Análise | Disney Illusion Island

Disponível para Nintendo Switch

Disney Illusion Island é um aconchegante medroidvania com diversos elementos casuais, para atrair jogadores inexperientes ao gênero, enquanto também abraça o fator diversão em família, tão presente no Nintendo Switch, ao permitir que toda aventura principal seja realizada com quatro jogadores, que localmente trabalham cooperaticamente em um jornada pela busca de três livros mágicos em uma gigantesca ilha paradisíaca.

Seu lançamento aconteceu no último dia 28 de julho, e de forma exclusivíssima ao Nintendo Switch, sem qualquer informação, neste momento, de que pode vir a ser lançado em outras plataformas eventualmente. O título foi desenvolvido pela Dlala Studios, o mesmo estúdio que reativou o universo de Battletoads em 2020, que tem muitos méritos, mas não atingiu o sucesso que (certamente) merecia. Illusion Island tem a distribuição global da Disney Electronic Content (ou apenas Disney Games).

O visual gráfico do jogo segue um pouco do estilo que a Dlala apresentou na versão de 2020 de Battletoads, ao optar por gráficos desenhados totalmente à mão, com um estilo bem cartoonizado, quase semelhante, mas não totalmente igual, a recém finalizada série animada O Maravilhoso Mundo de Mickey Mousea qual seus episódios finais inclusive já se encontram disponíveis no serviço de streaming Disney Plus.

Disney Illusion Island segue uma trama a qual Mickey, Minnie, Pateta e Donald são convidados para uma ilha paradisíaca, sob o pretexto um falso piquenique, que se revela na verdade um pedido de ajuda para que o grupo auxilie seus habitantes a recuperar três importantes livros do conhecimento, artefatos que geram proteção e segurança na ilha, e que agora estão desaparecidos. O grupo logo aceita a heroica missão e parte para diversos pontos de Monoth Island, afim de descobrir o paradeiro de cada um destes livros.

Com essa sensação de parecer uma grande aventura em desenho animado, uma importante crítica que infelizmente é preciso ser feita para o mercado brasileiro é de que o jogo infelizmente não conta com localização em português, fazendo com que todas as cenas animadas e seus diálogos ocorrem em inglês, assim como os muitos diálogos e explicações de mecânicas e contexto do mundo e da história encontre certa barreira linguística para aqueles que não estão tão bem habituados com o inglês, fazendo com que uma parte mais infantil do público acabe não apreciando plenamente todo o bom humor que estes personagens trazem ao longo da aventura em si. Uma tremenda mancada a meu ver, para um jogo que clama tanto por um público mais casual e jovem.

Vai e vem paradisíaco

Como comentei ao abrir este texto, Disney Illusion Island parte da premissa dos moldes de um jogo metroidvania, a qual o jogador explora um vasto mundo interconectado, onde deve ir descobrindo habilidades e formas de avançar por cada uma das áreas, indo e vindo por locais já visitados para entrar em novas bifurcações, e assim encontrar novos caminhos. Não é um jogo fragmentados em fases, portanto.

Contudo a aventura parte de algumas premissas bem particulares ao gênero em si, sendo talvez o mais evidente o fato de que a jogabilidade é ausente de qualquer modelo de combate. Não quer dizer que não exista inimigos, até há, mas o jogador não tem meios de causar qualquer dano a estes, restando apenas, como única opção, desviar e evitar estes. E partindo desta ideia fica em evidência a principal premissa da jogabilidade: agilidade e destreza para lidar com uma exploração focada em correr e saltar por obstáculos, paredes e plataformas.

E é tão simples quanto a descrição do parágrafo acima. Jogadores com habilidades normais na ação de saltar entre plataformas ou quicar em paredes para alçar maiores alturas não vão encontrar grande dificuldade em Illusion Island. O jogo é relativamente fácil, o que não significa que seja enfadonho. A diversão surge por meio de outros fatores.

Outra particularidade do título em relação aos demais metroidvanias do gênero, e que auxilia essa diversão mencionada, parte do princípio que é uma aventura que pode ser desfrutada em tempo real com quatro jogadores de forma cooperativa. Isso também explica o porquê a câmera do jogo não é colada ao personagem, como você poderá notar nas telas ao longo desta análise, sempre tomando grandes distâncias e mantendo uma grande área de enquadramento da tela, para que quatro jogadores possam estar ali, sem aquela típica sensação de aperto dentro de um espaço físico, que ocorre quando todo mundo precisa ficar muito próximo um do outro, afim de não travar a tela de avanço do jogo. Para isso a câmera de afasta de uma forma razoável, deixando os personagens com esse aspecto minúsculo, mas de tamanho razoável o suficiente para que qualquer um consiga acompanhar seu personagem, sem perdê-lo de vista.

No modelo multiplayer cooperativo a jogabilidade também entrega algumas mecânicas que não existem quando se desfruta da aventura em single player, ainda que esta seja totalmente possível de ser realizada. Jogando a partir de dois jogadores, estes podem se ajudar durante a aventura, o que permite que um jogador mais experiente possa auxiliar diretamente algum amigo ou parente que não esteja habituado com videogames ou jogos de plataforma em que os pulos muitas vezes partem de pontos exatos e momentos de agilidades com o analógico que uma pessoa não habituada sempre se sente perdida nas primeiras tentativas.

Já notou como muitos jogadores de primeira viagem tem dificuldade de entender que saltar avançado exige estar se movimento com seu personagem e pressionar simultaneamente o botão de pulo? Marinheiro de primeira viagem normalmente olham para o controle, “qual o botão do pulo?“, e com isso param de mexer com o personagem. Apertam o pulo e só depois mexem no analógico. Claro que isso faz o personagem não ter impulso algum. É pensando nestes jogadores iniciais que o modo multiplayer local entrega alguns facilitadores.

O primeiro dele é permitir que um jogador suba em uma plataforma e jogue uma corda ao jogador que estiver embaixo. Permitindo que ele suba até o primeiro jogador, sem a necessidade de realizar um salto acrobático. Mas é claro que conforme o jogador novato vai entendendo os controles, ele também vai se sentir, com o tempo, confiante para realizar seus próprios saltos e escaladas, e quando isso acontece nas primeiras vezes, sempre haverá um dano aqui e ali, já que o jogo tem obstáculos como inimigos ou espinhos que vão ocasionar isso. Cada personagem tem uma certa quantidade de corações que podem perder antes de morrerem, sendo que na modalidade normal são três corações.

Estando em multiplayer, jogadores podem ser abraçar, o que lhes garante um coração extra (dourado). Que pode ser reposto quantas vezes for necessário, bastando que ambos os jogadores se aproximem e apertem um botão que ativa o abraço. Perfeito para evitar que um jogador inexperiente possa acompanhar um jogador por toda a aventura, sem que haja a frustração de ficar morrendo.

Há ainda duas outras habilidades cooperativas, menos utilizadas, mas presentes como opção, uma em que um jogador pode saltar sob o outro, estando ambos no chão, e também um obtido mais a frente da aventura, quando os personagens ganham a habilidade de mergulhar na água, a qual um jogador pode teletransportar o outro em uma área aquática para perto de si, o que faz sentido considerando que o setor aquático é realmente repleto de inimigos que atiram projéteis e que exige bastante da agilidade dos jogadores, sendo uma das últimas áreas da aventura em si.

Então sim, Disney Illusion Island é um jogo que foi concebido para funcionar melhor em multiplayer cooperativo, com a pessoa jogando ao lado da outra presencialmente, já que não existem funções online neste título. É para sentar no sofá em família e com os amigos e curtir a aventura fantástica de Mickey e seus amigos. E vamos admitir que o Nintendo Switch é a plataforma ideal para isso, já que um par de joy-cons, incluso no próprio console já permite que se jogue com duas pessoas, bastando mais um par para que quatro pessoas possam desfrutar a aventura.

Não significa, claro, que você não possa desfrutar do título de forma solitária e individual. Eu mesmo tive ambas as experiências, com a minha esposa jogando comigo em alguns momentos, porém passei boa parte da aventura jogando sozinho mesmo, e assim impondo o meu próprio ritmo, sempre mais ágil e veloz do que se ela estivesse comigo, por ter menos experiência, precisando ir mais devagar no avançar da exploração, por conta dela estar presente comigo. Das duas formas me diverti, de maneiras diferentes claro. Com ela, a diversão fica em auxiliar e ajudar, enquanto sozinho estou livre para avançar como um maluco, sem tempo para respirar. Ambos os jeitos funcionam e estão corretos, cada qual ao seu momento e estilo.

Dito tudo isso, volto ao ponto em que comecei essa discussão: alegando que a aventura é um metroidvania, mas diferente do habitual. Sem combate, mais focado num modelo de jogabilidade mais zen e casual, avançando plataforma a plataforma, salto a salto, podendo estar em quatro pessoas ou sozinho, dentro da disponibilidade e possibilidade de cada um. Mas reforço que é muito um jogo que soa ser mais divertido de se jogar com familiares e amigos, ainda que possa ser desfrutado sozinho.

Tal como ocorre nos metroidvanias tradicionais, Disney Illusion Island também possui um sistema de progressão baseado em encontrar habilidades que desbloqueiam novos meios de atingir áreas que num mundo conectado o jogador pode enxergar, mas não conseguirá, num primeiro momento acessar. Aqui estas habilidades tentem a ser bem simples, mas garantem um senso de evolução ao longo da aventura. São habilidades que vão desde adquirir um pulo duplo, poder se impulsionar de uma parede a outra, planar, usar um gancho para se balançar, deslizar e até mesmo nadar. Em nenhum momento haverá qualquer habilidade que envolva qualquer tipo de poder para atacar inimigos.

E não são apenas as habilidades de progressão que serão encontradas ao longo da exploração da aventura, pois há diversos itens de colecionismo que tornam ainda mais agradável aos jogadores explorar cada cantinho das muitas áreas da ilha Monoth, incluindo a busca por paredes falsas que também esconderão muitos itens. Vão desde cartas que contam a história de cada um dos habitantes da ilha, como também objetos que remetem aos principais curtas animados do Mickey & Cia.

Outro item importante são os Glimts, uma espécie de orb azul espalhada pelo mundo e que preenchem um mural que, ao ser finalizado, garante ao jogador um coração extra na sua barra de saúde. Em certo momento da aventura outro tipo de momento de colecionismo surge, envolvendo se aproximar de qualquer objeto que se parece com o clássico símbolo das orelhas do Mickey e bater uma foto. Logo em seguida o jogo demonstra a foto batida, com os quatro personagens sempre fazendo caras e bocas frente ao símbolo.

Importante apontar também que em multiplayer os jogadores não precisam competir por tais itens, pois a coleção é coletiva e valem para todos. Isso mantém a premissa de que é realmente um jogo para cooperar e nunca competir.

A aventura também apresenta alguns confrontos de chefes, mas estes momentos de confrontos em todas suas oportunidades envolvem atingir plataformas que vão acionar algum contra ataque contra o chefe. O combate nunca é direto, sempre o escopo destes confrontos a agilidade para desviar dos ataques, enquanto salta para chegar nos pontos em que estes botões serão acionados. São momentos interessantes, mas nunca se tornam tão difíceis como poderiam ser.

Alguns pontos a se observar

Com um escopo casual e diversão em família, Disney Illusion Island não escapa de certas críticas que certa classe de jogadores poderiam fazer para com o título, esperando que houvesse mais desafio ou melhor atenção a certos aspectos técnicos. Não posso deixar de mencionar, por exemplo, a ausência de troca em tempo real de personagens em meio a ação do jogo, o famoso drop in, drop out.

Para que um jogador possa trocar de personagem, é preciso sair do jogo, voltando ao menu principal e recarregando novamente o save da campanha em que se está jogando. Uma burocracia sem sentido quando se pensa que até mesmo alguns os beat em up desenvolvidos nos anos 90 já permitiam que jogadores trocassem seus personagens em tempo real quando morressem. Muitos jogos da era Arcade permitiam isso. Não permitir que isso seja feito em um título atual é irracional. Não tem motivos para isso não ocorrer!

Outro aspecto que me decepciona um pouco é você ter quatro personagens, Mickey, Minnie, Pateta e Donald e não ter ao menos um aspecto único a cada um dos personagens. Em termos de jogabilidade, todos os personagens são exatamente iguais. Pulam na mesma distancia, correm na mesma velocidade, tudo. Visualmente, quando cada um ganha uma nova habilidade, o objeto que cada um ganha é diferente, mais é um efeito puramente estético e muitas vezes em tom do bom humor.

Pateta vive ganhando objetos que se correlacionam com comida, enquanto Donald sempre acha que seus objetos são mais esculachados do que os demais, por exemplo, enquanto Mickey ganha um lápis enorme para deslizar pela parede, Donald recebe um desentupidor. Mas novamente, é puramente estético e pela piada, pois na prática, os personagens são exatamente idênticos em seus atributos e status. Fico com a impressão de que isso acaba sendo uma oportunidade perdida, e que seria interessante se cada personagem pudesse ter qualquer particularidade única.

Dentro dos aspectos técnicos, também acho uma decisão estranha os muitos diálogos que os personagens possuem em meio a ação, e que não podem ser consideradas cutscenes, a qual eles ficam parados em tela, conversando com um personagem, mas estão numa espécie de looping de um gif animado, sem se expressarem de forma mais enfática e mais animada. A sensação é que isso enfraquece um pouco a forma como a história se apresenta nesse momento, sendo que existem formas mais expressivas de realizar estes momentos e que talvez não exigissem criar ainda mais movimentos e expressões para eles. Jogos japoneses, por exemplo, se utilizam muito da imagem estática com diálogos como estes, mas sempre alterando o desenho estático a depender do que se está sendo tido. Penso que poderia existir soluções mais elegantes.

E é diferente quando o jogo exibe suas cutscenes, que não são muitas, mas quando surgem são bem longas e parecem mesmo um desenho animado. Estas animações em si são perfeitas e bem produzidas. Pecam apenas, como já mencionado, o fato da aventura não ter sido localizado em nosso idioma.

Considerações finais

Disney Illusion Island está longe de ser um dos maiores jogos que o Nintendo Switch está recebendo em 2023, contudo está longe de ser um que mereça ser ignorado. Acredito que quem procura jogos para se divertir em família, que tenha crianças que frequentem a casa, para brincar com o filho, com primos e afins, é um daqueles jogos que fazem todos sentarem num sábado a tarde para se divertir com uma aventura leve e descontraída.

Visualmente o título é encantador, com seus gráficos desenhados a mão, que dão vida ao quarteto clássico do mundo de Walt Disney, personagens que mereciam estar mais presentes em mais jogos hoje em dia, não tenho dúvida disso, especialmente quando penso nos jogos clássicos que Mickey deixou na década de 90. O mundo é muito colorido e repleto de detalhes, ainda que tenham muitos aspectos abstratos, fazendo com que a cenografia e ambientação não sejam uma das mais marcantes, contudo os personagens sim, estes desempenham este papel.

A trilha sonora do jogo também me encantou, especialmente uma em particular em que em certo momento da música, existe um assobio para acompanhar a melodia. Logo me vi assobiando junto com a trilha ao fundo, o que é uma coisa muito disneyana. Pena que essa trilha é exclusiva para uma das áreas principais do jogo, enquanto nas demais, algo tão peculiar assim não volte a acontecer, ainda que não sejam trilhas ruins.

Falando em mundo, a aventura entrega realmente um mundo gigantesco e totalmente interconectado. Eu fiquei muito impressionado com o quão grande é o mapa quando a aventura de fato chega ao fim. Um mapa que destaca muitos itens deixados para trás, informa ao jogador se cada área está 100% completa ou não em relação aos itens colecionáveis e o que faltou explorar. E não se preocupe se deixar itens para trás, pois em certo momento da aventura será possível viajar rapidamente entre os muitos checkpoints presentes nesse mundo. Mas isso vai acontecer bem próximo do final da aventura, então não tenha pressa para tal.

Outro aspecto que acho digno de elogiar diz exatamente em relação a forma como o mundo se conecta para um metroidvania. Isso porque o risco desse gênero é sempre na questão de fazer o jogador voltar para áreas já exploradas, afim de atingir o próximo caminho ou área. Se isso não for bem feito, a progressão pode se tornar enfadonha, cansativa e frustrante. Isso é um aspecto que não ocorre aqui, pois o layout favorece muito os corta caminhos e as áreas são bem divididas ao ponto de que uma vez concluído um segmento desse mundo, o jogador não vai precisar voltar para ele tão cedo, evitando uma reprise exaustiva e desinteressante.

No mais, vale apontar que Disney Illusion Island é um título que está sendo lançado com um preço menor do que os grandes blockbusters atuais, estando presente digitalmente na eshop do Switch por R$199 (no momento em que está análise está sendo publicada). Valor este que acho justo para o que ele se propõe a ser. Uma aventura em tem em média 8 horas de duração, podendo se alongar estando com amigos jogando de forma mais casual ou um jogador mais complecionista que queria coletar todos os itens da aventura. É um jogo que tem o DNA daquilo que o Nintendo Switch tanto se identifica. Uma aventura cheia de charme e diversão. Fantástica para relaxar e descontrair após um dia cansativo de estudo ou trabalho.

Galeria

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Dando nota

Visualmente te leva para dentro de um desenho animado de Mickey Mouse - 9
Jogabilidade casual, focada em permitir que qualquer pessoa possa jogar a aventura, em solo ou com amigos - 8.6
Trilha sonora tem a magia do universo de Walt Disney - 8.8
Pena a ausênca de localização em português, criando obstáculos para um público mais novinho - 5.5
Pequenos tropeços ténicos bobos, como não permitir a troca em tempo real de personagens - 6.5
Metroidvania causal, sem combate, que funciona muito bem dentro da proposta do gênero - 8
Exploração não enjoa, dificuldade leve, muitos itens para se coletar, recompensa o jogador pelo simples ato de jogar - 7.5

7.7

Divertido

Disney Illusion Island é uma divertida aventura casual, perfeita para ser reunir alguns amigos e crianças para uma descontraída jornada metroidvania por um mundo mágico que o universo de Mickey & cia consegue proporcionar de maneira tão charmosa e alegre. Um título que aposta na jogabilidade de saltos e movimentos de agilidade, sem combate, para descontrair em uma jornada mais leve, mas nunca enfadonha. Entregando um visual de desenha animado, o jogo esbanja simpatia e diversão. Pena não ter localização em nosso idioma.

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