Análise | Sand Land
Disponível para PlayStation, Xbox & PC
Sand Land oferece uma fantástica aventura imersiva dentro de um clássico do grande mestre Akira Toriyama, que nos deixou este ano, a qual suas obras jamais serão esquecidas. Aqui, acompanhamos uma jornada em busca do mais importante item para a vida: a água, enquanto lidamos com preconceitos e discussões políticas e militares, em meio ao sofrimento daqueles que nada tem. Num jogo que abre o escopo de uma obra em mangá lançado em 2000, e que também recebeu recentemente uma adaptação em animê, que ganhou um conto inédito, e que também se faz presente nesta adaptação em videogame.
O jogo foi lançado no último dia 26 de abril, tendo sido desenvolvido pelo estúdio japonês ILCA, que também foi responsável pelo excelente One Piece Odyssey, lançado ano passado. E é interessante olhar para ambos os títulos, porque enquanto o jogo de One Piece trazia uma história original, e portanto, muita liberdade narrativa para os desenvolvedores trabalharem diálogos, interações e ambientes, aqui no jogo de Sand Land a narrativa se mantém sob o escopo da adaptação do mangá e também do novo arco do animê, sem muito espaço para novas direções narrativas, a qual os desenvolvedores mantiveram com bastante respeito e apreço ao material original. O que não impediu, é claro, de algumas mudanças aqui e ali, contudo a melhor coisa é ver o mundo de Sand Land sendo expandido, justamente por estar trabalhando com uma mídia de tamanha interação aberta.
Distribuído globalmente pela Bandai Namco, o título está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, como plataformas da atual geração. Curiosamente, olhando para plataformas de menor performance, Sand Land foi lançado também para PlayStation 4, porém deixou de fora as plataformas do Xbox One e Nintendo Switch, ao menos nesta ocasião.
Sand Land chega ao nosso mercado com localização em português, por meio de legendas para todos os muitos diálogos do jogo, e menus todos traduzidos. O jogo apresenta áudio para os diálogos e as muitas cenas animadas, mas as opções disponíveis para isso são apenas o inglês e o japonês, sendo que em japonês foram chamados os mesmos dubladores do animê, o que torna a experiência muito agradável aos ouvidos. Afinal o animê também chegou ao Brasil, oficialmente, por meio do serviço de streaming Star Plus, e, num primeiro momento, também só esteve legendado, com sua dublagem tendo sido lançada recentemente, agora no início de junho.
Apesar de estar classificado como um Action RPG, Sand Land segue alguns padrões diferentes, as vezes muito mais parecido com um jogo de aventura de mundo aberto, focado em exploração e atividades secundárias, enquanto entrega um combate em tempo real focado em veículos, em meio a uma progressão semi linear. Claro que existe sim, muitos elementos em RPG, contudo, não me soou como o core elemental de toda a estrutura de jogabilidade.
Peso narrativo
Sand Land conta a história deste reino, que leva o título da obra, uma enorme região desértica que tem sofrido com a falta de água, após um enorme rio que cortava a região secar por completo há alguns anos. Além disso, o país sofre com um passado de guerra e da extinção de um povo que supostamente se rebelou contra o reino.
O jogador acompanha a história do jogo por intermédio de Beelzebub, príncipe dos demônios, filho do grande demônio Lúcifer. A trama começa quando um humano chega a vila dos demônios, Rao, um xerife de uma pequena cidade em Sand Land. Rao diz aos demônios que pretende viajar para o sul, pois suspeita que lá exista um grande lago lendário que pode ajudar a abastecer toda região novamente, porém a jornada é perigoso para um humano sozinho se aventurar, e por isso, pede que os demônios o ajude.
Beelzebub logo se propõe a jornada, interessante em conhecer o mundo e na aventura que lhe aguarda, não importa se for junto a um humano. Logo fica claro que não é possível levar um grande número de demônios, pois os suprimentos são limitados, não se sabe quantos dias a viagem pode ter, e o carro de Rao é pequeno. Contudo, para que o príncipe não vá sozinho com um humano, fica acertado que Thief, um velho demônio da vila também irá, mesmo sem muita vontade, nesta jornada em busca do lago lendário.
Isso é só o ponto de partida da aventura, a qual não irei contar mais nada, afinal o desenrolar dessa trama segue com bastante fidelidade o material original, incluindo cenas e diálogos presentes tanto no mangá (2000), quanto no animê lançado ano passado. Basta dizer que a aventura se desenrola contanto o passado da região, mostrando seu reflexo atual, assim como o que aconteceu com a água, os reflexos da grande guerra, e dos segredos obscuros daqueles que detém o poder do reino, assim como o peso do passado de Rao e de tudo que lhe custou até então.
A região de Sand Land oferece inúmeros perigos, e logo fica claro que o veículo comum de Rao não dará conta de todos perigos da região, afinal, por mais que Beelzebub seja um demônio forte e consiga lidar contra alguns bandidos da areia, a coisa se complica quando entram em cena enormes monstros de areia e um poderio militar composto por enormes tanques projetados para navegar pelas enormes dunas deste ambiente. E é assim que a narrativa insere na jogabilidade a mecânica de explorar o mundo com um pequeno tanque de guerra, roubado em certa oportunidade pelo trio protagonista.
Há que se mencionar também que o jogo parece ter sido desenvolvido em paralelo a criação do novo arco exclusivo do animê, que teve envolvimento do próprio Akira Toriyama no desenvolvimento dos personagens e em parte dos elementos que iriam compor o arco de Forest Land (também chamado de Angel hero Arc).
Por conta disso, game e animê contam essa nova história de uma maneira ligeiramente diferente, ainda que ambos mantenham os mesmo pilares estruturais, tanto em torno do material aquanium, quanto a grande fortaleza, até mesmo a identidade em torno de Ann, e como ela impulsiona a segunda parte da trama, assim como a vilania do anjo Muniel, que no animê se faz bem mais presente desde o início da trama, enquanto no jogo ele toma as rédeas mais próximo ao final.
Essa é a liberdade criativa que mencionei no começo desse texto. Os desenvolvedores do jogo encontraram meios diferentes para esse novo material sugerido por Toryama. Ann, por exemplo, é introduzida bem no começo do jogo, enquanto o arco original ainda está iniciando. Ela está presente com o trio protagonista quando estes decidem roubar um tanque de guerra. Durante esse ponto da trama, Ann se apresenta como uma mecânica e oferece para ajudar a manutenção do tanque e dos demais veículos que estão presentes no jogo, mas não na obra original (como o jump-bot).
Isso em nenhum momento compromete os pontos chaves da trama original. Como mecânica, Ann passa a se estabelecer numa cidade que serve como base, garagem e esconderijo para o jogador, então ela não se faz presente em momentos chaves da trama, que mantém as cenas e diálogos idênticos ao mangá. Claro que a coisa muda quando tem início seu arco, e então ela passa a acompanhar o jogador e se faz mais presente na trama, fazendo inclusive que a personagem ganhe uma árvore de habilidade própria, assim como Rao e Thief possuem desde o início da jogabilidade.
Essa liberdade, criada para expandir a experiência além de um filme animado, deu aos desenvolvedores a oportunidade de criar ambientes adicionais, que certamente irão agradar a qualquer fã do mundo de Sand Land. Até porque como é um jogo que se passa em grande parte em uma enorme região desértica, esse nem sempre é um ambiente propício de diversidade de layout aos desenvolvedores, mas aqui a ILCA se saiu muito bem trazendo lugares inexplorados de Sand Land.
Grandes bases militares, cidades devastadas pela seca, um ferro velho de veículos comandado por uma galera barra pesada, assim como o deserto também guarda alguns lugares deslumbrantes, como grandes dunas de areia movediça e enormes cachoeiras de areia diante de enormes abismos. Sinceramente, nunca havia me impressionado tanto com um mundo desértico em um videogame até vê-lo aqui.
Claro que isso também causa alguns reflexos na narrativa, que também traz conteúdo adicional ao material original. Visitamos cidades e postos militares, conhecemos personagens desse mundo, assim como os muitos veículos para se andar pelo deserto. Muitos até mesmo inspirado do universo de Dragon Ball, como a clássica moto da Bulma quando a mesma encontra Goku ainda criança, pela primeira vez. Isso enriquece a obra, o que é algo que a obra como um videogame pode fazer, enquanto que a produção da versão em animê não pode tomar tantas liberdades assim.
Claro que a comparação com o animê, eventualmente, se torna inevitável. Tendo, recentemente, consumido ambas as obras, digo que assistir aos seis episódios do primeiro arco original do mangá antes de partir para o jogo é o ideal, pois ali você acompanha a trama sem o conteúdo que o joga expande, como foi idealizado pelo autor em sua proposta original. Faz mais sentido, mesmo que depois, quando for jogar, você possa sentir um certo cansaço narrativo em certos momentos, o que é justificado quando duas obras estão contando a mesma história.
Agora quanto ao arco adicional, acredito que ambas as mídias se complementam. A trama de Forest Land é bem emocionante e empolgante no animê, contudo não aproveita a jornada da descoberta como é na narrativa que a versão em videogame traz. Enquanto no animê, esse arco começa com um belo confronto de Beelzebub e o anjo Muniel, e isso causa reflexos quando a trupe chega a esta nova região, no jogo a ida até Forest Land é mais demorada, com o jogador até mesmo encontrando membros do poderia militar deste reino invadindo Sand Land, em busca do aquarium perdido pela guerra. Algo que não é mostrado no animê, que corta direto para o momento em que todos os artefatos já foram coletados em segredo. Ou seja, as obras se complementam, ainda que não conversem entre si diretamente.
No geral, admito que me diverti muito com essa proposta narrativa de Sand Land, como um jogo. A história é muito bem adaptada, e mesmo que haja muitos diálogos, e nem todos possuam uma Direção de Arte cinemática, ainda assim elas são muito bem escritas, dentro do esperado para um RPG e das limitações entre seguir o material original, e expandir algumas coisas. Claro que você vai encontrar diálogos com NPCs que não acrescentam nada, e super clichês, mas isso é um fardo do gênero, e tudo bem, não é um grande problema. Fora isso, quando as cinemáticas ocorrem no jogo, acho que mandam bem e entregam uma qualidade ótima. As expressões dos personagens, com os gráficos in-game, sem a necessidade de CGI, são dignas de elogios.
RPG Veicular
Feito as ponderações em torno da narrativa e as comparações com a mesma obra em diferentes mídias, agora é preciso deixar tudo isso de lado e pensar em Sand Land como um videogame, analisando sua proposta de jogabilidade e as mecânicas apresentadas para tornar a experiência divertida e imersiva. Dito isso, sua proposta é bem única, mesclando elementos de RPG num jogo de mundo aberto, com diversas atividades para serem realizadas, com uma exploração que vai exigir de inúmeros veículos para cobrir o imenso terreno de uma imensa região desértica.
Claro que o principal veículo dessa empreitada é seu fiel tanque, o mesmo que se faz presente no material original. Mesmo que ele seja o primeiro veículo apresentado no jogo, o tanque não é substituído pelos demais que vão surgir dentro da progressão da aventura, já que os mesmo meio que completam as possibilidades de exploração, encaixando cada qual em momentos chaves e oportunos. O tanque ainda continua sendo o melhor veículo para combate, graças ao potente calibre de sua munição explosiva. Há realmente poucos momentos em que o tanque não vai acabar sendo o melhor veículo para destruir seus inimigos.
Contudo, claro que os demais veículos presente no jogo tem suas utilidades. Não vou mencionar todos para não estragar a surpresa da descoberta, mas outros dois veículos bem iniciais do jogo servem para explorar essa ideia. O Jump-bot, por exemplo, é um veículo feito para saltar em alguns momentos onde não é possível pular com Beelzebub, que apesar de ter um pulo duplo, ainda há escaladas rochosas onde ele não consegue alcançar. Com duas pernas mecânicas enormes, o jump-bot pode fazer estes saltos e alcançar áreas de recursos a qual o tanque obviamente não vai alcançar. Alias, no sentido da exploração, o tanque pode abrir caminho por paredes destruíveis, abrindo inclusive atalhos pelo mapa do jogo.
Outro veículo que surge progredindo pela história, e que apresenta ao jogador outra excelente utilidade é a já mencionada moto, que permite o jogador cruzar grandes velocidades, saltar por rampas na beira de penhascos e, por conta de sua velocidade, não afunda nas dunas de areia movediça, permitindo cruzar estas áreas sem qualquer contratempo. Basta não parar de acelerar, é claro. Isso só para mencionar os três primeiros veículos do jogo, que possui muito mais, que serão desbloqueados com a progressão da trama, inclusive no arco de Forest Land, quanto veículos secretos e opcionais, que o jogador só conseguirá ter se cumprir certas missões opcionais e explorando o mundo de Sand Land.
Ainda que úteis e únicos no elemento da exploração, cada veículo também tem utilidade nas batalhas do jogo, que raramente se dão somente com os personagens à pé, ainda que existam tais momentos. O tanque tem um poder explosivo de ataque, e poderia ser comparado com uma bazuca, alto poder, mas com uma cadência bem lenta de tiro. Já o jump-bot é mais parecido com um lança granadas, com uma melhor cadência do que o tanque, mas com granadas que alcançam apenas uma distância de médio combate. Até mesmo a moto tem poderio de combate, com uma arma que poderia se equiparar com uma espingarda, num combate de curtíssima distância, mas que lida com qualquer inimigo que se aproximar demais. E todos os veículos tem como uma arma secundária uma metralhadora, que causa menos dano, mas acaba sendo útil contra inimigos fraquinhos, como pelotão de soldados que estão à pé seguindo outros veículos do esquadrão.
Todos os veículos possuem um sistema de customização e melhoria de peças de combate e performance. Isso é realizado na garagem em que Ann irá se instalar em certo capítulo inicial do jogo. Todos os veículos tem diversas peças que podem melhorar seus atributos, desde o poderio de suas armas, como sua velocidade, estabilidade e nitro usado para se impulsionar temporariamente ao sair explorando o mundo. Para aprimorar os veículos é preciso de recursos, que vão desde minérios, partes de animais, peças de destroços de outros veículos e muitas moedas. Tudo isso é coletado quase que constantemente, abrindo baús perdido no mundo, eliminando animais predadores que vagam pelas terras e nos entornos das estradas do jogo, assim como as moedas são obtidas também nas batalhas, e vendendo itens que não estão sendo utilizados.
Tenho que dizer que esse sistema de aprimoramento não me conquistou muito. Ele é bem burocrático e complicado, ainda que a coleta de seus recursos seja muito automático. Veículos possuem níveis, como um personagem de RPG habitual, contudo não ganham XP, é preciso ter os recursos certos para subir de nível, além do dinheiro. Se fosse apenas isso, beleza, mas cada parte do veículo, que são de cinco a seis partes, também possuem níveis individuais, que podem ser aprimoradas. Além disso, o jogador também encontra outras partes de veículos de alguns combates com outros veículos, que derrubam partes reutilizáveis. Só que estas partes tem níveis e seu veículo precisa respeitar um nível mínimo para juntar tais partes. Percebe que complicado? Houve diversos momentos do jogo em que me vi dividido entre aprimorar uma peça que possuía, gastando meu dinheiro e recursos, ou aprimorar meu veículo, afim de depois torcer para encontrar uma peça já aprimorada em combate.
Outro elemento que me desagradou um pouco é a falta de filtro e melhor clareza dos itens veiculares do meu inventário que eu posso vender ao muitos lojistas do jogo. Esse menu de venda não permite reorganizar os itens em categorias de suas peças, raridade, ou até mesmo nível. Dificuldade saber o que ainda não usei porque meu veículo estava num nível baixo, ou aquilo que já descartaria porque a peça equipável já seria a mais forte. É confuso e bem chato essa falta de filtro. Um botão que pudesse comparar a peça com aquilo que já está equipada seria o ideal, afim de evitar a venda de peças que ainda me poderiam ser úteis.
Felizmente, nesse aspecto, Sand Land não cobra muito que o jogador se atente tanto ao nível dos veículos ou de suas peças. Dá para mexer o básico, elevar um pouco, pois parece que o jogo não vai punir o jogador por não estar atendo a esse sistema de aprimoramento. Basta equipar peças que forma mais fortes, e ir subindo o nível habitual do veículo sempre que tiver os recursos necessário. Afinal, quando em batalha, sua intenção muitas vezes é vencer sem levar qualquer dano, o que é totalmente tranquilo de se realizar. O jogo é bem generoso nesse sentido, impedindo que o combate seja muito desafiador e frustrante. Fora que há itens de reparo de veículos de sobra durante a progressão.
Isso quer dizer que as batalhas de Sand Land estão presentes puramente pelo entretenimento e diversão. Não existe uma real dificuldade em executá-las, ainda que nas batalhas contra alguns chefes, seja ideal ter um pouco mais de atenção e ao menos um kit de reparo veicular. Para vencer os conflitos basta continuar em movimento, desviando dos mísseis de projeteis que vão lhe causar maior dano, e usando seu poder de fogo contra os adversários. Não é algo que exigirá uma profunda estratégia, o que particularmente não me incomodou, pois como disse, mesmo sendo um RPG, existe certa mistura de elementos aqui oriundos de outros gêneros. As batalhas soam muito mais como algo de um jogo de aventura normal, do que um RPG.
Não posso deixar de mencionar um elemento de jogabilidade que é incrivelmente inteligente e prático, que é a troca de veículo em tempo real. O jogador pode carregar seus veículos em cápsulas, como as que existem no mundo de Dragon Ball, e pode trocar instantaneamente um pelo outro. Ou seja, você não precisa sair do veículo, invocar outro, e então entrar no recém convocado. Tudo ocorre em questão de segundos, é super ágil. Até mesmo em batalhas de chefes dá para trocar entre veículos em tempo real, em meio a batalha. É um aspecto de jogabilidade excelente.
Indo adiante, não restam tantos outros elementos que se destaquem tanto quanto os veículos, que são usados na exploração do mundo e no combate. A exploração, por sinal, é um grande elemento de imersão do jogo, mesmo que no geral, exista muita repetição dentro do mundo. Cavernas com os mesmos itens, poucos animais selvagens diferentes, pontos de controles que são iguais. Impossível em certos momentos não ficar um pouco cansado com mais do mesmo, e passar a evitar alguns elementos de exploração.
Não que não hajam pontos que exigem atenção e interesse do jogador. As vezes é mais interessante sair da estrada e ver o que mais há fundo nas terras do deserto. Encontrar postos secretos e acampamentos, assim como um ou outro animal de maior nível de agressividade. Existe também um quadro de recompensas bem legal na cidade em que Ann se encontra que vai te levar a encontrar algumas batalhas contra inimigos únicos, que são como chefes opcionais do jogo. Vale a pena explorar essas tarefas secundárias. O mundo de Sand Land pode ser rico, mas também pode ser repetitivo, especialmente se o jogador resolver coletar cada baú, entrar em casa caverna e eliminar cada inimigo que avistar.
Outro ponto que também achei fraco é justamente o combate sem veículo. Beelzebub é um forte demônio, mas o combate em tempo real aqui é quase como uma batalha de qualquer jogo de briga de rua. Você tem um botão de ataque e um de especial, mas em 95% das batalhas, basta ficar atacando com o botão normal, que Beelzebub dará conta do recado. O personagem até mesmo possui uma habilidade de fúria, a qual só acabei legitimamente usando quando a história pediu que usasse. Os inimigos, e a inteligência artificial dos mesmos, são básicos demais para exigir que o jogador fique se esquivando ou atento aos perigos de qualquer confronto.
Por outro lado, achei interessante as habilidades dos aliados, que podem ser selecionador num menu circular em meio a batalha. Thief pode ser convocado para coletar espólios dos confrontos ou itens do ambiente, enquanto Rao pode surgir em batalha com um outro tanque e auxiliar o jogador quando houver inimigos demais. Estas habilidade são legais e super úteis. E são desbloqueadas na árvore de habilidades dos mesmos.
Com isso, resta dizer que Sand Land se divide nestes dois aspectos, de sua narrativa, com os personagens conversando, constantemente alias, inclusive explorando o mundo, entregando uma encantadora história, num mundo rico em detalhes, com pontuais cenas de ação muito bem dirigidas, graças aos belos gráficos em animê 3D que trazem excelentes expressões faciais dos personagens. E também de sua jogabilidade, que tem pequenos elementos de RPG, mas que se parece muito com um jogo de aventura 3D habitual, com um mundo a ser explorado e combates em veículos que divertem, mas não necessariamente desafiam o jogador. Existe alguns momentos em que irá se explorar grandes ambientes fechados, mas até dentro destes, você poderá usar os veículos. E felizmente os controles são simples e fáceis de se assimilar. Tudo é muito intuitivo.
Considerações finais
Sand Land surge como uma excelente adaptação de sua obra original, o que é bem surpreendente sabendo que jogos adaptados de animês ou mangás nem sempre consegue fazer uma transição muito natural para tal mídia interativa. Isso acontece porque há sempre as reflexões sobre o que manter igual, o que adaptar e como transformar um conto, em um mundo onde o jogador possa interagir e fazer parte do mesmo. E boa parte de todos esses pontos são ou bem executados ou estão satisfatoriamente bem idealizados aqui.
Visualmente o jogo é incrível, e me parece que o mérito disso é do foco exclusivo do título nos consoles da atual geração, ainda que haja uma versão para PlayStation 4 (a qual não tive acesso e não vi sua performance). Esta análise foi realizado com base na versão do jogo para Xbox Series S, e devo dizer, os ambientes, as animações, todo o mundo apresentado se mostrou muito bonito e sem queda de taxa de quadros, sem engasgos ou travamento. É realmente bem impressionante como o jogo está rodando muito bem.
Na parte sonora, o jogo não se utiliza da excelente trilha sonora do animê, contudo, é bem competente na trilha de ambiente, ao passar aquela sensação do isolamento num ambiente desértico, com pouco ao redor e a alta sensação térmica, trazendo uma trilha que passa essa sensação de quente e distante, se é que dá para se entender desta maneira (desculpa a falta de termos técnicos, sonoridade não é minha praia). Além disso, todos os diálogos do jogo possuem áudio, em inglês ou japonês, o que demonstra o empenho para se trazer uma obra que mistura interação com apresentação cinemática. Os personagens soam muito bem em japonês, além disso o trabalho de localização com as legendas está ótimo, sem o que reclamar.
A jogabilidade é o que fica um pouco nessa corda bamba, entre o bom e aceitável, e o que poderia ser melhor. A ideia de um estilo de gameplay baseado em veículos super combina com o mundo do jogo, a trama original demonstra a importância de ter um meio de transporte nessa vasta região seca. Transformar isso no ponto chave da mecânica de jogo é super inteligente, e dá um toque original e diferencial a experiência. Vai muito além do que poderia se esperar de uma RPG como tal.
Dito isso, o que fica é a sensação de que o jogo peca um pouco justamente ao se intitular um RPG. Vejo-o muito mais como um jogo de aventura e exploração, com pequenas pitadas de um tímido sistema de level oriundo do gênero RPG. Os personagens demoram pra subir de nível, ocorrendo normalmente em pontos chaves da trama, em batalhas contra chefes, enquanto os veículos possuem muito mais um sistema de coleta de recursos para aprimoramento individual do que um ranking de nível baseado em uso e experiência de combate. Fora que o aprimoramento dos veículos é um pouco complexo e (desnecessariamente) burocrático.
O combate fica mais na diversão veicular do que em qualquer dificuldade por meio de alto desafio. É gostoso, mas um pouco tranquilo, o que pode irritar jogadores que poderia esperar algo mais desafiador. O resultado é um jogo que você curte a história, se diverte explorando o mundo e participando de batalhas normais, que dão sentido ao avançar da narrativa e se tornam divertido pela forma como os veículos dão liberdade para batalhar sem apresentar medo ou riscos.
Por fim, Sand Land é uma experiência para fãs, mas que vai agradar a qualquer um que nunca viu nada sobre a obra. Certamente um dos últimos projetos o grande mestre Akira Toriyama esteve envolvido, e que felizmente entregou muita qualidade. É um jogo que respeita muito o material original, que é fenomenal, entregando personagens carismáticos, muita aventura e bastante discussão sobre pontos sensíveis, do preconceito ao colapso de uma sociedade, cuja a causa é sobre os próprios humanos no poder. É uma mensagem poderosa, desenvolvida há mais de 20 anos, mas que continua tão atual como se tivesse sido escrita hoje.
Galeria
Dando nota
Apresentação fantástica, com muito respeito ao material original - 10
Visualmente encantador, expandindo o mundo desértico de Sand Land, com paisagens incríveis - 9.5
Se diz um RPG, mas soa muito mais como uma aventura de mundo aberto - 8
Veículos se tornam a grande atração da jogabilidade, e são excelentes - 9
Combate é simples, divertido sem dúvida, mas carente de algum desafio - 7.5
Com opção de áudio em japonês e legendas em português, a acessibilidade é possível a qualquer faixa etária - 9
Adapta (positivamente) de forma diferente alguns pontos do novo arco (Forest Land) - 8.5
8.8
Incrível
Sand Land como uma adaptação para videogame entrega uma experiência muito competente se comparado com o material original, expandindo o universo, mas respeitando a trama que precisa ser apresentada. A proposta de uma aventura de exploração aberta, somada a elementos de RPG e batalhas com veículos dá super certo aqui. São poucos os pontos fracos aqui, como um combate tranquilo, sem grandes desafios, e certas atividades repetitivas, mas no geral, é uma bela apresentação a um mundo fantástico, com personagens cativantes e uma aventura que vale muito ser vivenciada.