Opinião | Concord precisava ser encerrado desta maneira?
Em sua terceira semana após o lançamento, eis o fim...
Mal lancei a análise de Concord, com certas ponderações a respeito de sua estrutura, jogabilidade e tropeços acerca de seu potencial mal utilizado, e eis que uma matéria no PlayStation Blog de hoje, 3 de setembro, de autoria do Ryan Ellis, game diretor da Firewalk Studios, desenvolvedora do jogo, comunicando que os servidores do jogo serão desativados nesta sexta-feira, dia 6, que o título está imediatamente sendo retirado das lojas digitais, e que todo mundo que comprou poderá pedir o reembolso do valor pago. Cacetada!
Diante de um fato tão impressionante, possivelmente sem precedente no grupo Sony/PlayStation, resolvi me manifestar mais um pouquinho acerca desse assunto. Até porque muito do que disse no meu texto de análise, faz ainda mais sentido agora. Concord foi lançado com lacunas que culminaram nesse triste desfecho.
E sim é triste, porque nessa história ninguém saiu ganhando. A Firewalk Studios se não for fechada, certamente ficará com sua moral abalada dentro do grupo de estúdios PlayStation. Os desenvolvedores ficarão com seus empregos em risco, afinal todos os planos futuros do jogo vão mudar. No anúncio nem sequer sabemos do futuro da IP, se irão migrar para outro formato, se poderá vir a ser relançada, ou se irá morrer aqui, no fatídico 6 de setembro. Nem eles sabem.
A atual indústria dos games também perde um pouco com isso. Além de demonstrar a óbvia (e conhecida) saturação do mercado para jogos nesse modelo “game as service“, há também o ponto de que havia uma proposta interessante em Concord, ao oferecer tal modelo num conceito de “pague somente uma vez“, fazendo com que a comunidade não precisasse se preocupar com microtransações. Algo que pessoalmente achei muito bacana, pois me permitiu apreciar o jogo pela diversão em si, e não pela obrigação de caçar uma cenoura na ponta de uma vira por horas e horas a fio.
Claro os jogadores também saem perdendo com isso. Porque por mais que o jogo tenha seus percalços, não dá para dizer que Concord é um jogo ruim. NÃO É. Tenha certeza que dentro do segmento de jogos competitivos online há uma infinidade de jogos (menores é verdade) que não conseguem fazer nem metade do que Concord consegue, mesmo não sendo muito.
E repito, ao menos não é um título que estava buscando as grandes baleias do segmento de jogo como serviço, com toneladas de microtransações. Inclusive foi lançado com um preço padrão menor que o atual valor dos grandes lançamentos AAA. Nesse sentido, com tantas promessas para o futuro, legitimamente me parece um valor honesto de venda.
Concord precisava ter esse desfecho?
Seu lançamento ocorreu no último dia 23 de agosto, o jogo está indo para a terceira semana de seu lançamento. A primeira temporada estava para acontecer já em outubro. Será que não dava para usar outros artifícios para segurar um pouco mais essa janela e tentar recuperar tamanha desatenção do público?
Não é “chutar cachorro morto“, mas sei lá, não parece que foi dado qualquer chance para o jogo. Os desenvolvedores não anunciaram nenhum patch de balanceamento, não mostraram nenhuma novidade futura, não se comunicaram com a comunidade nesse momento em que mais deveriam fazer isso. Fico pensando o que diabos estava acontecendo internamente que ninguém tentou fazer mais pelo jogo. Vale a pena essa mancha de desativar tudo e repensar novamente a obra? Ainda mais vindo da Sony tal medida.
Os números online estavam baixos? Por que não oferecer um final de semana de degustação, agora com a obra lançada? Cogitar colocar no catálogo da PS Plus? Fazer uma campanha de marketing na Twitch com criadores de conteúdo, fazer a galera jogar mais. Táticas que já vi acontecer com alguns lançamentos, e que mesmo que os resultados sejam questionáveis a longo prazo, num curto prazo dá a chance de qualquer obra se reerguer se tiver seus méritos (e na minha opinião, Concord tinha alguns).
Claro que houve falta de movimentação. Talvez até certo comodismo por parte de todos os planos em torno do jogo. Comentei na minha análise como a ausência de uma trama soa estranho dentro da obra. Que Concord soa como um produto que cairia bem num formato transmídia, e que era surreal que um curta foi criado, mas que só será lançado em dezembro. Como a ideia de não dar uma campanha, e sim cinemáticas semanais, tornam o universo, que é atraente, difícil de ser digerido nesse momento. Houve erros gritantes nesse sentido.
E daria pra consertar Concord?
Sinceramente? A sensação é de que nesse momento isso não vai mais acontecer. Eu encerrei a minha análise repleto de esperanças, mas agora já não sei mais. O curta na antologia do Prime Video vai acontecer em dezembro. E pode vir a ser muito divertido, mas não terá mais um jogo para servir de contraste. A menos que relancem nesse final de ano, e é difícil, afinal todo mundo já se levantou e pegou seu dinheiro de volta na bilheteria.
Tornar Concord gratuito para se jogar também é outra saída, mas parece longe de ser suficiente para atrair a comunidade. A menos que tragam mais conteúdo e tempero a jogabilidade. E com elementos originais e criativos, algo que o jogo atual apenas ensaia algumas ideias. Fora que se for gratuito, espere por uma tonelada de microtransações, e se for um sucesso, só vai reforçar como a base atual de jogadores gosta desse modelo de jogo predatório (que é ruim em alguns sentidos, mesmo que tenham vários pontos positivos a se considerar). Vai ser só mais um entre tantos.
Outra solução seria a Sony adotar a fórmula que torna seus exclusivos um sucesso incontestável: dar uma campanha single player a Concord, apresentar todo esse universo e seus personagens, e expandir o gênero da obra. Uma aventura e ação em primeira pessoa. Como Overwatch jamais conseguiu, por sinal. O multiplayer competitivo permaneceria, mas a campanha, o mundo, a história, expandiria todo o conceito original do jogo. Isso seria interessante, mas não parece provável.
Ao fim, a impressão que fica, neste momento, sem muitos detalhes oficiais divulgados, é de que Concord morreu prematuramente, sem lutar a batalha que talvez devesse ter lutado. Tristemente, no espaço, ninguém conseguiu ouvir os Freegunners gritando por socorro. É uma história onde todos saímos derrotados. Game Over.