Mega Man Battle Network Legacy Collection é uma coletânea com uma energia bem singular dentro do universo de Mega Man, porque nos leva para uma das viagens mais diferentes a qual o robô azul já teve, enquanto repagina tudo, muda gênero, e mesmo assim ainda sentimos a vibe tão peculiar do mundo de Mega Man e suas batalhas. Uma série que surgiu no Game Boy Advance há mais de duas décadas e agora chega a uma nova geração de consoles, e de público, apostando bastante na nostalgia da obra.
A coleção foi lançada no último dia 14 de abril, tendo sido produzida dentro dos próprios estúdios internos da Capcom, que também atua aqui como a distribuidora global. É de se observar que a coletânea foi dividida em dois jogos, com denominação Volume 1 e Volume 2. Este review irá abordar ambos os volumes. Curioso apontar também que os títulos não foram lançados, ao menos neste momento, para os consoles da família Xbox, a qual possuem outros jogos dessa série Legacy Colletion (Mega Man, X e ZX), a qual a Capcom tem produzido ao longo dos últimos anos.
Quanto a divisão de jogos de cada volume, foram divididos 3 jogos para cada um, já que esta série possui 6 jogos em seu total. Contudo, a partir do terceiro game, começaram a sair duas versões de um mesmo jogo, tal como ocorre com os títulos da franquia Pokémon. A Capcom surfou nessa onda, que era muito comum nos portáteis da Nintendo e aplicou na série Battle Network. Então a divisão para esta Legacy Colletion ficou desta maneira:
- Volume 1
Mega Man Battle Network
Mega Man Battle Network 2
Mega Man Battle Network 3 (Versões Blue & White)
- Volume 2
Mega Man Battle Network 4 (Versões Red Sun & Blue Moon)
Mega Man Battle Network 5 (Versões Team ProtoMan & Team Colonel)
Mega Man Battle Network 6 (Versões Cybeast Gregar & Cybeast Falzar)
Lembrando que essa divisão de versões não significa jogos diferentes. Nada disso, é justamente o contrário. As versões seguem uma mesma narrativa, porém cada versão tem pequenas mudanças aqui e ali. Alguns tipos diferentes tipos de inimigos, customizações exclusivas, pontuais cartas de ataque únicas e alguns chefes exclusivos, contudo o plot central, progressão e jogabilidade acabam sendo idênticas. Ambas as versões também compartilham boa parte dos mesmo inimigos e do catálogo de cartas de ataque, as chamadas Battle Chips, a qual explicarei mais a frente desta análise. Ou seja, é uma coisinha aqui e ali. Nada que justifique, por exemplo, jogar ambas as versões tendo acabado de encerrar uma delas.
De volta a coleção, também é importante aportar que assim como a demais anteriores lançadas, Mega Man Battle Network Legacy Collection não é um remake, ou seja, não está sendo refeito para novas plataformas. Trata-se de uma remasterização, e um tanto port, a qual se procura manter a fidelidade gráfica dos jogos originais, na arte em pixel, apenas dando suporte a monitores e telas em resolução muito maior a qual o GBA podia oferecer há 20 anos atrás.
A coleção tem aquelas opções de filtros, que podem ou não amenizar o efeito dos pixels estourados, mas o resultado é bem satisfatório nas atuais resoluções de Alta Definição. Além disso o jogo roda em um enquadramento mais fiel aos jogos originais, 4:3 (quadrado, fullscreen) oferecendo bonitas artes que ficam no lugar das barras pretas laterais. Claro que também dá para esticar os gráficos, para àqueles jogadores que não importam com esse absurdo visual (não faça isso se puder, mantenha o padrão original). Enfim, tem opções visuais para todos os gostos, afim de deixar o jogo mais acolhedor ao gosto do jogador.
Um último detalhe a se mencionar nesta introdução é que infelizmente nenhum dos jogos apresentam localização em português, o que era bem normal há duas décadas atrás, quando quase nada era localizado em nosso idioma. A nova coletânea não teve a pretensão de adicionar novos idiomas a obra original, mantendo apenas o inglês e o japonês, comum a época do lançamento. E em se tratando de um RPG de cartas por turno, significa que para apreciar uma experiência mais completa de jogo, segue sua narrativa em inglês é o mais indicado, até mesmo para entender para onde ir e explorar dentro do mundo proposto. Acessibilidade pode ser um problema para a criançada que não estiver habituada a se virar com um inglês mais básico. Tenha então isso em mente.
Futuro digital
Olhando para 2023, o mundo de Mega Man Battle Network pode não parecer tão futurístico assim, afinal é o mundo da era digital, das pessoas vivendo através da internet, se conectando e realizando atividades online, ainda que muita coisa também aconteça no mundo real, porém muitos aparelhos possuem conexões online, desde o fogão até a casinha do cachorro. Os crimes digitais estão em alta, e as pessoas precisam viver suas vidas lidando com o constante até de vírus em tudo que tenha conexão online. A realidade atual não parece tão distante assim desse conceito.
Contudo volte para 2001, data em que o primeiro jogo dessa série foi lançado. Nessa época realmente vivíamos os primeiros anos da era digital, ainda com internet discada, CD-ROM, videogames sem conexões online. Basicamente a pré-história da Internet. Então Battle Network enxergou apenas alguns anos à frente (e acertou muita coisa). É até curioso que oficialmente o jogo se passa em 200X, apenas com o último dígito oculto. Tanto é que o primeiro Mega Man (o clássico, lá de 1987), se passa no ano de 20XX, dois dígitos ocultos. Não que as séries se entrelacem, pois normalmente a Capcom trata as séries como “universos paralelos” entre si.
Mas o fato é que o mundo de Battle Network é curioso e interessante. Nesse universo cada pessoa possui um PET (Personal Terminal), que não seria exatamente como avatares a qual utilizamos na internet, e sim uma evolução disso, pois o cada PET tem um simulador de personalidade, provido de uma certa inteligência artificial, e conversa com seu dono através de um aparelho eletrônico. É quase como um “pokémon digital“. A pessoa envia seu PET na internet para lidar com vírus, viajar pela internet para conversar com amigos no mundo real, executar funções, assim como para pesquisar por informações etc.
E é aqui que conhecemos Lan Hikari, um menino de 11 anos que possui um PET denominado MegaMan.EXE, ambos protagonistas de todos os seis jogos da franquia. Lan vive na cidade de ACDC Town, junto com diversos amigos e seus PETs também únicos, como GustMan.EXE, Roll.EXE e Glyde.EXE. Sim, todos os personagens digitais possuem o .EXE, fazendo referência a linguagem de informática de “arquivo executável“. Desde cedo as crianças possuem PETs e até mesmo na escolha aprendem como conectá-los na internet e usá-los para lidar com vírus e qualquer outro tipo de ameaça virtual.
Isso porque em um mundo que respira o meio digital as maiores ameaças ocorrem de crimes cibernéticos, normalmente de uma organização misteriosa chamada WWW (World Three). A sociedade sofre então com hackers e pandemia de vírus digitais, e qualquer cidadão está a mercê destes problemas, que podem causar grandes problemas estruturais e financeiros no mundo ou pode simplesmente fazer com que o fogão da mãe de Lan simplesmente pare de funcionar.
Sim, é esse é o nível do conceito narrativo, afinal é uma aventura juvenil, então são as crianças que vão sempre se envolver nos problemas dos crimes cibernéticos de dominação mundial, e claro que Lan vai estar medido em tudo isso, já MegaMan.EXE é um PET extremamente habilidoso. Não por nada, claro, pois conforme vai se aprofundando no mundo dos jogos, descobrimos que o pai de Lan é um grande cientista, famoso por aprimorar muito a tecnologia dos PETs, sendo inclusive o criador desta versão digital de Mega Man, vindo de um projeto super experimental que resultou em um PET único e singular.
Por conta deste fato, Lan está sempre no meio destes em grandes problemas envolvendo malfeitores tentando dominar a internet e causando problemas no mundo online. Em cada um dos seis jogos haverá sempre uma ameaça digital, seja da organização WWW, seja de algum outro vilão em posse de um PET superpoderoso, ou tentando criar um. Os enredos vão desde ataques para controle da mente, ciberataques na escola, invasões em aparelhos eletrônicos, ataques hackers, roubos de PETs, sequestro do pai de Lan e por aí vai. São histórias comuns ao gênero aventura, quando o protagonista é um jovem entrando na adolescência. Afinal, o público alvo da série sempre foi infanto juvenil, a qual o próprio GBA era direcionado. E tudo bem isso!
Chips de batalha
Explicado o contexto do universo de Battle Network, resta agora desbravar como todo esse mundo se traduz nas mecânicas e jogabilidade dos seis títulos presentes nessa coletânea. Para isso é preciso dizer que apesar das batalhas ocorrerem sempre no mundo digital, sob o comando de Mega Man, há também muita inteiração e exploração no mundo real, sob o controle de Lan. Todos os jogos da série se dividem entre estes dois momentos, com ambos os protagonistas, Lan & Mega Man.
Diferente dos jogos de ação em plataforma de outras séries mais tradicionais do universo de Mega Man, em Battle Network os jogadores irão encontrar uma jogabilidade de batalhas por sistema de cartas, em tempo real, porém com turnos de reabastecimento, enquanto também há um arena em grades, dividas por dois lados opositores. Soou complicado, não? No começo é meio intimidador mesmo. Mas vamos por partes para quem nunca jogou nenhum dos títulos da série.
Primeiramente é preciso entender que Mega Man explora um mundo digital representado visualmente por inúmeros corredores que se dividem em diversos caminhos, que levam a novas áreas e mais corredores. Ao explorar estes ambientes você irá encontrar outros NPCs, programas de computadores ou outros PETs virtuais que estão navegando pelo mundo online. É possível conversar com tais personagens, aprendendo novas informações de história ou mecânicas ou até mesmo comprando itens daqueles que vendem mercadorias.
Em certos ambientes Mega Man pode interagir com objetos para resolver pequenos puzzles que abrem novos caminhos online, seja encontrando formas de derrubar muros digitais, adquirindo senhas que quebram cubos bloqueados ou até mesmo outros tipos de objetos que afetam como Mega Man anda pelo mundo digital.
Já os inimigos, estes não aparecem no cenário. Eles surgem conforme o jogador vai andando pelo mundo digital, naquele velho sistema de encontros aleatórios presentes nos antigos RPGs. De repente a tela para, uma arena de batalha se apresenta e você precisa eliminar os inimigos para seguir explorado o mundo digital. Andou mais um pouco, mais uma batalha aleatória, e assim por diante. É um formato meio cansativo nos dias atuais, verdade. E a coletânea não traz uma opção de diminuir a quantidade de encontros, já que desligá-los não seria o ideal por que faria o jogador apenas batalhar em pontos chaves da história e atrapalharia o sistema de cartas (a qual já irei explicar).
Indo adiante, enquanto quando um encontro aleatório é acionado, o jogador é levado para uma arena de batalha composta por um tabuleiro com nove quadrados vermelhos de um lado e nove quadrados azuis do outro. Mega Man pode se mexer horizontalmente e verticalmente nos quadrados vermelhos, enquanto os inimigos fazem mesmo movimento nos azuis. Mas antes de começar a batalha, existe um momento de preparação, a qual o jogador deve escolher suas cartas, os cards de batalha, ou como o jogo o denomina: Battle Chips.
Aqui a coisa complica um pouco para explicar, por mais que seja simples. Mega Man tem 5 slots para encaixar os chips de batalha. Cinco. Contudo você não pode equipar chips com letras diferentes. E cada card tem uma letra, que contempla quase todo o nosso alfabeto. Então um ataque de canhão (canon) só pode ser equipado com outro ataque do mesmo tipo se ambos tiverem a mesma letra. E o jogador pode ter um deck de 60 cards, composto de cartas de ataques iguais, para maior chance de equipar mais cartas num único turno, só que mesmo com tantas cartas, você não escolhe o que sai em cada rodada, a qual são disponibilizadas somente cinco cartas. Respira que tem mais.
Também há cartas neutras, sem letras. Estas cartas podem ser equipadas a qualquer momento, dentro do limite dos cinco slots. Mas normalmente são cartas mais fracas, que servem para turbinar seus status, como seu ataque. Então assim, entrou em batalha, são disponibilizadas cinco cartas aleatórias do seu deck, que é totalmente editável conforme se ganha novas cartas. São letras diferentes? Escolha o que causar mais dano, ou as que tiverem as mesmas letras, não se esqueça das neutras e ative a sistema de batalha. Só deu para equipar 1 carta? Não faz mal, vá em frente.
Iniciado a batalha, um botão do controle irá realizar o ataque da carta e causar o dano descrito nela. Mas tenha cuidado até nisso, pois cada Battle Chip tem um tipo de ataque. Então há ataques que vão atacar a linha horizontal do campo inimigo, pode acertar apenas quem estiver na frente, ou todos, a depender da carta. Mas também pode não causar dano algum, se o inimigo estiver num modo de defesa ou simplesmente sair da linha. Ela vai estar mais vulnerável quando estiver prestes a lhe atacar. E cada inimigo tem um padrão de ataque, assim como seus Battle Chips, ou seja, ataques podem envolver vários quadrados, duas linhas horizontais, podem rodar como bumerangue, podem cair em casas aleatórias. Existem dezenas de padrões de ataques e diverso tipos de inimigos que se movimentam pulando, desaparecendo, inimigos que não se mexem e aqueles que se defendem.
Mas volte um momento. Você usou um Battle Chip, a batalha está em tempo real. Você anda a vontade, o inimigo também, ataques virão do lado dele e você pode desviar a vontade. Tem outro Battle Chip porque conseguiu equipar dois? Use-o e tente eliminar outro inimigo. Claro que nem sempre suas cartas eliminarão o inimigo com um ataque único, então talvez seja ideal usar mais um ataque nele. Os pontos de vida aparecem em tela, então dá para saber disso. Logo você perceberá que se esgotaram seus Battle Chips. E agora?
Existe na tela superior dos jogos um indicador de recarga. Leva alguns segundos para ser preenchido, o suficiente para que você possa atacar duas ou três vezes e os inimigos idem. Ao pressionar o botão desse indicador, a batalha novamente congela e o jogador retorna para a tela de preparo, recebendo mais 5 cartas, e tudo que estava em seu slot e não usou é descartado. Equipe novamente o que puder, volta a batalha, ataque, desvie e então a recarga está pronta para retornar a tela de preparo. Deu para entender a dinâmica das batalhas? É basicamente isso. Diferente, criativo, mas um tanto cansativo, é verdade.
Mas é um sistema com profundidade, não dá para negar. Dentre os Battle Chips, tem uma diversidade enorme. O jogador pode roubar área do adversário, transformando em sua cor, também pode quebrar um quadrado, impedindo que o inimigo vá até o quadrado quebrado. Claro que há inimigos que também pode fazer isso na sua área. Tem ataque que exigem que os inimigos estejam próximos do jogador, enquanto em outros pedem mais distância, tem ataques que pegam vários quadrados. Tem cards que recuperam sua vida, que melhoram atributos. E quando mais inimigos derrotar, ao final de cada batalha ou você ganha dinheiro ou ganha o card daquele inimigo, pra usar em seu deck.
Nesse ponto é bem legal, ainda que por conta da quantidade enorme de encontros aleatórios, você irá se encontrar com muitos cenários com os mesmos inimigos, nas mesmas posições, se movimentando sempre do mesmo jeito. Inimigos novos são sempre legais, até você descobrir seus padrões, só que quando está lutando com eles pela vigésima vez, você só quer encerrar o quanto antes a luta para seguir em frente na história, afim de encontrar os chefões do jogo, estes sim, sempre com grandes quantidades de vida e ataques devastadores, onde reside o desafio desse sistema de combate.
Talvez seja pensando nisso que Mega Man Battle Network Legacy Collection traz consigo uma forma de acelerar estes confrontos aleatórios e repetitivos ao oferecer o jogador uma opção chamada Buster MAX. Isso porque tem todos os seis jogos da coleção, quando o jogador está sem Battle Chips, esperando a recarga, ainda lhe resta atacar os inimigos usando um botão secundário que aciona a clássica Mega Buster do Mega Man. Na opção padrão esse ataque é muito fraco. E não estou exagerando. A Mega Buster tira 1 ponto de vida do inimigo, sendo que o inimigo mais fraco do jogo tem 40 pontos de vida. Claro que em todos os jogos há um certo item que permite que a Mega Buster vai sendo fortalecida, tornado-a uma opção mais viável ou permitindo que ela lide mais rapidamente com aqueles inimigos fracos que você já se cansou de batalhar.
O que a opção Buster MAX faz é deixar a Mega Buster no poder máximo desde o primeiro minuto do jogo. Um único tiro irá causar um dano de 100 pontos de vida. E o jogador pode ligar e desligar isso a qualquer momento de qualquer um dos jogos. Então quem se cansou dos encontros aleatórios, pode usar esse recurso, e quando chegar no chefão, pode desligá-la, caso queira o desafio sem esse ataque apelão demais. Com certeza usar a Buster MAX tira totalmente a graça do sistema de Battle Chips, porém achei indicado para lidar com a repetição massiva dos combates repetitivos. Ainda bem que a Capcom pensou nisso para esta coleção.
Claro que estas são apenas as mecânicas básicas presentes em todos os jogos presentes na coleção. Conforme a franquia vai avançando, pequenas melhorias e mudanças foram criadas entre as sequências. Seja meios de turbinar a recarga de cartas do próximo turno descartando o que não deseja um turno antes, seja uma mecânica de especial, a qual Mega Man irá desferir ataques mais poderosos e contra atacar inimigos. Conforma as sequências foram sendo feitas, diversos ajustes e melhorias foram realizadas, incluindo novos inimigos, novos chefes e novos Battle Chips com diferentes padrões de ataques.
Isso tudo apenas para explicar o momento em que o jogador está com Mega Man, mas se recorda que lá no começo deste segmento do texto também disse que o jogador passa uma parte da aventura controlando Lan? Então, com o garoto a jogabilidade é muito mais simplificada, afinal não existe combate no mundo real. Sob o comando de Lan, o jogador irá explorar os ambientes reais que estão conectados ao mundo virtual. Sua cidade, outras cidades próximas, a casa de seus amigos, a escola e até mesmo o laboratório onde seu pai trabalha, a SciLab.
Lan anda por um ambiente que é um pouco mais amplo do que os corredores online do mundo digital, mas ainda assim são cenários limitados. Contudo há bem mais NPCs para conversar, lojas para visitar, e locais escondidos que podem ser conectados a internet, e que abrem locais isoladas do mundo conectado online, a qual podem esconder chefes secretos e novos Battle Chips e outros itens que melhoram seus atributos.
Momentos em que acho interessante ocorrem quando Mega Man está passando por apuros no mundo digital e cabe a Lan resolver um pequeno puzzle no mundo real que resolva o problema. Seja desligando um aparelho de som que travou Mega Man ou campos elétricos que precisam ser desligados no mundo físico para que Mega Man possa prosseguir no digital. É uma interação muito bacana entre ambos os protagonistas, reforçando que um precisa do outro para vencer as adversidades.
Num contexto geral é essa a mecânica dos jogos da série Battle Network. Há muitas linhas de conversa e interação com NPCs, exploração de pequenos ambientes, encontros aleatórias e muitas cartas de batalha para colecionar e aprender táticas para misturá-las afim de criar bons ataques de turno em arenas que ocorrem em tempo real.
Considerações finais
Mega Man Battle Network Legacy Collection é uma reunião nostálgica de jogos que até então permaneciam congelados em um portátil já há muito tempo em desuso. Seu resgate é uma preciosidade incrivelmente bem vinda para os fãs de Mega Man. É sempre bom rever jogos perdidos no tempo.
Talvez nem caiba refletir se estas obras envelheceram mal ou se sobreviveram bem ao tempo. Até porque o contexto e a plataforma a qual foram desenvolvidos tinham parâmetros diferentes a qual essa coletânea está sendo apresentando em tempos atuais. O formato “jogo para portátil” é muito nítido na forma como eles foram concebidos. Sendo assim, “Legado” é de fato um termo muito apropriado para este lançamento.
Dito isso, quem tem a opção de escolher a plataforma a qual adquirir o jogo, fico com a impressão de que o Nintendo Switch, dado ao seu modo portátil, traz uma experiência muito mais fiel ao formato que tais jogos foram concebidos, justamente pelo ciclo de repetição de encontros aleatórios presente no formato de seu gameplay. São jogos que em certo momento o jogador entrar em “modo automático“, avançando sem pensar muito, enquanto o jogo te segura em mecânicas que prolongam a experiência portátil, de partidas menores.
A minha experiência com essa coleção foi no PlayStation 5, e a sensação era sempre do desejo de ter uma segunda tela ao meu lado, uma série, filme ou jornal, enquanto ia de um lado ao outro do jogo, lidando com batalhas já presenciadas, a qual sabia o esquema para vencê-las. No Switch seria mais confortável ter o jogo em modo portátil e a TV disponível para outra atividade. Sem mencionar que no PS5, o DualSense não apresentou nada de diferente a ponto de fazer jus ao poderoso controle.
Outro apontamento que acho necessário realizar diz respeito a direção de arte presente nos seis jogos. Do primeiro ao terceiro é um estilo gráfico, e do quarto ao sexto é outro. A mudança gráfica não é grande, até porque o GBA não tinha muito poder de processamento, mas é notável que a pixel arte muda entre o primeiro e o segundo volume da coleção. E fico com a opinião de que o jogo era mais bonito nos primeiros três jogos. A partir do quarto game, a pixel art soa reduzida, personagens estão menores, enquanto os cenários internos tem mais detalhes e cores, é verdade, mas ainda assim apreciei mais a arte dos primeiros três jogos.
Algo que os jogadores irão se deparar a exaustão entre os seis títulos da coleção são alguns cenários que se repetem ao longo de todos os jogos. A cidade a qual Lan mora, o interior de sua casa, o interior da escola e sua sala de aula, a estação de metrô que te leva a outros lugares (diferentes a cada título). E nessa coleção é possível ver como a ambientação muda em torno dos seis jogos, ficando mais rica, em maiores detalhes. No primeiro jogo Lan tem um monitor enorme (de bundão) em seu quarto, mas já nos últimos jogos esse monitor é flat, de LCD. A evolução da tecnologia mudou alguns detalhes nos anos em que os jogos foi desenvolvido. E tais detalhes são interessantes. O próprio conceito do mundo digital vai se refinando ao longo dos jogos, recebendo mais detalhes e conceitos visuais mais complexos, inerentes a tecnologia proposta.
Minha única crítica é que o mapa principal da ACDC Town muda do quarto jogo em diante, ficando menor e com um layout bem diferente da primeira trilogia. Sinceramente não curti essa mudança. Reduziu e simplificou, e tudo bem considerando o desenvolvimento limitado de um portátil, porém achei que ela perdeu o charme. Nos primeiros jogos ela soa como uma cidade, enquanto que no quarto título em diante, fica parecendo um bairro ou quase uma vila. Perde-se edifícios que só serviam de enfeite e só se mantém o que o jogador podia entrar nos jogos anteriores. Ficou um layout mais objetivo e direto. Tem praticidade? Sim, mas será que é só isso que essa ambiente precisa ter? Não sei, mas eu gostei mais da cidade dos três primeiros jogos, ainda que nas sequências, a cidade seja só um meio para viajar entre novas áreas, tendo em vista que é um cenário muito usado nos primeiros jogos, o que talvez tenha motivado a mudança. Vai saber.
No mais não posso encerrar a análise sem mencionar que assim como os demais jogos da coletânea do robô azul, Mega Man Battle Network Legacy Collection também contém vários extras além dos jogos resgatados. Dentre os extras, se faz presente uma enorme galeria de artes e storyboards de todos os seis títulos, além de uma jukebox com dezenas de trilhas sonoras de todos estes jogos, para ouvir em sequência e sem a necessidade de entrar em cada um dos títulos. Outra coisa que a coleção traz são chips e boosters extras que podem ser equipados em alguns títulos que que concebem alguns benefícios de batalhas ao jogador. Por exemplo, no primeiro jogo, é possível equipar um Battle Chip do personagens Bass, que ao ser invocado em batalha causa um ataque devastador no inimigo.
Como uma coleção, a Capcom mantém a tradição de reunir uma boa quantidade de materiais extras que enaltecem a memória de bastidores destes jogos. Contudo, diferente de outras coleções, não é possível rebobinar o gameplay, para corrigir seus erros, porém não acho que isso cause qualquer impacto, até as batalhas são tranquilas e o jogo permite salvar seu progresso a qualquer momento, exceto em batalha. Também tem um slot save para cada jogo, além de slots diferentes para quem quiser jogar cada um das versões diferentes presentes do terceiro game em diante. Então sim, dá para jogar e salvar em diferentes versões.
Para encerrar, digo que Mega Man Battle Network Legacy Collection mantém a tradição que a Capcom criou desde o primeiro lançamento de jogos antigos de Mega Man. Reúne pérolas perdidas no tempo, preservando a jogabilidade original, remasterizando o suficiente para que os gráficos sejam condizente com os atuais monitores de alta resolução, trazendo os extras necessários para cada um das obras, além de alguns facilitadores para dar mais ritmo e dinamismo as obras, que possuem sim os engasgos de um outro momento dos videogames. Ao fãs, é mais uma coleção imperdível. A mudança do gênero, deixando de lado a ação em plataforma para uma exploração narrativa mediante confrontos aleatórios em sistema de cartas prova que a franquia Mega Man sabe ter flexibilidade e se adapta bem em diferentes cenários de jogabilidade. É diferente, mas é legal. E é um estilo que poderia voltar modernizado aos tempos atuais. Daria muito certo se fosse repensado e readaptado.
Galeria
Dando nota
Coletânea mantém o padrão da coleções anteriores de Mega Man: jogos fieis aos gráficos originais e uma tonelada de extras como artes e músicas - 8
Apesar de versões diferentes, é um coleção com seis jogos que poderiam estar num único volume - 7.5
Universo de Battle Network é muito divertido, idealizado antes da atual era digital, com muitas semelhanças modernas - 9
Sistema de combate por cartas, com tabuleiro de casas e turnos é bem diferentão, esbanja originalidade - 9.2
Contudo o gameplay derrapa no formato arcaico de encontros aleatórios, deixando repetitivo como consequência - 7
Narrativa dos jogos tem um ar de aventura juvenil, o que combina com o contexto da série - 8.2
Buster MAX é uma excelente forma de acelerar o ritmo repetitivo de confrontos já presenciados - 8.5
8.2
Nostálgico
Mega Man Battle Network Legacy Colletion é mais um pacote de jogos perdidos no tempo e que foram sabiamente resgatados pela Capcom, para que fãs pudessem matar a saudades e novos jogadores pudessem conhecer essa pérola tão diferente dos jogos tradicionais do robô azul. Talvez não houvesse a necessidade da divisão em dois volumes, mas independente disso são aventuras interessantes, que dão continuidade entre os eventos de cada jogo, apresentando bons chefes e um sistema de combate engenhoso. A coleção também traz os extras necessários e certos facilitadores para dar a jogabilidade um melhor ritmo e dinamismo.