Iron Meat é um intenso run & gun apocalíptico, intrinsecamente influenciado pelo clássico e inesquecível Contra (Konami, 1987), que coloca o jogador em uma batalha de vida ou morte contra uma biomassa interdimensional que está se assimilando de tudo que é orgânico ou eletrônico, colocando o planeta todo em risco. Pegue sua melhor arma e saia atirando em tudo, porque literalmente tudo estará tendo lhe matar!
O título foi lançado no último dia 26 de setembro, chegando a todas as atuais plataformas da geração, PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC. Lá fora o jogo independente foi lançado num preço único para todas as plataformas, 19 dólares, mas aqui no Brasil, como cada plataforma precifica a sua maneira, na data de publicação desta análise, é possível encontrar Iron Meat por R$60 na Steam e eShop do Switch, por R$75 na loja digital do Xbox, enquanto que na PlayStation Store, o mesmo jogo chegou por R$99.
Iron Meat é criação do desenvolvedor independente Ivan Valeryevich Suvorov, lá da Rússia, em parceria com o estúdio norte-americano Retroware, que auxiliou no desenvolvimento e também ficou responsável pela distribuição global do jogo. E veja só, mesmo estando num espectro de jogo independente, o título foi localizado em 12 idiomas, incluindo textos e menus em português brasileiro. Aí sim!
Como mencionado no início, o jogo pertence ao clássico gênero de ação 2D de correr e atira (run & gun). Ou seja, o jogador avança lateralmente pela tela, da esquerda para a direita, ou de baixo para cima em fases verticais, atirando em tudo que se mexer, enquanto pula em plataformas e desvia dos projéteis e armadilhas espalhados pelo caminho.
Há também muita ação envolvendo plataformas, decidir em ficar em pontos altos do estágio, ou escolher o ponto mais baixo, saltar buracos e tentar não se atingido por nada. A munição é infinita, e ao longo da fase, é possível ganhar armas com diferentes formatos de tiros, mais poderosos que a arma padrão. E o jogo tem suporte para dois jogadores no formato de multiplayer local.
Sim, tem o DNA de CONTRA
Acredito que não tem como ir adiante nesta análise sem que seja preciso reafirmar mais uma vez o óbvio: a forte influência que a franquia Contra tem em Iron Meat. E não digo isso somente pelo fato da popular franquia da Konami ter influenciado e criado, lá na década de 80, a fórmula run & gun, e sim porquê Iron Meat compartilha uma jogabilidade muito semelhante a estrutura primordial que torna Contra um… Contra.
A movimentação, por exemplo, é exatamente a mesma, os personagens são leves e ágeis, saltam da mesma forma que o mencionado clássico, fazendo a cambalhota circular em pleno ar. O tiro também segue a estrutura similar do eixo de Contra, dando ao jogador a possibilidade atirar para cima, nas diagonais, além do tiro frontal e para baixo quando estiver em pleno ar.
Os elementos estruturais seguem também no padrão da forma como as armas com tiros diferentes surgem na fase, por meio de um balão que viaja na parte superior da tela num caminho ondular. E são classificadas e identificadas por ícones de letras maiúsculas antes de serem coletadas. Se isso não é Contra, não sei o que pode ser. E não digo isso com más intenções, acho que se um gênero pode se inspirar e homenagear o que há de melhor em sua categoria, que assim o faço, contato que faça bem. E Iron Meat faz.
Mais elementos? Seu personagem morre tomando um único dano, seja caindo num buraco, tomando um único tiro, ou até mesmo esbarrando em inimigos, máquinas, ou fogo e qualquer outro composto com o objetivo de lhe matar. E assim como Contra, o personagem retorna a fase imediatamente do ponto em que morreu, invulnerável por apenas alguns micro segundos, o suficiente para se situar e seguir caminho. Contanto que tenha vidas, é claro. Uma vez esgotadas as vidas, é Game Over, e todo o estágio precisa ser reiniciado.
Alguns inimigos também seguem arquétipos dos que existem no clássico de 87, com inimigos que surgem em ambas as laterais da tela, e vão de encontro ao jogador. Há algumas estruturas que ficam fixa nas paredes das fases, como uma espécie de canhão, e que atiram em você em certos intervalos de tempo. E as fases são essa mistura de caos, de diferentes inimigos, tentando lhe atropelar, atirando, barrando a sua progressão lateral.
Alguns estágios tem sub chefes após certo ponto da progressão, contudo em todas existem grandiosas batalhas de chefes no final. Batalhas que muitas vezes se dividem por etapas, com o chefão ficando mais forme, mudando seus ataques e as vezes até sua forma. Conseguir manter algumas vidas é essencial para lidar com alguns destes confrontos pela primeira vez.
Apocalipse da carne
Indo além das comparações, ainda que neste caso as veja como um elogio, Iron Meat tem uma ambientação própria, que brinca um pouco com ficção científica de horror. Não que seja uma super trama, contudo é a base para a proposta da jogabilidade, então é necessária e funciona muito bem.
O jogo apresenta uma experiência científica que dá muito errada, e que acaba invocando uma biomassa de outro dimensão, apelidada de “A Carne” que começa a assimilar toda a matéria biológica ao seu redor, criando seres de carne grotescos que possuem o desejo de atacar àqueles que não são seus semelhantes. Essa biomassa de carne também começa a assimilar máquinas e eletrônicos, o que dá palco para enormes criaturas repletas de dentes protegidas com armaduras que um dia foram a estrutura de carros e até mesmo uma enorme serpente de carne usando o trem do metrô.
Você, como jogador, assume o papel de um soldado no combate dessa biomassa. Na realidade você está atrás do cientista que criou tudo isso, e que enlouqueceu e agora está ajudando essa entidade carnosa de outra dimensão a dominar todo o planeta. São duas ameaças em um, basicamente.
E o legal desse conceito narrativa é que ele vai ser utilizado para ambientar todas as fases do jogo. Então o jogador vai passar sim pelas clássicas fases de florestas, cidades e bases, mas estes estágios sempre serão dominados pela invasão da biomassa, modelando o lugar, criando armadilhas, destruição e claro, inimigos assimilados pela entidade. A sensação é de que o jogo começa já no pós-apocalipse e tudo já foi pro saco.
Ao todo, Iron Meat é composto por 9 longos estágios, sempre com a já mencionada batalha contra um chefão. O jogo também apresenta três níveis de dificuldade (fácil, normal e difícil), sendo que no nível normal, você começa cada estágio com 16 vidas para tentar vencer a fase sem esgotá-las por completo. No geral é uma quantidade suficiente para conseguir esse marco, ainda que em alguns chefes, ao chegar com poucas vidas, algumas de suas mudanças de etapas possam lhe pegar de surpresa e lhe custas suas últimas vidas.
Ao vencer uma fase, a próxima fase fica liberada no menu principal do jogo. Sendo assim, se parar a jogatina e resolver continuar posteriormente, você pode começar pela nova fase ainda não vencida, pulando assim totalmente todos os estágios já concluídos.
Outro aspecto que também me agradou em Iron Meat, diz respeito ao sistema de armas. A começar que o jogador pode coletar duas armas ao mesmo tempo, e uma fica guardada como secundária, podendo alternar entra ambas num pressionar de botão. E caso o jogador morra, a arma guardada permanece armazenada, até ser selecionada novamente, independente de quantas vidas vier a perder. É uma estratégia bacana deixar uma arma especial guardada para utilizar nos chefes, já que no segmento final das fases, não é comum surgir tais armas com munição diferenciada.
E tem mais, as armas possuem nível de poder, ou seja, se o jogador coletar o mesmo padrão de arma que já estiver coletado, ela fica ainda mais potente, como se tivesse subido de level. E isso também tem regra, então, por exemplo, se você tiver com uma arma M guardada, e estiver utilizando uma L, ao coletar uma nova arma M em meio a ação, isso não te fará ficar com duas armas M. O que acontecerá é que o jogo irá aumentar o nível da arma M guardada, enquanto seguirá usando a L.
Ou seja, não existe a sobreposição se já estiver com tal arma coletada, independente de estar com ela equipada ou guardada. Só irá sobrepor, ainda usando o exemplo criado, se for coletada uma arma S. Aí sim ela iria sobrepor a arma em uso, neste caso a L. A arma guardada nunca se sobrepõe.
Não parece muito interessante isso, contudo, é uma estrutura de regra que permite muitas estratégias, entre quais armas manter guardada, e quais utilizar em cada situação. Sempre atento em tentar fortalecer o nível das que você mais gosta de usar.
Todas as armas especiais, assim como a arma padrão, possuem munição ilimitada, assim como o tempo também é infinito, contanto que o jogador não morra enquanto estiver com ela como primária. E os projéteis cobrem todo o básico do que se espera desse esquema, com tiros maiores do que a padrão, na mesma cadência, outros mais angulares, abrindo mais o ângulo vertical, assim como algumas que causam danos maiores, que se assemelham a projéteis explosivos, mas que tem uma cadencia menor de tiro. Algumas acertar apenas um alvo, enquanto outras, como o laser, ultrapassam todos diversos alvos.
Por último, há também uma habilidade especial, que faz com que seu personagem atire pequenos tiros padrões num raio de 360 graus ao seu retorno, em pequenos intervalo de tempo, e em todos os ângulos ao mesmo tempo. É um item mais raro de surgir entre as fases, mas sempre de grande utilidade. Contudo, como os projéteis saem de você por todas as direções, as vezes é fácil confundir um projétil inimigo que esteja vindo em sua direção. Tem que ter um pouco mais de atenção ao utilizar esta habilidade.
A cereja de tudo isso é que o título ainda oferece mais de 30 skins de personagens. Elas são destravados jogando normalmente a campanha e vencendo as fases. Contudo, não espere destravar todos os personagens na primeira conclusão da campanha. Comigo, foi possível destravar cinco personagens, ainda há muitos outros. E aí entre o fato de replay, de tentar em nova dificuldade, com um amigo em coop, ou pelo simples prazer de jogar tudo novamente. Contudo, vale dizer que os personagens são apenas skins mesmo. Não existe qualquer diferença em termos de status ou jogabilidade entre eles.
Considerações finais
Iron Meat é um indie game valoroso, ainda que não seja um título exatamente longo. Dá para virar a campanha num único dia, em algumas horas. O que conta aqui é a alta qualidade do tempo gasto no jogo, que é divertidíssimo. Me levou imediatamente a minha infância, naqueles finais de semana com o Contra alugado na locadora do bairro.
E ainda tem um diferencial em detrimento ao clássico eterno da Konami. Enquanto Contra foi idealizado como um título de arcade, o que significa que foi desenvolvido para sacanear o jogador, matar ele sem dó a qualquer momento possível, afim de que mais moedas fossem colocados nas máquinas de fliperama, e ainda que suas versões de consoles tenham tornado isso mesmo custoso, ainda é um título que pretende lhe matar a todo o momento. Iron Meat supera esse conceito, afinal estamos em 2024 e não é preciso usar uma ficha paga para jogá-lo.
Nesse sentido, achei a dificuldade de Iron Meat muito mais agradável. Você morre se não ficar atendo, nas primeiras tentativas de chefes, em certas armadilhas, porém, numa avaliação geral, o jogo é super amigável e acessível. Não é que seja mais fácil, ele apenas não é incrivelmente sacana. Ainda vai exigir memória muscular em algumas situações e respostas rápidas contra algumas ameaças, mas dentro de uma expectativa de que você consegue vencer numa segunda ou terceira tentativa.
E para um jogo de apenas 9 fases, acho que ter essa consciência e manter a experiência assim é um mérito de grande elogio. Fica claro que o desenvolvedor desejou que os jogadores se divirtam concluindo o jogo, e não ficando frustrados e não completando a aventura. E se ela é divertida e acessível, você sente vontade de virar mais uma, mais duas vezes. Trocando o personagem, chamando alguém pra jogar com você.
As fases são muito bem idealizadas, e todas possuem um bom ritmo, cada qual com elementos únicos, ainda que muitos inimigos, que vão sendo apresentados, voltem a aparecer em outros estágios. Vai ter muitos elementos de plataforma, incluindo um clássico estágio vertical, e existe a sensação de que a dificuldade vai escalando a cada um dos estágios. O último chefão, que conclui a aventura, me tomou mais de uma hora até acertar o tempo, seus pontos fracos e aprender a desviar de seus ataques em seus muitas etapas. Ficou genial.
Ao fim, Iron Meat é um jogo com alma e carisma. Tem como base algo que muitos vão reconhecer dentro do gênero, porém é tão bem feito, que isso se torna um elogio. Controles respondem bem, e por serem simples, se movimentar, pular e um botão de atirar, pode ser jogado por qualquer um, mesmo que não tenha muita experiência com videogames (só vai ter que treinar um pouquinho). Gráficos em pixel art são um show e toda a trilha sonora é contagiante com a intensidade de um apocalipse criado por uma massa de carne viva.
Galeria
Dando nota
Excelente apresentação, trazendo uma massa de carne viva que tomou o controle do planeta - 8.5
Tem uma enorme influência da estrutura e jogabilidade do clássico Contra (1987) - 8
Boa acessibilidade de gameplay, permite ao jogador avançar sem se frustrar, mas ainda terá muitas mortes pelo caminho - 8
Armas especiais podem ser armazenadas e podem subir de nível - 8.5
Arte rica nos detalhes, com uma pixel art que emula o passado, porém soa moderna - 8.2
Curtinho, com 9 estágios, fazendo a aposta de que vale a pena rejogar tudo algumas vezes - 7
Fases bem elaborada, com ótimos chefões ao final de cada uma - 8.5
8.1
Ótimo
Iron Meat é um Run & Gun com muita competência, pois tem como influência o grande ícone do gênero, Contra (de 1987). O resultado é um agradável indie game segue toda a estrutura do clássico da Konami, mas em uma roupagem própria, entregando excelente jogabilidade, ótimas fases, incríveis combates de chefes, mas acima de tudo, consegue uma jogabilidade divertida, a qual o jogador progride sem frustração, mas mantém o desafio do gênero, enquanto entrega boas armas, multiplayer local para 2 jogadores e uma trama envolvendo uma biomassa de carne que tomou o controle do planeta, resultando em uma direção de arte violenta e grotesca, o que combina demais com a ação da jogabilidade.