Análise | Paper Mario: The Thousand-Year Door (2024)

Disponível para Nintendo Switch

Paper Mario: The Thousand-Year Door é um clássico que mexe com a memória de muitos fãs, considerado por muitos como a melhor aventura da icônica série de papel com Mario. Lançada originalmente 2 décadas atrás, contando a história de uma porta selada há mil anos, uma princesa desaparecida e Mario numa corrida para encontrar sete estrelas mágicas escondidas pelo Reino dos Cogumelos, enquanto conhece e reúne incomuns aliados em tal jornada. Tudo isso, enquanto uma organização maléfica, a X-Nauts, esconde terríveis planos envolvendo as estrelas perdidas pelo reino.

Lançado no último dia 23 de maio, exclusivamente no Nintendo Switch, este Paper Mario: The Thousand-Year Door é considerado um remake do jogo de mesmo nome lançado em 2004 para o Nintendo GameCube. Isso porque vai além de uma simples remasterização, já que toda a parte gráfica foi refeita, tornando o jogo muito mais bonito nas atuais telas de alta resolução, assim como toda a trilha sonora ganhou novos arranjos, diálogos foram melhores revisados em relação a versão original em japonês, assim como diversas outras adições menores de jogabilidades se fazem presentes, como novos atalhos, mais pontos de salvamento, e até mesmo dois novos chefes secretos. O resultado é uma experiência plenamente compatível com os jogos atuais.

Contudo, também se faz necessário apontar que como se trata de um resgate clássico, de uma época onde sequer se falava em jogos localizados em português, este remake de Paper Mario: The Thousand-Year Door chega ao nosso mercado sem localização em nosso idioma, restando a alternativa de jogá-lo com legendas em inglês ou espanhol. É uma pena, porque toda a série Paper Mario é muito famosa pelo bom tom de humor em seus diálogos, a qual parte do público aqui, em particular os mais novos, certamente acabarão encontrando essa barreira linguística.

Desenvolvido originalmente pela Intelligent Systems, o remake se manteve sob a supervisão do mesmo estúdio, que segue em atividade até os dias de hoje, sendo o mesmo estúdio que tem trabalhado nas franquias de Fire Emblem e WarioWare, assim como nos títulos anteriores da franquia Paper Mario. Lembrando que o último trabalho da Intelligent Systems com Paper Mario foi The Origami King, lançado em 2020 no próprio Nintendo Switch. É uma galera que tem trabalhado bastante, e com qualidade e competência, nesta geração do Switch.

Paper Mario: The Thousand-Year Door é um título muito lembrado e respeitado pelos fãs, porque vem de uma geração em que jogos do gênero RPG com Super Mario ainda não eram tão frequentes como são hoje em dia. Essa brincadeira começa lá em 1996, com Super Mario RPG, feito pela Square-Enix (Final Fantasy) e a própria franquia Paper Mario surgiu como um sucessor espiritual, quando ficou claro que Super Mario RPG 2 não iria acontecer.

Contudo, vale apontar que Thousand-Year Door é o segundo jogo da série de jogos de Paper Mario, sendo que o primeiro é “Paper Mario” (simples assim, sem nenhum subtítulo), lançado no Nintendo 64 em 2000, e que, por enquanto, se encontra disponível apenas na biblioteca do Virtual Console do Switch, por meio da assinatura do serviço Nintendo Switch Online + Expansion Pack. Certamente é um clássico que também merece o mesmo tratamento de um remake, para atualização gráfica e de jogabilidade. Vou torcer por isso.

Outra curiosidade é que alguns anos depois, em 2003, surge Mario & Luigi, outra série de RPG, totalmente original, mas ainda com fundações sólidas no clássico Super Mario RPG, e que, assim como Paper Mario, segue até os dias atuais recebendo novas sequências de tempos em tempos. Inclusive, enquanto essa análise estava em produção, a Nintendo revelou Mario & Luigi Brothership para novembro deste ano.

Por fim, após mencionar alguns títulos, é importante mencionar que cada aventura, seja em Paper Mario ou Mario & Luigi, são completamente desconexas de seus jogos antecessores. Ou seja, não existe uma ordem para jogá-los, o que até mesmo justifica o fato de que nenhum deles é numerado. Cada aventura é única, com começo, meio e fim, com personagens originais, ambientes próprios e, em muitos casos, suas próprias mecânicas de batalha. Nenhum jogo de RPG de Super Mario é igual ao outro, um mérito incrível do cuidado e capricho para que se tem com cada uma destas obras.

Dupla, turnos e o espetáculo teatral

Paper Mario: The Thousand-Year Door segue a tradicional jogabilidade dos clássicos RPG baseado em turnos, porém com alguns trejeitos próprio. Por exemplo, aqui as batalhas não ocorrem com equipes de três a quatro personagens alternadamente ao lado do jogador, e sim apenas com dois personagens por vez, Mario e um companheiro aliado. Sendo assim, o jogador possui apenas dois turnos antes da vez dos inimigos atacarem seu seus respectivos turnos, sendo que os inimigos podem vir em maiores números, que irão variar de três a cinco inimigos por combate.

O combate também possui um sistema de dano extra ao se executar certa ação no controle na imediata hora do ataque, um sistema que posteriormente foi muito utilizado na série Mario & Luigi, ainda que esse aspecto tenha origens lá no começo, de forma mais simples, em Super Mario RPG. Funciona assim, Mario irá efetuar um ataque em que irá pular no inimigo, então no momento em que o personagem atinge o adversário, o jogador pressiona o botão de ataque e, se feito no tempo certo, Mario executa um segundo pulo, dobrando o dano causado pelo ataque de um único turno.

Só que essa execução de um ataque mais eficaz não se limita somente ao pressionar de um simples botão no tempo certo. Com a marreta que Mario possui, por exemplo, o jogador precisa segurar o analógico totalmente para a esquerda, enquanto um medidor na tela vai se enchendo. Quando esse medidor atinge o ícone final, o jogador faz um movimento horizontal para a direta com o analógico, e o ataque também é dobrado.

E existem diversas variações desse mini game de tempo e resposta para um ataque com dano adicional. Cada aliados de Mario tem um sistema diferente, que vai desde manter uma mira travada num ícone de alvo para uma barra que fica em constante movimento, e você só faz o movimento para a direita quando o indicador estiver dentro de um ícone no meio dessa barra. Há até mesmo um mini game que consiste em segurar e soltar o botão de ataque, exatamente quando um indicador mandar soltar, até conseguir encher a energia de uma barra.

No turno dos inimigos, há duas ações de reação ao seus ataques. Uma defesa e um contra ataque. A defesa em si, pressionar o botão bem na hora que em forma tomar dano, é bem simples, e aumenta o status da defesa em 1 ponto. A janela do tempo da defesa nessa reação é bem fácil de se executar, ao menos na maior parte das vezes. Com uma janela menor, e num sistema mais desafiador, um contra-ataque, chamado de Superguard, ocorre num intervalo apertadíssimo de tempo, milésimos de segunda antes do ataque inimigo lhe acerta. Ao fazer isso, não só o jogador evita o dano, como causa dano diretamente em quem o atacou.

Contudo, Paper Mario: The Thousand-Year Door, tem outro elemento bem interessante em seu sistema de batalha: as mesmas ocorrem numa espécie de auditório, como se fosse o espetáculo de uma peça teatral. A ambientação não é sem propósito, pelo contrário, ela adiciona mecânicas e elementos dentro das batalhas. Isso significa também que os confrontos contra os inimigos no jogo não ocorrem em tempo real da exploração, mas em arenas próprias sempre que Mario esbarra nestes inimigos.

Dentro do espaço do teatro há elementos interativos que vão ocorrer dentro das batalhas. A começar pela existência de uma plateia, que irá reagir aos movimentos do jogador, ficando mais animados e chegando mais gente para se reunirem nos assentos, gerando pontos que enchem um medidor para habilidade especiais, que Mario adquire sempre que consegue uma das sete estrelas mágicas da trama.

Nem todas estas habilidades especiais são ofensivas (causam dano direto), a primeira, por exemplo, é um mini game que permite Mario recuperar HP e MP de seus status e dos aliados. Mas claro que também terá habilidades ofensivas, assim como de atributos, como a terceira estrela que causa paralisia nos inimigos por alguns turnos. Contudo, quanto mais apelão o poder, mais pontos de energia custam, e leva mais tempo para a plateia encher tudo isso.

Mas ainda que essa seja a função principal da plateia, haverá outros momentos de interação com a mesma. As vezes espectadores ficam insatisfeitos com a batalha e ameaçam jogar pedras ou objetos que podem machucar Mario ou seu aliado. Aí o jogador precisa acionar um botão onde seu personagem vai sair do palco e dar uma pancada no espectador mal educado. Também é possível receber itens de um ou outro espectador animado, mas novamente é preciso acionar um botão para ir até lá buscar, antes que o espectador desista de lhe presentear.

Existe até mesmo a situação de alguns espectadores que invadem o palco, passam pelo combate e vão até atrás das cortinas, mexendo nas cordas das mesmas. Isso pode fazer com que caiam objetos do cenário no palco, atingindo Mario ou os inimigos. Esses momentos, por mais que não impactem significativamente a luta, são imprevisíveis e divertidas, e justificam a ideia de um combate teatral. É muito bom. Há até mesmo situações em que Mario pode bater tão forte no palco que o cenário atrás dos inimigos caem em cima deles, causando dano em todos. É sensacional.

Bem, como mencionado lá no começo destes segmento, o combate sempre vai acontecer com Mario e um de seus aliados, que vão sendo reunidos conforme a aventura progride. Cada aliado tem seu próprio modo de combate, aqueles mini games de ação e reação, assim como terem utilidades e recursos próprios. Goombella, por exemplo, a primeira parceira do jogo, possui uma habilidade que permite que a mesma analise o inimigo, revelando assim suas estatísticas de ataque, defesa, golpes e seus pontos de  HP. Sem essa análise, não é possível saber quanto de HP tem cada inimigo em batalha.

Só que cada análise de Goombella gasta um turno próprio, impedindo que a mesma ataque na vez que realizar essa análise. Além disso, a personagem só pode atacar um personagem por vez. Diferente de Koops, uma tartaruga com diversas inseguranças, que pode entrar em seu casco e ataca múltiplos inimigos de uma só vez. Só que é um movimento que gasta ponto de MP. Já a Madame Flurrie, que é um espírito elemental de nuvem, pode soprar inimigos para longe da batalha, assim como é um ótimo aliado tanque, podendo se posicionar a frente de Mario, assumindo todo o dano causado, pois tem um golpe especial vampiresco, a qual ela beija o inimigo, retirando HP do mesmo e adicionando a sua barra de HP, se mantendo assim sempre com a barra cheia, enquanto poder continuar usando tal movimento que custa MP.

Não pretendo mencionar todos os aliados, mas não posso deixar de mencionar o pequeno Yoshi que Mario encontra em sua jornada, pois é um personagem bem versátil, já que pode engolir um inimigo e logo em seguida cuspi-lo em outro inimigo. Um ataque que inclusive consegue ignorar certas defesas de inimigos bem resistentes aos ataques normais dos demais membros da equipe.

Além das técnicas únicas que cada um destes personagens possuem em batalha, quando estão na exploração normal do mundo, cada um tem uma utilidade exclusiva. Goombela conta curiosidades sobre personagens e ambientes, Mario pode saltar em Koops e arremessá-lo sobre abismos ou no ar quando em cima de blocos, afim de acertar caixas, interruptores entre outras coisas que não dá para se alcançar pulando. Madame Flurrie pode usar seu potente sopro para abrir caminhos ocultos, descolando o papel das paredes do jogo, enquanto Yoshi permite que Mario suba em suas costas e assim correr em altas velocidades pelo cenário, além de atravessar pelos buracos com uma breve planada que Yoshi pode realizar.

Em resumo, assim as batalhas de Paper Mario: The Thousand-Year Door seguem um padrão clássico das batalhas por turno, com o jogador sendo redirecionado para uma arena própria sempre que esbarra num inimigo, e os confronto seguem essa dinâmica, onde a plateia tem um peso importante, assim como o tempo da ação do ataque, por pode ser intensificado por meio de mini games de resposta rápido no controle. O que torna tudo bem divertido, mas não deixa de ficar um pouco repetitivo e datado nos dias de hoje. Tanto é que quando se olha para Mario & Luigi, que surge alguns anos depois, essa mesma dinâmica é refinada, dando mais ação e reação aos confrontos, criando um combate ainda mais intensificado e melhorado. É um contexto interessante de se observar.

Mundo de Papel

Iniciei esta análise abordando as origens do gênero RPG no universo de Super Mario, para logo em seguida abordar as mecânicas do combate de Thousand-Year Door, e como o mesmo remete ao clássico sistema de turnos, porém Paper Mario: The Thousand-Year Door também tem todo um aspecto artístico que merece muito a atenção, pois entrega uma Direção de Arte realmente fantástica, e que também está inserida em diversos aspectos da jogabilidade em si.

A começar como o nome sugere: o mundo aqui é literalmente todo baseado no conceito de ser de papel. Os ambientes são construidos pensando nisso, do papelão, dobraduras, folhas e afins. Os personagens são planos, num conceito 2D, como se fossem selos, ainda que seja belamente animados, ou seja, possuem reações, movimentos e expressões em seus corpos e rostos. Muitos ambientes, ainda que possam ter uma textura tridimensional, utilizam da ideia do papel estar dobrado para ter essa ilusão, porém há também muitos ambientes que são simplesmente planos, como quando o cenário cai nos inimigos nas batalhas, devido ao tremor que um ataque pode causar no chão.

Definido esse aspecto visual, esse mesmo conceito começa a transparecer nas mecânicas do jogo. Mario, por exemplo, pode virar 90 graus em relação a perspectiva do jogador, com isso, se tem a impressão de que ele se tornou um fina folha, o que lhe possibilita passar entre pequenas frestas do cenário ou entre algumas grades. É como se ele pudesse passar por pequenos espaços “de ladinho“.

Em outros momentos, Mario ganha habilidades que permitem que ele se dobre, se tornando um avião de papel, o que lhe permite planar por pequeno percurso aéreo, ou um barquinho de papel, para que ele atravesse trechos que estão bloqueados pela água. São movimentos que o jogador vai adquirindo ao longo da progressão da história para explorar os ambientes do jogo, afim de descobrir itens e caminhos que até então pareciam bloqueados.

Outro exemplo desse aspecto de papel é quando Mario descobre uma habilidade em que ele pode usar seu martelo com um poder de impacto muito maior simplesmente se retorcendo em seu eixo, como uma folha retorcida mesmo, e assim executando um poderoso ataque rodopiante que destrói um certo tipo de bloco encontrado por algumas áreas do mundo.

Mencionei de forma sucinta, alguns parágrafos acima, a habilidade da Madame Flurrie de soprar e abrir caminhos ocultos, e esse é outro exemplo de como os personagens interagem no mundo. Pois algumas paredes dão essa impressão de estarem descolando do cenário, e o potente sopro da Flurrie pode fazer essa parede de papel sair voando, revelando o que estava escondido atrás do papel. É um efeito bem impressionante.

Tudo isso, e mais, são movimentos e habilidades que o jogador vai descobrindo conforme explora e avança pela progressão da campanha. Paper Mario: The Thousand-Year Door não é exatamente um jogo de mundo aberto, com grandes ambientes a serem explorados, sendo justamente o contrário, sendo fechado em áreas específicas, no melhor esquema de vilas e caminhos interconectados que levam a setores que consideramos as dungeons (masmorras) do jogo. Também é um formato de progressão bem tradicional para um RPG.

A cidade de Rogueport é o coração do jogo, pois é aqui que a aventura tem início, e onde se encontra a misteriosa porta de mil anos (em seu subsolo), contudo as sete estrelas necessárias para abrir a porta estão espalhadas pelo reino, o que fará Mario viajar por diversos locais diferentes, sempre partindo de diferentes canos encontrados pela cidade.

Uma vez que a estrela é encontrada, o jogador retorna a Rogueport, para iniciar uma nova busca em uma diferente locação. E cada vez que se retorna a cidade, haverá alguma coisa nova para se fazer, alguma tarefe de algum habitante da cidade, Luigi sempre estará por lá contando suas próprias aventuras, além do fato de que a cada habilidade desbloqueada, novos pontos da cidade passam a ser acessíveis entre os capítulos da aventura, descobrindo novos itens, personagens e segredos da cidade.

Por isso que digo que não é um jogo de mundo aberto. Há sim, um grande hub central, a qual o jogador retorna constantemente, mas cada área em que se viaja para encontrar uma nova estrela, é totalmente linear. Você tem objetivos claros nelas áreas, observando o desenrolar da história, batalhando contra os inimigos que também estão atrás da estrela, e se admirando com a beleza e o encanto de cada novo ambiente e cenário.

Paper Mario: The Thousand-Year Door não é exatamente um jogo 2D, pois o jogador pode se movimentar de forma tridimensional pelo cenário e áreas do mundo, assim como o mundo apresenta gráficos 3D, contudo a câmera é fixa, ou seja, você não pode mudar a perspectiva do que está vendo, não dá para “rodar” o cenário. Isso dá uma sensação um tanto clássica, pois o avanço pela aventura se faz no formato side scrolling (avanço lateral). Lembra um pouco o formato dos antigos jogos de briga de rua (Street of Rage, Double Dragon, Battletoads, Turtle in Time), com ambiente fixo, onde os personagens podiam “descer” e “subir” pelo amplo cenário. É a mesma coisa aqui.

A diferença aqui é que muitas vezes o jogador faz o caminho de volta pelos caminhos do mundo. Existe um vai e vem por áreas já visitadas, em busca de algum elemento narrativo, para ativar um bloco que você ainda não tinha a habilidade para acioná-lo, ou quando descobre novos caminhos que são liberados simplesmente pelo avançar da história.

Um elemento artístico bem interessante, e que remete muito ao contexto da época em que o título foi desenvolvido, quando os estúdios ainda estavam aprendendo e refinando essa experiência tridimensional dos jogos 3D, e no quanto elementos os consoles da época podiam processar de elementos em tela, diz respeito a certas cenas e momentos do jogo em que a tela se enchem com dezenas de incontáveis personagens, sejam inimigos ou NPCs tentando fazer alguma coisa. O propósito desse conceito é literalmente entupir a tela de personagens, criando um efeito impressionante, que talvez não tenha o mesmo glamour em tempos modernos, mas que para a época, era algo até então bem incomum, e visualmente fantástico.

E tudo isso é feito não só com um excelente bom senso artístico, mas também em cima de um excelente roteiro, optando por levar toda essa loucura de papel num ótimo toque de humor. Os diálogos do jogo são divertidíssimo, especialmente para quem consegue compreender o inglês, já que, como informei lá no começo, o título não possui localização ao nosso português. Vencendo essa barreira, o jogador vai encontrar momentos hilários entre os personagens, num nível de humor leve, mas genuíno, digno dos fãs desse universo.

Aqui Mario já é famoso pelo Reino dos Cogumelos, então muitos personagens vão reconhecê-lo e meio que tietar em cima dele, assim como os inimigos vão ter reações inesperadas em certos momentos, justamente por toparem com o famoso herói do Reino. Os companheiros do Mario também são carismáticos e simpáticos, cada qual com fortes personalidades, distintas entre si, com diversas falas que contrastam essa característica. Yoshi é todo briguento, Goombela é sabichona, Koops é um tanto inseguro etc. É divertido ver algumas de suas reações em certos momentos e encontros da história.

Indo adiante, ainda pensando na trama e na forma como a mesma é conduzida, outro momento bem divertido são os interlúdios entre os capítulos com Mario, pois nestes segmentos você passa a acompanhar o que está acontecendo com Bowser, que desta vez não é o grande vilão da trama e se sente um tanto deixado de lado, e também de Peach, que mesmo estando aprisionada, começa a interagir com uma Inteligência Artificial que dá todos os indícios de estar se apaixonando pela princesa.

São segmentos pequenos, mas bem elaborados. Não existem batalhas, é mais um contexto narrativo oportuno. Na parte com Bowser até existe pequenos mini games, onde o grande vilão de outros jogos se encontra em fases 2D inspiradas no clássico Super Mario Bros., onde ele sai destruindo tudo pelo caminho. Porém o melhor dos momentos com Bowser certamente é o bom humor dos diálogos, como suas gafes por todos os lados, tentando encontrar Mario ou Peach, que estão em suas próprias aventuras, o ignorando.

Já os segmentos de Peach são um tanto… intrigante. Acho bem legal dar voz a princesa, que não se posta como uma princesa indefesa aqui, porém o curioso são mesmos suas conversas com a IA de onde ela está aprisionada, em como ela responde sobre sentimentos, sobre o que é o amor e afins. É algo bem desconexo de todo o jogo, e apesar de ser algo tão 2024, é algo criado há anos atrás. Não é tão descontraído como o segmento com o Bowser, mas é muito bem construído para dar a Peach uma maturidade que muitas vezes não consegue se passar para uma personagem que vive sendo raptada.

Talvez hoje em dia a arte visual de Paper Mario: The Thousand-Year Door não seja assim tão impressionante, afinal já tivemos jogos com temática de giz de cera, caixas de papelão, novelos de lã, além de diversas técnicas de arte gráfica, do 3D chapado ao estilo desenho animado, do grafite ao visual de cores sóbrias. Hoje em dia, especialmente com o mercado de jogos independente, há um enorme apelo por jogos com identidades visuais próprios. Tem-se de tudo, o que é ótimo, mas pensando no contexto história, quando este jogo foi lançado, a indústria de jogos ainda estava dando os primeiros passos em toda essa liberdade hoje existente. E Paper Mario: The Thousand-Year Door fez parte dessa legado inicial. Por isso sua Direção de Arte é tão importante.

Considerações finais

Paper Mario: The Thousand-Year Door é uma das mais divertidas obras da franquia Paper Mario, um clássico inesquecível da incrível biblioteca que o Nintendo GameCube pode proporcionar em sua geração, a qual diversos títulos felizmente estão finalmente sendo resgatados no Nintendo Switch. E é muito gostoso jogar um Paper Mario que retorna as origens básicas da clássica fórmula dos combates por turno, pois após isso, houve diversas sequências que exploraram outras mecânicas desse flexível gênero.

Para um remake, a experiência ainda se mantém muito fiel ao material original, contudo os desenvolvedores aprimoraram diversos detalhes para esta nova versão. Por exemplo, agora há um botão para troca em tempo real do aliado que irá acompanhar Mario pelo mundo do jogo, deixando mais prático e rápido tão possibilidade. Além disso, foram adicionador algumas caixas de save novas, em pontos oportunos do jogo, já que para mantém a essência clássica, só há auto save em pontos muito específicos da trama. Quer outro elemento prático? Uma vez que você já tenha visto uma cutscene, agora é possível pular a mesma, perfeito caso você morra em algum momento e tenha que refazer seus passos.

Porém, possivelmente a maior mudança no remake seja a adição de uma nova sala no subsolo de Rogueport que funciona como um inteligente corta caminho para todas as áreas da aventura. Em certo momento da história, o jogador terá que voltar a área já visitadas, e na versão original, isso significava um exaustivo vai e vem desnecessário. Com a adição dessa sala, fazer todo esse retorno ficou muito mais rápido e prático. Uma adição muito bem vinda, sem dúvida nenhuma.

De resto, as alterações foram menores, mais ainda assim válidas. Há dois novos chefes no remake, um novo atalho dentro do desafio de 100 canos, uma vez que se atinja o cano 50, uma nova receita de comida, duas novas badges, sendo uma que permite tocar a trilha sonora original da versão GameCube, e uma melhor localização para o inglês de alguns diálogos do texto original em japonês, como um que deixava de lado o fato da personagem Vivian se considerar uma mulher trans, ficando assim o texto muito mais fiel ao material original. São mudanças pequenas, mas ainda sem muito bem colocadas e significativas.

Além disso, todo o visual do jogo está muito mais bonito do que sua versão original de 2004. Achei interessante que mesmo para um jogo em que os personagens estão numa animação 2D, semelhante a um desenho animado, ainda é possível perceber a qualidade dos novos gráficos. Não tem aqueles pixels estourados da versão original, deixando as linhas do traço dos personagens perfeitas. Outro detalhe que me chamou a atenção é a linha branca em torno dos personagens, bem fininha, quase imperceptível, bem diferente de como o mesmo estúdio optou com esse mesmo contorno em Paper Mario: The Origami King, que saiu em 2020 de forma exclusiva para o Switch. Ficou bem melhor esse tratamento com o contorno bem fininho.

A nova trilha sonora do jogo também está um arraso, toda orquestrada, com diversas referências a trilhas clássicas do mundo de Super Mario. E mesmo quem não curtir ela, o jogo libera em suas horas iniciais, a possibilidade de trocar para a trilha clássica do GameCube, o que acho uma opção bem respeitosa para com os jogadores mais nostálgicos.

No mais, a jogabilidade de Paper Mario: The Thousand-Year Door é muito assertiva, mesmo que possa ser considerada um pouco datada e repetitiva. Há que se olhar o contexto de 20 anos atrás, e mesmo assim, ainda não posso dizer que me senti cansado realizando tantas batalhas. Existe certa limitação na exploração, mas também era um aspecto comum da época, além disso, no original existia o conceito de não dizer muito ao jogador o que fazer em seguida, algo que para o remake, foi adicionado um botão em que um dos aliados do Mario dizem o que fazer, caso o jogador se sinta perdido no passo adiante da aventura. O que é bem oportuno.

Quanto as batalhas, não acho que o propósito das mesmas seja o desafio e a alta dificuldade. Me parece mesmo que o conceito seja a diversão. E elas são divertidas, com um bom ritmo e boas opções de táticas e execuções. Isso porque os inimigos divergem entre aqueles em que podem ser nocauteados pisando em suas cabeças, elemento tradicional de um Super Mario, e também daqueles usam espinhos e outras defesas para não terem suas cabeças pisoteadas. Nestes casos, Mario precisa usar seu martelo para uma investida frontal, enquanto esse tipo de inimigo invalida alguns parceiros que somente atacam num equivalente ao pulo na cabeça.

Há também alguns inimigos que possuem um atributo de defesa acima do atributo de ataque do jogador. Assim todo ataque causa zero dano. Em casos assim, é preciso entrar outras estratégias, como o golpe que gasta MP do Yoshi que permite engolir e cuspir qualquer inimigo, ou então o soprar da Madame Flurrie que pode expulsar certos inimigos da batalha. Isso apenas para mencionar um pouco de como as batalhas possuem certa dinâmica, então não são apenas estáticas ou sem variedade. A diversão está em sacar qual é o tipo de inimigo e qual a melhor forma de derrotá-lo, com ataque que possam ser efetivos.

Com tudo isso, não consigo pensar em outra forma de encerrar esta análise de Paper Mario: The Thousand-Year Door que não envolva recomendá-lo com bastante sinceridade a qualquer um que tenha ficado firme até o fim desta leitura. Como um remake, o trabalho é impecável e muito bem cuidado. Não é uma obra que precisava de muito polimento ou adição de inúmeros novos conteúdos. Nada disso, o jogo é um clássico atemporal, redondinho em sua concepção. O trabalho de restauração é justamente de manter a experiência original, que já era fantástica, com visual de ponta, bons controles e uma trilha sonora de qualidade. No mais, todos os elementos originais já se somam por si só num dos mais divertidos e interessantes jogos da franquia Paper Mario já lançados. E nada mais precisa ser dito. Só vá e jogue essa incrível obra.

Galeria

1 / 80

Dando nota

Apresentação impecável, o mundo de papel de Paper Mario é fabuloso - 10
Remake não mexe na experiência original, apenas otimiza e agiliza certos aspectos que hoje soariam datados - 9.2
Habilidades de papel de Mario são divertidas para explorar o mundo apresentado - 9
Combate em turnos, com elementos dinâmicos e temática de uma peça teatral - 9
Excelente toque de bom humor em sua narrativa, pena que haja a barreira do idioma pela ausência de localização PT-BR - 8.6
Companheiros único que Mario encontram na jornada são carismáticos e com habilidades únicas - 9.1
Uma aventura de progressão linear, sem abrir demais para o jogador sair do objetivo principal - 8

9

Fantástico

Paper Mario: The Thousand-Year Door é um jogo a frente de seu tempo, provavelmente responsável pelo sucesso da franquia até os dias de hoje, e como um remake, cumpre o perfeito papel de apresentar esse clássico a uma nova geração de jogadores com toda a qualidade visual, sonora e técnica que o título merece. Uma aventura cuja a história diverte, com personagens carismáticos, repleto de bom humor, num mundo incrivelmente bem construido, repleto de grandes marcos visuais, num sistema altamente clássico do gênero RPG, trazendo batalhas em turnos, com mini games de reação, grande variedade de inimigos, e uma temática de peça teatral que torna a jogabilidade única e certamente inesquecível.

Sair da versão mobile