Análise | Nocturnal

Disponível para PlayStation, Xbox, Nintendo & PC

Nocturnal é um jogo de ação e plataforma que foi desenvolvido pela Sunnyside Games, estúdio suíço formado em 2013 – também responsável pelo jogo Towaga: Among Shadows (2020) – e publicado pela Dear Villagers, tendo sido lançado agora no último mês de junho, estando disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e 5, Xbox One, Series S|X e PC (Steam).

O jogo conta com localização para o nosso português, apesar de não contar com dublagem nos diálogos, todas as legendas, textos da interface, descrição de habilidades e etc está tudo em um bom português, o que é muito bem vindo para os jogadores brasileiros.

A aventura aqui é um side-scrolling 2D, com lindos gráficos desenhados a mão, que dão um belo destaque visual ao conto de fantasia, a qual o jogador irá se envolver em um mundo de luz versus sombras, a qual o ambiente precisa ser iluminado por chamas, afim de que você lide com adversários que se aproveitam das sombras para causar grande dano, e ficarem muito bem protegidos do jogador. Incendeie sua espada, o ambiente, e principalmente, seus inimigos!

Um conto entre Luz e Trevas

O mundo de Nocturnal é dividido em dois reinos: World of the Seen (que numa tradução literal seria “o mundo visível”), protegido pela chama ardente da Fênix, e o Unseen (que seria “o mundo invisível”), um lugar maligno e escuro onde as pessoas estão presas em uma névoa, aparentemente sem fim. Para facilitar a vida vou me referir a eles como mundo visível e mundo invisível a partir de agora.

Os habitantes do mundo invisível ansiavam pelo verde e pela vida selvagem do mundo visível, onde por sua vez, as pessoas rezavam para os céus pedindo a bênção da poderosa Fênix para protegê-los de todo e qualquer mal. Não pense que as coisas eram fáceis no mundo visível, longe disso, muitas vezes a vida era difícil e eventualmente até brutal mesmo sendo um local iluminado. A escuridão do mundo invisível violou a barreira que separava os 2 mundos e invadiu o visível com sua névoa escura, corrompendo as pessoas e tudo ao redor, levando o povo do visível a implorar pela intervenção de sua Fenix protetora para tentar salvá-los.

O protagonista entra no meio dessa muvuca de luz e escuridão ao retornar de uma turbulenta viagem marítima. Ardeshir é um soldado da Chama Dourada que ao voltar a sua terra natal, Nahran, nota que algo está muito errado por lá, já que a névoa sombria tomou conta de tudo. Mas Ardeshir não possui poderes especiais e não é imune aos malefícios da névoa, sendo esta inclusive a maior causa de suas mortes na mão do jogador. Tudo bem, então como ele vai conseguir se safar?

Agora que vem a parte interessante: Ardeshir empunha uma espada especial que pode ser incendiada e assim, esta se torna sua única defesa e fonte de luz na escuridão. Muitos guardas e soldados encontrados alegam que Ardeshir é um traidor, pois não impediu a invasão da névoa e estava longe no momento em que ela aconteceu, o que nos mostra que apesar de serem dominados pela névoa eles mantêm suas memórias já que reconhecem ele, e não encaram muito bem esse retorno do protagonista da aventura.

Espada (temporariamente) flamejante

A jogabilidade lembra em muito o exploração dos jogos da série clássica de Prince of Persia, onde não precisamos ficar indo e vindo pelo ambiente, não como o gênero metroidvania. Aqui geralmente as portas se fecham após passarmos, impossibilitando o ir e vir por áreas já visitadas. Outra coisa que me lembrou Prince of Persia foi a temática dos ambientes e do próprio protagonista estar sempre portando uma espada.

Os quebra cabeças que devemos resolver para abrir as portas, e caminhos, geralmente envolvem o acender de tochas ou a eliminação de inimigos, já que as rotas nem sempre estão abertas à exploração logo ao chegarmos. Aqui em Nocturnal muita coisa fica na miúda, o jogo não irá lhe dizer como abrir uma porta, então vamos ter que explorar e descobrir, entretanto na maioria das vezes está vinculado ao acender tochas, a abertura de novos caminhos e/ou na eliminação de certos inimigos. Você passa a entender os elementos chaves de progressão.

A espada flamejante em si não possui um nome pomposo ou especial, mas usá-la é bem fácil e intuitivo para o jogador. Ao simplesmente golpearmos uma fonte de fogo como velas e tochas, automaticamente a espada fica em chamas, e é aí que a mágica acontece. Com a espada em chamas podemos acender outras fontes que estejam desativadas, como outras velas, tochas etc, e também colocamos fogo em arbustos, pergaminhos, tecidos de cortinas, tapetes e por aí vai. O efeito visual das coisas pegando fogo ao fundo do cenário ao serem golpeadas é bem interessante.

Claro que estar com a espada em chamas evita danos pela névoa e também causa mais dano aos inimigos corrompidos pela escuridão. Uma dica estratégica é tentar colocar fogo nos tapetes quando os inimigos estiverem sobre eles, já que eles estarão andando sobre o fogo não vão resistir por muito tempo. Antes que me perguntem, já vou avisando, somos imunes a danos com o fogo da espada, então podemos sair acertando tudo e todos que não vamos tomar dano pelo fogo. Mas, deve-se tomar cuidado, pois a chama não é eterna. Há um marcador na parte inferior da tela que vai diminuindo com o tempo até se esgotar e a espada voltar a ficar sem as chamas. Se isso acontecer em uma área de névoa fechada é questão de segundos até Ardeshir encontrar seu prematuro fim.

Mas não entre em desespero, pois ao golpearmos outra fonte de fogo a barra volta a se encher e o processo de “apagar” a espada se inicia novamente, então fazendo isso antes que ela se apague por completo nos dá mais alguns segundos de fogo e pode vir a ser o que nos salvará da morte. Enfrentar inimigos com a espada normal é possível, mas o dano infligido neles será menor e o dano que o jogador vai sofrer será maior, já que os seres da névoa tem vantagem estando em seu ambiente, é claro. Além disso, ainda temos inimigos que ficam ocultos por estarem na escuridão e que podem feri-lo com extrema facilidade, e isso sem receberem dano de sua lâmina se ela estiver sem a chama. Se estiver em um local desses, onde o fogo é a única coisa que vai ferir esses inimigos especiais, sua única opção é correr e torcer para escapar a tempo ou reacender o fogo de sua espada e continuar a exploração.

Como mencionei anteriormente, podemos golpear muitas coisas com nossa espada em chamas, temos vasos e caixas pelo caminho e inclusive ao derrotar os inimigos iremos receber pequenos cristais. Estes por sua vez vão ser usados para liberar e aprimorar habilidades para Ardeshir quando ele encontrar estátuas da Fênix pelo caminho, e quanto melhor e mais avançada for a habilidade, o número de cristais será maior, então vai demorar um pouco para atualizar e liberar tudo. Dentre as opções de melhorias, temos aumento da vida, do tempo de duração da chama e outras coisas menores.

Para evitar dores de cabeça, compre logo a habilidade de converter as chamas da espada em vida, obviamente a espada vai se apagar após tal feito, mas é uma das únicas formas de recuperar sua vida e escapar da morte certa. Com o passar das batalhas vai se tornar algo natural e você vai fazer isso sem pensar, então não se preocupe.

O primeiro chefe do jogo após ser derrotado vai fornecer uma nova arma que poderemos utilizar juntamente com a espada, revelar qual arma e todas as suas funcionalidades poderia estragar sua diversão, mas a jogabilidade vai mudar um pouco após adquirir essa arma arremessável. Posso antecipar também que mais para frente ainda a necessidade de ficar recarregando a chama da espada também vai passar por uma mudança, facilitando a jogabilidade. O ponto é que existe progressão inclusive na jogabilidade do combate e da exploração.

Gráficos & som

O visual de Nocturnal é muito bonito e nos traz surpresa ao refletir as mudanças do ambiente após as queimadas causadas pelas chamas da espada que vão destruir estruturas que pegaram fogo. Temos também em várias partes vitrais com imagens que chamam a atenção pelos detalhes e pelo fato de serem simples partes do cenário, mas que estão ali e que chamam a atenção ao passarmos por perto. É difícil passar e não reparar nesses detalhes.

A trilha sonora por sua vez não é aquela coisa fantástica que vai ficar na sua cabeça, mas temos uma mudança nos momentos de combates mais importantes e nas batalhas de chefes. Não é algo que vai marcar o jogador, ainda que também possa ser qualificada como ruim. Acabou soando muito básico aos meus ouvidos.

Considerações finais

Nocturnal é um jogo gostoso de se jogar, apesar de sofrer de uma inconstante dificuldade dos duelos, às vezes as batalhas se tornam muito difíceis sem mais nem menos, principalmente contra os chefes, a qual poder desviar e refletir golpes é a única forma de vitória e no entanto, nas batalhas contra inimigos normais pouco se usa isso. Tal elemento que acaba escalando a dificuldade dos chefes, por não estarmos adaptados e termos que mudar nossas estratégias de forma abrupta, mas não é nada injusto ou impossível, e que não se consiga após algumas tentativas sucessivas.

Controlar Ardeshir na maior parte do tempo é tranquilo e divertido ao lutar contra os diferentes tipos de inimigos, que possuem formas diferentes de serem derrotados, muitas incluindo a manipulação do fogo da espada. Enfrentar uma quantidade grande de inimigos invisíveis ao mesmo tempo sempre é desafiador, pois as estratégias para cada um podem ser diferentes e ainda temos que controlar a duração das chamas da espada.

Visualmente julgo peculiar a decisão da direção de arte do jogo em manter as imensas barras horizontais pretas na parte superior e inferior da tela. Não que atrapalhem, já que julgo que há apenas o desejo dos criadores que o jogo aparente estar em super widescreen, contudo, não consigo deixar de pensar que seria muito bem se o jogo preenchesse toda a tela da televisão. Uma decisão incomum e que não achei agradável ao ponto de julgar necessária.

Nocturnal é um jogo independente relativamente curto, tem uma duração em média de quatro a cinco horas, dentro da presunção de que o jogador vai errar algumas batalhas, morrer aqui e ali, e assim ir aprendendo como progredir pela aventura. Pelo YouTube você consegue encontrar speedruns que terminam o game em menos de duas horas, mas é bem improvável que isso ocorre com você na primeira vez que for experimentar a obra. Não é um jogo longo, mas tem uma boa duração para sua proposta, preço e sua esfera de produção indie. Vale a pena!

Galeria

1 / 50

 

Dando nota

A mecânica desenvolvida para o uso da espada de fogo é muito legal para a jogabilidade - 9
Efeitos visuais das interações do fogo com os cenários e os itens são bem feitos e mesclam de forma impressionante ao gameplay - 8.5
Combate é fluido e funcional, mas escorrega um pouco nas lutas às escuras - 7.5
Picos abruptos e desnecessários de dificuldade podem frustrar em certos momentos - 6.5
Merecia ter uma história mais aprofundada, em certo momento ela se torna dispersa e rasa - 6.5
Curta duração de um modo geral, merecia e poderia durar um pouco mais - 7
Direção de arte com altos e baixos, lindos gráficos desenhados à mão, mas as barras horizontais pretas a todo momento... hum... - 8

7.6

Bacana

Nocturnal termina antes do esperado, o que deixa o jogador com aquele gostinho de querer mais de sua proposta, que é muito boa enquanto se apresenta. Belos gráficos desenhados a mão, totalmente localizado em português, combate fluído e muito interessante a mecânica com as chamas, da necessidade de iluminar os ambientes e de como o fogo interage com os mesmos. Uma experiência um tanto curta, mas honesta e divertida.

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