Pikmin 1+2 é uma jornada dupla aos saudosos tempos em que grandes ideias eram colocadas em prática no saudoso Nintendo GameCube, console que não teve a fama que merecia, mas que todo mundo que o teve, o guarda no coração tudo que a Nintendo fez com carinho em sua geração e que, somente agora, no Nintendo Switch, estas obras parecem estar recebendo as devidas (e merecidas) atenções.
Este lançamento diz respeito a dois jogos, Pikmin 1 (2001) e Pikmin 2 (2004), que estão novamente sendo relançamentos, desta vez em versões remasterizadas em alta definição (HD), exclusivamente para o Nintendo Switch, como parte do esquenta para Pikmin 4, que será lançado no próximo dia 21 de julho. O primeiro Pikmin também chegou a ser lançado, apenas como um port, no Nintendo Wii (em 2008), enquanto que o segundo jogo saiu tanto no Wii (em 2009) quanto no Nintendo Wii U (em 2012), e somente como port, sem o feito de estar remasterizado em HD.
E se você está se perguntando sobre o terceiro jogo dessa quadrilogia, pois bem, Pikmin 3 saiu originalmente no Wii U em 2013, contudo em 2020 recebeu uma Versão Deluxe no Switch, fazendo assim com que o atual console da Nintendo tenha TODOS os principais jogos da franquia. É tão bom ver a franquia inteira de volta, e acessível em uma única plataforma!
Para quem não conhece, Pikmin é uma franquia de jogos de aventura puzzle que mescla estratégia em tempo real e micro gerenciamento de tropas, representados por estas carismáticas criaturinhas coloridas, que são até menores do que uma joaninha, guiadas por um minúsculo viajante do espaço, que precisa de ajuda para sobreviver ao ambiente hostil deste planeta em que tudo é tão gigantesco. É a clássica aventura que toda criança um dia imaginou, de se tornar do tamanho de uma formiguinha e viver grandes aventuras ali no jardim de sua própria casa.
O bundle Pikmin 1 + 2 foi disponibilizado digitalmente no Nintendo Switch no último dia 21 de junho, pelo preço de R$ 249, um preço mais camarada do que o dos atuais lançamentos que andam saindo por aqui pela média de R$ 350. Além disso a Nintendo também lançou os jogos individualmente, cada um custando R$ 149, diretamente pela eshop de seu console, o que os tornam um pouquinho mais caros, caso o jogador opte pela compra individual.
Uma última informação, antes de nos aventurarmos pelos jogos, é sobre as opções de idiomas. Como se tratam de clássicos de duas décadas atrás, de um período que sequer sonhávamos com jogos em nossa língua, ambos os títulos não estão localizados em português, sendo o inglês o idioma padrão das obras. O que é aceitável em se tratando do resgate destes jogos clássicos, de tempos em quê não se pensava muito sobre a importância de outros idiomas em termos de acessibilidade. Contudo, mesmo não entendendo inglês, dá para entender as mecânicas dos jogos através de seus tutoriais.
Náufrago espacial (Pikmin 1)
30 dias de sobrevivência
A primeira aventura do Capitão Olimar tem um valor especial à franquia, mesmo que mais enxuta em relação aos jogos anteriores, pois nela há o elemento temporal que impõe que o jogador termine sua aventura dentro de um certo prazo temporal: 30 dias do tempo do jogo.
Isso ocorre porque na trama de Pikmin 1, Olimar sofre um acidente espacial, quando um meteoro colide com sua nave, forçando-o a aterrissar, de forma truculenta, no planeta mais perto do setor espacial a qual ele se encontra. Um planeta até então desconhecido. Imenso para os padrões do pequeno alienígena. Oficialmente o planeta não possuía um nome oficial, até que o terceiro jogo da franquia passa a chamá-lo de “PNF-404“.
Se o planeta a qual vivem os pequenos pikmins é ou não a Terra, isso nunca foi exatamente esclarecido, ainda que o primeiro jogo deixa claro que trata-se de uma civilização em que humanos viveram por ali, mas que não se consegue mais registrar sinais de vida humana ao redor, ficando apenas os rastros da humanidade por meio dos objetos encontrados pelo jogo. Nunca ficou claro o que causou a extinção dos humanos no universo da franquia.
Enfim, de volta a aventura original, a aterrissagem de Olimar no planeta não é fácil, e sua nave explode e perde inúmeros pedaços da mesma, que se espalham pela região a qual ele cai. O diagnóstico da situação é que no estado em que ela se encontra, a nave não é capaz de sair da atmosfera do planeta. Pra piorar a situação, o suporte de vida do traje de Olimar lhe garante sobrevivência para apenas 30 dias no planeta. A situação não é boa, pois o pequeno viajante não acredita que possa fazer qualquer coisa em sua situação que torne possível que ele escape desse terrível destino de definhar no planeta que não oferece a mesma atmosfera que o seu planeta natal.
O cenário muda quando no primeiro dia do náufrago Olimar encontra uma pequena criatura vermelha, que parece uma planta, mas que tem a incrível habilidade de andar pela terra, a qual ele nomeia de Pikmin. estes pequenos seres parecem gostar de Olimar e se mostram disciplinados para obedecê-los. O viajante descobre uma pequena nave a qual estes pequenos pikmins podem se abrigar, assim como a existência de pequenas fichas e objetos que estes pequeninos podem carregar até a nave e fazer com que isso gere novas sementes que brotam novos pikmins pelo solo. Pronto, Olimar agora entende que pode conseguir um pequeno exército destes pequenos ajudantes.
Com um pequeno grupo de pikmins, Olimar pode quebrar obstáculos, eliminar criaturas hostis a sua presença, explorar mais fundo a região em que aterrissou e, acima de tudo, ele percebe que pode encontrar as peças que se soltaram da nave durante sua queda e então reparar a nave para que possa tentar escapar do planeta antes fatídico prazo de 30 dias. Cabe agora ao jogador gerenciar esse tempo e fazer de tudo para que os dias possam ser produtivos e assim salvar este pobre e pequeno capitão espacial.
Com essa premissa em mãos, o jogador agora tem a tarefa de explorar determinadas regiões desse planeta. Cada região é um estágio do jogo, um local razoavelmente grande, que pode ser explorar de forma aberta, atravessando diversos caminhos distintos, muitos deles fechados por barreiras que devem ser descobertos como atravessar. Um único dia nunca será o suficiente para realizar tudo que há para se fazer em cada uma destas regiões, obrigando o jogador a retornar a cada ciclo de dia para o mesmo ponto de aterrissagem e dali partir para um novo local da região, ou seguir explorando um caminho que no dia anterior não pôde ser concluído.
E quando se fala dia, é no sentido literal também. Olimar descobre que as criaturas do planeta se tornam extremamente agressivas e violentas à noite, tornando impossível inclusive ficar no solo durante esse período. A noite Olimar precisa entrar em sua nave e subir até um certo ponto no céu, esperando o raiar de um novo dia. A pequena nave semente dos pikmins sobe com ele à noite, pois os pequeninos não conseguem sobreviver as criaturas noturnas, não importa até mesmo se estiverem em grandes números. Pikmins que permanecerem no solo, quando a noite chegar, sempre serão devorados pelas criaturas que residem em cada uma das áreas do planeta.
Quer saber quando tempo dura o dia no mundo de Pikmin? Bem, saiba que o tempo pode variar entre versões lançadas, as sequências e nível de dificuldade estabelecido para o jogo, mas em média, o tempo do dia no universo da franquia tende a durar na média de 13 minutos. Esse é o tempo que o jogador tem para sair da nave, eliminar inimigos, criar novos pikmins e então ir até a peça da nave que precisa ser recolhida e ainda assim é preciso ir com a peça até a nave antes do anoitecer, caso contrário é preciso deixá-la para trás para só então a recolher no dia seguinte.
Uma regra muito importante a se saber sobre o ciclo dos dias em ambos os jogos é que quando o jogador retorna a uma mesma área em sequência ao dia que se encerrou, isso acaba impedindo que inimigos maiores ressurjam uma vez que tenham sido eliminados. Acaba sendo uma ótima forma de otimizar o tempo do relógio, já que batalhar contra estes inimigos maiores leva alguns minutos, além de lhe fazer perder alguns pikmins, o que lhe obriga a rever a contagem e as vezes ter que dar atenção a criar novos. Então, a dica de ouro é permanecer dentro da mesma região até ter recolhido tudo dentro dela.
Entretanto esse conselho só funciona uma vez que o jogador já tenha conseguido obter todos os tipos de pikmins que há nestes jogos. E sim, o primeiro encontro com eles não se dá pela mesma região inicial. É preciso ir conferir quando uma nova região é desbloqueada, afim de encontrar todos os tipos de pikmins, pois muitas vezes os itens perdidos estão além do pikmin que jogador já descobriu, sendo necessário avançar e depois retornar ao estágio abandonado.
Em Pikmin 1 o jogador irá encontrar os três tipos clássicos da franquia: vermelho, amarelo e azul. E sim, pikmins não são todos iguais, então cada cor tem lá sua utilidade fundamental. O Pikmin Vermelho é do tipo brigão, perfeito para o embate contra inimigos grandes e ferozes. Além disso ele é imune ao fogo, o que permite que ele atravesse barreiras em chamas ou combata com máxima eficiência inimigos que cospem fogo.
Já o Pikmin Amarelo é aquele tipo que pode ser arremessado em grandes alturas, permitindo que ele alcance áreas que os demais pikmins não conseguem ser chegar. Neste primeiro jogo não existe esse aspecto, mas a partir de Pikmin 2, essa classe também se prova imune a campos elétricos, o que os tornam perfeitos para quebrarem cercas elétricas. No primeiro jogo, os amarelos são os únicos pikmins que podem carregar pequenas pedras explosivas, que são utilizadas para quebrar certos muros de pedras. Os amarelos também podem brigar contra inimigos, contudo eles causam um pouco menos de dano do que o dano padrão dos vermelhos, porém, estando em grande quantidade os amarelos são tão ameaçadores para alguns inimigos quanto uma pequena tropa vermelha.
Por fim, existe a classe do Pikmin Azul. Esse tipo de pikmin que pode andar por trechos com água, como pequenas poças. As demais cores de pikmins se afogam se entrarem na água, e elas podem entrar na água por engano muitas vezes. Quando isso acontece o jogador tem apenas alguns segundos para chamá-los, pois há uma pequeníssima janela de tempo antes deles se afogarem. Já os azuis não, estes são extremamente bem adaptados, e podem até mesmo combater inimigos naturais desse ambiente, ainda que também não consigam causar a mesma quantidade de dano do que um pequeno grupo vermelho.
As regiões deste primeiro jogo mesclam desafios em que o jogador precisa trabalhar gerenciando suas tropas coloridas entre desafios que vão abrir obstáculos, derrotar inimigos, explodir coisas, enquanto recolhe as peças de sua nave. Não é precisa andar apenas com um único tipo de pikmin, sendo possível misturá-los. Há apenas uma regra na quantidade numérica: só é possível andar com uma tropa de 100 pikmins em sua totalidade.
Para isso o jogador tem em mãos alguns recursos para tornar prático a organização da tropa. Na área de aterrissagem é possível guardar e tirar pikmins de suas naves, afim de respeitar o limite de 100 deles, e controlar quanto quer de cada cor em campo para explorar com Olimar. Quando se está explorando, as vezes é preciso separar os pikmins em grupos de cores, e um dos botões do controle faz isso, ordenando-os que parem de seguir Olimar e assim eles se reúnem em seus grupos de cores, permitindo que o jogador chame apenas um tipo de cor, diante da necessidade ou riscos que o que tiver a frente ofereça as demais classes.
Então, por exemplo, pode ser que o jogador se depare com um trecho em que há água e não dá para construir uma ponte. Você então separa os pikmins e reúne apenas os azuis para atravessar esse trecho. Chegando do outro lado, pode perceber que existe um ponto de construção, a qual ordena que os pikmins azuis hajam nesse ponto e assim construam uma ponte. Pronto, agora dá para voltar ao ponto inicial e chamar os pikmins das demais cores. Essa é a dinâmica do jogo, entender qual pikmin usar em alguns momentos, afim de conseguir limpar o caminho até a nave, enquanto descobre meios de levar a peça perdida até a mesma.
É uma mecânica realmente de micro gerenciamento. Muitas vezes você precisa colocar algumas dezenas de pikmins para quebrar uma parede, enquanto leva outro grupo para eliminar alguns inimigos, e outros para construir pontes ou levar fichas e inimigos nocauteados para suas naves sementes e assim criar mais pikmins. Se o jogador ficar parado esperando apenas uma única coisa de cada vez, perceberá que o tempo de 30 dias não será o suficiente. Há 30 peças perdidas da nave, então no mínimo deve-se conseguir uma peça por dia para completar a missão de resgate e restauração completa da nave do Capitão Olimar.
Uma dos elementos de apresentação que mais acho encantador em Pikmin 1, e que se perde um pouco nos demais, é a certa melancolia do náufrago perdido, do personagem que não sabe se conseguirá sair de onde caiu. Há um mix de desespero e esperança em Olimar, que é apresentada ao jogador por meio de folhas de um diário que ele escreve ao final de cada ciclo de dia concluído. Nesse diário ele conta um pouco o que aconteceu em seu dia, dependendo dos atos do jogador, enquanto conta mais sobre si mesmo, do medo do que ele pode perder se não sair do planeta, assim como da esperança de que conseguirá volta para casa, seu planeta.
E é muito legal como estas notas de um diário em andamento não possui exatamente um texto fixo. Cada jogador vai ler trechos diferentes, porque executará coisas distintas, dada a liberdade do jogo para cumprir objetivos em ordens diferentes. Tudo bem que existe uma programação para isso e os textos ao final do jogo irão revelar sempre as mesmas coisas, caso tudo tenha sido descoberto e avistado, mas a ordem diferente é um charme que não era comum na época em que o jogo fora lançado.
Estes diários também podem dar dicas importantes, como fraquezas de chefes, quando você passar por um ciclo em que possa perder para um grande inimigo, decidindo encerrar o dia apenas com Olimar. Em situações assim, ele escreve em seu diário sobre a derrota, enquanto pensa se não deveria explorar outro ponto de vista, falando sobre possíveis fraquezas que o inimigo poderia ter. Isso é um script de programação tão bacana, tão bem pensado. É o jogo conversando com o jogador, diante de uma situação inusitada criada por um cenário humano.
É por meio dessas páginas que Olimar também pondera se poderá escapar do planeta apenas com partes essenciais da nave, contanto que você consiga encontrar as peças principais e necessárias. Sendo assim possível escapar sem ter encontrado todas as peças da nave. Mas quais são essas peças? Fica o desafio.
Entretanto não vai achando que Pikmin 1 é um jogo muito difícil. Sinceramente, não acho. É mais sobre a questão de saber se micro gerenciar e fazer várias coisas ao mesmo tempo na medida do possível, não ficando preso a uma atividade em que você apenas fique parado olhando os pikmins trabalharem. 30 dias é tempo mais do que suficiente para conseguir todas as peças. Pessoalmente, desta vez, em que joguei para essa análise, fiquei bem orgulhoso de ter levado apenas 24 dias para escapar do planeta. Nada mal, não acha?
Sucateiros espaciais (Pikmin 2)
Expandindo a exploração
Três anos se passaram depois que o primeiro Pikmin foi lançado e a Nintendo então aprendera muito a respeito do hardware do GameCube, tanto é que quando Pikmin 2 chega, a sequência vem com um salto enorme de qualidade em relação a aventura anterior. Muita coisa foi acrescentada, e para melhor!
Algumas regras e premissas foram mantidas: o limite para 100 pikmins em campo fora mantida, assim como o retorno dos pikmins de cores azuis, vermelhos e amarelos. O jogo também funciona em ciclos de dias de 13 minutos em média, sendo que Olimar ainda precisa se recolher a atmosfera durante o período noturno, a qual os pikmins que ele encontrou os seguem. Continuam os puzzles para descobrir caminhos e como levar itens do mundo até a nave, mas desta vez não são peças de naves, mas itens da civilização humana.
Porém a estrutura básica foi mantida, as melhorias foram gigantescas. Uma das que mais me chamou a atenção ao jogar ambos os títulos em sequência para esta análise foi a própria inteligência artificial dos pikmins. Como o jogador controla Olimar e não necessariamente os pikmins, que apenas os seguem, no primeiro jogo era muito evidente como os desenvolvedores estavam aprendendo como deveriam fazer para que as criaturinhas pudessem seguir o jogador e como nem sempre isso se provava ser muito eficiente a depender dos obstáculos de cenário.
No primeiro Pikmin era totalmente normal que os pikmins ficassem presos em esquinas de certas áreas ou então quando era precisa atravessar uma ponte, um monte deles iam diretamente para a água a depender do ângulo da câmera e da posição do jogador controlando o Olimar. Era um pesadelo como não havia qualquer auxílio para que eles demonstrassem o mínimo de inteligência para entrar numa linha de percurso que não os levassem a ficarem presos no cenário ou os levassem para a morte certa.
Isso muda completamente com a inteligência artificial aplicada nos pikmins de Pikmin 2. Na sequência a massa de seguidores entendem, por exemplo, que quando Olimar precisa atravessar uma ponte, todos eles precisam se afunilarem de modo que todos atravessem EM CIMA da ponte, e não mais pelos lados, não mais indo direto para a água para se afogarem. Os momentos em que eles ficam presos no cenário se tornam significativamente mais raros do que ocorrem no primeiro jogo.
É uma mudança significativa, que mostra que os desenvolvedores aprenderam como aprimorar a inteligência dos pikmins, enquanto que não era algo que o jogador conseguia controlar diretamente no jogo anterior. E mesmo que desta vez eles se virem sozinhos, há um comando que permite o controle mais livre do grupo, ao segurar um botão e o dar comandos para que eles irem para um lado ou outro. Dá para até mesmo formar uma fila com os pikmins.
Deixando de lado o aspecto técnico, e viajando até os confins do espaço para entender a trama, Pikmin 2 se passa um pouco depois do primeiro, quando o Capitão Olimar consegue realizar sua ousada fuga do planeta PNF-404 e chega ao seu planeta natal. Lá ele descobre que a companhia a qual trabalha está passando por uma grave crise financeira, agravada inclusive pelo desaparecimento no último mês. Contudo, ao narrar para seu chefe sua aventura no planeta dos pikmins, logo eles descobrem que um artefato que Olimar trouxera de lá como lembrança, uma tampinha de garrafa, vale uma razoável quantia monetária em seu planeta!
Olimar então conta ao seu chefe que o planeta dos pikmins está repleto de artefatos assim. Logo fica claro o que deve ser feito: é preciso retornar ao planeta descoberto por Olimar e coletar a maior quantidade possível de artefatos afim de saldar a dívida da companhia. Para isso o chefe da companhia ordena que Olimar retorne até o planeta, mas desta vez em companhia de outro empregado da empresa, afim de lhe auxiliar. Assim somos apresentado ao Louie, o novo companheiro de aventura de Olimar.
A trama, ainda que simples, reflete uma mudança importante no gameplay de Pikmin 2. Primeiro que não há mais o prazo de sobrevivência do primeiro jogo. Não existe mais um limite de 30 dias para vencer a narrativa, mantendo apenas o conceito de ciclos de dias afim de saldar a dívida o mais rapidamente possível em um ranking final da campanha. Contudo a mudança mais significativa é que agora o jogador pode controlar simultaneamente dois personagens comandantes: Olimar e Louie!
Ter dois comandantes muda bastante a dinâmica do jogo, ainda que isso não elimine a quota de 100 pikmins em campo, pode dividir as tarefas entre Louie e Olimar, com os personagens indo em direções opostas em cada área, com o jogador podendo alternar entre eles num simples apertar de botão e isso ocorrendo em tempo real é uma grande economia de tempo de micro gerenciamento. No primeiro jogo, ir com o Olimar de um lado ao outro de uma área, gastava um tempo significativo do dia. Pikmin 2 oferece ao jogador muitos recursos de praticidade no que diz respeito a jogabilidade ao oferecer dois personagens para se controlar simultaneamente.
Contudo essa não é a única adição de elementos presente na sequência. Uma das mais legais são as cavernas, conceito que veio a ser inserido na fórmula da franquia justamente a partir do segundo jogo. As cavernas são pontos de entrada para labirintos do tipo sala a sala, a qual o jogador vai descendo andar a andar, eliminando inimigos e coletando itens, até encontrar um enorme chefão ao final da caverna. São segmentos longos e demoradíssimos para serem completados, a qual o jogador não pode desistir sem a penalidade de perder tudo que recolheu até então, com o jogo salvando a progressão anda a andar.
As cavernas são um ambiente complicados de serem lidados por conta do fato de que o jogador só pode levar 100 pikmins para dentro delas e estando lá dentro, não é possível criar novas sementes que irão gerar novos pikmins. Então pense em uma situação em que logo no primeiro andar, você perca 80 pikmins, restando apenas 20 deles. Você vai continuar descendo andar a andar, apenas com esses 20 pikmins, não podendo voltar a superfície para criar novos e aumentar seu pequeno exército. Nas cavernas o cuidado para não perder um pikmin sequer acaba sendo redobrado.
Ao adentrar nas cavernas há também certos avisos quanto aos riscos que você irá encontrar dentro delas, como água, fogo, eletricidade e veneno, indicando assim quais cores de pikmins levar para lidar com cada um destes elementos. Ir para uma caverna com indicador de água, e não ter nenhum pikmin azul, fará com que eventualmente você tenha de desistir da caverna porque não vai conseguir lidar com inimigos que estejam na água e nem mesmo atravessar alguns caminhos que exijam a utilização de pikmins azuis que possam abrir caminho aos demais pikmins de outras cores.
Quanto ao elemento veneno, mencionado acima, isso me dá a oportunidade perfeita para mencionar que Pikmin 2 traz duas novas classes de pikmins, aqui exclusivamente encontrados dentro das cavernas: pikmins das cores branca e roxa. O Pikmin Branco é uma classe que pode lidar com ambientes com nuvens tóxicas com veneno, podendo fechar buracos tóxicos e abrir paredes que estejam cobertas com nuvens de veneno. Há também um tipo de inimigo que solta gases tóxicos ao tomar dano que os pikmins de outras cores não conseguem lidar, restando aos pikmins brancos lutarem contra estes insetos fedidos.
Estes pikmins são pequeninhos em relação aos demais e não são tão bons assim de luta, entretanto, quando devorados por inimigos, tendem a fazer mal ao mesmo, pois o contato com altos níveis de toxidade acabaram tornando-os venenosos quando devorados, causando assim grande dano quando mortos de tal maneira. Pikmins brancos também são os únicos que podem encontrar objetos que estejam completamente enterrados no solo, sendo muito importante levar alguns em todas as cavernas que se explore, ainda que não tenham alerta de veneno antes de iniciá-las.
Já o Pikmin Roxo, ele é um tipo de classe tanque, uma criatura bem gorda e pesada. Ao ser arremessado nos inimigos, tem uma grande chance de atordoá-los por importantes segundos. Mas não são necessariamente pikmins de batalhas. Mesmo atordoando os inimigos, é sempre bom arremessar pikmins de outras cores em sequência, para que o dano possa ser extensivo. Por serem pesados, os pikmins roxos não são arremessados em distâncias muito longas, por outro lado, estes pikmins são bem fortes e possuem a capacidade de levantar objetos que normalmente necessitariam 10 pikmins para se erguer. Então imagine encontrar um item que precise de 30 pikmins para levar até a nave, se tiver três pikmins roxos em seu grupo, basta pedir que os três, poupando assim que seja utilizado 30 outros pikmins do seu grupo. É um classe que torna super conveniente ter ao menos uns 5 em seu grupo de 100, já que 5 irão equivaler a força de 50 pikmins!
Ficou claro que pikmins branco e roxo são uma mão na roda, certo? Porém como eles possuem muitas vantagens, sabiamente os desenvolvedores restringiram um pouco a forma como o jogador pode obtê-los. São pikmins que não possuem, ao menos em Pikmin 2, as tais naves sementes, que permitem a fabricação de novas criaturas quando as mesmas levam fichas e inimigos para dentro delas. A classe roxa e branca são apenas encontradas em cavernas, quando o jogador oferece um pikmin de qualquer cor para uma certa planta da cor destes novos pikmins. Assim você meio que troca um vermelho, azul ou amarelo por um roxo ou branco.
Normalmente você consegue uns 5 ou 10 pikmins destas novas cores quando vence uma caverna. E eles são guardando dentro da própria nave de Olimar quando o dia se encerra e é preciso voar até a atmosfera a noite. São pikmins que o jogador sempre precisar ter o cuidado para não perder, seja na caverna, seja na exploração da superfície. Claro que quando se progride mais pela campanha, você vai aumentando essa população, ao poupá-las e usando somente quando necessário, e assim não fica tanto no risco de chegar em algum ponto do jogo em que não tenha mais nenhum. Lembre que se tratam de jogos de micro gerenciamento, e se você não gerenciar direito, não importa a cor, sempre terá o risco de acabar sem nenhum pikmin e terá que repensar e revisitar locais para criar mais deles, inclusive as cavernas já vencidas.
Indo adiante, há outro ponto sobre as cavernas que preciso mencionar, especialmente em relação a época em que Pikmin 2 fora lançado: cada andar é gerado de uma forma um pouco aleatória, pegando pedaços pré-moldados sendo posicionados de forma randômica. Isso não parece tão incrível assim hoje em dia, já que é um elemento muito comum em jogos roguelike, mas para a época em que a sequência fora lançada, esse tipo de situação não era assim tão presente nos jogos.
E ao retornar para jogar o título em pleno 2023, pude perceber que a tecnologia da época não era assim tão inteligente como esse aspecto é nos jogos mais moderno. Tive algumas situações em que o andar da caverna se moldou em uma situação que trazia uma grande inimigo muito próximo ao local inicial da caverna, fazendo ele atacar meus pikmins antes mesmo que eu conseguisse organizá-los afim de poder atacar a ameaça. Quando isso acontecia sempre perdia muitas unidades das criaturinhas, inviabilizando que eu conseguisse continuar o andar ou até mesmo o progressão da caverna sem passar por um aperto muito grande, diante do número reduzido de sobreviventes, tornando extremamente difícil continuar a caverna.
A tática que encontrei em situações assim era desligar completamente o jogo, sem salvá-lo, pois ao carregar novamente o savepoint, o andar da caverna que aleatoriamente acabou comigo, era remodelado de outra forma, permitindo que me encontrasse em uma situação um pouco melhor do que a situação anterior. Trapaça? Não sei afirmar, mas certamente isso me livrou da frustração de reiniciar algumas cavernas do zero. Antes resetar somente o andar que dificultou a minha vida, do que reiniciar toda a caverna, o que acabaria gerando uma situação diferente de andar do mesmo jeito.
Pikmin 2, como sequência, também apresenta muitos novos inimigos em relação ao jogo anterior, assim como novos chefes. A sequência também remodela alguns chefes do jogo anterior, tornando-os mais frequentes em algumas situações, como o pássaro pescoçudo, enquanto também remodela alguns deles, como o inimigo que cospe chamas e agora passa a ter uma variante que cospe água. Há inimigos que cospem pedras, que explodem, mini aranhas, novos tipos de joaninhas, besouros elétricos etc. A variedade da sequência é muito maior.
As áreas também são bem mais variadas na sequência. Há muitos novos cenários, desde as cavernas, como também indicações de mudanças climáticas, como ambientes com neves e com folhas de outono, enquanto cavernas podem oferecer ambientes com superfícies metálicas e enferrujadas, áreas com piso de madeira e brinquedos e objetos de jardinagem, assim como de piqueniques. Nos ambientes abertos, o jogo também revisita alguns do jogo anterior, enquanto remodela estes níveis com novos obstáculos e inimigos, assim como oferece melhores texturas do que as apresentadas no primeiro jogo. É um salto elogiável no que diz respeito a Direção de Arte do jogo.
Por fim, um último aspecto que acho válido mencionar, e que se iniciou em Pikmin 2, diz respeito ao multiplayer, basicamente segmentado em dois modos: 2-Player Battle e Challenge Mode Co-op. No primeiro, dois jogadores ficam frente a frente, em tela dividida, em pequenos estágios em que precisam competir entre si, cada um com times de 50 pikmins cada, para ver quem é o primeiro a coletar 4 artefatos humanos, lidando com inimigos e sabotagem um dos outro, vencendo quem coletar 4 dos 7 itens primeiro, ou perdendo caso fique sem os 50 pikmins ou o líder, Olimar ou Louie, sejam nocauteados por algum perigo presente no estágio. Um modo que apresenta 10 arenas para batalha, o que é uma boa quantidade de cenários.
Já o Challenge Mode, modalidade que inclusive existe em single player no primeiro jogo, retorna aqui para funcionar tanto de forma individual, quanto de forma cooperativa para dois jogadores. Nesse modo, dois jogadores cooperam para pontuar, eliminando inimigos, e coletando itens, dentro de um tempo, enquanto vão vencendo nível a nível, sendo que o jogo apresenta mais de 30 estágios. Também funciona em tela dividida, e cada jogador controle, ou Olimar, ou Louie, trabalhando juntos para vencer cada um dos níveis propostos.
Em um aspecto geral, consigo concluir que Pikmin 2 é um baita jogo, muito maior do que o primeiro em todas as áreas possíveis. Apresenta muitas novas mecânicas, enquanto refina diversas outras presentes no primeiro jogo. A inteligência artificial, tanto dos pikmins, quanto dos inimigos, é muito sagaz e esperta. Há mais inimigos, mais cenários, mais itens colecionáveis, há menus de enciclopédia de objetos e inimigos, há mais história, mais desafios, mais tempo de jogo, quase que o triplo do que leva o primeiro para ser vencido. Fora as modalidades multiplayer, e a continuidade da aventura, uma vez que o jogo termina uma primeira vez, quando a dívida é paga, porém alguém é esquecido no planeta.
Considerações Finais
Pikmin 1 + 2 são experiências que sobreviveram as décadas em que ambos os títulos foram lançados, ainda que tenha sinais de que são jogos de um outro momento do mundo dos games, e que reforçam o quanto a franquia cresceu, sequência a sequência, tornando ainda mais animador o conhecimento de que em alguns dias o Nintendo Switch receberá o inédito Pikmin 4, que virá recheado de novidades em relação a clássica fórmula. É um pacote de jogos que é a prova crível de que como uma franquia evolui e se aperfeiçoa com a passagem dos anos, e de como é importante dar novas chances para que isso aconteça.
Ambos os jogos são indicados para se revisitar, contudo, caso você só tenha disponibilidade para adquirir um, que seja Pikmin 2, que é maior e mais completo em relação ao original. Ainda que não ache certo desprezar o brilho e o charme de Pikmin 1, que é como tudo começou. Bom que um jogo não depende do outro e você pode jogar na ordem que bem entender.
Mas será que vale a pena revisitar ambos os clássicos sabendo que Pikmin 4 está logo ali, virando a esquina? Sinceramente não acho que os jogos da franquia Pikmin sofram do problema de super exposição, de causar cansaço ao jogador quando jogador em sequência. Sinceramente após terminar o segundo, eu me peguei pensando se não deveria revisitar o terceiro, enquanto o quarto título não chega. E isso só funciona porque cada jogo é muito único, oferecendo mecânicas novas, cenários diferentes e pikmins distintos. O terceiro também apresenta novos pikmins, assim como o quarto fará. Cada jogo é único e por isso funcionam e não atrapalham ou cansam quando jogados em janelas tão próximas um do outro.
São jogos que encantam e estão dentro de um gênero que não tem tanta concorrência assim. Mesclam aventura, estratégia, puzzles e gerenciamento de tropas, tudo junto. Até mesmo jogos com estratégia de tropas, muitas vezes não oferece essa mesma gama de elementos, ou dinâmica e ritmo. Pikmin é uma franquia singular e tem muito do DNA da Nintendo ao oferecer jogos simples, mas nunca fáceis demais. Sempre há o desafio, a imersão e o mundo interessante e cativante. É maravilhoso que toda a franquia Pikmin agora esteja presente no Nintendo Switch. É um jogo que está no coração de todo fã da Nintendo.
Quando ao debate de remasterização simples em HD ou um remake completo, acredito que ambos os títulos ainda não necessitariam de uma remake completo do zero. A Direção de Arte ímpar sobrevive ao tempo e apenas a remasterização em HD tem seus méritos de manter a experiência mais perto dos lançamentos originais, enquanto em nenhum momento o jogo vá soar feio demais em televisores de altíssima resolução. Sim, há texturas esticadíssimas no primeiro Pikmin, mas nem mesmo isso conseguiu me tirar da imersão e de quão carismático é esta experiência original.
Para concluir, acabei percebendo que em nenhum momento desta análise comentei o quão fantástico é o trabalho de efeitos sonoros e da própria trilha sonora destes clássicos. Do canto dos pikmins atrás do jogador, das músicas em cada estágio. São duas obras que invadem sua audição, que você não quer jogar com o volume muito baixo. E é pela imersão sonora que você acaba adentrando nesse mundo, sem justamente dar atenção aos gráficos que soam apenas um pouco datados.
Este é um outro super poder da Nintendo, do cuidado que ela dá para o “ouvir” de seus jogos, que o tornam tão incríveis e resistentes a passagem do tempo. Todo mundo, alguma vez na vida, já cantarolou algum jogo da empresa, e em Pikmin, certamente após algumas horas jogando, será impossível não cantarolar um pouco algo que ouviu dentro da sua experiência acústica. Então sim, venha para esse incrível mundo de Pikmin, como tudo começou aqui, em dois clássicos absolutos do Nintendo GameCube.
Galeria 1 + 2
Dando nota
Sensacional poder reviver dois clássicos tão icônicos num só bundle por um preço honesto - 9
Jogabilidade que sobreviveu décadas desde seu lançamento original, continua muito divertido - 8.8
Remasterização super simples, apenas para rodar bem nos atuais monitores, sem nada novo, mantendo até mesmo as texturas esticadas - 7.5
Pikmin 1 é curtinho, mas tem um charme único na franquia, com sua melancolia e contagem regressiva para o jogador sair do planeta - 8.8
Pikmin 2 expande de forma impressionante as premissas da fórmula, trazendo muitas novidades em todos os aspectos de jogo - 9.8
Cavernas geradas proceduralmente em Pikmin 2 estavam a frente dos jogos da época, chega a ser impressionante - 8.9
Trilha e efeitos sonoros continuam encantadores, com melodias que grandam na mente do jogador - 9
8.8
Nostálgico
Pikmin 1 + 2 nos leva a reviver dois clássicos incríveis do Nintendo GameCube, com toda a experiência retrô da época, que mesmo com pequenas limitações, sobrevive muito bem as décadas que se passaram. São dois jogos bem diferentes, que demonstram muito bem como a franquia evoluiu desde sua concepção. Essa nova versão em HD não traz nenhuma novidade gráfica, mantendo-se fiel ao material original, apenas adaptando a resolução aos atuais monitores. E tudo bem, porque esteticamente estes jogos já tinham um charme indiscutível a sua época. E como é maravilhoso que o Switch agora tenha a quadrilogia completa da série!