Então sim, trata-se de um jogo que pede para ser apreciado de forma cooperativa para dois jogadores. Dá para jogar somente em single player? Até dá, mas aí o jogador controla ambos os animais de forma alternada (em um mesmo controle) e assim perde parte da praticidade deles interagirem de forma mais orgânica e eficiente. Não é o ideal e nem o indicado. A melhor experiência de Blanc é com dois jogadores juntos na jornada dos filhotes.

Para terminar esta parte introdutória da análise, vale comentar que Blanc possui localização em português, contudo não espere por diálogos em áudio. O jogo não tem muito texto, apenas alguns menus e pequenas explicações de tutorial se fazem presente ao longo do jogo. Mesmo assim, é bacana isso esteja em nosso idioma. Como sempre digo, é uma forma de tornar acessível ao jogador, especialmente os mais novinhos, que se sentem intimidados com demais idiomas.

Siga a trilha

A jogabilidade de Blanc é extremamente simples, o que funciona muito bem a uma audiência mais casual. Como é um jogo cooperativo para duas pessoas é perfeito para jogar com um sobrinho, namorada, filho, esposa etc. Qualquer pessoa não habituada a videogames pode vivenciar a experiência do título.

No contexto geral do layout dos controles há apenas dois botões de ação, uma para pulo e outro para as demais tipos de interações, a qual daqui a pouco irei abordar mais. Fora isso, basta usar a alavanca do controle para movimentar seu personagem. É bem simples, o que o torna acessível a qualquer tipo de jogador.

Cada um dos protagonistas, o Cervo e o Lobo, possuem funções diferentes que são mostradas ao longo da aventura. O Cervo pode saltar em locais mais altos e consegue com sua cabeça empurrar objetos grandes, enquanto o Lobo pode se esgueirar por pequenas passagens e também usar seus dentes para roer cordas e puxar pequenos objetos. Eventualmente, quando os protagonistas entendem que precisam confiar um no outro, o Cervo também passa a permitir que o Lobo suba nas suas costas e pule em plataformas mais altas a qual não alcançaria sozinho. Estas são as interações mencionadas no parágrafo anterior.

É esta dinâmica, de ajuda mútua, que define a jogabilidade de Blanc. Um jogador não pode avançar se não ajudar outro a passar por algum trecho a qual sozinho não conseguirá. Cervo e Lobo precisam avançar juntos, em uma única tela fixa, então precisa estar sendo dentro de um certo enquadramento, ainda que a câmera consiga se afastar em uma distância bem satisfatória, afim de sempre mostra ambos os filhotes.

Ao longo da jornada, que nem é tão longa assim – o título tem entre duas a três horas apenas – o Cervo e o Lobo irão encontrar outros animais, e então será necessário auxiliá-los para que todos possam continuar em seus respectivos caminhos. Por exemplo, uma mamãe pata que precisa de ajuda para seus patinhos não sejam levados pela nevasca ou um uma dupla de cabritos que passam a imitar alguns gestos do jogadores e então todos trabalham juntos momentaneamente.

E boa parte da mecânica de Blanc é mais ou menos isso, vá seguindo a trilha na neve, descubra onde pular, onde se esgueirar, ou interagir, e em como avançar quando houver elementos bloqueando o caminho, pode ser uma cerca, uma vila, matagal e outras construções abandonadas e soterradas pela grande nevasca. Cada área é composta destes pequenos puzzles de observação e interação.

Aventura preto e branco

Um importante destaque no título é, sem dúvida alguma, sua Direção de Arte. Isso porque todo o mundo de Blanc acorre apenas em preto e branco, e algumas tonalidades de cinza em alguns ambientes. Não há cores vivas aqui. Certamente é uma escolha que casa com um ambiente coberto por neve, o que deixa muito de seus cenários completamente na cor branco, deixando o preto apenas para desenhar linhas e sombras de objetos e locais.

Além disso o jogo é totalmente desenhados à mão, optando por gráficos que misturam efeitos 2D e 3D. E os detalhes são encantadores, desde o vento passando pela folhagem da vegetação, seja pelas marcas na neve quando os animais estão se locomovendo em áreas com bastante cobertura da mesma.

Fora que é uma arte muito rica em detalhes, ainda que ausente de cores. As construções exibem texturas e muitos detalhes, como os tijolinhos de construções antigas, tomados pela neve, e até mesmo no bosque, que é um dos locais iniciais da jornada, as elevações e inclinações dos terrenos são repletos de detalhes, de terra, vegetação, áreas congeladas etc.

A aventura se passam tem total exposição de diálogos, os animais não falam, mas se expressam constantemente, por pequenos uivos e gestos, como medo e apreensão. Torna fácil entender que estão sentido, e garantem que o jogador fique imerso em uma narrativa sentimental, apenas observando os filhotes em sua jornada até suas respectivas famílias.

Além disso a trilha sonora é bem tocante e comovente. Há muito piano como principal instrumento musical, e isso combina com esse conceito de vastidão gélida. A trilha é propositalmente melancólica, ainda que saiba criar momentos de melhor astral, especialmente quando os filhotes vencem um desafio muito complicado.

Considerações finais

Blanc é um jogo independente repleto de ternura, que demonstra ter sido criado com o coração, e que combina muito bem com o conceito de diversão em família que o Nintendo Switch possuí em seu DNA. Ainda que o título possua uma adaptação para single player ou tenha um coop online para jogar com um amigo, certamente a melhor experiência de Blanc é com duas pessoas sentadas lado a lado em um sofá.

Sua jogabilidade simples certamente torna o título acessível a qualquer pessoa, habituado ou não com videogames. Claro que isso significa que jogadores habituais, que buscam desafio e complexidade precisa ter esse olhar para com este título. Blanc não é sobre desafio, mas sobre uma jornada para relaxar e curtir sua ambientação e narrativa. É um jogo para ter tranquilidade.

Certamente a direção de arte é um dos grandes trunfos para a proposta casual, trazendo charme e beleza visual aos gráficos que misturam 2D e 3D, enquanto entrega uma ótima imersão a atmosfera de um inverno penoso para o ambiente ao redor de seus protagonistas. O uso da cor branco como uma tonalidade que passa tensão e pavor, dadas as circunstâncias, é realmente interessante. Não são as sombras e o preto que dão o medo aqui, é justamente o contrário, e por isso que o clima de temperaturas negativas pode soar tão assustador ou preocupante.

Sendo um jogo independente, sempre acho complicado pontuar pontos críticos, mas claro que pontos fracos existem, e não são um grande problema, mas é válido serem observados. O tempo completo da experiência, por exemplo, de 2 a 3 horas é algo que nem todo mundo apreciaria, ainda que pessoalmente tenha achado o bastante pela proposta e por tudo que as mecânicas oferecem.

A respeito das mecânicas, essa seria uma outra crítica, já que o gameplay tem uma certa progressão ao longo da jornada, mas é tudo muito simples. Parece que o título poderia explorar mais um potencial latente, contudo a aventura termina antes disso, e isso até faz sentido, já que aumentar o desafio o tornaria mais complexo, e o jogo parece deixar bem claro que não há tal intenção.

Portanto a jogabilidade realmente se resume a antes pelo mundo, seguindo a trilha no chão, resolver puzzles simples que permitem ultrapassar obstáculos e interagir e ajudar os demais animais que estão pelo caminho. Não há realmente grandes surpresas ou pontos inesperados. O que talvez possa soar um pouco decepcionante talvez.

Há talvez um outro ponto que vale ser alertado foi ter encontrado alguns bugs ao longo da minha experiência. Tive momentos em que o Cervo travou e não conseguia sair de um certo local e em outro, bem no ponto inicial do jogo, o Cervo desceu até uma trilha que claramente somente o Lobo tinha que andar, e isso fez com o que jogo não ativasse uma cutscene para que a aventura continuasse. Foi preciso reiniciar essa parte, pois o Cervo não conseguia retornar para sua própria trilha. A própria mobilidade com os protagonistas chega a ficar um pouco truncada em alguns momentos, deixando claro ao jogador que não dá pra andar ou ir para qualquer lugar. Não são pontos terríveis, mas existem e certamente são comuns em títulos independentes que não possuem o orçamentos de grandes títulos blockbusters.

Mesmo com todas estas pequenas observações, ainda digo que Blanc é um título interessante para quem procura algo para jogar de forma mais casual com alguém. É bonito, tem uma boa imersão, controles que o tornam muito acessível a qualquer pessoa e é uma diversão para dois, especialmente pelo trabalho de comunicação entre os jogadores, a qual ambos precisam trabalhar juntos para continuar a aventura. Não é nada que reinvente o gênero ou que entregue uma experiência ímpar, contudo, é mais uma opção aos fãs desse tipo de experiência.

Galeria

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Dando nota

Bela direção de arte, com lindo visual com gráficos em preto e branco - 8.8
Jogabilidade simples e casual, puzzles não oferecem grandes desafios, mas exigem trabalho em equipe dos protagonistas - 7.5
Layout de controle super acessível, usa-se apenas dois botões do controle (pulo e interação) - 7.5
Aventura curtinha, de 2 a 3 horas, dura o necessário, contudo poderia durar um pouco mais - 6
Existem alguns bugs que exigem que o jogador reinicie alguns trechos, principalmente se um personagem travar no cenário - 6
Mais divertido se for apreciado em duas pessoas, de prefrência em um coop local - 8
Agradável trilha sonora, combina com a ambientação de desolação invernal - 7.5

7.3

Bom

Blanc é um jogo independente focado em um entretenimento casual, perfeito para os valores de diversão em família que a plataforma do Nintendo Switch tanto se orgulha de ter. Sua experiência é muito melhor compartilhada em modo cooperativo local, com duas pessoas num mesmo ambiente, ainda que haja suporte para single player e coop online. Sua jogabilidade consiste em avançar por uma curta aventura, de 2 a 3 horas, na pela de dois filhotes, um Lobo e um Cervo, por meio de um ambiente de duro inverno, enquanto precisam seguir a trilha de seus familiares, solucionando puzzles e auxiliando outros animais. Destaque para sua bela direção de arte, com visual ausente de cores, e controles acessíveis e causais, perfeito para jogar com conhecidos que não estão habituais a videogames.

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