Análise | Until Dawn (Remake)

Disponível para PlayStation 5 & PC

Until Dawn retorna aos holofotes em uma nova roupagem, mais bonito, mais elegante, mantendo boa parte da experiência do jogo de 2015, contudo, adicionando pequenos novos detalhes e elementos de jogabilidade para tornar o terror da obra original ainda mais envolvente e imersivo. Funciona muito bem, especialmente para quem está conhecendo agora a franquia. Para quem jogou lá no PlayStation 4, essa é uma conversa que ocorrerá mais à frente desta análise.

Seu lançamento aconteceu agora, no último dia 4 de outubro, chegando de forma exclusiva ao PlayStation 5 e, pela primeira vez, ao PC. E, diferente do que já ocorreu em outros lançamentos de clássicos resgatados da biblioteca do PlayStation, o remake de Until Dawn chega sem nenhum tipo de opção de upgrade (atualização) para quem detém a versão do PS4, seja de forma gratuita, seja mediante um preço menor.  Quem tem a versão anterior, para jogar o remake, precisa desembolsar o preço cheio deste lançamento.

Esta nova edição de Until Dawn, tal como sua versão original, chega ao mercado brasileiro totalmente localizado em português, menus, legendas e dublagem, ou seja, com áudios em nosso idioma. Ao que meus ouvidos me indicam, trata-se da mesma dublagem de 2015. Procurei informações na internet sobre a possibilidade de alguma coisa ter sido redublado e não encontrei, e vendo vídeos da versão original, as vozes me soaram as mesmas.

Until Dawn é um jogo de terror narrativo. O jogador segue uma história, decidindo algumas linhas de ação, alguns diálogos e decisões a tomar, sendo que cada decisão pode ou não ter alguma repercussão na trama, de imediato ou futura, que levará a história por diferentes desfechos. Como é um jogo de terror, sua missão é tomar as decisões corretas afim de que todo o grupo de protagonistas consigam sobreviver até o final do jogo. Salve todos, salve apenas alguns ou mate todos. Suas decisões ditarão os destinos de cada um dos personagens.

A jogabilidade mescla exploração em pequenas áreas delimitadas, busca por colecionáveis que contextuam a trama e diversos eventos de resposta rápida no controle (quick time events) que também podem ocasionar em efeitos colaterais na história se não realizados com certo percentual de acertos. Há vários segmentos de jumpscare (o famoso susto repentino) e seguimentos de ação e suspense que vão testar o psicológico do jogador em meio a tensão e pressão de tomada de decisões rápidas.

Origens e um novo estúdio

É preciso explicar o seguinte: Until Dawn é um jogo originalmente lançado lá em agosto de 2015, com exclusividade no PlayStation 4, versão que nunca foi lançada para PC. Foi desenvolvido pela Supermassive Games, mesmo estúdio dos recentes jogos da antologia The Dark Pictures e The Quarry (que é, basicamente, um sucessor espiritual de Until Dawn). Contudo, não é a Supermassive quem está encabeçando este remake.

Este remake, e não confundir com remaster, foi realizado pela Ballistic Moon, estúdio fundado em 2019, por Duncan Kershaw, Neil McEwan e Chris Lamb, três ex-funcionários da Supermassive Games, que trabalharam no estúdio justamente nessa fase em que Until Dawn foi desenvolvido. Sendo este remake, o primeiro projeto do estúdio a ganhar vida.

Tentando não me estender demais, o que rola extraoficialmente na internet, é que Sony e Supermassive se desentenderam há alguns anos, o que inviabilizou novos títulos exclusivos, assim como uma sequência pretendida para Until Dawn. A Supermassive atualmente segue lançando novos jogos, agora no formato multiplataforma, sem excluir o PlayStation, porém novas colaborações exclusivas nunca mais aconteceram desde Until Dawn.

E como a IP de Until Dawn pertence a Sony Interactive Entertainment certamente eram estes os termos do acordo de distribuição do jogo original, e já que a empresa financiou parte do desenvolvimento original – é de seu direito o resgate do título e a decisão de deixar outro estúdio cuidar de uma nova edição, e neste caso um remake. E claro que soa bem proposital que o estúdio escolhido tenha sido fundado por pessoas que trabalharam na Supermassive e presenciaram o desenvolvimento de Until Dawn. O mundo da voltas afinal, e estamos num destes giros.

Não é ocasional, portanto, que nenhuma menção promovendo o remake, tenha sido feito pela Supermassive Games ao longo desse mês de seu lançamento em sua página no Twitter/X. Assim como, do outro lado, curiosamente, a Ballistic Moon tem promovido o game em sua página na mesma rede, porém sem mencionar a Supermassive. Ainda é uma história com envolvidos que lamentam um pouco como tudo ocorreu, isso fica bem óbvio. Não deixa de ser um pouco triste tal cenário.

Independente dos atritos, há que ser justo e dar créditos a quem os detém. Until Dawn é um jogo fenomenal por todo o cuidado que a Supermassive teve com o projeto em suas origens, que permitiu que o estúdio se impulsionasse no mercado e tenha criado novos jogos no mesmo segmento narrativo de terror. Por outro lado, não dá pra ignorar o belo trabalho de remake que a Ballistic Moon aplicou ao título. Será que isso é o suficiente para permitir que o estúdio faça uma sequência, já que agora é ela quem a Sony namora? Ainda é cedo para dizer, mas certamente os meios e ferramentas estão, agora, na mesa.

Remake… e não remaster?

Diferente do que mencionei recentemente na análise de Dead Rising Deluxe Remaster, o que temos em Until Dawn é de fato um remake, e não uma remasterização. E entendo que ambos os termos podem ser complexos e certos aspectos se entrelaçarem nos dois conceitos. Contudo, aqui, ainda que a base estrutural seja a mesma obra de 2015, existem diversas pequenas melhorias e mudanças em relação aos elementos originais, que tem como proposta justamente promover uma nova experiência para com o jogo. Ter conseguido isso é uma outra história – aí falaríamos do resultado -, porém, aqui estou me referindo ao projeto do remake.

O primeiro ponto a mencionar foi a troca do motor gráfico. O remake de Until Dawn foi recriado na Unreal Engine 5, enquanto que o jogo original foi desenvolvido em uma engine chamada Decima, desenvolvido pela Guerrilla Games, estúdio de Killzone: Shadow Fall e dos jogos de Horizon (Zero Dawn e Forbidden West). Contudo, troca de motores gráficos também ocorrem em remasterizações, até mesmo em jogos de longa atividade que continuam recebendo conteúdos, como Fortnite, que atualmente roda na Unreal Engine 5.

No caso de Until Dawn, a troca do motor gráfico veio para permitir recriar o jogo original com diversas melhorias gráficas. O cenário do jogo está mais rico, principalmente as áreas externas. Novos elementos de cenário foram adicionados a floresta, a vegetação parece mais cheia, mais intimidante, assim como a neve passa a cobrir uma gama maior de elementos, e se torna um elemento mais fluído, que tem espessura, deixa de parecer menos como uma textura dura do original. Os personagens andam pela neve e fica o rastro de onde passaram. O pé afunda nesse terreno. Não é uma mudança significativa de gameplay, óbvio, mas é um cuidado artístico visual importante num jogo de inverno intenso.

Mas a melhoria visual também se aplicou nos ambientes internos. Há muito mais objetos e elementos de cenários, especialmente nos cômodos abandonados e esquecidos que conectam alguns dos locais onde toda a tensão se passa. O sanatório ficou mais assustador, assim como o corredor que conecta a casa principal ao mesmo. As cavernas das minas onde parte da narrativa ocorre, também receberam uma game de detalhes e aspectos que a tornaram ainda mais claustrofóbicas.

Graficamente, Until Dawn agora parece como um jogo atual de PlayStation 5. Não deixa em nada a desejar com os atuais novos títulos do console. É esse o nível do cuidado com a direção de arte. Diferente, por exemplo, de Dead Rising, a qual mencionei mais acima. Lá, ainda que tenha havido a troca do motor e melhoria gráfica, ainda é visualmente um jogo que passa a sensação de ter sido desenvolvido uma geração atrás. O motor gráfico aprimorou e melhorou, mas o jogo não foi refeito. Diferente do caso de Until Dawn, onde tudo foi refeito para perder essa sensação de “geração passada“.

Mas a sensação de modernidade não advém apenas dos novos gráficos, uma mudança significativa no remake, e que impacta forte a jogabilidade está na mudança da perspectiva da câmera em terceira pessoa, que agora passa a seguir o personagem mais colada em seu ombro (over the shoulder, no termo original). Isso colocar o personagem mais próximo da tela, dando certa tensão ao clima de suspense, mistério e terror. O jogo original tinha um sistema de câmera mais distante do personagem, ainda que também fosse em terceira pessoa. Não era ruim, mas particularmente, esta nova perspectiva ficou muito melhor, mais impactante, mais imersiva.

Por sinal, pensando em The Quarry, que a Supermassive lançou em 2022, essa câmera mais próxima do personagem já havia ocorrido, mas a Ballistic Moon a trouxe ainda mais colada para o remake de Until Dawn. E funciona muito bem esse conceito, porque dá um impacto ainda mais cinematográfico a obra. Dá uma sensação de que algo vai pular em cima de você a qualquer momento, e sendo um jogo em que coisas realmente pulam na sua cara a todo momento, é este o resultado esperado.

Ainda sobre mudanças, e novidades, o estúdio do remake mexeu em outros detalhes da experiência do jogo. Existem novas interações entre os personagens, novos itens para verificar, o prólogo do jogo recebeu uma extensão em relação ao original, assim como um novo final foi adicionado entre todas as possibilidades possíveis. Além disso, todos os totens colecionáveis tiveram seus locais trocados e novos locais também foram adicionados.

Em relação aos totens, que dão um vislumbre ao jogador sobre possíveis acontecimentos dentro da narrativa, a depender de suas decisões e escolhas, também foi adicionado um novo tipo, os totens de fome (borboletas verdes), que ao contrário de alertar sobre escolhas, parecem revelar alguns dos aspectos do passado de certo personagem. Uma adição que não impacta significativamente a jogabilidade, mas expande a lore da narrativa, além de acrescentar ainda mais totens na busca do jogador.

Acho importante essa troca dos locais dos totens, porque parte da experiência do jogo, apesar de sua essência narrativa, de acompanhar a história, é também de pensar quando explorar vale a pena para coletar uma pista do que pode ocorrer no futuro. E alterar estes locais obriga quem jogou, e sentiu saudades para voltar para rejogar, a ter toda a experiência de sair caçando estes colecionáveis tudo de novo. São pequenos detalhes que ao compor o todo, compõe o mérito de um bom remake.

Ainda sobre os totens, foi adicionado uma nova mecânica neles, uma espécie de mini game, a qual o jogador precisa rotacionar o objeto, afim de encontrar uma pequena fenda que dará o gatilho para a premonição. Diferente do jogo original, onde apenas coletá-lo fazia esse evento acontecer. Gosto mais deste novo jeito, até porque casa com toda a estrutura de interação do jogo, pois você aperta um botão pra abrir uma porta, mas depois precisa fazer o movimento no analógico, você coleta uma carta, e tem que fazer o movimento pra girar ela. Tem esse tipo de interação com os totens faz total sentido.

Além de tudo isso, também foram produzidos novas trilhas sonoras ao jogo, além de uma nova música tema. Agora cada ambiente tem sua própria trilha. Sinceramente, não lembro tanto assim das músicas da versão de 2015 para pode comparar ou dizer que senti significativamente a mudança. O que posso dizer é que a atual trilha tem impacto e combina perfeitamente com o clima da obra. Dito isso, tem uma matéria bem bacana no PlayStation Blog que aborda estes aspectos da nova trilha sonora. Não é um aspecto técnico que chama muito a minha atenção, mas entendo que tem quem fique curioso, então recomendo a leitura do artigo se é este o caso.

E antes de seguir adiante, não posso deixar de mencionar que todo os extras relativos a documentários do jogo, estão presentes também nessa edição, assim como um novo segmento, que aborda o retorno do elenco após tantos anos, para falar um pouco mais do jogo e do remake. Para quem aprecia esse tipo de conteúdo, é um prato cheio, rever os atores originais, falando sobre o impacto do game e do que se recordam a seu respeito. É um extra bem legal de espiar, após ter concluído a campanha, de modo que assim você evita spoilers se ainda não souber nada sobre a trama de Until Dawn.

Dito tudo isso, dá para concluir que Until Dawn pode sim ser chamado de remake. Novos gráficos, novos filtros, cores, detalhes, elementos visuais, nova trilha sonora, nova perspectiva de câmera, novos sustos, maior impacto cinematográfico, incluindo melhorias de cortes e melhor dinâmica nos ângulos das cutscenes, envolto em uma jogabilidade que ainda segue muito do parâmetro do jogo original, mas a nova perspectiva deixa tudo mais intimidador, com a exploração renovada graças as trocas de locais dos colecionáveis, além de novos totens e novas interações, além das melhorias generalizadas dos controles e do impacto apurado do DualSense. É uma experiencia renovada? Com certeza!

Vale a pena retornar a Montanha Blackwood?

Vou responder isso da seguinte maneira: se você nunca jogou Until Dawn, acredito que é uma obra que melhor apresente esse gênero narrativo a quem o desconhece. E uma vez que você o aprecie, irá querer conhecer tudo que existe parecido por aí, incluindo diversos outros jogos da Supermassive Games.

Contudo, também preciso colocar que trata-se de um gênero que não é apreciado por todo mundo. Porque é um jogo sem muita ação direta, ou seja, não tem combate direto, e boa parte da experiência com o jogo é você assistindo a um filme interativo, tomando decisões e vasculhando pequenos ambientes por colecionáveis e itens que expandem os enigmas da história. O interessante é acompanhar onde as SUAS decisões irão levar estes personagens, que se encontram num jogo da morte. Todos podem ser salvos, todos podem morrer. Tudo depende de como o jogador vai reagir aos desafios apresentados pela condução narrativa. Há um brilhantismo nesse conceito, mas entendo que não é todo mundo que vai apreciar.

Quando olho para Until Dawn, consigo perceber que o jogo estava a frente do seu tempo, quando lançado em 2015, e que até hoje continua afiado e certeiro em sua arquitetura de jogo. Posso dar um exemplo disso. Há uma cena em que o personagem Mike precisa correr para chegar a um pouco rápido da trama. E tudo isso acontece num momento eletrizante da narrativa, quando a história começa a sair do controle do jogador, o que por si só já é impactante. E todo esse segmento é feito por meio de uma cutscene compostas de decisões e QTE (quick time events), adicionados a pressão de que você precisa resolver esse dilema o mais rápido possível. A forma como isso é colocado num jogo de narrativa é de aplaudir.

Além disso, mencionei acima que o jogo não tem combate livre, mas existem pontuais momentos em que o jogo namora esse elemento, porque existe uma ameaça, os personagens possuem meios de se defender, e é necessário que existe uma resposta rápida do jogador. É uma forma de combate, e ainda que seja feita de forma muito estática, ainda tem a mesma pressão de como se você estivesse jogando um jogo de tiro. Onde atirar, devo atirar, quando atirar. É tenso e extremamente satisfatório, especialmente nos capítulos finais do jogo.

Contudo, que já jogou Until Dawn no passado, sabe de tudo isso. Sabe quem é o vilão, quem são os antagonistas, qual a real ameaça presente na montanha, sabe do papel do psiquiatra que avalia o jogador no início – e que em jogos posteriores a Supermassive o transformar no Curador, uma espécie de narrador dos contos do estúdio. Então parte de toda a surpresa de uma trama muito bem elaborada já não existe mais. O remake não muda nenhum destes elementos, porque seria um absurdo se o fizesse.

Quem jogou e sabe tudo isso, não vai repetir a mesma experiência original. Claro, a nova perspectiva de câmera vai lhe render novos sustos, vai ter que procurar os colecionáveis em novos pontos, mas o grande trunfo do jogo, sua trama, já lhe foi revelada. Você sabe o que fazer e como fazer. E se lá no passado, não chegou a ver alguns dos finais alternativos, nunca jogou escolhendo novos caminhos e tomando decisões erradas, aí vai ter uma surpresa ou outra aqui. Mas no geral, o remake de Until Dawn ainda é a mesma narrativa do original de 2015.

Odeio reclamar de preço de jogos em análises, contudo vi que até mesmo parte da crítica global tem feito isso no que diz respeito a esse título. Isso porque Until Dawn está sendo vendido a preço cheio, sem qualquer valor alternativo para quem possui a versão de 2015. Isso soa justo? De forma alguma. A crítica tem razão sim ao dizer que cobrar U$60 pelo remake, para quem possui o jogo anterior, é um tremendo vacilo.

Para quem nunca jogou? Beleza, é um jogo que vale tudo isso sim! É um remake refeito do zero, vindo por um outro estúdio que moderniza toda a experiência original, repleto de melhorias e adições, todas já comentadas aqui. Então sim, está correto o valor. O errado é não pensar no legado, em todo mundo que já jogou, tem o título, e que já pagou esse preço cheio lá no passado. Deveria haver um preço alternativo de legado, de quem detém um cópia do original. Até para honrar quem apoio o jogo lá no passado.

Nesse sentido, acho que a Sony errou. Pensou apenas no público novo, não olhou para quem jogou e adoraria voltar ao título, nem que fosse mediante uma taxa reduzida. E entendo que os critérios poderiam ser complicados, porque é um jogo que já esteve em diversas promoções, foi dado gratuitamente e afins. Mas é algo que foi feito com outros títulos da biblioteca do PS4, ainda que nunca com um remake, mas que caberia a Until Dawn esta exceção.

Então vou colocar desta maneira: já jogou e gosta de Until Dawn, e dinheiro não é um problema? Pode voltar par a Montanha Blackwood, porque você vai se divertir tudo de novo. O jogo está lindo e é uma experiência renovada. Contudo, se a grana não tá caindo do céu, e ainda assim você quer ver esse novo remake, aguenta um pouco, espera uma promoção ou quem sabe se não entra na PS Plus Extra daqui uns meses (acho possível). Senão pode acontecer de você se sentir frustrado em pagar o preço cheio e isso impactar a sua experiência no jogo, ficando chateado por não se tudo que esperava, pelo valor desembolsado.

No fim, lamento muito que esse lançamento tenha sido envolto justamente em um debate a respeito de seu preço, da falta de uma opção mais barata para quem detém o mesmo jogo em sua versão original. Isso tirou alguns méritos de discussão sobre a qualidade do jogo, para discutirmos novamente a situação do mercado e da indústria dos games, e em decisões que soam mesquinhas e apelativas. Não precisava. Teria sido muito mais divertido falar sobre o jogo, e não sobre seu preço.

Considerações finais

Until Dawn definitivamente é uma obra a frente do seu tempo, e que redefiniu o gênero de jogos narrativos. Olhando para o que veio depois, até mesmo pela Supermassive Games, ainda penso que nenhum conseguiu superar esse título, ainda que eu tenha um apreço enorme por House of Ashes, que chegou bem perto da qualidade de Until Dawn, mas claramente não teve o mesmo orçamento e tempo de desenvolvimento.

Quanto ao remake, a Ballistic Moon está de parabéns, pois soube observar além dos criadores originais, trazendo novas ideias e conceitos, que funcionaram muito bem ao projeto. A perspectiva da câmera, mais próxima do personagem, com certeza foi um grande acerto. Fora que não houve preguiça ao mexer com os colecionáveis, dando-lhe novas localidades e acrescentando mais alguns. Espero muito que o estúdio consiga, após este trabalho de recriação, produzir algo original, até mesmo produzir uma sequência, já que a IP é da Sony e a Supermassive é, infelizmente, carta fora desse baralho.

Falando sobre elementos de jogabilidade encontrados aqui no remake, tem algo bem pontual que me incomodou um pouco algumas vezes, que são os controles de mobilidade dos personagens. Assim, se mexeu na câmera e em tantos outros aspectos, não entendo o motivo de deixar o arcaico esquema dos personagens se movimentarem em seu próprio eixo, precisando virar o boneco, para depois indicar onde ele deve andar, como nos clássicos jogos de Resident Evil. Sei lá, ainda funciona, mas preferia uma mobilidade mais solta dos personagens. Especialmente quando eles estão em ambientes fechados.

Outro aspecto que talvez pudesse ter um outro cuidado e olhar, mas aí acho que não cabe aos desenvolvedores, seria quanto a qualidade da dublagem em português. No geral, adoro o trabalho dos dubladores aqui no Brasil, mas não sei se foi o resgate de uma dublagem de 2015, ou se foi proposital, mas tem algumas linhas de diálogos dubladas que não tem a entonação/emoção correta e soam bem artificiais. Isso ocorre especialmente no começo do jogo, quase como se houvesse um desconforto com algumas linhas do diálogo (sem que tenha sido dado o contexto das falas ao dubladores). Mais perto dos capítulos finais, quando os personagens já estão a flor da pele com suas emoções, a dublagem melhora consideravelmente.

Como não sei se houve uma redublagem total, ou se usaram arquivos antigos, fica essa observação de que a dublagem soa realmente datada as vezes, vinda de um período onde ainda havia um certo aprendizado em dublar jogos (que por vezes tem um processo diferente de filmes, desenhos e séries).

Tirando isso, não consigo pensar em nenhum outro aspecto que tenha me incomodado e possa chamar de ponto fraco. Vi alguns reviews de lançamento abordarem alguns problemas de performance que o remake teria no período em que foi avaliado, contudo, como tive a experiência após o lançamento, com todos os patchs aplicados, o que posso dizer destas últimas semanas é que comigo o jogo rodou sem qualquer problema. Não encontrei bugs, crashes (quando o jogo trava e fecha) ou até mesmo queda na taxa de quadros. O teste, no PlayStation 5, se provou uma excelente performance.

A respeito da trama apresentada em Until Dawn, entendo que muitos podem achar enfadonho no começo, e que algumas personalidades de certos personagens talvez tenham certo problema de aprofundamento, contudo, acho que o enredo segue os pilares de filmes slashers de adolescentes, gênero de terror com assassinos psicopatas, incluindo os clichês do próprio gênero.

Ainda assim, acredito que o título se sobressaia nessa construção de narrativa e clímax, quando faz suas reviravoltas e adiciona outros elementos incomuns a trama, como a dúvida do sobrenatural. É divertido na medida certa, com adolescentes que ora soam irritantes, e conforme tudo avança, vão amadurecendo, ou então acabam morrendo.

Quanto aos caminhos e decisões que são apresentadas ao longo da campanha de algumas horas (entre 10 a 12 horas em média), fico com a impressão de que são bem idealizada, com raros momentos em que o desfecho do que decidi lá atrás acabe impactando inesperadamente a trama no futuro. Um elemento que nem sempre acho bem colocado, porque pega de surpresa algo que o jogador estava tendo cuidado pra não acontecer, mas que já estava decidido lá no começo, em uma decisão a qual ele sequer tinha como saber sua repercussão.

Existe sim um ou outro momento nesse aspecto, e que hoje entendo que são intencionais dos desenvolvedores, para que você pense no que escolheu lá atrás, e numa segunda tentativa, faça escolhas melhores. Contudo, no geral, existe poucas “pegadinhas” nessa direção, com as decisões realmente tendo as repercussões que o jogador pensa que podem ter, seja de imediato, seja no futuro da trama. Há uma boa harmonia construtiva de roteiro nesse aspecto.

Ao fim, o que posso concluir é que o remake de Until Dawn é um projeto que agrega a biblioteca do PlayStation 5, e refina ainda mais a performance da experiência original. Não estamos diante de um produto dispensável. Quem nunca jogou, tem aqui a oportunidade de ser apresentado a obra, numa qualidade digna dos atuais lançamentos.

A grande questão fica apenas no que relatei alguns parágrafos acima: cobrar o preço cheio, para quem já tem a versão anterior do jogo, realmente soa como uma grande brincadeira de mal gosto. Passado por essa rusga, certamente agora torço para ver quais outros frutos este novo estúdio poderá realizar, seja neste universo, seja em outro projeto.

Galeria

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Dando nota

É um remake que valoriza e melhora a excelente experiência original - 9
Renovado graficamente com o pleno potencial que o PlayStation 5 é capaz de entregar - 9
Nova perspectiva da câmera aproxima a intensidade do suspense, deixa mais imersivo - 8.8
Ótimo que haja novos colecionáveis e que todos tenham trocado de lugar - 8.2
A mobilidade de giro em eixo não é tão agradável ou moderno, mesmo que funcione - 7.5
Fantástico que tenha, mas a dublagem em português as vezes não soa tão boa quanto costuma ser - 7
Para quem nunca jogou ainda é uma experiência incrível e divertidíssima, um marco ao gênero - 9.5

8.4

Imersivo

Until Dawn segue como um grande marco ao gênero dos games narrativos, em que a decisão do jogador vai impactar os caminhos da história. Ter seu retorno como um remake faz muito mais sentido do que uma mera remasterização. Esta nova edição valoriza e muito todo o potencial gráfico que o PlayStation 5 é capaz de criar, enquanto que o novo estúdio responsável pela IP consegue trazer mais intensidade a experiência ao jogador, com câmera com novas perspectiva, mudança nos colecionáveis, adições de cenas e diálogos aqui e ali, sem que em nenhum momento desfaça todo o brilhante roteiro original e caminhos narrativos criados pela equipe de origem. O único ponto crítico é a falta de uma versão de desconto para quem já tem o jogo original, uma discussão pertinente, mas que não olha a obra em si. Porém, na parte técnica, é um remake de imenso valor para quem nunca teve a oportunidade de conhecer este grande título da biblioteca PlayStation.

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