Análise | Detective Pikachu Returns

Disponível para Nintendo Switch

Detective Pikachu Returns assume uma difícil tarefa em dar continuidade as aventuras de Tim & Pikachu, iniciadas lá em 2016, no primeiro Detective Pikachu, lançado para Nintendo 3DS, em contraponto da IP se tornar um fenômeno quando foi adaptada para o cinema, em um filme lançado em 2019. A sequência agora precisou explicar mistérios que o jogo original não contou, enquanto procurou maneiras de funcionar depois de um filme de sucesso mundial e que acabou indo além do final do jogo a qual foi baseada.

Mas calma aí, vamos retroceder alguns passos, antes de ir aos finalmentes desta análise. Detective Pikachu Returns foi lançado no último dia 6 de outubro, com exclusividade para o Nintendo Switch. E sim, o título é uma sequência direta de seu primeiro jogo, não tendo qualquer vínculo com a adaptação para os cinemas. Seu desenvolvimento ficou a cargo do mesmo estúdio do jogo anterior, a Creatures Inc. que é o terceiro braço da The Pokémon Company, juntamente com a Nintendo e a Game Freak.

Os eventos de Detective Pikachu Returns dão continuidade imediata ao jogo anterior, contudo, não existe a obrigação de que os jogadores precisem ter jogado a aventura de 2016. A dupla protagonista segue em busca do paradeiro de Harry, pai de Tim e dono do Pikachu que acompanha o garoto.

Ao iniciar o jogo, o próprio Pikachu faz um resumo de sua jornada até o momento, quando ele e Tim desvendaram certo mistério, enquanto procuravam por Harry, e se envolveram com um vilão chamado R, que desejava controlar a mente dos pokémon. Returns tem início enquanto ambos estão sendo premiados pela prefeitura de Ryme City por todos seus atos de bravura no caso então solucionado. Resumo feito, o mistério ainda permanece: o que aconteceu com Harry?

Detective Pikachu Returns é, em sua essência, um jogo de aventura narrativa, a qual o jogador irá interagir com diversos personagens, humanos, e do mundo pokémon, enquanto explora algumas ambientes, investigando pistas, resolvendo puzzles bem simples, e realizando deduções em tornos de descobertas feitas ao longo de alguns capítulos, sempre com o jogo lhe apontando o que fazer ou para onde ir. É uma história interativa.

Dito isso, é importante apontar que o título não conta com uma localização em português, tendo como opções jogar a aventura em inglês ou espanhol em seus textos e menus apresentados, enquanto o áudio possui apenas inglês e japonês como opções. Para um jogo com aspectos tão importantes de se contar uma história, a falta de localização pode ser uma enorme barreira de acessibilidade para qualquer um que não tenha facilidade com os outros idiomas alternativos, especialmente as crianças, a qual o título parece ter um grande foco. A Nintendo e a The Pokémon Company precisam começar a localizar os jogos do mundo pokémon para uma geração mais nova de crianças brasileiras. Fato.

Comunicação Pokémon

Um dos grandes trunfos desta série investigativa no mundo pokémon está no fato de que Tim pode entender completamente o Pikachu de Harry, então ambos conversam tranquilamente entre si, enquanto o Pikachu também faz a ponte de conversa com os demais pokémon, traduzindo o que estão falando ao Tim, e respectivamente ao jogador. É um conceito muito maneiro!

Claro que o porquê Pikachu e Tim poderem se comunicar é um dos mistérios que o jogo de 2016 lançou e que acabará sendo respondido nesta sequência, mas falar mais a respeito disso seria entregar spoilers desnecessários. Mas o que é interessante aqui é dar essa perspectiva única ao jogador de como os pokémon conversam, interagem e suas personalidades nestas peculiares situações.

A narrativa do jogo vai trabalhar muito nesse conceito do que pokémon estão dizendo, como eles podem ser testemunhas de crimes e mistérios, e como Pikachu consegue fazer essa ponte com Tim e os humanos que estão metidos em cada uma das história. E veja só, pokémon não são como os humanos, muitas vezes eles não entendem direito o que acontece ao redor, e são ingênuos e até como pensamos que os animais podem ser: simplórios em seus raciocínios. É uma adaptação muito bem feita entre criaturas que andam nesse liminar entre o simples animal, mas um pouco além de tal estágio evolutivo.

Outro aspecto peculiar é poder conhecer a vida de muitos pokémon além da tradicional jornada pokémon e suas batalhas. Aqui os pokémon estão vivendo suas vidas com os humanos ou em seus habitats naturais, e é tudo que eles sabem fazer. Não é sobre movimentos, tipos, fraquezas e estratégias de combate. Aprendemos como mudança de temperaturas afetam eles em seus ambientes naturais, como se comportam como residentes na casa de humanos, como vivem no ambiente urbano de Ryme City e até mesmo como criam grupos de comando quando aprisionados. Como diferentes espécies interagem e tratam uma as outras. Um conceito que a narrativa dos jogos principais nem sempre conseguem trabalhar.

Investigação autoguiada

Falar da jogabilidade também é mencionar um pouco da história presente em Detective Pokémon Returns, pois ambos os aspectos se misturam na experiência proporcionada ao jogador. Sendo uma aventura de narrativa, a jogabilidade é quase sempre passiva, com o jogador assistindo algumas cenas, lendo muitos diálogos, mas sempre com atenção aos eventos e o que está sendo mencionado, pois isso é informação para os momentos de dedução investigativa.

Quanto a aventura ela é levada pelo que sugere o título: um mistério de detetive, porém não um, mas o jogo se divide basicamente em cinco grandes casos que estão ligeiramente interconectados e que ao fim levará as respostas que os fãs da série aguardam desde a aventura anterior: o real destino e paradeiro de Harry. Esse é o plot principal, mas que dará uma enorme curva em cinco capítulos (casos) para que Tim e Pikachu realizem todas as conexões e descubra os ideias dos vilões da trama.

A ação da jogabilidade se resume em entrevistar NPCs, porém não vá esperando uma árvore de diálogos que podem se fragmentar em diversas possibilidades. Não é assim. Toda a aventura do título é bem linear. Você vai aonde o jogo manda ir, fala com quem ele pede para falar e faz o que o jogo lhe pede para fazer. Não é um título que dá muita liberdade ao jogador, o que me leva a dizer novamente como o escopo do público alvo da aventura parece ser indicado as crianças. Jogadores de mais idade não se importariam que a condução fosse mais vaga e com dois ou três caminhos, e é uma pena que isso não seja feito.

De volta as entrevistas, essa interação com NPCs abrem diversas caixas de diálogos. Basta o jogador selecionar todas as conversas apresentadas para descobrir tudo que aquele personagem tem a dizer e a interação com ele, nesse momento, não te levaram a mais nada. Não que as conversas não sejam importantes ao mistério de cada caso, claro que propositalmente são. Mas é uma jogabilidade muito simples.

Quando o jogador não está entrevistando personagens, onde muitas vezes você tem que falar com todo mundo ao redor, você estará explorando alguns locais de espaço limitado, como uma praça, uma mansão, uma caverna, uma delegacia e assim por diante. A meta nestes momentos é descobrir qual o próximo passo da investigação. O que você precisa encontrar, com quem precisa falar, afim de engatilhar o próximo evento da história.

Estes momentos de exploração são interessantes, pois apresentam pokémon vivendo suas vidas, permitindo que o Pikachu converse com quase todos, e descubra mais sobre suas vidas, o que estão fazendo ou se sabem algo sobre o caso em questão. A vida em Ryme City é curiosa para se explorar.

O terceiro elemento da jogabilidade de Detective Pikachu Returns, além de conversar e explorar, estão na resolução de pequenos puzzles. Aconteceu uma cena de crime? Vá até o local e procure pistas. Tente entender como um assalto aconteceu, ou como uma pessoa desapareceu ou como encontrar provas para inocentar alguém acusado por um crime que não cometeu.

No sentido dos puzzles, os achei bem simples. Não existe um momento em que eles possam travar o progresso do jogador, apenas porque você não encontrou um meio de solucioná-los. No geral se você clicar em tudo que for interativo na cena, conseguirá fazer a história andar.

Os casos são fragmentados em pontos de enigmas que precisam ser solucionados antes de Tim e Pikachu conseguir avançar ao próximo passo da investigação. Quando o jogador conseguir falar com todo mundo, explorar o que for preciso e realizar as observações necessárias, Pikachu pedirá para que você abra seu caderno e deduza qual a resposta para a pergunta que estão procurando. O jogo lhe dá, normalmente, três opções com base no que descobriu e assim você precisa dizer qual é a resposta certa para a história dar continuidade.

Pode responder errado? Há alguma consequência? Até onde pude perceber, não existe tal possibilidade. Errar uma dedução automaticamente fará o Pikachu dizer que você está errado e pedirá para escolher outra opção, até conseguir acertar. Volto a dizer que é uma aventura linear, sem muita margem para que o jogador quebre a condução da narrativa.

Inclusive o jogador consegue, as vezes, queimar algumas etapas na hora de deduzir. Quando se acha todas as pistas de uma dedução, no caderno a marcação do botão fica dourado, porém em algumas situações, depois de algumas pistas, esse mesmo botão é desbloqueado e fica em azul. Quando isso acontece você já pode tentar a dedução pelo erro até que acerte. Isso, claro, se a opção correta já estiver habilidade, o que também pode acontecer de você só encontrar respostas erradas para a dedução.

Pikachu e seus ajudantes

Uma mecânica inédita da sequência são alguns momentos em que Pikachu pede ajuda a pokémon chaves dentro de cada caso e estes passam a lhe auxiliar utilizando suas próprias habilidades. Nestes momentos Pikachu segue com estes pokémon sem a ajuda de Tim, podendo conversar e interagir com outros pokémon enquanto é carregado pelo pokémon ajudante.

Estes seguimentos com os Pokémon Ajudantes são interessantes porque expandem um pouco as interações com o mundo do jogo. Um pokémon pode a farejar cheiros, outro pode quebrar grandes blocos de gelo, assim como outro poderá ver através de algumas paredes, enquanto o último terá habilidade de mover grandes pedras. São habilidades, simples, é verdade, mas num jogo onde sua ação é apenas andar e conversar com as pessoas, essa dinâmica refina um pouco o ritmo do jogo. Fica um pouco mais com cara de videogames, entende?

Além disso os pokémon também passam a comentar sobre esse cenário incomum de um Pikachu montado em outro pokémon, numa situação bem “uau, pode isso? que legal.“, gerando novos diálogos e interações, inclusive com outros humanos que passam a observar a curiosa situação.

Não é um ponto exclusivo, mas é quase sempre durante estes momentos que a aventura libera o jogador para cumprir pequenas tarefas extras, uma espécie de missões secundárias e opcionais, em que alguns NPCs lhe pede algum favor, do tipo “encontre um pokémon perdido pra mim?“. Cumprir ou não estas tarefas não muda o desenrolar a trama principal, mas é um meio de dar mais cor ao mundo sendo experimentado.

Além disso, estas tarefas extras não lhe tira tanto assim da rota narrativa. Normalmente estes pedidos secundários são realizados no mesmo instante em que são feitos, próximo ao local em que se está explorando. Se não for nesse momento, você logo entende que haverá um segundo momento do caso, em que retornará a essa área e poderá realizar tal tarefa. Ou seja, elas ocorrem sempre nos trilhos da aventura principal.

No mais, retornando aos pokémon ajudantes, só é uma pena que ao longo da aventura isso só aconteça com quatro pokémon bem específicos. Parece uma mecânica que poderia ter um potencial melhor explorado, mas que no fim foi inserido aqui apenas como uma ideia para dar um tempero extra ao gameplay que é previsivelmente linear.

Considerações finais

Detective Pikachu Returns é uma sequência muito merecida de uma série com um imenso potencial para se tornar tão grande ou querida como é um Ace Attorney (jogo de tribunal desenvolvido pela Capcom), e não tem problema nenhum que seja voltada para um público mais infantil. É até legal que seja assim! Só que mesmo sendo assim, acredito que os desenvolvedores ainda precisam entender como aprimorar as interações e te fazer se sentir no comando de um caso de detetive e não apenas sendo guiado de forma quase que automática.

Além disso Returns apresenta um grande contratempo que o jogo original não respondeu, mas que o filme de 2019 se atreveu a revelar, e que agora o jogo de 2023 não consegue fingir que não aconteceu: que é o mistério envolvendo o Pikachu falante e o que isso significa em relação ao desaparecimento de Harry. E se você me perguntar se é idêntico ao filme, só vou poder responder “exatamente não“. E qualquer coisa que eu diga além disso, vai te deixar chateado. A sensação que tenho é que faltou ideias para levar o universo para além do que o filme fez. A sequência não consegue essa ponte tão necessária para criar um marco na franquia.

Outra crítica que dá para fazer aqui é o desperdício de oportunidade de criar uma experiência com a tecnologia que o próprio Nintendo Switch pode oferecer em detrimento a outros consoles. Nenhuma função com tela de toque se você resolver jogar na telinha ou nem mesmo sensores de movimentos nos joy-cons. Nada nesse sentido de experiência além do botão convencional. Quando se pensar em tantos jogos que no Nintendo 3DS usavam touch, sensores e microfone, e que funcionariam tão bem num jogo narrativo, parece uma tremenda oportunidade perdida não explorar isso no atual console.

Claro que pontuar estas críticas não significa que o jogo seja ruim, só que ele não chega no potencial que certamente mereceria depois do tremendo sucesso de um filme baseado na franquia. Como uma aventura narrativa, posso dizer que sua experiência é realmente uma montanha russa. Em muitos momentos estava super entretido, querendo saber o que viria a seguir na sua história, me divertido com as conversas dos pokémon e querendo saber mais sobre a trama em si, enquanto em outros momentos, me sentia entediado por saber o que viria a acontecer a seguir ou porque a jogabilidade não conseguia me prender por ser simples demais.

Também preciso reforçar que para um jogo nestes moldes, a ser lançado no mercado mundial, seria mais do que obrigatório sua localização na maior quantidade possível de idiomas. E só posso lamentar que o nosso português não tenha conseguido entrar na seleta lista de idiomas disponíveis. Acredito demais que crianças abaixo da linha dos 10 anos iriam amar esse jogo se estivesse em nossa língua para que elas pudessem acompanhar a história de Tim & Pikachu.

Para concluir, acho que mesmo com tantos pontos críticos, Detective Pikachu Returns é um título a se considerar se você é fã do universo Pokémon e se barreira linguística não for um problema. É uma aventura divertida em muitos pontos, ainda que não seja um jogo grandioso. Mas a bem verdade é que o Nintendo Switch está cheio de jogos grandiosos do universo Pokémon, então é ótimo que seja possível criar estas apostas menores, e que futuramente possam ainda se expandir e refinar. Certamente não figurará como um dos melhores desse ano, mas nem de longe está entre os piores. É uma obra com uma proposta simples, e com uma execução tão simples quanta. Cabe ao seu nicho, sem dúvida alguma.

Galeria

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Dando nota

Sequência que vem para encerrar uma grande questão do jogo de 2016 - 8
Pena que o grande mistério final já foi - 6.5
Jogabilidade é linear demais, nunca largando a mão do jogador - 6.5
Controlar os pokémons em habilidades únicas é uma ótima ideia - 7.5
Conhecer e interagir com os pokémons fora do mundo das batalhas é incrível para quem é fã desse universo - 8
Visualmente o jogo não desaponta, entrando muitas cutscenes (com aúdio) muito bem produzidas - 7.5
É um pecado um título que faria grande sucesso com a criança chegar ao nosso mercado sem localização em português - 5

7

OK

Detective Pikachu Returns surge como uma sequência necessária ao jogo de 2016, afim de expandir a série, mas encontra certos contratempos narrativos em comparação ao filme de 2019, enquanto a jogabilidade se mantém muito simples em contraste ao que poderia oferecer num console com tamanho potencial de interações únicas. O resultado é uma história que tem seus momentos de grandiosidade e diversão, porém faz abordagem muito linear, sem espaço para o jogador se sentir peça importante dessa experiência. E é um pecado chegar ao nosso mercado sem localização, pois é um título que facilmente encantaria o público infantil, carente de experiências como a que o jogo oferece. Acaba sendo necessário o auxílio de um adulto sem essa barreira linguística, o que ajuda, mas está longe de ser o ideal.

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