Star Wars Outlaws é uma aventura de grandes assaltos e altas traições, com todos os trejeitos da Ubisoft, tanto para o bem, quanto para o mal. O resultado é uma experiência de mundo aberto dentro do mundo de Star Wars que difere bastante de outros jogos recente da franquia. Há uma liberdade gostosa aqui, entregue uma trama de ladrões, sem Jedi, mas com o sempre persistente Império para atrapalhar a vida de todos os habitantes da galáxia.
O jogo foi lançado no último dia 30 de agosto, somente para os consoles da atual geração, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC. Ou seja, desta vez os consoles da geração anterior (PS4 e XOne) ficaram de fora, assim como o Nintendo Switch. Parece uma decisão lógica pensando nos pesados gráficos que o jogo possui, assim como elementos que ocorrem em tempo real do mundo, exigindo alto poder de processamento, enquanto ameniza ao máximo suas telas de loadings.
Star Wars Outlaws foi desenvolvimento principalmente pela Massive Entertainment, estúdio interno da própria Ubisoft, que é um estúdio responsável pelos dois jogos da série Tom Clancy’s The Division, assim como o recente Avatar: Frontiers of Pandora. Contudo, a Massive também contou com a colaboração de diversos outros estúdios internos da Ubisoft espalhadas pelo globo, assim como todo o suporte especializado da Lucasfilm Games, para a devida construção desta nova história dentro do universo de Star Wars.
Este lançamento chega ao Brasil com todo um belo trabalho de localização, incluindo textos e menus adaptados ao nosso idioma, respeitando todas as terminologias do universo de Star Wars. Entretanto, o mais legal de tudo é que o jogo também recebeu dublagem em português, com aquele excepcional trabalho que a dublagem nacional sempre entrega, tanto nas cutscenes, quanto nas conversas de NPCs aleatórios pelo mundo do jogo. Tudo está muito bem dublado, com uma boa escolha de elenco para as vozes, encaixando muito bem voz nos respectivos personagens, assim como as vozes moduladas e com efeitos quando troppers e outros personagens com armaduras ou alienígenas apresentam essa mudança no áudio original.
A aventura aqui é bem diferente de outros dois jogos recentes deste universo galáctico. Neste caso me refiro a franquia Star Wars Jedi (Fallen Order e Survivor), que foram desenvolvidos pela Respawn/EA. Enquanto estes dois jogos possuem uma direção inspirada em jogos da linhagem Dark Souls, com diversos elementos de Action-RPG, Star Wars Outlaws tem outras inspirações, e toma uma direção mais leve, baseado em uma aventura em terceira pessoa de mundo aberto, com bastante inspiração em abordagem furtiva e um formato de combate mais pontual.
E mais, com um protagonista que nada tenha a ver com a organização dos Jedi, ou com a conveniência da Força. Temos aqui algo mais inspirado no arquétipo de Han Solo, apresentando uma ladra cheia de lábia, metida no intrínseco mundo dos assaltos galácticos. Uma trama que se encaixa entre o segundo (O Império Contra-Ataca) e terceiro filme (O Retorno de Jedi) da trilogia clássica.
Star Wars com o jeitinho da Ubisoft
Qualquer jogador que tenha experiência com alguns dos títulos de sucesso da Ubisoft irá notar rapidamente algumas inspirações e mecânicas que vieram de outros hits e moldaram a estrutura de Star Wars Outlaws. E não vejo isso como uma característica negativa, muito pelo contrário, é a Ubisoft deixando as coisas com a cara de suas produções, que por mais que tenham certas críticas, ainda assim agradam em muito uma base fiel de fãs.
Fora que acho sensato ela querer se distanciar do formato que Star Wars Jedi moldou, afinal não precisamos de mais do mesmo, especialmente quando se fala no universo de Star Wars, tão repleto de potenciais iniciativas, com uma linha do tempo vasta para se explorar e uma gama de diferentes personagens a disposição.
E tem outro porém em criar essa mudança, pois Star Wars Jedi é um jogo difícil e complexo, cuja a pode de entrada não é exatamente acessível a qualquer jogador. Jogos baseados em Dark Souls tem seu próprio público, e que não é nem um pouco pequeno, entretanto tem também toda uma parcela de jogadores que repudia o gênero, alegando a alta de dificuldade, ou até mesmo a ausência do elemento diversão num título em que a progressão é massacrada por muitas mortes causadas pelo fator da tentativa e erro das batalhas, ao ter que em aprender o moveset do chefes e lidar com as situações das arenas fixas.
Star Wars Outlaws foge completamente desse modelo. E pensando na fórmula da Ubisoft, o título tem muita inspiração em jogos como Watch Dogs, Splinter Cell e até mesmo um pouco de Assassin’s Creed. Contudo, a maior influência parte mesmo de Watch Dogs, pois a protagonista da aventura, Kay Vess, não é uma Jedi, e não dispõe de uma força sobrenatural e nem comanda uma rebelião para derrubar o Império Galáctico. Kay não é ninguém, é apenas mais alguém tentando sobreviver numa galáxia opressora, que vive em guerra, e que aprendeu que para sobreviver, as vezes é preciso fazer péssimos acordos e ter conexões dúbias com pessoas que não são nem um pouco confiáveis.
Kay vive à margem da sociedade, e conta com uma pequena criaturinha companheira, Nix, que dentro da jogabilidade possui diversas interações que o colocam como um drone de assistência à distância, como Watch Dogs tem em sua estrutura de gameplay. Nix pode entrar em pequenas salas fechadas e abri a porta por dentro para que Kay tenha acesso ao cômodo, assim como pode coletar itens a distância pelo cenário e até mesmo roubar NPCs em cidades, assim como Troppers do Império.
No aspecto do combate, Nix também pode distrair inimigos para que Kay chegue furtivamente por trás e o golpeie para desmaia-lo, assim como Nix também pode avançar e atacar um inimigo, quando não há margem para Kay se esconder próximo ao inimigo, dando ao jogador uma janela de segundos para avançar diretamente ao inimigo e nocauteá-lo antes que ele se desvencilhe de Nix.
E os elementos e mecânicas oriundos de Watch Dogs continuam. Muitos cenários consistem em permitir que o jogador entre por dutos de ventilação em bases e territórios comandados por gangue que não vão com a sua cara, assim como muitos pontos em que Kay deve hackear portas ou computadores para desligar câmeras, roubas dados ou abrir passagens por certos locais. Hack das portas consiste num mini game de ritmo, a qual o gatilho deve ser pressionado no tempo certo, enquanto no computador a tarefa é acertar uma lógica de símbolos dentro de uma quantidade exata de tentativas.
Há também uma mistura de Splinter Cell quando se observa a jogabilidade furtiva de Star Wars Outlaws, que também é uma estrutura que foi utilizada em Watch Dogs, mas com um combate mais flexível, em que o jogador conseguia se virar quando tudo dava errado. Aqui, em Outlaws, ao menos na curva inicial, ser descoberto por soldados ou membros de facções criminosas, quando em seus territórios, normalmente encerra a missão ou a pressão do combate é tão grande, que escapar se tornar bem mais difícil.
A intenção aqui é que seja um jogo de grandes assaltos, e portanto, ser descoberto e partindo para o massacre de soldados, nem sempre é uma opção, especialmente quando em certos momentos é requisito da trama que ninguém saiba o que está ocorrendo, até que o roteiro decida sacudir as coisas. Claro que vai existir inúmeras situações em que o jogador vai errar a abordagem furtiva e irá (desastrosamente) ativar os alertas pela base, mas isso não significa Game Over. Haverá a possibilidade de tentar escapar do cerco, se esconder e esperar até que o alerta de invasão cesse.
E o que é interessante nestes cenários em que o alerta ocorre é como as coisas tendem a mudar no aspecto da vigilância da base. Normalmente é se esperar que todos os inimigos retornem aos seus trilhos originais, caminhando onde foram originalmente programados, mas nem sempre é o que acaba acontecendo. Isso ocorre porque o jogador terá derrubado alguns guardas, e destravado celas e liberado certos acessos, o que fará com que vigias passem a monitorar estas áreas em que houve interação do jogador. É um detalhe pequeno, mas que acho importante em que mexe com a dinâmica do gameplay, exigindo que o jogador se adapte as mudanças do ambiente.
Agora também é inevitável que em certos momentos o jogador seja descoberto e tenha que lutar para sair de um cerco. Kay tem algumas opções para estes cenários, a depender da quantidade de inimigos. Nix é de grande auxílio quando existem dois ou três inimigos se aproximando, mas nestas situações a melhor solução é sacar seu blaster e sair atirando. A munição é infinita, contudo, como esperado, o blaster superaquece se usado de forma ininterrupta. Quando isso ocorre, o jogador pode tentar um mini game em que se apertar certo botão na hora exata, a arma irá resfriar mais rapidamente.
Além da icônica arma, que vai sendo aprimorada conforme a progressão da aventura, Kay também é boa em trocar alguns socos contra alguns inimigos que se aproximarem demais dela. Nem sempre ela vai conseguir derrubar um inimigo em alerta, mas pode empurrar ou impedir que ele atire, para que ela tenha o saque mais ligeiro da galáxia. Só que é preciso ficar em alerta, porque se não deu certo bater uma vez, na segunda tentativa o inimigo vai estar mais ligeiro e aí é ele quem nocauteará Kay.
Alguns parágrafos acima, ainda pensando na fórmula Ubisoft, também mencionei Assassin’s Creed, e talvez você possa ter pensado nos elementos de parkour que tanto marcam essa franquia do estúdio, mas não. Star Wars Outlaws não possui tanta destreza no sentido de permitir que Kay suba em qualquer construção, o que é até uma pena, sabe? Inclusive há um elemento de exploração do mundo aberto em limitar, inicialmente, certa verticalidade que chega até a ser meio frustrante não conseguir subir em morros e encostas a qual claramente um ladrão habilidoso deveria dar seu jeito.
Mas pensando em Assassin’s Creed, certamente a inspiração vem justamente da construção do mundo aberto, já que esta foi a franquia que a Ubisoft mais aprendeu com essa estrutura de jogo. Os centros urbanos são cheios de vida, com NPCs andando e conversando, repleto de lojistas, oportunidades de pequenos furtos, sentar em algumas áreas e ficar observando os habitantes vivendo suas vidas, ouvindo conversas.
Já o mundo aberto, dividido em áreas em alguns planetas chaves da trama, são repletos de atividades secundárias, mas talvez não no nível de exagero que existe em Assassin’s Creed. Há menos opções, mas ainda assim há muitas atividades, que vão de invasões de bases, busca por baús ou apenas fugir de ladrões de estradas. E para isso Kay conta com uma motoca voadora bem prática, mas que mecanicamente achei mais estranho do que um simples cavalo, mas como ela sofre algumas atualizações ao longo da trama, acaba sendo aperfeiçoada com a progressão da campanha.
Enfim, diante de tudo que foi exposto, fica impossível não pensar que Star Wars Outlaws é tudo a qual a Ubisoft já entrega em boa parte das suas produções. O que vale para o bem, quanto para o mal. É uma fórmula que muitos apreciam sim, mas é também uma fórmula bem conhecida e batida, que tira um pouco da originalidade que gameplay poderia ter em outras mãos. Não se está reinventando a roda nesse projeto. Está apenas levando o formato para uma galáxia bem distante.
Sem honra no mundo dos ladrões
Deixando de lado os trejeitos da jogabilidade, devo dizer que a trama de Star Wars Outlaws honra essa franquia repleta de personagens e oportunidades de histórias. Especialmente agora, considerando que a Disney tem se empenhado em criar muitas e muitas produções, de filmes a séries, baseado nesse universo criado por George Lucas.
Tudo bem que Star Wars Outlaws não tem a qualidade narrativa que Rogue One, filme de 2016, entregou quando estreou como um genuíno filme de ladrão com um final conectado a trilogia clássica que ninguém estava esperando acontecer (e nem da forma como aconteceu). Existe certa inspiração, mas a construção aqui me soa empenhada em ser algo original e único, e há um pouco de sucesso em certos aspectos.
Gosto da protagonista do jogo, Kay Vess, e a trama entrega pontos interessante de reviravoltas, a qual fiquei surpreso com certas decisões envolvendo alguns personagens que irão contratar ou se aliar a Kay. Por exemplo, isso é logo no começo do jogo, quando rola uma decisão da Aliança Rebelde em deixá-la dentro do cofre. Isso me pareceu uma sacanagem sem tamanho, vindo de quem se auto intitula “os mocinhos” dessa história.
Existe essa popular frase de que “não há honra entre ladrões” e Star Wars Outlaws parece levar isso bem a sério, pois Kay se mete em cada furada, e por mais que ela tente aprender a lição, as circunstâncias da trama não a deixam com muitas alternativas. E coisas erradas vão se escalando em proporções catastróficas. Nesse elemento da narrativa, acredito que o jogo acerta bastante.
Kay acaba se metendo no caminho de um poderoso vilão político, que tem meios e recursos para caçá-la por toda a galáxia, e não é sem motivos, já que ela rouba dele algo que a princípio não parece ter tamanho valor, mas num universo onde viagens interplanetárias são possíveis, certamente esse item tem um altíssimo valor.
Não só isso, mas esse aspecto da fábula do ladrão azarado também vai refletir em certos elementos da jogabilidade, e aqui há um ponto muito positivo sobre o jogo, e me soa uma das características mais originais de Star Wars Outlaws: suas alianças com as facções criminosas.
Durante a campanha Kay precisará se aliar com companheiros de caráter duvidosos, mas não só isso, pois para conseguir dinheiro e recursos para continuar fugindo de seus perseguidores, é preciso se aliar e conduzir atividades do submundo dos crime, e cada região tem suas próprias facções estabelecidas. E aí cabe ao jogador decidir como conduzir esse jogo de companheiros e traições.
Nesse sentido, a estrutura da história é montada para que ao final de cada missão Kay tenha que tomar uma decisão que vai agradar um mundo e a desagradar a outro. Contar um segredo ou não? Entregar um dado roubado ou não? Delatar alguém ou não? E sempre a favor de uma ou outra organização criminosa, afim de tirar o seu da reta, mas também colocando-a como pessoa não grata na organização a qual ela irá prejudicar. Essa estrutura é muito boa porque não há decisões erradas, apenas o mais puro interesse do jogador de ficar bem com certa facção, afim de conseguir chegar até seu covil, roubar seus tesouros e itens preciosos.
Ficar bem vista por uma organização fará com que Kay possa andar livremente por suas bases e esconderijos. Descobrindo assim segredos espalhados pelo mundo, novos itens para equipamentos e vestuário, além de meios para acessar as áreas restrita do cofre de cada organização, a qual você poderá tentar invadir, mas não seja descoberto, claro. Só que não dá para ficar com todo mundo. Cada missão é um cabo de guerra, onde o jogador terá que escolher com quem ficar bem e qual quem a sua decisão irá deixar com problema. Uma estrutura que combina maravilhosamente bem com um jogo de ladrões.
Acho que nesse aspecto, Star Wars Outlaws se sai muito bem, até mais do que Star Wars Jedi, cujo o protagonista, devo admitir, não morro de amores por ele. Jedi são sempre personagens complexos demais. Kay Vess é diferente, é mais simples, porque é o protagonista do povo, a garota que veio do nada, se mete em enrascadas, simplesmente porque quer viver mais um dia, com uma certa paz e tranquilidade a qual a galáxia não permite acontecer. Gosto desse conceito Han Solo, personagens que são um pouco do coração de Star Wars.
Considerações finais
Star Wars Outlaws é um título no mínimo, interessante, especialmente porque é acessível a uma gama muito grande de jogadores, do mais diferente nível de habilidade, entregando um mundo aberto de aventuras e situações dentro de uma conceituada franquia. Sem grandes desafios ou batalhas penosas que outros títulos atuais intencionalmente entregam. E sim, isso é um elogio, mas também serve uma crítica.
A impressão que tive nestas últimas semanas me aventurando pelo título é que apesar de existir o DNA dos jogos Ubisoft, Outlaws ainda não consegue atingir o nível de cuidado e atenção que a maior franquia da casa tem recebido em suas últimas edições. Sim, estou me referindo à Assassin’s Creed. E nem acho que seja a questão orçamentária e nem nada assim, mas de acertos e ajustes que são inerentes de uma nova IP. Onde mudar, o que mexer, se vai ousar aqui ou ali. Decisões assim que limitaram um pouco até onde ir com o projeto.
Além disso é histórico que a Ubisoft se contenha mais nos primeiros jogos de novas séries, basta olhar como os segundos jogos de séries como Watch Dogs, Assassin’s Creed e The Division são uma enorme evolução dos jogos originais. Construir mundos pela primeira vez é mais difícil, mas depois em que isso é realizado, os limites são reorganizados e as possibilidades acabam sendo expandidas. Star Wars Outlaws passa essa impressão, de ser uma boa ideia que ganhará sua real força se uma sequência puder acontecer.
Contudo, antes de sonhar com o futuro, é preciso olhar para o que existe agora. Já com algumas semanas de lançamento, é possível encontrar diversos vídeos no YouTube que comentam e mostram diversos bugs que o jogo apresentam, uns engraçados, outros nem tanto. Isso também outro histórico frequente e presentes nos títulos Ubisoft, então não é uma característica exclusiva aqui, ainda que a empresa tenha reduzido a quantidade desse fenômeno de forma expressiva em seus últimos lançamentos. E convenhamos, jogos de mundo aberto são mesmo propensos a muitos deslizes desse tipo, dada a imensa liberdade concedida aos jogadores para explorar cada canto e quina do mapa.
Dito isso, minha experiência com Star Wars Outlaws foi bem tranquila, isso tendo realizado toda a jogatina num PlayStation 5. Ou seja, não posso dizer como está a performance do jogo em outras plataformas. Não tive qualquer situação em que tenha caído do cenário, como alguns relatos pela internet. NPCs com pouca inteligência nem considero como um bug, mas certamente tive algumas situações de Troppers que não conseguiram me tirar de um caixote como cobertura e consegui acabar com um número expressivo deles. O mais bizarro foi apenas uma situação em que entrei em uma sala de comando e a técnica da sala estava em cima da mesa, ao invés de estar em pé no chão. Quem nunca surtou e subiu em uma mesa, não?
Além disso, a mobilidade com a motoca (Speeder) deixa um pouco a desejar. Bater em muros invisíveis é algo um tanto comum pelo mundo do jogo. Existem alguns percalços nessa programação de um veículo que levita que parece trazer problemas para alguns muros invisíveis. Também não me entusiasmei as batalhas na motoca, já que Kay não sai atirando por estar com as mãos no guidão, fazendo com que o jogador precise encher uma barra e use uma mecânico que desacelera a ação e trave tiros certeiros em alguns inimigos. Não achei a mecânica emocionante como ela certamente quer passar.
Também não sou tão fã assim do relevo de alguns mundos, onde a verticalidade atrapalha um pouco, quando o conceito é a exploração horizontal. O mapa não é dinâmico e nem de exploração natural, sendo muito fácil tomar rotas erradas achando que poderá chegar ao ponto desejado fora das estradas pré denominadas. Sinceramente, fiquei rabugento para essa exploração engessada, onde se deve ir por um único caminho e não se deve discutir sobre isso. Quero liberdade se estou num mundo aberto. Não me bote uma montanha no meio de uma rota e me obrigue a ir para a esquerda, obstruindo o caminho da direita de alguma forma. (e se o fizer, já me alerte sobre isso no mapa!)
No espaço, essa liberdade melhora. Sim, Star Wars Outlaws permite viajar até a orla planetária para explorar alguns pontos espaciais, seja naves do Império ou abandonas e lixo espacial. E claro, há piratas espaciais e naves do império a espreita pela órbita, então há batalhas espaciais! As batalhas seguem uma mecânica tradicional, com liberdade de giro no eixo de 360 graus, mísseis e tiros automáticos. Não é tão orgânico como Star Fox, mas é divertido o suficiente para me dar saudades de… Star Fox.
Outra crítica que pode se mencionar em torno da experiência da campanha, mas que penso ser relativo, diz a respeito da sua repetição. É uma jogabilidade repetitiva? Com certeza é, contudo é também um dos aspectos mais comuns em jogos de mundo aberto, que precisam durar mais do que aventuras lineares e, por isso, se aposta demais em ciclos de atividades que se repetem com determinadas variações e níveis de dificuldade.
Dito isso, não acho que Star Wars Outlaws tenham grandes problemas nesse sentido. O jogo tem uma mecânica baseada em furtividade, então é claro que em boa parte das missões principais envolvem a invasão de áreas hostis e, portanto, você acaba jogando daquela forma mais contida, aprendendo sobre a área, os pontos de acesso e as trilhas pela qual os inimigos andam. Conforma a aventura progride, Kay também vai aprendendo mais habilidades e recursos para avançar por estes momentos com outras técnicas e táticas.
Ainda assim, a campanha, em suas missões principais, também reservam outros verbos de jogabilidade, desde explorar áreas em que haja muita jogabilidade de plataforma, escalando e pulando por enormes estruturas, afim de chegar a um determinado ponto no final de todo o trajeto, assim como modelos de fuga, quando toda a furtividade cai por terra e Kay precisa simplesmente escapar do lugar correndo e desviando de todos os obstáculos que se colocarem em sua frente.
Então a campanha de Star Wars Outlaws aposta sim em diferentes cenários e situações de jogabilidade, ainda que, em sua maior parte, sempre vai priorizar o conceito de invadir um local furtivamente, até que um evento dê o gatilho para mudar a situação, permitindo uma fuga frenética ou um combate contra certos inimigos. Trata-se de uma fórmula básica para o gênero, sem muita inovação, o que causa essa sensação de “já vi e joguei isso“. Não acredito que seja um demérito, porém estamos em um momento da indústria dos jogos eletrônicos em que os jogadores querem que os jogos vá além dos parâmetros mais básicos.
No entendo, já acho uma vitória que o mundo aberto de Star Wars Outlaws apresente planetas e biomas diferentes em cada um, e que não repete aquela megalomania que existem em tantos outros jogos da Ubisoft, com um mapa com milhares de marcações e ícones de coisas para se fazer a exaustão. Existe um auto controle dos desenvolvedores, ainda que também entenda que falte um balanceamento, pois as vezes existe a sensação de que não há tanto assim para se fazer no mundo aberto, ainda que ache os centros urbanos muito bem idealizados, repletos de acontecimentos e NPCs vivendo suas vidas.
Outro elemento que me chamou atenção na campanha é a forma como Kay ganha novas habilidades, sendo apresentado uma árvore de habilidades bem diferente dos jogos atuais, sem aquele conceito de pontos de experiências para se aplicar em um menu. O que existe aqui são especialistas que vão ensinar a Kay novas habilidades, e eles são habilitados ao longo da aventura, conforme a personagem vai os conhecendo e se aliando a eles.
Destravando o especialista, é apresentado ao jogador uma lista de tarefas que ele deve executar na aventura. Quando se termina de executar a lista de tarefa de uma certa habilidade, a mesma é liberada ao jogador. É um conceito diferente, e bem divertido. Claro que habilidades necessárias para a progressão da campanha vão ocorrer de forma natural, contudo, existem outras habilidades que cabem ao jogador se atentar em realizar o necessário, afim de que ele possa expandir seu repertório de movimentos e ferramentas. É bacana isso.
Por fim, resta mencionar que na parte gráfica, Star Wars Outlaws cumpre tudo que a atual geração de consoles promete fazer em seus jogos. Há momentos em que as paisagens enchem os olhos, assim como o bom trabalho com as sombras e reflexos pelo ambiente, assim como as cidades são repletas de NPCs andando, conversando, manuseando objetos, com respingos em poças, vapores de bueiros e panelas. É tudo muito bonito. Trata-se de uma direção de arte que honra o universo esperado de Star Wars.
Na parte sonora também não é diferente, afinal houve parceria com a Lucasfilm Games, e todo acervo de efeitos sonoros característicos do universo Star Wars estão presentes no jogo, do barulho dos blasters, dos veículos, de como sai as vozes dos capacetes dos troppers, e até mesmo o som de cenas de transição característica desse universo. O jogo soa como uma obra Star Wars, então houve essa atenção e cuidado. Fora a já elogiada localização e dublagem em português. Não vi qualquer ponto de demérito nesse aspecto.
Com todo o exposto, dito que Star Wars Outlaws, me apresentou uma experiência que cumpriu as expectativas que tinha para o título, assim como o que já esperada de uma produção característico da Ubisoft. Entendo que para muitos isso talvez não seja o suficiente, contudo, acho que é uma obra que tem bons acertos, que visa um público diferente daquele buscado por Star Wars Jedi, e que tem essa premissa mais acessível, com bons personagens, uma divertida trama, e que dá liberdade de explorar uma perspectiva do universo de Star Wars que vai além dos Jedis e daqueles que detém a tal Força dentro de si.
É uma aventura despretensiosa e com carisma, e não vejo qualquer problema isso. Não é uma epopeia épica, porém é divertida na medida que se espera de um bom jogo para videogame. Acho que para uma primeira investida, a Ubisoft jogou de forma bem segura, evitando sair de seus eixos, e entregando boas ideias e conceitos, baseado em experiencias de sucesso da casa. Quem se diverte com seus títulos, vai se divertir aqui. Sem dúvida alguma.
Galeria
Dando nota
Apresenta um bom universo, com uma história de ladrões, traições e assaltos em uma galáxia imperialista - 8.5
Jogabilidade em grande parte se baseia na exploração de mundo aberto e abordagem furtiva pelas missões - 8.2
Acerta bastante no sistema de grupos criminosos, decisões e formato de desbloquear habilidades - 8.8
Tropeça em certos bugs, na mobilidade com o speeder (motoca) e na jogabilidade que soa repetitiva - 6.8
Tem uma ótima direção de arte e som, que honra tudo que representa o universo de Star Wars - 8.8
Combate não é muito satisfatório, ainda que nunca soe como uma atração principal da aventura - 7
Em termos gerais, é uma produção com a fórmula e trejeitos característicos da Ubisoft - 8
8
Ótimo
Star Wars Outlaws tem uma identidade características de produções da Ubisoft, tanto para o bem, quanto para o mal. Contudo, a aventura é divertida e despretensiosa, acessível a qualquer tipo de jogador, independente do nível ou idade. Uma jogabilidade que tem inspirações em outras séries do estúdio, de Watch Dogs, Splinter Ceel e Assassin's Creed, apostando em abordagens furtivas, combate pontual, exploração em um mundo aberto, com tarefas que repetem um ciclo sim, mas ainda tem bastante variedade e desafios, dando liberdade para que o jogador resolva missões de diferentes maneiras. Acerta em apresentar um conto de ladrões e grandes assaltos, num sistema de traições de grupos do submundos, com uma progressão que sempre vai te apresentando novas habilidades e possibilidades de mecânicas. Tropeça em não apresentar nada substancialmente novo na fórmula do estúdio, além de pequenos bugs que não comprometem, mas ainda incomodam parte da comunidade, ainda que no geral, sempre garantem algumas risadas do problema.