Análise | Star Wars Jedi: Survivor
Disponível para PlayStation 5, Xbox Series & PC
Star Wars Jedi: Survivor dá sequência ao sucesso do jogo de 2019 trazendo uma nova aventura com Cal Kestis, cinco anos após os eventos de Fallen Order, em uma jornada de novos perigos, futuras promessas e em um gameplay ainda mais refinado, com uma curva inicial muito mais ágil em colocar o jogador rumo a novos desafios nessa galáxia tão tão distante.
O título foi lançado no último dia 28 de abril, com todo o potencial dos consoles da atual geração, o PlayStation 5 e o Xbox Series X|S, além do suporte ao PC. E sem a necessidade de se segurar graficamente em relação aos consoles da geração anterior que ainda estão em atividade no atual mercado de games. O que torna Survivor um legítimo título de nova geração.
Seu desenvolvimento se manteve sob o comando da Respawn Entertainment, que também fez cuidou do jogo anterior, enquanto a Electronic Arts mantém o papel de distribuidora global da obra. Vale sempre lembrar que a Respawn é o mesmo estúdio que cuidou tão bem da franquia Titanfall (que ainda merecia um terceiro título) e Apex Legends, que mesmo não sendo o jogo gratuito de battle royale de tiro mais famoso da atualidade, ainda se mantém ativo e funcional, ganhando novos conteúdos e temporadas regularmente.
É muito legal também dizer que Star Wars Jedi: Survivor chega ao nosso mercado trazendo localização total em português, o que significa que o jogo está totalmente dublado em nosso idioma, além de trazer tradução em todos os textos e menus da obra, além de legendas em todos os diálogos, caso o jogador queira ativá-las. Trabalho incrível de localização.
Star Wars Jedi: Survivor segue o estilo do jogo anterior, ainda como um título de aventura e ação (action-adventure) com muitos elementos que brincam com progressão estilo RPG, influenciada levemente pela fórmula oriunda da franquia Darksouls, enquanto apresenta muitas mecânicas de exploração em estilo parkour, pegando inspiração em jogos como Prince of Persia e Uncharted, para oferecer ao jogador desafios de avanço em abismos e plataformas, sempre buscando uma jogabilidade que pode ser tanto horizontal quanto vertical.
A aventura continua…
Sendo Star Wars Jedi: Survivor uma sequência, há aquela indagação feita pelo jogador que possa não ter jogador a aventura anterior: “dá para jogar sem ter jogado o primeiro?“. A minha resposta é que sim, é totalmente possível começar sua jornada pela franquia a partir do ponto em que Survivor apresenta os personagens e sua história.
Isso ocorre porque a trama do primeiro jogo se encerra por lá mesmo. A sequência retoma a história de Cal Kestis após cinco anos, um ponto que o jovem Jedi está um pouco perdido nos rumos de sua vida, cansado de ser perseguido pelo Império, que segue caçando Jedis, e sem um propósito de vida muito séria, até que os eventos iniciais do jogo o levam a ter conhecimento do que até então todo mundo achava ser uma lenda: um planeta escondido do Império que pode ser sua nova casa, assim como de seus amigos e aliados.
Será verdade? E assim começa uma nova jornada, atrás de um refúgio prometido, enquanto novas ameaças surgem quando se começa a mexer num passado de mistérios e segredos da Ordem Jedi. Cal irá reencontrar antigos aliados do jogo anterior, enquanto também fará novos amigos, enquanto explora algumas regiões da galáxia em busca de pistas e informações sobre o planeta escondido, e como chegar até o mesmo. Nesse meio tempo Cal também irá refletir se sua jornada pode acabar nesse refúgio, fugindo das responsabilidades e da força que possui como Jedi, e se poderá de fato aposentar seu sabre de luz e esquecer que o Império continua ameaçando muitos outros mundos. Cal conseguirá virar as costas para tudo, se possui o poder para lutar contra a opressão do Império?
Enquanto Fallen Order (2019) conta a história de como um jovem sucateiro, escondido em um planeta qualquer, sendo na verdade um aprendiz na força, forçado a largar tudo quando a Ordem Jedi caiu, sem nunca ter tido a oportunidade de se tornar um Jedi, acaba sendo descoberto pelo Império, obrigado a assumir sua força e aprender tudo que nunca teve a oportunidade de ser para sobreviver, unindo-se aos rebeldes e assumindo que enfrentar o Império é a única forma de retomar qualquer chance de continuar tendo algum tipo de vida. Essa primeira aventura tinha muito um senso de urgência, em meio a um cenário de aprendizado para a jornada de um novo Cavaleiro Jedi. E Survivor já não tem esse mesmo sentimento.
Tanto é diferente esse ritmo e dinâmica, que a sequência não faz questão de “retirar” o aprendizado do personagem em relação a habilidades que ele conquistou no jogo anterior. E isso é muito, mas muito satisfatório. Star Wars Jedi: Survivor tem uma excelente curva inicial, pois mantém as mecânicas de combate e maestria, a qual o jogador adquiriu ao longo de Fallen Order. O que acho ótimo, porque se tinha uma coisa que me incomodava no jogo de 2019 era a cadência a qual as mecânicas eram indo desbloqueadas, já que precisavam acompanhar a narrativa de um jovem que ainda não sabia tudo sobre a sua força. Aqui, Cal Kestis é um Jedi desde o primeiro minuto da aventura.
Então o game lhe dá logo de cara, duas posturas de combate, as habilidades necessárias para escaladas, pular no ar (pulo duplo), usar a força para empurrar ou puxar inimigos e muito mais. O kit básico que se espera de um Jedi habilidoso. Claro que ao longo da jornada da sequência, novos movimentos, novas posturas, novas mecânicas vão ser expandidas e reveladas. Mas assim, para o início, o jogo não te faz se sentir impotente frente aos inimigos. Pelo contrário, você se sente capaz de enfrentar qualquer ameaça, até mesmo aquelas que parecem perigosas demais, mas que com paciência e calma, um Jedi é capaz de lidar. E esse sentimento inicial é muito bom como combustível para motivar o jogador a não deixar a aventura de lado e seguir em frente.
Mix de influências
Mecanicamente Star Wars Jedi: Survivor não está fazendo nada muito inovador ou original, contudo, o que ele faz em termos de jogabilidade é sempre muito bem feito tecnicamente, e é nisso que o título parece impressionar quanto se está jogando. Controles e resposta dos mesmos é impecável, e é muito fácil se acostumar comas possibilidades de salto, escalada e até mesmo combate. É um jogo que facilmente convence o jogador de que ser um Jedi não é nenhuma complicação esquemática.
Isso ocorre porque o jogo pega boas influências de outros títulos consagrados na indústria para consagrar seu gameplay. Mencionei os principais títulos lá no começo do texto desta análise, e vou expandir os motivos. De Darksouls o jogo pega a fórmula da progressão e design de áreas e corredores segmentados, com um inteligentíssimo sistema de corta caminhos, que permite ao jogador retornar rapidamente a um ponto de descanso, a qual pode recarregar toda sua saúde e energia, ao custo do ressurgimento de todos os inimigos previamente vencidos. Contudo aquele combate pesado, lento, ríspido e de esperar brechas que existe em Darksouls é deixado de lado para algo mais acelerado e leve. Fique com essa ideia que já retorno a falar mais.
Quanto aos movimentos de parkour de Cal, vejo muita inspiração em outros títulos, desde o mais antigo andar pelas paredes evidenciado no clássico Prince of Persia, como o salto vertical de uma parede a outra que é muito idêntico ao da franquia Uncharted, com aquela estranha rapidez e ausência de um peso ao corpo humano, mas que funciona tão bem em um videogame, e que um Jedi poderia realmente realizar com certo treino. Claro que essa velocidade e agilidade também é uma marca do estúdio, e não mérito só do que foi inspirado, afinal a franquia Titanfall, ainda que em primeira pessoa, tem uma excelente mobilidade de corrida, escalada, salto e aceleração, um de seus trunfos por sinal.
Essa mistura de influências cria um resultado de qualidade a Star Wars Jedi: Survivor, dando lhe uma genuína cara de jogo de aventura. Não é difícil demais, porém também não é tão fácil a ponto de não oferecer desafios ao jogador. Sua exploração, por exemplo, é baseada na observação antes de agir, pois as áreas de avanço entre os pontos de história são razoavelmente grandes e podem contem diversos caminhos. Não é uma linha reta.
Ao chegar em um novo cenário é preciso observar quais suas saídas, onde é seu objetivo principal, quais os pontos de escaladas, se há elementos de cenários que podem ser movidos com o poder da força, onde estão as plataformas para saltar ou subir, além, claro, dos pontos de inimigos e como lidar com eles afim de conseguir avançar e explorar pontos não tão claros do ambiente. As vezes é preciso girar uma plataforma para outro lado do ambiente, as vezes é preciso encher um reservatório, para que novos pontos de plataformas possam fazer sentindo. Estes pequenos puzzles são muito bem vindos ao modelo de gameplay.
Não só isso, mas a narrativa do jogo não é exatamente de um mundo completamente aberto, entretanto está longe de ser uma estrutura linear. Aquém das missões principais, o jogador é constantemente chamado para cumprir objetivos secundários que se fazem presentes nesse mundo interconectado, de diversos caminhos e saídas. Explore uma caverna estranha ali, siga um rumor de uma localidade no meio de um deserto, invada um arsenal do império que deve guardar algo valioso e assim por diante. Tarefas que você não é obrigado a realizar no momento em que toma conhecimento, e que pode retornar quando se sentir mais confiante ou menos preocupado com os rumos principais da trama. E as recompensas sempre serão interessantes, desde itens estéticos novos, a batalhas alternativas contra grandes criaturas ou habilidosos inimigos.
Não apenas isso, mas há também duas atividades opcionais que são mais diretas e objetivos, contudo oferecem um desafio muito interessante, como as câmeras secretas dos Jedi, que meio que soam como as câmaras das shrines de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, que oferecem desafios de como atravessar salas e plataformas, usando a força e mecânicas de interação, no melhor estilo de puzzle testar e entender como mecanismos funcionam. Além disso existem pontos de ecos especiais que levam ao jogador para uma espécie de ringue de batalha, obrigando-o a lidar com múltiplos inimigos de uma só vez, testando suas habilidades com esquiva, contra-ataque e estratégia para desviar e quem atacar primeiro frente a tantos inimigos. Estes ecos foram os combates mais difíceis que encontrei no jogo, sendo sempre bem satisfatório vencê-los depois de ser derrotado um boa quantidade de vezes.
Falando em combate, Star Wars Jedi: Survivor segue um formato de lutas ágeis, num estilo de quebra de postura para que o inimigo sofra dano massivo. O jogador pode defender, mas se o fizer demais sua postura também é quebrada, sendo melhor indicado a esquiva e o contra-ataque. Também existe o parry (defletir um ataque), e a brecha para isso até é generosa, mas muitas vezes não é tão necessário lutar com essa tensão da defesa perfeita. Inimigos também possuem ataques indefensáveis, a qual é indicado quando eles ficam vermelhos antes de executar o ataque. Então os combates sempre são um cabo de guerra para ver quem quebra a postura do outro primeiro.
As batalhas tendem a ser mais fáceis no mano a mano, quando só tem um inimigo atacando o jogador, sempre precisando ficar esperto quanto há mais inimigos na área, pois se todos lhe verem, vão lhe cercar e atacar ao mesmo tempo, sem que o jogador consiga se defender de todos os ataques simultâneos. É sempre arriscado lidar com esse tipo de cenários, sendo inteligente acabar com os mais fracos, refletir ataques de lasers e deixar o inimigo mais forte para quando tiver brecha entre os ataques incessantes. Nestas horas é preciso ter paciência.
Claro que dentro destes cenários há sempre inimigos mais fracos que morrem com um único ataque se a postura dos mesmos estiver quebrada. Para estas situações o ideal é usar a força, puxando o inimigo até sua mão e o executar com um único golpe com seu sabre de luz. Mas claro que sua força é limitada, então não dá para usar de forma infinita. Lutar enche essa barra de poder. Além de puxar, o jogador também pode empurrar o inimigo com a força, forçando-o a cair de um penhasco ou apenas deixando-o mais longe para que você possa atacar outro que esteja mais perto e seja mais conveniente derrotá-lo primeiro.
Outro aspecto interessante e que também é uma forma de postura são os tipos de “postura de combate” que o protagonista pode ter ao longo do jogo. Inicialmente o jogador tem apenas dois tipos: lutar com um sabre de luz simples, ou conectá-lo a outro e lutar como se fosse um bastão. Cada estilo de combate tem vantagens e desvantagens. O estilo bastão, por exemplo, é indicado para lidar com múltiplos inimigos. É possível alternar entre dois estilo de combate e conforme se progride pela campanha, novos estilos são destravados. O terceiro que se aprende, logo no começo é luta com dois sabres de luz ao mesmo tempo, um estilo mais agressivo, mas com uma barra para a postura defesa menor.
Um estilo que é bem diferente do jogo anterior, e que vale a menção aqui é a postula de um sabre de luz com uma pistola laser. O que cria uma classe meio que pistoleiro Jedi. Com isso Cal passa a poder atirar a distância contra alguns inimigos, enquanto mantém um sabre empunhado para o combate próximo. Um estilo bem mais técnico, e que precisa de atenção, pois a munição da pistola é limitada e para ser recarregada o jogador precisa causar dano ao inimigo com o sabre de luz. Nessa postura também é possível segurar o tiro para que ele saia ainda mais forte, e com isso consuma ainda mais munição.
A quinta, e última postura a ser destravada na aventura, é uma postura mais pesada, similar a grandes espadas ou machadões de jogos souls-like. O jogador volta a empunhar um único sabre de luz, mas seus ataques são bem mais poderosos, tanto que o personagem precisa empunhá-la com ambas as mãos. Uma postura que até permite um ataque de pressão do ar quando Cal estiver em um salto e estiver retornando ao chão, impulsionando uma rajada de ar até o inimigo. E como é comum nesse tipo de combate, para ser pesado, significa que seus ataques também ficam mais lentos. Uma postura que certamente combina com jogador mais paciências, que sempre estão de olho em brechas entre os ataques dos inimigos.
Um último elemento dentre as mecânicas a qual acho pertinente mencionar diz respeito aos pontos de habilidades, afim de progredir em uma extensão árvore de habilidades que existe na campanha. Essa árvore é segmentada em três categorias, Sobrevivência, Força e Sabre de Luz. E como cada nome sugere, elas definem certos status do jogador além de impulsionar e expandir seu repertório dentre elementos do combate com cada uma das posturas de combate, assim como fortalece suas habilidades com a força, possibilitando empurrar ou puxar mais inimigos, além de melhorar sua barra de força.
É na árvore de habilidades que novos golpes para cada postura são aprendidos, assim como a eficácia em alguns movimentos, como defesa e contra ataque. Combos dos ataques também são expandidos por meio de progressão na árvore. Na Sobrevivência o jogador melhora sua própria barra de saúde, o tempo que consegue manter sua postura defensiva, além de melhorar a eficácia e qualidade do injetor de cura que o robozinho companheiro de Cal aplica no personagem para lhe curar quando muito ferido. Aliás, esse injetor de cura funciona de forma muito parecido como os fracos de Estus da franquia Darksouls, sendo possível expandir a quantidade de vezes em que pode ser usado quando encontrado um certo item raro dentro do jogo.
Quanto aos pontos de habilidades, para serem usados nessa árvore de habilidades, o jogador obtém eliminando inimigos. São basicamente pontos de experiência, e que são perdidos quando Cal morre. O que o faz retornar ao último ponto de meditação, sendo possível resgatar essa experiência perdida ao chegar novamente ao local de sua morte. Formato similar a Darksouls. Contudo, na minha experiência com o jogo no PlayStation 5, nestas semanas após o lançamento, tive algumas situações em que o ponto da morte, por mais que estivesse indicado no mapa, ao chegar lá não tinha a minha “aura” para coletar e reaver meus pontos. Tive a impressão de ser um bug, contudo, foram poucas as vezes em que morri, então tudo bem, não me indignou tanto assim. Ganhar novamente esse XP não é tão difícil assim. O jogo é generoso nesse ponto.
Considerações finais
Star Wars Jedi: Survivor é uma obra que funciona muito bem como algo individual, sem que haja a necessidade de taxá-lo como uma sequência, por mais que seja. E talvez isso explique a razão pelo qual não se faz necessário um enorme 2 em seu título oficial. Não precisa. Porém, como sequência, ele também faz seu papel, pois expande mecânicas, apresenta um mundo muito maior, entrega novidades, não retrocede em jogabilidade e dá sequência a história de seus personagens. Maior e melhor, exatamente o que se espera nesse tipo de situação.
Existe todo um cuidado com detalhes no jogo. A história não trabalha apenas a trama de Cal Kestis, mas também de todos que estão ali, ao redor de seu mundo. Conhecemos motivações, entendemos personalidades, além de anseios e medos de cada um, frente a ameaça do Império Galático. Gosto em particular da atenção que o jogo dá a Greez, velho amigo de Cal do jogo anterior, que agora cuida de um bar no planeta Koboh e assume a tarefa de pilotar sua velha nave novamente. Greez está sempre falando sobre suas inseguranças, preocupado com sua idade, porém tem um bom coração e quer ajudar Cal. É fácil um jogador de mais idade se simpatizar com esse tipo de personagem. Existe camadas interessante em sua personalidade.
Koboh, por sinal, funciona como uma grande área central do jogo. Ao longo dessa nova jornada de Cal, o jogador irá visitar e conhecer outros planetas e ambientes diferentes, cada qual com diferentes áreas opcionais e adicionais para missões secundárias, mas é Koboh a maior região de Star Wars Jedi: Survivor. É para lá que Cal convida NPCs perdidos a se refugiar, no bar de Greez, é no planeta que estão grandes missões secundárias, pontos fechados e misteriosos quando visitado pela primeira vez, e o jogador vai revisitar o planeta mais algumas vezes ao longo da jornada. Lá está o bar, lojas e muitos diálogos adicionais com incontáveis personagens. E bons diálogos sobre a construção do mundo, sobre si mesmos e informações adicionais do que está acontecendo em geral dentro do mundo de Star Wars em si. Existem muitos segredos em Koboh. É um ambiente que está em constante mudança e evolução ao longo da campanha do jogo.
Aliás, é muito bacana como o jogo faz a transição entre planetas na aventura, pois o jogador acompanha, de dentro de sua nave, ela sair do planeta em que se encontra, subir até o espaço, e então começar a acelerar até a velocidade da luz. É genial. Não há nenhum tipo de controle da nave nesse momento, e mesmo assim é uma imersão muito bem idealizada. Nesse meio tempo os personagens normalmente estão conversando e discutindo pontos da trama que justificam a viagem espacial. E como em Star Wars tem o salto na velocidade da luz, em poucos instantes o jogador se encontra na órbita de um novo planeta e uma nova região para explorar. Isso permite diferentes ambientes e biomas, o que evita o cansaço visual que talvez Koboh poderia passar caso o jogador ficasse apenas em seu bioma.
Também já elogiei lá no começo da análise, porém preciso reforçar, nesse momento de considerações finais, sobre como é excelente o design dos ambientes projetados para Star Wars Jedi: Survivor. Isso porque eles estão de fato muito maiores do que os do jogo anterior, mas mesmo assim é uma arquitetura muito bem projetada, especialmente por conta dos corta caminhos. É muito difícil o jogador se sentir perdido ou frustrado quando precisa retornar para áreas já exploradas. Os atalhos são eficientes e poupam a estava de repetição que existira se eles não existissem. Tudo está conectado, e nem tudo é relativamente longe, ainda mais porque agora existe os pontos de viagem rápida, de um ponto de meditação a outro, e como estamos em consoles de alta performance, tudo leva alguns segundos para o fast travel cumprir sua função.
Gráficos e efeitos sonoros também dão um show a parte. A parte sonora é o que se espera de uma obra oficial de Star Wars, seja a trilha musical que já ouvimos em tantos filmes, sejam os clássicos efeitos dos veículos ou blasters e sabres de luz. Já a direção de arte tem ótimos méritos, trazendo gráficos realistas, dignos das modernas animações 3D, se aproveitando de um título da atual geração, a qual se abusa dos efeitos de luz e refração, sombras e texturas pesadas, que no PS5 carregam antes da câmera mostrar o cenário ao jogador.
Um belo exemplo dessa grandiosidade gráfica ocorre lá pela metade da aventura, quando Cal está em um certo planeta para encontrar uma antiga companheira e se depara com uma enorme tempestade de areia. Nesse momento o jogador pode observar o tsunami arenoso no horizonte, chegando cada vez mais perto, até que o mar de areia lhe atropela por completo e você precisa se guiar em meia a tempestade desértica. É um momento roteirizado, você segue uma trilha, mas visualmente é fantástico. Segmentos assim são pura arte a meu ver.
Também não posso encerrar esta análise sem mencionar como é divertido que os desenvolvedores deem aos jogadores a possibilidade de customizar certas partes de Cal Kestis e seu Robô, BD-1. De Cal o jogador poderá trocar suas roupas e sua aparência facial, cabelo e cortes de barba, sem nunca perder o aspecto visual do ator que o interpreta (Cameron Monaghan). Já o robozinho pode ter o tronco, cabeça e membros trocados em diversos tipos de sets encontrados em baús espelhados pela aventura. Nem o sabre de luz escapa da personalização, possuindo diversas partes para trocar e até mesmo permitindo escolher a cor da luz do sabre. Isso dá um ar único para o gameplay de cada jogador. O mesmo protagonista, mas na estética visual escolhida pelo jogador.
Por fim, não trago nenhuma grande crítica a Star Wars Jedi: Survivor. Não porque é um jogo perfeito, mas simplesmente porque ele cumpre tudo o que se propõe a fazer, e entrega uma excelente aventura single player. Não é curta demais, não é grande demais. Sua dificuldade é muito bem balanceada, mesmo para uma inspiração souls-like. Jogabilidade acessível, mecânicas fáceis de serem usadas, boa resposta dos controles. Além disso possui uma ótima cauda de replay com tantas atividades secundárias e opcionais.
Para um momento na indústria dos games em que grandes estúdios preferem muitas vezes invetir em jogos multiplayer, free to play e além de jogos como serviço e com microtransações, deixando de lado esse gênero clássico da aventura solo single player, finita, porém marcante, Star Wars Jedi: Survivor prova que tem competência e espaço para grandes campanhas single player e que, sim, elas ainda importam muito aos fãs do gênero. E dá para ir além: sequências, quando bem feitas, ainda precisam e devem continuar sendo produzidas. Não é preciso reinventar a roda, trazer coisas nunca vistas, só é preciso gameplay bem idealizado, design inteligente de ambientes, personagens cativantes e, claro, ser divertido de se jogar. Simples, não?
Galeria
Dando nota
Ainda que continue a aventura anterior, funciona muito bem para quem está chegando agora - 9
Mistura muito bem particularidades de jogos como Darksouls, Prince of Persia e Uncharted como influências positivas - 9
Construção de mundo inteligente, com corta caminhos e fácil de se navegar e explorar - 9
Combate intenso e divertido, com o jogador precisando ficar atendo a posturas, defesas e contra ataques - 8.6
Localização em português entrega uma excelente dublagem em nosso idioma - 10
Visualmente o título se aproveita muito bem do poder dos atuais consoles da geração - 8.6
Mesmo para uma aventura single player, há uma longa cauda de replay com muitas atividades secundárias e opcionais - 9
9
Ótimo
Star Wars Jedi: Survivor é exatamente o que se espera de uma sequência de sucesso: ter a ambição para ser maior e melhor que seu antecessor. O jogo não te obriga a ter jogado o anterior, mas mantém a sabedoria a seu respeito. É mais ágil na curva inicial, mantém habilidades aprendidas no jogo anterior, entrega ambientes ainda maiores, com um excelente design para corta atalhos, apresenta novas posturas enquanto entrega um gameplay que mistura exploração parkour, pequenos puzzles e ótimos combates baseado em posturas de ataque e defesa. Entrega uma grande aventura single player, com dublagem em português, repleta de atividades secundárias e opcionais. Tudo que se propõe a fazer, faz bem feito.