Análise | Mario & Luigi: Brothership

Disponível para Nintendo Switch

Mario & Luigi: Brothership marca um novo início da icônica série de “RPG em dupla” dos irmãos encanadores, pois esta sexta aventura da aclamada franquia foi desenvolvida em uma nova casa, tendo em vista que o estúdio anterior (AlphaDream) infelizmente fechou às portas em 2019. Evento que deixou as incomuns odisseias surreais de Mario & Luigi sem um lar até então.

Não só isso, mas é também a primeira vez que um jogo da franquia é lançado num console doméstico, já que todas as cinco aventuras anteriores são exclusivas dos portáteis da Nintendo (GBA, DS e 3DS). Com estas importantes mudanças, qual será o resultado desta nova aventura?

Antes de seguir adiante, sempre se faz necessário alguns dados de ficha técnica. Mario & Luigi: Brothership foi lançado no na reta final de 2024, em 7 de novembro, com exclusividade ao Nintendo Switch, que sim, é tanto um console doméstico, pois se conecta a monitores e televisores, da mesma forma que tem flexibilidade de ser utilizado em modo portátil, tornando o melhor dos dois mundos.

O título também faz parte de uma importante trindade de jogos que foram lançados no mercado brasileiro e que receberam fantástica adaptação e localização em português, sendo os outros dois The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom e Super Mario Party Jamboree. Trata-se do primeiro jogo da série Mario & Luigi que está sendo lançado com legendas em nosso idioma, o que por si só já é sensacional.

Retornando a questão de seu desenvolvimento, esta tarefa ficou a cargo do estúdio japonês Acquire, fundada lá em 1994, e que é conhecido em seu meio pelos games das franquias Tenchu e Way of the Samurai, e que mais recentemente voltou aos holofotes de uma comunidade ainda maior ao co-desenvolver com a Square Enix os fenomenais Octopath Traveller I & II.

Contudo, olhando alguns dos nomes envolvidos no desenvolvimento de Mario & Luigi: Brothership, nota-se que o estúdio também contou com a ajuda de alguns profissionais da AlphaDream e que trabalharam com a franquia no passado. Por exemplo, Akira Ohtani foi um dos produtores de alguns jogos, e que também está creditado, e como produtor, neste novo jogo. Ou seja, ainda que sob uma nova direção, o título contou com a experiência de alguns talentos da era AlphaDream.

Mario & Luigi: Brothership é considerado um RPG de exploração um tanto mais tradicional, a qual o jogador explora cenários determinados, em uma fórmula que deve-se conversar com diversos NPCs, para desengatilhar eventos de história, enquanto inimigos são posicionados num mapa, porém as batalhas ocorrem em arenas de batalhas por turno, em uma dinâmica que favorece ataques cooperativos entre a dupla protagonista, que trabalham em equipe o tempo inteiro da batalha e também da aventura.

Parte da dinâmica dos combates também consiste no tempo de resposta correta ao apertar um botão de ação para que o ataque, selecionado em um menu, cause um dano extra ou crie um combo de ataque. Uma mecânica que vem do legado do inesquecível Super Mario RPG, porém com um peso e importância muito maior para a eficácia da jogabilidade desta franquia.

Dois irmãos, uma grande (e maluca) aventura, repleta de bom humor, situações inusitadas e coordenação em dupla. Esta é o pontapé inicial de toda aventura da série Mario & Luigi.

Irmãos ilhados

A trama de Mario & Luigi: Brothership tem início quando a dupla, entre outros habitantes do Reino dos Cogumelos, são sugados por um estranho portal, levando-os ao mundo de Elétria, um reino que se localiza num imenso oceano a perder de vista. O motivo pelo qual o misterioso portal surge não fica muito claro no início, mas o jogador logo entende que Elétria está com problemas, e Mario e Luigi estão sempre dispostos a ajudar quem precisa.

O problema que assola Elétria é que todo o reino se despedaçou em diversas ilhas menores quando a grande árvore central do reino, a Arbolux, foi destruída por uma enigmática força das trevas. Toda a conexão que a energia da árvore tinha para unir todo o reino se foi e isso fez com as regiões se dividissem e os habitantes fossem separados, isolados em suas próprias ilhas, sem meios de reaver a conexão com a grande árvore ou os faróis centrais que a conectam.

Assim que chegam a esse mundo, Mario e Luigi encontram-se com o jovem Tetê, que se diz guardião da Arbolux. É ele quem explica tudo isso aos irmãos, que logo se prontificam a ajudá-lo como for possível. Nesse encontro, o jogador também é apresentado a Pligue, que vai servir como o companheiro NPC do jogador, tal como a estrela Celeste se apresenta nas aventuras anteriores. A função de Pligue é servir de guia da aventura, explicando mecânicas e sendo um alívio cômico em outros momentos de história.

Tetê explica aos irmãos que a ilha central possui um canhão que pode mandá-los a ilhas próximas, caso a ilha central esteja na corrente marítima favorável ao disparo. Mas é um meio de locomoção apenas de ida, que não há garantias de eles possam retornar a ilha central sem que haja um canhão ou outro meio para tal na ilha a qual o canhão seja disparado.

E este é um elemento interessante do jogo, porque apesar de ser ponto narrativo, também é uma mecânica de exploração ligada a jogabilidade. Enquanto em jogos anteriores havia essa possibilidade de viajar entre reinos andando em um mapa conectado, em Mario & Luigi: Brothership a navegação pelo mundo é mais pontual, ilha a ilha, criando uma exploração mais direta e objetiva.

Esse conceito me lembrou um pouco a experiência de The Legend of Zelda: Wind Waker (2002), onde Link viajava de ilha em ilha, resolvendo questões em cada uma. A única diferença aqui é que toda a mecânica de navegar pelo mar é eliminado, fazendo com que a viajem entre ilhas ocorram de forma automática, sem a intervenção do jogador.

Logo o jogador irá descobrir que as principais ilhas de Elétria possuem grandes faróis que podem ser fazer a conexão com a grande ilha principal, a qual a Arbolux se encontra. Mario e Luigi possuem a força incomum de tirar o plugue destes faróis e assim o impulsionam diretamente a grande árvore, que também passa a ser energizada a cada ilha que se conecta a ela.

Contudo, nem tudo é tão simples assim. Cada ilha está passando por sérios problemas. Seja de monstros e criaturas que se opõem aos habitantes e restringem seus movimentos fora das vilas, seja de personagens importantes desaparecidos, sendo raptados por pássaros, entre outros desafios que tornam o acesso ao grande farol de cada ilha um contra tempo a ser vencido.

Tão logo, mais a frente da aventura, Mario e Luigi também irão descobrir que eles não foram os únicos sugados pelo portal até Elétria, e mais habitantes do Reino dos Cogumelos estarão por lá e precisarão de ajudam ou até mesmo serem encontrados. Além disso, um grande vilão, por trás da destruição da grande Arbolux começará a realizar seus movimentos, incomodado pela constante interferência dos irmãos. Quais seus reais motivos para a destruição de Elétria?

Os jogos da série Mario & Luigi sempre possuem características únicas e diferentes. Se passam em reinos incomuns, ou situações surreais, além de cada título entregar mecânicas únicas para o sistema de combate. Os irmãos já viajaram pelo tempo e encontraram suas versões bebês, já foram miniaturizados e passaram um jogo inteiro dentro do corpo de Bowser, e até mesmo os sonhos de Luigi já foram palco para uma aventura, assim como um inesperado crossover onde o universo de Paper Mario se misturou com o universo daqui.

Depois de aventuras tão loucas e inusitadas, sinto que Mario & Luigi: Brothership não atinge um nível tão incomum ou maluco quando a série vinha buscando em suas últimas edições. Ilhas que formam um reino e que precisam ser reconectadas? É interessante, mas não tem o ápice da loucura que a série já conseguiu entregar. Mas também, vamos ser francos, não deve ser fácil ficar pensando em conceitos loucos como os que vinham sendo entregues até então. Pisar nesse freio e voltar um pouco ao conceito de um reino diferente, tal qual a primeira aventura (Superstar Saga) não é de todo mal assim.

Contudo, o título desta aventura também tem um duplo sentido, porque além de fazer uma brincadeira a ilha-navio que está no centro da trama, e que advém do termo “ship” em inglês, “brother” e “brothership” está intimamente ligado conceito de irmãos e fraternidade, fazendo uma alusão ao laço entre Mario e Luigi, e de que juntos, eles podem tudo. E nesse conceito, o jogo acerta em cheio, pois é todo piegas em reforçar esse laço entre os irmãos.

Isso ocorre tanto na história, que reforça o quanto um confia cegamente no outro, quanto nas mecânicas, tanto do combate, quanto de exploração, pois ambos os personagens trabalham juntos para resolver os problemas e batalhas, sempre seguindo o conceito da série, a qual um jogador controlará ambos os irmãos. E é isso que preciso discutir no próximo ponto da análise.

Mudanças na fórmula

Sendo o primeiro Mario & Luigi sob nova direção, mudanças são sempre inevitáveis, e Brothership tem alguns detalhes de jogabilidade que mexem sutilmente na fórmula da franquia, e por mais pequenos que sejam, há um ou outro que são até mesmo ousados, e possuem um potencial para dividir opiniões. Uns podem gostar, outros se incomodarem.

Na fórmula tradicional dos cinco jogos anteriores, Luigi sempre se movimentou como uma sombra do Mario na exploração do mundo. Andando colado e atrás do cara de vermelho. E a mecânica básica era de que se Mario tinha que saltar uma plataforma com o A, o jogador logo em seguida precisava apertar o B para saltar com o Luigi. Se isso não acontecesse, a movimentação meio que travava: Mario não seguiria em frente, porque Luigi provavelmente ficaria colado na parede abaixo, ou em qualquer obstáculo que estivesse em seu caminho.

Havia uma interessante dinâmica cooperativa no layout dos controles, onde Mario era representado pelo botão A e Luigi pelo botão B. Esse era um elemento importante nos jogos anteriores, justamente pelo conceito de um jogador, dois personagens ao mesmo tempo. Mario & Luigi: Brothership suavizou bastante esse conceito.

Luigi agora é um personagem com uma independência semi automatizada. Já não anda colado ao Mario, e nem se movimenta com a mesma exatidão. Além disso, o personagem pula automaticamente qualquer plataforma quando Mario saltar sobre uma. O jogador não tem que se preocupar tanto assim como a cooperação rítmica dos irmãos em boa parte da exploração do mundo. O que pessoalmente acho que elimina uma parte da graça da jogabilidade estabelecida pela fórmula clássica.

Não que Brothership não tenha momentos em que resgate parcialmente esse conceito. Por exemplo, há várias mecanismos que exige a cooperação dos irmãos, como plataformas vermelhas e verdes, em que cada um respectivamente salta na cor que lhe representa. O jogador salta com Mario, enquanto que Luigi salta automaticamente na verde, porém se o jogador demorar a saltar com o Mario, Luigi não irá esperar e o puzzle terá que ser reiniciado. Soa como a fórmula antiga, ainda que neste, o jogador saltaria com ambos, cada qual em seu botão, cuidando de si mesmo do ritmo.

Outra clássica situação são os blocos com as cores de cada um. Neste caso, o jogador ainda é responsável por bater com cada personagem em seu respectivo bloco. Ou seja, ainda é possível saltar ou usar a marreta para quebrar caixas com o Luigi, mas é mais difícil posicioná-lo no pontos certos já que ele tem uma movimentação descolada e independente em relação ao Mario. Aí é mais fácil usar o Mario para estas ações no mundo.

Contudo, há vários mini games em que o jogador assume a postura com ambos os irmãos. Alternando entre o A e o B, para que cada um execute sua ação no momento certo. Seja chutar cascos nos inimigos, ou diversas ações de ataques coordenados em combates, seja no mundo, quando precisam rebater projéteis que vão abrir caminhos em certas ilhas. São cenários pontuais, mas ainda estão presentes nesta nova aventura. Pena que não a todo momento. Não sei se era realmente necessário automatizar parte das ações do Luigi.

Até aí, tudo bem. Posso não ter amado a mudança, mas entendo que era uma ideia que precisava ser testada, e que tenta balancear o formato antigo com um novo. É válido. Porém tem um único (e besta) detalhe que me incomodou muito na jogabilidade, e que está diretamente ligado ao combate: a confirmação da ação sempre com o botão A, independente de qual irmão é o turno!

Para quem nunca jogou um título da série, Mario & Luigi é um jogo de RPG, ou seja, tem uma exploração de mundo, porém todo o confronto ocorre numa tela a parte, com os personagens ganhando experiência e níveis, com novos movimentos e comandos sendo desbloqueados conforma a aventura progride. É diferente de um jogo de aventura do Mario, onde ele apenas salta e elimina um inimigo pisando em sua cabeça.

Dito isso, as batalhas ocorrem no tradicional modelo por turno. Cada personagem faz uma ação por vez, tal como cada um dos inimigos. Atacar, defender, fugir, usar um item, ou um especial. Realizado a ação, é preciso esperar que todos os demais personagens em batalha realizar sua ação. Aí o turno acaba e tudo recomeça. Fórmula básica de um RPG.

Cada jogo de Mario & Luigi tem elementos únicos nesse sistema, que normalmente remetem a trama maluca em que eles se metem. Então se estão perdidos no tempo, suas versões bebês vão se juntar a batalha. Se Mario está dentro da mente de Luigi, não é improvável um exército de clones Luigi formarem uma bola gigante para ele arremessar nos inimigos. Ou se eles estão dentro do corpo de Bowser, a batalha se divide entre o que ocorre dentro de seu corpo, enquanto Bowser lida com outras ameaças no mundo real, considerando que as vezes os irmãos estão socando coisas que vão interferir em sua disposição na batalha. Cada jogo pensa num formato diferente e extremamente inventivo.

Porém Brothership é uma aventura mais pé no chão em termos narrativos, então sobra para o aspecto do laço entre irmãos ser o elemento que causará reflexo na jogabilidade do combate. A proposta aqui é que cada irmão vá interagir com o outro no turno de cada um. Então se Mario for saltar sobre um inimigo, Luigi vai lhe ajudar a realizar um salto duplo, e vice versa. Se é a marreta que será usada, um irmão vai socar a marreta do outro, dando um impulso adicional.

O grande lance desse conceito é que para que essa interação seja efetiva, cabe ao jogador apertar corretamente um botão de ação em pontos chaves em que essa animação estiver ocorrendo. Assim, Mario salta e o jogador pressionar o A quando ele estiver prestes atingir o inimigo, para logo em seguida ter que pressionar o B quando ele estiver próximo a aterrissar no chão para que Luigi o arremesse no ar, para que quando Mario estiver perto de atingir o inimigo novamente, o jogador pressiona o A mais uma vez para um dano adicional.  Se for o contrário, com Luigi iniciando o salto, os botões de invertem, ao invés de A, B, A, é preciso pressionar B, A, B.

No caso da marreta, são menos botões de ação. Mario carrega ela com o A, para que Luigi a rebata com o B, e vice versa. Dois comandos, contudo, a marreta tende a causar menos dano, mas é necessário em caso de inimigos que utilizem alguma proteção acima de suas cabeças, como capacetes ou até mesmo espinhos, o que causará dano ao irmão que tentar pular sobre a cabeça deste.

Voltando um pouco alguns parágrafos acima, mencionei um detalhe besta que me incomodou em todo esse sistema de combate: a confirmação da ação sempre com o botão A, especialmente quando estiver no turno do Luigi. É o único detalhe que não faz qualquer sentido em todo o conceito onde Mario sempre irá responder os comandos com o A e Luigi com o B.

Ora essa, se o conceito é aplicado no mundo e sua exploração, ainda que parte das ações do Luigi sejam automatizado, da mesma forma que também é aplicado ao combate, onde cada irmão tem seu botão de interação, era de se esperar que no turno de cada um, o mesmo ocorresse. Todos os jogos anteriores utilizavam esse conceito, por sinal. No turno do Mario, o jogador seleciona o comando (ataque, defesa, especial, etc) e se confirma o mesmo com o A, enquanto que no turno do Luigi, se confirmava com o B. Para bobo isso, mas é conceitual a estrutura do jogo, o que fazia ser orgânico e natural. Brothership parece não entender isso.

No turno de Luigi, toda a estrutura de confirmar uma ação por menu é confirmada pressionando A, o “botão do Mario“. Novamente, detalhe besta, mas por ser um fã da série, não é um formato habitual pra mim, e por isso eu perdi a conta de contas vezes pressionei B para confirmar a ação e acabei cancelando a mesma, ou pior, ao pressionar A para atacar com o Luigi, errei o tempo do B, A, B explicado acima, porque pressionei o botão errado para iniciar a sequência.

Afinal, com Mario eu confirmo a ação (A) e inicio com no mesmo botão (A), só que com o Luigi, se nos jogos anteriores eu confirmava com o B e iniciava com o B, agora eu tenho que confirmar com A e trocar o botão para o B. A falta de sentido nesse mero detalhe, simplesmente bagunçou a minha experiência no combate por diversas vezes. As horas iniciais de Mario & Luigi: Brothership com essa mudança foram um pouco frustrante. Levou um tempo bem grande em sua curva inicial para meu cérebro acostumar com tal mudança.

Vencendo essa estranha decisão de botões, o combate de Brothership também oferece ao jogador outros elementos que vão se apresentando ao longo da enorme campanha da aventura. E quando digo longo, é longo mesmo. Trata-se de uma aventura de 40 horas em média, podendo esticar para mais de 55 horas caso o jogador vá de uma maneira mais cadenciada e realizando missões secundárias e explorando tudo. É o mais longo Mario & Luigi já produzido, considerando que a última aventura inédita (Paper Jam, 2015) tem em média de 30 horas para sua conclusão.

Talvez seja por conta disso que as horas iniciais da aventura exista uma sensação de repetição exaustiva de combate contra os mesmos inimigos, com uma certa ausência de novos elementos de batalha. Isso porque além dos ataques básicos, os irmãos possuem os Ataques Bros., que são uma espécie de especial/magia, pois são movimentos que custam valor de uma barra de especial (MP). São ataques mais poderosos, que causam grande dano nos inimigos, mas cujo o uso se torna limitado a essa barra, que se esgotada, só pode ser reabastecida com um certo item ou com um bloco de recuperação que toda ilha possui em certos pontos de exploração.

Tal como os ataques de salto e marreta, os Ataques Bros. também são coordenados e Mario e Luigi se revezam com o A e B para avançar na animação do ataque. Cada irmão tem ataques distintos, então, por exemplo, Mario tem o casco vermelho, onde ele e Luigi ficam chutando entre si até Mario mandar para um único inimigo, enquanto Luigi tem o casco verde, que ambos também chutam entre si, mas quando Luigi manda para a linha inimiga, o dano é dividido entre todos os inimigos (causando menos dano individual do que o casco vermelho do Mario).

Conforme a história avança, novos Ataques Bros. são adquiridos, por meio de eventos narrativos, e vão ficando mais criativos, além de não serem vendidos em lojas. Por exemplo, na segunda leva destes ataques Mario ganha o ovo do Yoshi, em ele lança contra os inimigos, fazendo Yoshi sair do mesmo para dar uma bundada nos adversários, e Luigi ganha uma máquina de relâmpagos que também devasta seus oponentes e pode causar dano de status, como paralisia. Claro que com ataques mais potentes, o custo de uso é maior para a barra de MP, assim como o combo de botões A e B se tornam mais complexos, e o erro pode causar o fracasso ou um golpe especial mais fraquinho.

Outro elemento que também surge em certo ponto da campanha de Mario & Luigi: Brothership são os plugues de ativação, que garantem efeitos extras em certos movimentos do combate. E é um elemento que demora tanto a aparecer que a trama brinca com isso, pois o jogador já está coletando recursos para esse sistema há horas, quando um dos irmãos pergunta a Pligue o motivo de estarem coletando isso, e o NPC responde algo como “bem, eu ainda não sei pra quê vamos usar, mas quando descobrir os avisarei“.

Os plugues podem ser construidos coletando pequenos vaga-lumes pelas ilhas do jogo, e dois podem ser ativados em batalha, garantindo diversos efeitos, por um determinado número de vezes ou rodadas. Então, um plugue pode ativar um dano adicional quando um salto for realizado, causando uma onda de choque em todos os inimigos, ou algo pode cair num inimigo sempre que um ataque for realizado. Há plugues que melhoram a defesa ou garante mais itens ou moedas de inimigos derrotados.

Uma vez que o plugue seja utilizado no número de vezes em que ele possui, é preciso desativá-lo, conectar um outro, e deixá-lo esse plugue recarregando no menu, e leva um tempo até para que ele possa ser utilizado novamente. Por isso o jogador vai acabar sempre criando o maior número possível de plugues, e mudando eles conforme a conveniência das batalhas. Há plugues que são bons contra certos tipos de inimigos, como os voadores, outros contra chefes, outros contra múltiplos inimigos.

É um baita elemento bom de combate, que permite maior complexidade de confrontos. Quando esse sistema é apresentado, os inimigos começam a ficar mais elaborados. O jogador tem mais recursos e ferramentas para lidar com diferentes cenários e tipos de inimigos, e é nesse ponto que o título começa a sair da mesmice inicial e torna-se algo potencialmente mais interessante. Ainda que a repetição de batalhas e inimigos siga presente em toda a experiência da campanha, mais do que normalmente senti em jogos anteriores da série, o que talvez seja um indício de que o modelo de combate aqui não seja tão divertido quanto já foi no passado.

Posso dar um exemplo a respeito dessa sensação de que o jogo não é tão competente em manter a atenção do jogador de uma forma constante e razoável. Em jogos anteriores, sempre houve uma mecânica de batalha que criava um ponto de virada para a aventura, sempre algo divertido ou surreal. Em DreamTeam (2013), por exemplo, Mario entra nos sonhos de seu irmão e pode batalhar usando um exército de Luigis, criando diversos especiais malucos, desde muralhas, marretas e bolas enormes formadas por diversos clones de seu irmão, além disso, há batalhas especiais em que Luigi ficava gigantesco. Cenários que mudam a premissa básica da fórmula.

E se for olhar para todos os título desta série, sempre tem algo assim. Aqui em Brothership, o que os desenvolvedores criaram é um elemento chamado Luigideia, a qual o jogo alerta que Luigi está pensando em uma ideia e que isso resultará em algo que vai mexer na trama, no combate ou na exploração em si. Contudo, volto novamente a pensar em como os desenvolvedores automatizaram demais o Luigi na experiência do título. Isso porque a Luigideia não é nada tão significativo ou impactante quanto outras mecânicas e conceitos inventivos usado em jogos anteriores.

Se na trama a Luigideia surge muitas vezes apenas para um efeito cômico, onde o irmão vai tomar uma iniciativa para seguir adiante na aventura, e as vezes fará alguma atrapalhada que dará certo, na exploração do mundo, uma Luigideia normalmente vai apenas quebrar alguma estrutura da jogabilidade no sentido de “Mario, vou ficar aqui e você vai lá fazer isso” ou simplesmente explicar algo óbvio, como apresentar uma nova mecânica de interação de cenário, como mandar o Luigi se pendurar num galho para atrair inimigo. Não é um ponto de virada de jogabilidade.

Já nas batalhas, a Luigideia acaba que só é usada mesmo nas grandes batalhas de chefes, e consiste apenas em Luigi observar um certo aspecto do cenário ao fundo, e uma ação é liberada no menu, seguida por uma ação em que o jogador vai acabar apertando A ou B no momento exato, como um Quick Time Event, afim de que a animação reaja de acordo com a ideia que Luigi deve. Além disso, a Luigideia não pode ser usada a qualquer momento, funcionando mais como uma nova etapa de confronto do chefe. Ou seja, não é nada demais conceitualmente. Só tem um efeito de animação bonito, pois Luigi surge em close na tela, pensativo e cada Luigideia ele tem uma expressão ligeiramente diferente.

Enfim, em termos de jogabilidade, Mario & Luigi: Brothership até consegue cumprir todos os verbos e elementos originais da série, estabelecida pelo estúdio anterior, contudo, sinto que não conseguiram evoluir nenhuma estrutura fundamental, e as pequenas mudanças, não necessariamente impressionam ou agradam aos fãs da franquia. Mas todos os elementos estão aqui, apenas não são expressivos ou marcantes. Talvez este seja o grande ponto de avaliação a ser considerado.

Considerações finais

Mario & Luigi: Brothership marca um importante retorno, mas encontra um desafio gigantesco ao ser entregue a um novo estúdio, tendo em vista que o que sempre cuidou dos títulos anteriores não mais existe, e já há alguns anos. E sob uma nova direção, sempre haverá um certo estranhamento, um pré julgamento, seria ingênuo achar que não ocorreria. Fico contente da Nintendo tem encontrado um que aceitasse o desafio.

Dito isso, acho que a Acquire fez o que considerou correto, tentou mudar pequenas coisas, sem mexer na essência da série, a dinâmica de RPG em dupla, o humor irreverente dos irmãos, especialmente do Luigi, e na premissa de que a aventura sempre precisa ocorrer em um ambiente jamais visto. Nestes pontos, certamente houve acertos.

A atualização gráfica também deixou o jogo muito bonito. Os novos visuais, ainda que em 3D, conseguiram manter o estilo cartunesco dos personagens, com caras e bocas, repletos de expressões. Não sei apontar se ficou melhor, mas ficou competente. Admito que senti um pouco de saudade do charme clássico do modelo 2D das aventuras anteriores, porém, num console doméstico, entendo que a evolução precisava ocorrer.

De toda forma, o mundo de Brothership muitas vezes me impressionou pela quantidade de detalhes. Os ambientes de algumas ilhas são bem complexos, repletos de profundidade, cores e elementos de cenografia. Os habitantes de Elétria são bonitinhos, ainda que nem sempre sejam carismáticos. Os inimigos e vilões também sempre um pouco dessa sensação, são bem feitos, mas nem sempre impressionam pelo design.

Na parte sonora, o jogo segue muito a identidade dos anteriores. Os personagens seguem suas falas por pequenos barulhos característicos de cada um, pequenos murmurinhos únicos, sem propriamente terem vozes de áudio em um idioma compreensível. Tanto Mario e Luigi também mantiveram seus murmúrios únicos, que muitas vezes soam como se estivessem falando algo incompreensível em italiano. Porém, senti falta dos irmãos falarem mais vezes assim, da mesma forma como se expressarem em mais tons diferentes seguindo esse conceito. Num console doméstico, havia possibilidade de ter uma atenção assim. No mais, gosto que Mario pode chamar por Luigi, e vice-versa, no jogo.

Acredito que os grandes pontos de pecado em Mario & Luigi: Brothership estão intimamente ligados as mudanças, ainda que pequenas, que mexem com o coraçãozinho dos fãs. Luigi mais automatizado, comando da ação dele com o botão A e lentidão na evolução do combate atrapalham um pouco a dinâmica e ritmo do jogo em grande parte das horas iniciais nesta aventura. O jogo demora a pegar no tranco e a esquentar, por assim dizer. Além disso, existe uma clara falta de inventividade estrutural que certamente vinha de alguns malucos no estúdio anterior e que perceptivelmente não estão mais presentes nesta nova casa.

No geral, não dá para considerar Mario & Luigi: Brothership um jogo ruim. Porque sinceramente ele não é, sob nenhuma perspectiva. Contudo, depois de quase uma década esperando por uma sequência, preocupações com o fim do estúdio que sempre cuidou tão bem da série, certamente as expectativas para esse jogo estavam nas alturas, e infelizmente não foram correspondidas. O mais correto é dizer que Brothership é um jogo “certinho“, daqueles que cumpre sua proposta.

Talvez quem nunca tenha jogado a franquia possa ter outra experiência? Que seja diferente dos fãs que jogaram todos os títulos anteriores? Com certeza. Porque todos os contrapontos que encontrei durante a minha experiência para com essa aventura estavam sempre presos ao meu passado com a franquia. E é curioso como alguns títulos nos prendem assim, enquanto outros não.

Só consigo pensar em encerrar esta análise dizendo que veja Mario & Luigi: Brothership como um jogo repleto de boas intenções, desejando todo o sucesso para esta nova fase da série, que ela possa continuar ganhando novas aventuras e que seja um novo momento de reaprendizado, para os fãs que precisam aceitar que a fase original não mais existe, e que esta nova fase precisará continuar tentando encontrar a excelência que as aventuras do passado conseguiram entregar com uma impressionante maestria e criatividade. Os irmãos Bros. merecem isso, sem sombra de dúvida!

Galeria

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Dando nota

Sob um novo estúdio, nova aventura mantém parte do DNA da série - 8
Certas mudanças na estrutura da fórmula podem dividir fãs - 6
Narrativa divertida, porém soa um pouco básica dada a loucura estabelecida pela série - 7.5
Curva inicial e progressão do sistema de combate demora para engatar - 7
Faltou um pouco mais de inventividade em certos elementos de jogabilidade - 6.5
Direção de arte competente, mantém personagens expressivos e ambientes detalhados - 8.2
Ao mercado brasileiro, é maravilhoso que chegue localizado em português! - 10

7.6

Bacana

Mario & Luigi: Brothership, estando sob uma nova direção, talvez não tenha a eloquência de seus antecessores, optando por mudar pequenos detalhes na fórmula que podem incomodar um pouco alguns fãs, contudo boa parte estrutural da série se faz presente, levando a aventura para um mundo onde os irmãos encanadores precisam reforçar o vínculo entre si, enquanto viajam por diversas ilhas repletas de inimigos e problemas a serem resolvidos.

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