Análise | Donkey Kong Country Returns HD
Disponível para Nintendo Switch
Donkey Kong Country Returns HD inaugura o ano de 2025 para o Nintendo Switch, colocando a icônica série certa perspectiva, justamente quando se discute sobre um novo redesign para Donkey Kong em meio as expectativas para o Nintendo Direct que nos dirá mais sobre o Nintendo Switch 2 no início de abril. Olhar o passado é sempre importante para nos fazer refletir sobre o futuro, e o que temos aqui é uma aventura que quando surgiu, há 15 anos atrás, trouxe muitos questionamentos em diversos aspectos de sua jogabilidade, enquanto também acolhia os fãs com muita nostalgia.
O jogo foi lançado originalmente em 2010, lá no Nintendo Wii, com controles de movimento e tudo mais, o que na época gerou algumas controvérsias, porque ainda estávamos aprendendo e entendendo o que era jogos com sensores de movimento. No entanto, alguns anos depois, em 2013, o título recebeu um port, chegando ao portátil Nintendo 3DS. Aí os controles se tornaram mais tradicionais, tal como ocorre agora, nesta versão remasterizada de 2025. Ainda no 3DS, o jogo recebeu algumas de fases adicionais e novas funções de acessibilidade, conteúdos que também retornam aqui.
Donkey Kong Country Returns HD foi lançado agora, no dia 16 de janeiro, com exclusividade para o Nintendo Switch, lembrando que o título será retrocompatível com o Nintendo Switch 2, quando o mesmo for lançado, em algum momento (ainda não revelado) de 2025. Desenvolvido originalmente pela Retro Studios, estúdio da prestigiada franquia Metroid Prime, esta nova edição em HD foi preparada pela Forever Entertainment. Provavelmente a Retro Studios não assumiu as rédeas da remasterização porque se encontra ocupada com o desenvolvimento de Metroid Prime 4.
Em termos de remasterização, Donkey Kong Country Returns HD faz apenas o básico, atualizando os gráficos para o pleno potencial do Switch, deixando-os mais bonitos, com melhores detalhes e texturas, além de aprimorar certos efeitos visuais, como sombras, reflexos, luz e elementos líquidos. É perceptível, por exemplo, como o mar está mais bonito ao fundo do ambiente, com mais efeitos em sua superfície, além dos reflexos da luz solar sob o mesmo.
Como já mencionado, a remasterização tem como base o conteúdo do jogo criado para o Nintendo 3DS. Ou seja, contém todas as oito fases adicionais criadas para a versão portátil, além de duas modalidades para iniciar o jogo, a original de Wii e a versão de 3DS, que traz alguns recursos que tornam a experiência mais agradável aos jogadores, como mais itens e vidas extras. Dito isso, importante ressaltar que nada inédito foi criado para esta remasterização. Não há nenhum conteúdo novo.
Outro detalhe de menor aspecto, mas ainda assim relevante. O título não possui localização em português, e encontra-se totalmente em inglês. Tudo bem, quase não há diálogos na aventura, já que os personagens não falam durante as cutscenes, exceto por alguns balões de texto do vovô Cranky na loja de itens, mesmo assim, existem os menus, nomes dos estágios e os mundos, que se tivessem sido adaptados ao nosso idioma, tornariam o título mais caloroso ao público mais novinho. Felizmente, estar em inglês não cria nenhuma barreira de acessibilidade.
Legado Country
Falar de Donkey Kong Country Returns sem olhar para seu passado, especificamente para a trilogia original, desenvolvida pelo estúdio Rare para o Super Nintendo, ao longo da década de 90, é fingir que não existe um pesado legado em torno da série. Não tem como ignorar isso. Talvez o futuro seja promissor ao personagem, talvez seja diferente e inovador, mas nada disso conseguirá apagar a maestria que DKC 1, 2 e 3 fez em seu glorioso passado.
E não importa se estamos em 2010 ou 2025, é perceptível que a Retro Studios deu seu melhor por Donkey Kong Country Returns, entretanto, também é fato que da mesma forma que se acertou em diversos elementos para construir esse retorno, também existiram dolorosas omissões que impactam, até hoje, que este título tenha o mesmo carisma e apelos dos três clássicos de Super Nintendo.
Donkey Kong Country Returns consegue recriar boa parte da fórmula da série Country, entregando uma aventura 2D side-scrolling que aposta em agilidade para saltar e agarrar plataformas, esquivar e pular em diferentes inimigos, usar muitos barris explosivos e encontrar salas secretas, além de coletar bananas e outros itens espalhados pelos 80 estágios que compõe o título.
E a Retro Studios também se arriscou e adicionou novas ideias e conceitos. Mantendo a perspectiva 2D de avanço lateral, o ambiente é tridimensional, e portanto o jogador, em diversos momentos, salta dentro da profundidade do estágio, indo mais para frente ou para o fundo do ambiente, enquanto a câmera se mantém fixa em sua posição padrão. Hoje talvez seja algo comum, contudo, lá em 2010, o conceito era inovador e criativo.
Também me recordo que os estágios de vulto, ou seja, onde os personagens estão escondidos nas sombras, assim como diversos objetos do cenário e até mesmo itens e inimigos, receberam diversos elogios na época. Era diferente, além de permitir novos elementos para o conceito de jogos side-scrolling, já que objetos, armadilhas e inimigos pode se esconder e surpreender o jogador nesse conceito que brinca com certa ilusão ótica.
Usando estes aspectos, os desenvolvedores misturaram diversos elementos da trilogia clássica para criar um mix de cenários e situações novas, porém comuns aos fãs da franquia. Os carrinhos de mineração, por exemplo, estão de volta, mas em duas situações, uma onde o DK está dentro dele, e consegue pular com o carrinho, já em outra situação, DK fica em pé no carrinho, e somente ele salta, obrigando o jogador a ter mais cuidado, pois precisa aterrissar de volta ao carrinho.
Em Donkey Kong Country Returns também há alguns estágios em que DK entra dentro de um barril que se torna uma espécie de foguete, impulsionando o jogador para frente, enquanto os botões principais determinam se o foguete para para cima ou baixo da tela, o que o torna meio pesado e desengonçado, propositalmente para tornar difícil seu controle de navegação. Esse conjunto de cenários e situações segura bem a diversidade de fases e da experiência que o título oferece, como um certo estágio em que ondas do mar veem em direção a tela e o jogador precisa se esconder entre muretas ou pedras, para não se jogador para fora do caminho.
São elementos que os desenvolvedores acertaram muito bem o tom criativo para combinar com o que a série Donkey Kong Country proporcionou na era do SNES. Os três jogos clássicos tinham diversas situações assim, diferentes, inusitadas, que muitas vezes modificavam o formato tradicional do estilo plataforma.
Em Donkey Kong Country Returns também apresenta muitos layouts variados para o estilo de avanço em plataforma. Estágios com barris, onde é preciso saltar entre eles, sem cair fora de nenhum, estágios com cipós, plataformas móveis, além de outros obstáculos. Há estágios horizontais quanto verticais, em que se deve subir para avançar. É difícil se sentir cansado dessa clássica fórmula.
Contudo, como mencionado, se a Retro Studios conseguiu resgatar muitos elementos da fórmula clássica, assim como também conseguiu inserir novas ideias, também houve um processo de simplificação que deixaram diversos elementos da trilogia original que foram sentido pelos fãs em 2010, e que mesmo revisitando o título agora em sua versão remasterizada, ainda é perceptível tais ausências.
Um exemplo, super básico, é o fato de que o título não ter nenhum estágio aquático, algo tão presente e comum nos três jogos clássicos. E isso é tão importante, que na sequência, Tropical Freeze, os desenvolvedores reinseriram as fases embaixo d’água.
Não só isso, mas Donkey Kong Country Returns não apresenta a mesma diversidade de montarias que eram tão presentes nos jogos clássicos. Rambi, o rinoceronte faz seu retorno aqui, mas basicamente só ele está presente de jogar jogável em poucas fases do jogo. O elenco de montarias da série é tão vasto, e permitia tantos momentos originais e criativos, que é uma ausência que foi muito sentida quando o título foi originalmente lançado.
Outro elemento que lá em 2010 me incomodava, mas descobri que em Donkey Kong Country Returns HD já aceitei melhor o conceito, diz a respeito de como funciona o sistema de duplas em single player, com a presença de Diddy Kong. Em Returns, ao jogar sozinho, Diddy fica em cima de DK e serve como uma espécie de habilidade adicional, permitindo que ambos planem juntos por alguns segundos quando se pressiona o botão de pulo uma segunda vez no ar, habilitando o jetpack de Diddy. Não chega a ser um pulo duplo, mas é um pulo alongado por uma aterrissagem mais suave.
Acho muito bem vinda tal composição, contudo, Diddy é um personagem bem mais interessante quando utilizado, por exemplo, no multiplayer, onde pode até mesmo atirar com sua pistola em inimigos. E não tem como, ao jogar sozinho, escolher Diddy à frente da aventura, o que é uma estranha decisão quando se pondera sobre os jogos clássicos, que permitia essa alternância entre personagens, e cada um tinha seu próprio estilo de gameplay. Minha opinião é que um conceito não deveria eliminar o outro, e poderia deixar ao jogador essa escolha, jogar com os personagens unidos, ou então separados, como ocorre quando se abre o jogo para o multiplayer cooperativo.
Alias, olhando para Donkey Kong Country Returns HD, pensando em todos estes pontos, é curioso que não tenha surgido a intenção de mexer um pouco nessa estrutura fundamental. Quando se adaptou o jogo ao Nintendo 3DS, mexeu-se nos controles, adicionou efeito 3D, novas fases foram criadas, assim como um novo modo de jogo mais acessível, enquanto que desta vez, nada foi feito, exceto a remasterização gráfica e controles adaptados ao Switch.
E é de pensar que Tropical Freeze, lançado 4 anos depois, olhou alguns destes aspectos e refinou a experiência, tanto que a sequência entregou mais personagens jogáveis. Será que não caberia fazer o mesmo agora, ao trazer Donkey Kong Country Returns novamente ao holofotes? O exemplo de permitir a jogabilidade apenas com Diddy parece encaixar devidamente nisso, nem que fosse em um novo modo de jogo. Detalhes assim, certamente precisam ser ponderadas quando se resgata um jogo por uma segunda vez.
A conclusão de toda essa conversa sobre legado e resgate é que Donkey Kong Country Returns HD resulta em uma experiência de meio termo. Há momentos incríveis, que me pego pensando se estou de volta aos anos 90, nos tempos de ouro dos clássicos, enquanto em outros, percebo que é tudo muito pontual. Dá uma sensação de que o jogo tenta emular algo importante, e ainda que entenda o peso histórico que aquilo teve no passado, sente na pele a dificuldade de fazer o mesmo.
Percussão de um gorila
Concluído algumas discussões sobre um importante passado, é preciso seguir adiante e dizer que Donkey Kong Country Returns também soube se inspirar em elementos além do legado Rare. Acho o máximo como a Retro Studios observou DK na era do Nintendo GameCube, que experimentou muito com Donkey Kong Jungle Beat, a qual até hoje acho um título injustiçado pela obrigação do uso dos memoráveis controles bongôs.
Digo isso porque Jungle Beat é um jogo incrível, que olha além de Donkey Kong Country, ainda que em muitas ocasiões ele pareça um completo experimento. Dá a impressão de ser uma ideia que precisaria de uma sequência para efetivamente vir a dar certo. Trata-se de um jogo que dá a DK uma batida singular, onde som e jogo se comunicam e dão cores ao seu universo.
Donkey Kong Country Returns parece observar isso, e utiliza esse conceito a seu favor. DK pode bater no chão, causando um ataque sísmico que desnorteia inimigos, quebra itens, como caixotes e pedras, enquanto também serve para interagir com diversos objetos ao fundo, como imensas flores e cactos, fazendo com que eles liberem itens para o jogador, desde bananas, moedas e até mesmo as peças de quebra-cabeça douradas, um dos colecionáveis mais importantes presente em todas as fases, juntamente com as clássicas letras que formam a palavra KONG.
Não só isso, mas existem botões enormes em diversos estágios em que sua ativação exige que DK bata com seus punhos em cima destes, o que normalmente ativa um evento catastrófico no ambiente, liberando caminho ao jogador. Vindo de Jungle Beat, há também a brincadeira de socar algo por diversas vezes. Seja o barril no final de cada estágios, sejam os chefes finais de cada mundo.
Os próprios antagonistas deste aventura de retorno são criaturas que se assemelham a tambores/instrumentos musicais, chamadas Tikis, que hipnotizam todos os animais da floresta, e sequestram as bananas da família Kong, contudo, essa hipnose não funciona em DK, o que desencadeia toda a jornada para recuperar seu estoque de banana e socar estas criaturas para dentro de um vulcão de onde surgem no começo de tudo.
Nesse aspecto, de design de inimigos, talvez seja interessante pontuar que os Tikis não chegam ao pé do carisma que os Kremlings conseguiram na era de ouro da franquia. Inclusive houve toda uma questão na época em que Donkey Kong Country Returns foi desenvolvido sobre os motivos pela qual a Retro Studios não ter utilizado os clássicos antagonistas da franquia, se houve algum problema por terem sido criados pela Rare e se a Nintendo podia traze-los de volta sem entrar em algum conflito com o antigo estúdio, já pertencente a Microsoft na época. Uma história que nunca ficou muito bem explicada.
Hoje em dia parece que a Nintendo tem uma resolução melhor sobre a questão, afinal, muitos anos depois, quando Super Smash Bros. Ultimate chegou ao Nintendo Switch em 2018, lá estava King K. Rool como um dos lutadores presentes no jogo, trazendo de volta o icônico vilão, quatro anos depois de Tropical Freeze, que também apresenta um novo grupo de antagonistas, deixando os Tikis apenas nesta aventura de retorno.
Continuando a refletir sobre mecânicas criadas para DK em Donkey Kong Country Returns, junto com as palmadas no chão que o personagem pode dar em qualquer superfície, a Retro Studios também veio com a ideia de que se pressionado o comando de abaixar (para baixo) no controle, ao invés de socar o chão com sua palmada, DK simplesmente assopraria certos objetos interativos do cenário, como flores de dente de leão ou cata-ventos. Fazer isso revelaria itens escondidos, de peças douradas a fichas de moedas.
O conceito pode parecer estranho hoje em dia, mas vale lembrar que o título vem de uma época em que a indústria estava aprendendo sobre controles de movimento, câmeras que analisavam o corpo do jogador e videogames que aceitavam comandos de voz, assim como o conceito de assoprar coisas em portáteis e controles. Na versão original do Nintendo Wii, era possível assoprar no Wiimote e DK reproduzia isso no jogo. E é daí que surge essa mecânica. Era pelo prazer da interação diferencial na época, mas que funciona até os dias de hoje, adaptado aos controles convencionais.
Também é verdade que todos estes conceitos, bater no chão, assoprar e até mesmo o rolar para frente que existe desde os jogos clássicos, acabam sendo realizados com um único botão juntamente com um comando do direcional de movimento, e portanto, as vezes ocorre essa situação em que você quer bater e acaba rolando, quer assoprar e acaba batendo, e assim por diante. Controles hoje em dia possuem tantos botões, que particularmente acharia interessante separar um pouco estes verbos em outros botões, ao invés de instituir um único botão de ação.
Falando em termos de jogabilidade, Donkey Kong Country Returns HD entrega uma boa responsabilidade com os joy-cons do Switch. Contudo ainda sinto que certos atos, como o rolar para fora de uma plataforma, ficando no ar por alguns micro segundos para depois realizar o salto, não tem a mesma precisão e elegância que a trilogia clássica conseguiu realizar. Mesmo jogando a versão remasterizada, tantos anos depois da original, ainda não me sinto totalmente confortável para realizar algo que lá nos jogos clássicos faço de olhos fechados. E acredito que até mesmo o jogo saiba disso, pois são bem pontuais os momentos em que o mesmo instiga o jogador a tentar essas peripécias.
Outra reflexão que pode ser feita entre o jogo agora em 2025 e quando mesmo foi lançado em 2010 diz respeito a sua direção de arte e gráficos. Olhar para Donkey Kong Country Returns hoje em dia talvez leva o jogador a pensar que os gráficos são um tanto sem… sal. Um 3D tão comum, sem nenhuma arte diferente, que nos remete aos tempos em que New Super Mario Bros. também não tinha qualquer brilho, sendo somente um 3D redondinho. Pois bem, é justamente por isso!
Donkey Kong Country Returns vem justamente dessa fase em que a Nintendo tinha a preocupação de entregar gráficos 3D perfeitinhos, mas sem sair do conforme do estilo. Na época de seu lançamento também houve esse questionamento, especialmente porque a trilogia clássica do SNES tem uma pixelart que estava à frente de sua época, com uma direção de arte tão única para com os demais títulos do Super Nintendo, algo que até hoje é possível destacar isso. Returns não conseguiu apresentar um estilo artísticos que rompia estas barreiras atemporais, e que inclusive, hoje em dia soa um pouco sem graça, ainda que não necessariamente possa ser considerada datada.
O diferencial de seu visual, na época, se limitava justamente a interação personagens/jogador com muitos objetos do cenário ao fundo, que num passado de 8/16 bits, cenário ao fundo era só um papel de parede atrás do jogo em si. Nesse sentido, Donkey Kong Country Returns consegui criar um mundo 2D tridimensional onde o jogador num tem certeza se aquele ambiente tem algum tipo de interação que você não sabia que pode ser feito. Seja com um cacto atrás do personagem, seja com um barril que se revela escondido a sua frente e, do nada, ele te arremessa para o fundo do cenário, dentro de um navio naufragado. Isso sim é legal, ainda que diga mais sobre a interação e jogabilidade, do que arte gráfica em si.
E se estou falando de gráfico, o que sempre anda junto ao visual são os efeitos e trilha sonora. Donkey Kong Country Returns muitas vezes soa como algo que você já deveria conhecer, afinal a Retro Studios também optou por usar grande parte das faixas musicais criadas pela Rare na trilogia clássica, com novos arranjos. Até por isso que falar deste título, sem mencionar origens, legado e elementos que existiam em seu passado se torna inevitável, por mais que as vezes possa parecer rabugentice.
Até foram criados novas faixas musicais, que não sei dizer, mas que depois de tantos anos do lançamento original, não acho que se tornaram atemporais. Tudo que é da fase Rare, ao chegar em meus tímpanos, sou inundado de saudosismo, enquanto as faixas criadas para essa aventura não conseguem causar a mesma animação.
Inclusive houve pontuais momentos em que senti que a faixa musical da fase não tinha o ritmo de condução compatível ao que eu estava realizando ao jogá-la. Certa fase no primeiro mundo, estava jogando com uma animação, ritmo, realizando saltos, nocauteando inimigos, indo a toda, e a música ao fundo era uma batida triste, melancólica, e nem mesmo o cenário tropical condizia com essa melodia. Olhando isso hoje, me soou muito destoante com o estágio.
Claro que a trilogia clássica tinha faixas melancólicas. Fases embaixo d’água, numa jogabilidade mais cadenciada pela profundeza, ou em fases de tempestade na floresta, ou quando eram fases lentas, com escaladas, onde se ficava esperando uma plataforma e afins. Sinto que em pontuais momentos, Donkey Kong Country Returns tropeça com faixas que não se encaixam muito bem ao que está acontecendo no estágio.
Quanto aos efeitos sonoros não tenho muito a pontuar. Acho que cumpre bem sua função e que houve um cuidado com pequenos detalhes. Todo tipo de inimigo costuma emitir um pequeno som característico de si mesmo. Donkey e Diddy também possuem seus grunhidos, como a risada de ambos quando Diddy sobe nas costas de DK, que é maravilhosa. Mas também há muitos elementos sonoros que eram característicos da franquia, como as explosões dos barros que impulsionam os personagens para pontos das fases e o som quando se coleta bananas e itens colecionáveis.
Donkey Kong Country Returns tem um coração, tem seu ritmo, tem sua batida, mas em muitos momentos soa preocupado em ficar olhando para o passado, com um certo receio do que poderia acontecer se resolvesse olhar mais diretamente para o futuro. Donkey Kong Country e Donkey Kong Jungle Beat são referências, mas as vezes parecem que estão se intrometendo mais do que deveriam.
Considerações finais
Fazer tantas comparações de Donkey Kong Country Returns HD com jogos do passado a franquia, e como estes influenciaram seu desenvolvimento para com resultado final, lá em 2010, talvez faça soar como um jogo ruim, quando de fato não é bem assim. O jogo é ótimo, ainda que ele não seja disruptivo, que não seja aquela estrela que influenciou os anos seguintes de uma franquia que, olhando para hoje, merecia ter muito mais jogos, tal qual ocorre com Super Mario ou Kirby.
Há que se considerar que outros fatores, claro. Os anos em que a franquia ficou em hiato, títulos que não fizeram tanto sucesso em algumas gerações, como Donkey Kong 64 ou o próprio Jungle Beat. Além disso, trata-se de uma franquia que passou por troca de estúdios, diferentes produtores. Claro que isso impacta o desenvolvimento de uma franquia, e até mesmo a frequência a qual os jogos são lançados. Diferente, por exemplo, da situação dos jogos com Kirby, que sempre foram tutorados e desenvolvidos pela HAL Laboratory.
Pensando por essa perspectiva, o trabalho da Retro Studios com Donkey Kong Country Returns é digno de elogios. O desafio que tinham em mãos foi gigantesco. Um estúdio que reinventou a franquia Metroid, com a série Metroid Prime.
Contudo, enquanto com Metroid a intenção era fazer algo nunca feito, atualizar a série, com Donkey Kong o objetivo era resgatar a essência das aventuras de plataforma dos anos 90, até porque DK64 e Jungle Beat já haviam tentado coisas novas, que não atingiram as expectativas pretendidas. Percebe como as situações do estúdio com ambas as IPs eram totalmente distintas? Por isso há que se defender Returns, porque como o título já diz, buscava-se um retorno de um passado perdido nas gerações que vieram depois do Super Nintendo.
Quanto ao olhar para Donkey Kong Country Returns HD, posso dizer que a remasterização cumpre o básico do básico. A Forever Entertainment, estúdio que cuidou desta remasterização, acertou ao usar o título a edição encorpada lançada no Nintendo 3DS, que traz estes novos modos, uma jogabilidade menos frustrante, com as fases adicionais. Contudo, é uma pena que não tenha havido um investimento para criar qualquer novo conteúdo, que não tenha olhado ao passado, a qual discuto nesta análise, afim de tentar refinar pequenos detalhes que foram pontuados lá em 2010.
E a quem se perguntar se dava para fazer isso, basta olhar o que a Nintendo fez quando lançou Super Mario 3D World + Bowser’s Fury no Nintendo Switch. Um massivo conteúdo inédito que aprimorava a experiência do título original. Donkey Kong Country Returns merecia um tratamento semelhante, especialmente considerando que a franquia não recebeu nenhum título exclusivo na geração do Switch, afinal, Donkey Kong Country Tropical Freeze foi lançado em um momento de transição entre gerações, estando presente no Wii U e Switch.
Dito tudo isso, Donkey Kong Country Returns HD ainda cumpre o pretendido. A remasterização atualiza os gráficos, adapta muito bem os controles para os joy-cons, oferece a melhor experiência do título em relação as edições em outras plataformas, e traz tudo de bom que o jogo possui. É o título que trouxe DK de volta a sua fórmula de maior sucesso, que permitiu uma sequência, que criou novos elementos e serve como uma ótima introdução destes personagens a uma nova geração de jogadores. O jogo longe de ser perfeito, mas ainda tem um imenso valor.
Galeria
Dando nota
Remasterização faz apenas o básico, restaura a melhor versão (3DS), mas não traz nada novo - 7
Obra da Retro Studios continua intrigante, que permite discutir muito a seu respeito (para o bem e para o mal) - 8
É Donkey Kong em sua melhor fórmula, isso não há dúvida alguma - 8.8
Dificuldade do jogo faz uma ótima escalada nos mundos finais - 8.5
Graficamente, esse estilo 3D sem diferencial soa um pouco sem graça hoje em dia - 7.4
Trilha sonora só é genial quando são faixas da trilogia clássica, o que traz ponderações sobre as faixas inéditas - 7.7
Oferece uma ótima experiência também quando em multiplayer cooperativo - 8.4
8
Ótimo
Donkey Kong Country Returns HD cumpre o básico do básico de uma remasterização, atualizando os gráficos de um clássico, adaptando controles para os atuais e utilizando sua melhor versão (3DS) para ser reapresentada em uma nova plataforma. Não há qualquer novo conteúdo adicional, e tal como suas versões anteriores, segue sem localização em português, ainda que, felizmente neste caso, não haja qualquer empecilho linguístico, e o jogo é super acessível universalmente a qualquer idioma. Quanto ao jogo, lançado originalmente em 2010, existem diversas ponderações que podem ser feitas e que até hoje são pertinentes, contudo, ainda vigora um trabalho digno de elogios que a Retro Studios teve, em sua época, afim de resgatar a consagrada fórmula de DK criado pela Rare, o que em certa medida, foi obtida. Um título essencial para fãs e quem deseja conhecer um pouco mais do icônico personagem, em seu formato que melhor fez sucesso dentro dos consoles Nintendo.