Análise | Lego Horizon Adventures

Disponível para PlayStation 5, Nintendo Switch & PC

Lego Horizon Adventures é uma aventura bem humorada, que faz uma releitura da jornada de Aloy, daquele jeito que somente os jogos do universo da Lego sabem fazer, trazendo leveza, diversão e muitas pecinhas para se colecionar, enquanto o mundo de animais robóticos e cultistas se apresentam em suas versões de bloquinhos. Um jogo despretensioso, que conquista um belo resultado em misturar duas fórmulas e franquias tão distintas.

O título está na leva dos últimos jogos da temporada de 2024, tendo sido lançado em 14 de novembro, sendo que o mais interessante é sua disponibilidade em múltiplas plataformas, saindo simultaneamente no PlayStation 5, PC e, veja só, no Nintendo Switch, plataforma que combina muito bem com o público alvo do jogo, normalmente voltada a família, crianças e aos mais jovens, não que isso desmereça as outras plataformas claro. Difícil não apontar que, por motivos óbvios de concorrência, o Xbox ficou de fora dessa iniciativa.

Outro apontamento interessante de ser feito diz respeito ao seu desenvolvimento. Este lançamento não surge do mesmo estúdio que tradicionalmente fez jogos famosos da série Lego, como os das franquias Marvel, DC, Harry Potter e Star Wars, a TT Games, que, por sinal, já tem um bom tempo que não lança nada novo – mas isso é conversa para outra ocasião.

Lego Horizon Adventures foi desenvolvido por um novo estúdio, localizado no Reino Unido, o Studio Gobo, fundado em 2011, e que atualmente pertence ao grupo Keywords Studios. Quem também participou do projeto foi a Guerrilla Games, que é um estúdio interno do PlayStation, responsável pelos dois jogos originais da franquia Horizon (Zero Dawn e Forbidden West). E tudo, claro, com apoio da The Lego Group, e com o jogo sendo distribuído globalmente pela Sony Interact Entertainment, inclusive na plataforma da Nintendo, o que é um fato realmente bacana de se mencionar.

Fórmulas colidem!

Lego Horizon Adventures é um jogo de aventura que mistura a estrutura dos jogos Lego, com os elementos e alguns verbos do universo de Horizon. Segue um modelo de avanço que mistura locomoção 3D com uma câmera com um ângulo mais superior, visto de cima quanto mais distante está, e quase lateral (side-scrolling) quando está mais próxima do personagem.

A jogo mistura diversos elementos de exploração, plataforma e combate, sendo que este último, simula muito dos elementos da franquia de Aloy, com o jogador podendo se esconder no mato alto para se preparar para a batalha, podendo escanear o ambiente, e com os animais máquinas possuindo pontos fracos em diversas partes do seu corpo, sendo que estas partes se quebram e se soltam dos inimigos, o que as vezes faz com que eles percam certos ataques ou meios de se defender.

Quando não se está batalhando, normalmente a estrutura retoma os elementos dos jogos de Lego, com o jogador se movendo pelo mundo, admirando as construções de Lego, superando obstáculos com saltos e escaladas, enquanto vai quebrando alguns objetos de cenários para recolher pecinhas, que servem com a moeda virtual da aventura, que tem diversos usos, dentro lojas para comprar elementos de cenários, vestimentas e também para aprimorar status gerais dos personagens. Trata-se de uma estrutura bem básica.

Ao longo dos estágios o jogador irá encontrar baús e peças de Lego que poderá interagir para montar (de forma automática) alguma estrutura. Tudo isso irá lhe render mais pecinhas monetárias. Alguns baús também podem conter equipamentos que você utilizará em combate, ou para pontuais momentos de exploração que podem exigir um salto duplo ou que se coloque fogo em estruturas que estejam bloqueando o acesso a um baú ou elemento interativo.

O curioso é que a exploração é um tanto guiada, caminhos com pecinhas douradas são o trajeto normal, e levam a progressão natural do estágio, enquanto que os caminhos com pecinhas prateadas levam a rotas alternativas para a arena de batalha, ou para baús e locais para montar alguma estrutura. Um sistema que me deixa um pouco dividido, porque me diz muito facilmente onde ir buscar as coisas escondidas pelas fases, enquanto também evita que passe por um ponto sem volta, sem tê-la explorada por completo.

As batalhas sempre ocorrem em arenas dentro dos estágios, ou seja, o jogador sempre irá saber quando um ponto de combate estiver prestes a acontecer. O cenário nestes momentos se abre bastante, com uma área bem ampla para o jogador correr, abrir espaço para se defender ou atacar. Ficar parado nestes momentos é pedir para ser encurralado, pois os inimigos vão sempre lhe perseguir e atacar conjuntamente, ainda que os ataques deles também possam infligir dano entre si.

Nestas arenas podem ter elementos interativos de cenários, como rochas que podem ser empurradas para cair em inimigos, ou barris explosivos para serem arremessados, sendo que estes podem causar diferentes danos elementais, de fogo, gelo e elétrico. Muitas arenas também irão ter pontos de recarga de habilidades, normalmente um dispositivo fixo que foi pensado como algo funcional ao combate criado dentro desta arena. Em certos casos, fogueiras, poças super congeladas e até mesmo buracos elétricos, podem interagir com algumas armas, causando dano elemental aos inimigos, como as flechas de Aloy ou as lanças de Valr, sendo que a aventura apresenta 4 personagens totalmente jogáveis com estilos próprios.

Antes de abordar um pouco mais, também é válido mencionar que muitos destes cenários de combate ocorrem em ondas, ou seja, o jogador limpa a área com os inimigos que estavam ali originalmente, e então um portal se abre e mais inimigos surgem, as vezes em maior número, tipos diferentes, desde as máquinas, quanto aos ocultistas, criando novas combinações de ameaças e formas diferentes para lidar com esta segunda ou até terceira rodada de combate. As vezes, poupar barris ou armadilhas, para ondas posteriores de inimigos, acaba sendo mais efetivo do que usar tudo logo de cara.

Quatro aventureiros

De volta aos personagens de Lego Horizon Adventures, conforme a aventura progride, Aloy vai se reunindo a novos companheiros, que vão lhe auxiliar em sua jornada, e assim se tornam jogáveis, permitindo que sejam selecionados sempre que um novo estágio for se iniciar. Aqui não estou fazendo referência a skins. Roupas e trajes, o jogo tem aos montes (dezenas). O diferencial destes personagens é que cada um possui um estilo próprio de combate.

Aloy usa o característico arco e flecha, sendo que é possível segurar o ataque e assim atirar as flechas numa distancia ainda maior. Passar por fogueiras, lagos congelados ou buracos com cabos elétricos rompidos, faz com que a flecha se torne elemental. Valr por outro lado tem como arma principal a lança, que talvez possa soar um pouco parecido com as flechas de Aloy, mas a vantagem da arma de Varl é que ela ultrapassa inimigos e atinge outros que estejam atrás do primeiro atingido. Claro que a dano acaba sendo menor, porém é uma excelente arma quando o combate é realizado em grande parte por inimigos que se amontoam próximo ao jogador. A lancha também se apropria de efeitos elementais quando passa por fogueiras e outros elementos de ambientes, assim como as flechas de Aloy.

Conforme a história avança ainda mais, Teersa também passa a acompanhar Eloy, e se torna jogável. A personagem tem um estilo de combate um pouco diferente, possuindo ataques explosivos, como se lançasse pequenas granadas nos inimigos, conduto, os itens são cenouras, bananas, ovos e galinhas explosivas. É possível segurar o botão de ataque e assim mirar até uma certa distância o arremesso desse explosivo, que mesmo que seja lançado próximo a personagem, não pode causar dano a mesma.

Por fim, a último membro do grupo é Erend, que possui um super martelo, e assim acaba sendo o único personagem cuja a arma principal não é do tipo arremessável. Ele pode atingir múltiplos personagens próximos e até mesmo empurrá-los ou parar alguns ataques, mas isso exige um estilo de combate mais próximo dos inimigos, o que dá um ritmo e dinâmica um pouco diferente dos outros três personagens.

Independente do personagem que o jogador escolher, todos possuem modificadores de suas armas, que as tornam mais potentes ou com danos elementais. Estes modificadores são encontrados em baús escondidos pelas fases, contudo, há um mercado com três baús bem no meio do progresso de cada estágio, justamente para que o jogador reabasteça seu arsenal, antes de ir ao ato final do estágio. Estes modificadores são limitados, sempre com um indicador numérico mostrando quantas vezes poderá usar essa arma.

O bacana é que também é possível desativar esse modificador. Afinal, você pode querer guardar as flechas múltiplas ou flamejantes para o combate, e não para quebrar um objeto de cenário. Há um botão no controle que desativa e reativa esse modificador de arma. Contudo, só é possível ficar com um modificador por vez. Ao coletar um novo, o que estava armazenado desaparece de imediato, então tome cuidado para não trocar e se arrepender.

Além dos modificadores de armas, há também os aparatos! Enquanto cada personagem tem seu set de modificadores de armas, os aparatos são coletivos, ou seja, não são exclusivos de um ou outro personagem. Aparatos são dispositivos que tem várias funções, podendo ser uma bota que oferece um pulo duplo enquanto queima o que ou quem estiver embaixo dela, ou um escudo que repele projéteis (e é incrivelmente útil, já que os controles não oferece um comando de esquiva), ou permite invocar um carrinho de cachorro quente onde o vendedor fica lançando explosivos na arena, entre outras ferramentas úteis, como uma bomba que congela inimigos ou um pancadão sísmico que causa um dano massivo em quem for atingido.

Da mesma forma que os modificadores de armas, só é possível manter um aparato por vez. Coletar um novo, elimina o anterior, contudo, é possível reabastecer o aparato que esteja em seu poder, coletando o mesmo caso saia em um baú ou esteja disponível em pontos especiais de uma arena de combate. Trata-se de um recurso realmente útil, tanto em batalha, quanto em certos momentos de estágios, onde a exploração vai exigir queimar algum arbusto ou realizar um salto duplo para chegar em outro ponto de plataforma.

Lembrando que toda essa versatilidade de armas, personagens e dispositivos funciona em single player, quanto em multiplayer, pois Lego Horizon Adventures oferece suporte cooperativo local e online para até dois jogadores. Esse multiplayer é ativado após a conclusão do capítulo prólogo, e o jogo alerta sobre isso quando iniciado, o que penso ser uma boa iniciativa para não deixar os jogadores confusos quanto a ativação do multiplayer.

Bom humor narrativo

Outro aspecto estrutural pertinente em Lego Horizon Adventures diz respeito a sua proposta narrativa, que não tem qualquer compromisso em recontar a mesma história de origem de Horizon Zero Dawn. Não espere que o jogo seja um resumo do jogo original, o que sequer siga com as mesmas revelações, origens e interações. Nada disso, o jogo tem uma total liberdade criativa para brincar com a história original, colocando eventos, fatos e personagens em situações bem distintas. Basicamente trata-se de uma sátira bem humorada.

Posso dar um exemplo bem pontual de como estas concessões são realizadas aqui. Na aventura original, Aloy encontra Erend quando vai fazer o teste que lhe permitirá se juntar a sua tribo, ele explica um monte de coisa para ela sobre o mundo além da vila, outras culturas, e a convida para conhecer sua vila algum dia. Quando ela o reencontra, tem todo um arco dramático envolvendo sua esposa morta nos arredores da vila, com ele em luto pela perda, e pedindo para ajudá-la a resolver esse mistério da morte da esposa.

Em Lego Horizon Adventures, Aloy encontra Erend de forma mais aleatório, já em sua jornada por respostas, com ele lutando com diversas máquinas, se dizendo apaixonado por rosquinhas, dizendo estar em busca de uma rosquinha lendária, e que topa ir para a vila de Aloy se tiver guloseimas para se deliciar. O elo de amizade entre estes personagens ocorre em ambos os jogos, mas claramente a aventura de Lego é leve, e não tem o mesmo espaço para arcos dramáticos dos personagens, talvez com a única exceção sobre os mistérios em torno de Aloy e das máquinas no mundo, enquanto o próprio vilão se revela bem cedo aqui, enquanto no jogo original, as coisa são bem mais complexas.

Até mesmo a questão da jornada que Aloy tem no jogo original em nenhum momento ocorre aqui. Todo o drama dela ter sido criada como uma banida da vila, não ter tato e contato com outras pessoas, nada disso está na aventura Lego. A jornada de Aloy por respostas aqui é conduzido junto com companheiros que ela reúne ao longo do jogo, assim como ela sempre retorna a sua vila para expandi-la e encher de pessoas.

Isso é importante para dizer que Lego Horizon Adventures não é uma adaptação de Horizon Zero Dawn. É algo alternativo, mais leve, mais infantil, mais condizente com a alegria e jovialidade das adaptações dos jogos de Lego. E digo isso como algo positivo, pois seria muito chato se uma coisa fosse uma adaptação da outra, mudando apenas a arte em si. Isso permite que ambos os jogos sejam repleto de surpresas e atendam a públicos distintos.

Quem jogou Zero Dawn vai se divertir com as brincadeiras, mudanças e leveza da história de Lego Horizon Adventures, enquanto que essa lógica também funciona ao contrário, pois quem chegar ao mundo de Horizon pela aventura de Lego, vai querer conhecer melhor a história original, e todo o potencial sério que esse mundo tem a oferecer nos jogos original.

Considerações finais

Lego Horizon Adventures não é uma obra imperdível, contudo, é um jogo que consegue divertir qualquer um que der uma chance a obra. Diferente dos jogos de Horizon, cuja a proposta são aventuras épicas de grandes proporções, entregues dentro do gênero de mundo aberto, a aventura Lego tem um escopo menor, mantendo a simplicidade de sua fórmula e trazendo elementos e identidade do mundo de Aloy para sua estrutura.

Quando comparado com outros títulos da franquia Lego, pode parecer um pouco menor do que encontrado nesse passado, especialmente quando colocado em perspectiva com os títulos lançados na era da TT Games, que tinham uma megalomania que por vezes impressionou muito os jogadores na época, ainda que sua fórmula tenham engessado um pouco as coisas após tantos jogos que davam certa sensação de repetição. Nesse sentido, Lego Horizon Adventures busca uma estrutura diferente, sob a ótica de um novo estúdio, há mais sobriedade, sem a perda da essência da fórmula.

Não fiquei convencido de que este novo formato é perfeito, e penso que ainda carece de certo polimento. Por exemplo, os estágios são um tanto parecidos, com segmentos que soam repetitivos as vezes. A exploração é muito simplória e senti muita falta daquela destruição massiva de blocos que outros jogos da franquia possuem. Adoro aquele conceito dos antigos games onde uma barra que vai aumentando conforme mais pecinhas e destruição são realizadas nos estágios, e isso é algo que não está presente aqui. Nem blocos dourados ou vermelhos escondidos. Tudo é muito à mostra. Não há segredos. A exploração peca pela falta de diversidade.

No combate, Lego Horizon Adventures tem seus maiores acertos. As batalhas são sempre divertidas, e podem ser desafiadores a depender do jogador escolher níveis maiores de dificuldade, tendo em vista que o jogo entrega cinco opções de dificuldade. É divertido as arenas, os personagens com estilos próprios, assim como a diversidade de inimigos e a forma como vão se misturando ao longo de novos encontros. Pena que não haja muitos chefões e máquinas gigantes.

Também gostaria que os estágios especiais de batalha contra inimigos alphas fossem mais elaborados. Estes combates no geral entrega um adversário com uma enorme barra de energia e outros inimigos mais fracos chegando em ondas. Não são batalhas tão elaboradas, sendo mais uma questão de sobrevivência. E nesse sentido, que bem que os controles não entreguem um botão de esquiva. Faria muito diferença no combate, e o tornaria um pouco mais elaborado do que ele já é.

Tudo isso resulta em uma experiência agradável no mundo Lego, ligeiramente diferente de outros jogos Lego baseado em outras franquia. É um título com alma, e que entende do universo a qual está satirizando. Visualmente é muito bonito, ainda que não tenha visto nada muito fora do esperado. No PlayStation 5, admito que esperava alguns recursos mais interativos com o DualSense, mas o jogo é bem básico nestas interações, o que me soa como uma oportunidade perdida.

Outro ponto de elogio e que, com o passar das gerações e evolução dos jogos Lego, passou a acontecer, é o fato dos personagens agora falarem (nos primórdios, os personagens eram mudos). Aqui, quase todo o elenco de Horizon foi chamado para compartilhar sua voz no jogo, tanto no idioma original, quanto na dublagem em português, por sim, o jogo está todo localizado nosso idioma. E os personagens falam pra caramba. Adora as pequenas falas ao longo das fases, como Varl gritando “dano colateral” ao atacar um objeto de cenário.

Lego Horizon Adventures é um título charmoso, que não está reinventando a roda, mas está abrindo as portas do universo Horizon a novos interessados, com essa possibilidade de fazerem a ponte entre os jogos, enquanto também abre toda uma comporta de títulos da família PlayStation que facilmente poderiam ganhar sátiras e adaptações para o universo Lego. Sim, estou pensando em God of War e Uncharted!

Aloy pode muito bem só o pontapé inicial de uma série de aventuras Lego em parceria com estas grandes IP da Sony. Que esse seja só o começo, e que mais iniciativas surjam no horizonte de uma nova fase Lego, que convenhamos, precisava mesmo de algo assim.

Galeria

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Dando nota

Universos colidem, e resulta em uma criativa aventura Lego, assim como também de Horizon - 8
Fórmula Lego diminui um pouco seu escopo diante de um novo estúdio - 7.5
Aventura encontra uma forma bem humorada, como uma sátira para a aventura inicial de Aloy - 8
Progressão e exploração é bem simplória, faltam segredos e mais cenários destrutíveis - 6.5
Entre os verbos da jogabilidade, dá a sensação de que muitas vezes falta maior variedade e diversidade de situações de gameplay - 7
Combates brilham ao captar elementos de Horizon, com seus inimigos e táticas de batalha - 8.8
Quatro personagens com suas próprias armas e formas de lutar - 7.8

7.7

Divertido

Lego Horizon Adventures é uma aventura divertida que mistura duas franquias tão distintas de uma maneira leve e descontraída, que dá um belo resultado. Exploração é um pouco simples, em comparação com outros clássicos Lego, mas é no combate, que pega muitos elementos de Horizon, que dá um aspecto singular ao título, que também encontra uma forma bem divertida de contar a aventura original de Aloy. Um título que convida dois públicos diferentes de jogadores a conhecer cada uma das franquias aqui reunidas.

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