Laika: Aged Through Blood é uma aventura motorizada onde sangue e vísceras exigirão que uma mãe vá até os confins de um violento conflito, afim de poupar sua filha do mesmo destino amaldiçoado que ela possui. Tudo em uma jornada sempre em cima de uma moto, dentro de um grande mundo interconectado e pouca munição a ser disparada por vez, enquanto desafios de tiro em movimento colocam o jogador em inúmeras enrascadas.
O título foi lançado já faz um tempo, saiu no final de 2023, para PC, PlayStation 4 & 5 e Xbox One & Series X|S, contudo, esteve novamente no radar de uma nova base de jogadores, pois aportou no Nintendo Switch em 30 de janeiro deste ano, versão esta, utilizada para a produção deste review. Uma espera que acredito ter valido a pena para muitos jogadores.
Laika: Aged Through Blood foi desenvolvido pela Brainwash Gang, um estúdio independente localizado em Madri, na Espanha, que também é responsável por outros quatro indies que se destacam por suas premissas inusitadas e originais, assim como por estilo e direção de arte com uma autenticidade singular, sendo eles Nongunz, The Longest Road on Earth, Grotto, Friends vs Friends. No caso de Laika, foi realizado uma parceria com o pessoal da Headup Games, e estes ficaram responsáveis pela distribuição global do jogo em todas as plataformas, incluindo o recente lançamento no Switch.
O jogo pertence ao gênero metroidvania, ou seja, possui um mundo todo interconectado, a qual o jogador irá ir e vir por certos pontos chaves do mapa, resolvendo missões e ganhando novas habilidades conforme progredir na história, conseguindo assim abrir passagens fechadas que lhe darão acesso a novas rotas e atalhos. A aventura ocorre toda em 2D side-scrolling (avanço lateral), num belíssimo mundo feito com uma arte que lembra um desenho animado.
O único ponto negativo nessa apresentação é precisar dizer que o título não tem localização em português, o que pode comprometer um pouco o entendimento de sua excelente trama, especialmente por conta de que muitas vezes os diálogos (em texto) ocorrem em meio a navegação do mundo, já que os personagens usam walkie-talkies. Em muitos momentos tive que parar a moto, afim de prestar mais atenção ao contexto, afim de entender a conversa via rádio transmissor.
Com isso em mente, também acredito faça um pouco de falta de uma dublagem em inglês, pois toda a exposição narrativa é feita somente com textos em caixas de diálogos, que as vezes possuem até mesmo rolagem automática, sem que o jogador pressione um botão para dar continuidade. Ouvir os personagens tornaria mais fácil acompanhar as conversas, enquanto se dirige pelo cenário.
Faroeste motorizado pós-apocalíptico
Falando um pouco do mundo de Laika: Aged Through Blood, sua ambientação se passa nesse conto dominado por animais antropomórficos, ou seja, nada de humanos. Um mundo em ruínas, ao que tudo indica, onde uma tribo de pássaros tem oprimido todas as demais classes de animais, que vivem escondidos, ou estão sendo chantageados ou até mesmo escravizados pelas aves, que estão muito bem armadas para dominar qualquer ameaça que se apresente a elas.
Porém este também é um mundo onde forças sobrenaturais e maldições podem existir, onde o misticismo tem seu espaço dentro de uma dura realidade que se apresenta pelo uso de armas de fogo e o quanto isso colocam em risco todos os seres vivos. É aqui que entra Laika, uma coyote fêmea, se torna peça chave desta trama. Protagonista do jogo, Laika pertence a uma linhagem de sangue amaldiçoada, tornando-a imortal por uma janela de sua vida, fazendo com que ela seja a única de sua tribo que pode sair da aldeia, realizar tarefas, missões e buscar um meio de combater os pássaros e impedir que eles eventualmente massacre todos de sua vila.
A aventura tem início com uma tragédia, quando um importante amigo de Laika sai da vila e acaba sendo morto pelos pássaros. Isso dá o pontapé para uma história que vai misturar vingança e justiça, enquanto Laika precisa lidar com temores sobre si mesma, sua mãe e sua filha. Em grande parte, por conta da maldição que assola sua família.
Funciona assim, toda mulher da família de Laika se torna imortal quando tem sua primeira menstruação. Quando isso ocorre, a maldição é passada de mãe para filha, e a mãe perde, então, sua imortalidade, e passa a envelhecer. Laika então tem problemas com sua mãe, que parece ressentida com a filha, ao mesmo tempo que se preocupa com o fardo que sua filha, Poochie, irá carregar em breve, quando ela menstruar pela primeira vez e passar a ser a imortal da tribo. A mãe de Laika deseja que Poochie seja treinada, mas Laika quer poupar a filha um pouco mais, deixá-la ser criança mais um pouco. Mas quando a tribo enfrenta o luto do membro que partiu, as coisas começam a criar dúvidas e medos em Laika.
A narrativa de Laika: Aged Through Blood é bem densa, sombria e madura. Traz questões e valores interessantes a serem discutidos. O dever da família, até quando manter filhos em suas conchas e inocência, fala sobre a perda e o luto, sobre a opressão de uma comunidade e o radicalismo daqueles que se acham superiores aos demais seres vivos. É uma trama realmente muito bem estruturada, que novamente, só tenho a lamentar não estar em português, ou ter áudio em inglês para facilitar alguns diálogos em meio aos momentos de motoca.
Por sinal, sim, a moto tem uma parte importante dessa construção de mundo. O jogador irá sempre viajar de moto, que também possui um elemento sobrenatural junto a maldição de Laika, pois o veículo tem o poder de se remontar e “renascer” sempre que Laika morre. Toda a exploração e combate é realizado em cima da motoca, sendo que o jogador só desce dela para visitar sua vila ou por locais onde precisa entrar em construções para conversar com alguns NPCs do mundo, assim como em algumas lojas.
Ricochete e disparos em duas rodas
Já que mencionei a motoca, sinto que preciso ir adiante e explicar que grande parte da jogabilidade presente em Laika: Aged Through Blood está intrinsecamente ligado ao conceito de um metroidvania com exploração em cima de uma moto, ou seja, um motorvania, palavra que os próprios desenvolvedores usaram, em peças de divulgação do jogo, para melhor definição de sua proposta.
O que é um conceito interessante, porque a mobilidade com a moto tem um sentimento que me faz lembrar um pouco de Trials, aquela franquia de jogos sobre superar obstáculos em motocicletas da Ubisoft, que fez bastante sucesso uma ou duas gerações de consoles atrás. Há uma física semelhante no sentido de que é possível inclinar a motinho para frente ou para trás, forçando a realizar giros de 360º em ambos os sentidos (front flip e backflip).
A construção do terreno de Laika: Aged Through Blood consiste justamente nesse conceito, de que é preciso rampas, ladeiras e até mesmo loopings para que o jogador se divirta explorando tudo com sua moto. A aventura é toda num belo 2D, com visuais desenhados a mão, com avanço lateral da tela (side-scrooling), então pense que o mundo tem uma dimensão horizontal quilométrica, como uma grande estrada para se explorar, sendo possível subir ou descer em pontos chaves, afim de entrar em algumas zonas específicas que vão servir para as áreas temáticas de progressão da história.
Alias isso é um conceito bem interessante, de que por mais que o jogo seja bidimensional, a estrada em sim pode bifurcar em duas direções distintas. Se a moto estiver levemente inclinada, ela vai subir uma estrada com ladeira, enquanto se os pneus estiverem no chão, nesse mesmo ponto, ela deixa de subir e simplesmente seguirá adiante, estrada a frente.
O layout não é construido para essencialmente ser vertical, contudo, existem diversos pontos de verticalidade em algumas áreas. Nesse sentido, o jogador estará subindo morros e saltando sobre abismos, para construir aquele conceito dos elementos de plataforma, já que não se pode pular sobre buracos de maneira mais tradicional. No geral, os grandes riscos dessa exploração ocorrem na forma como os inimigos estão posicionados. E por isso, vou precisar falar sobre os riscos que os pássaros representam para o jogador.
Durante a aventura, Laika terá que explorar diversos locais, afim de cumprir certos objetivos, seja levar as cinzas do amigo perdido para o local de descanso dos habitantes, seja sua antiga vila destruída no passado pelos pássaros, seja velhas ruínas, minas, locais perdidos no tempo e no mundo em ruínas. As vezes porque sua tribo precisa de novas alianças, em outras porque há recursos que precisa ser coletados, ou tecnologia que precisam ser resgatadas para que a comunicação entre vilas possa existir.
Ao explorar estes locais nem sempre é uma tarefa fácil, como simplesmente dirigir em linha reta. Muitos ambientes estão entre tocas ou ladeiras, entre imensas árvores ou apertadas minas. As vezes o jogador precisa subir rampas para acessar outra plataforma, afim de virar e saltar desta plataforma para ir ainda mais alto, para encontrar outras rampas e subidas. As vezes é preciso acelerar até realizar um meio looping, chegando a ficar de ponta cabeça para virar a moto e cair acima de um terreno que está acima de onde você iniciou o looping.
Em outros momentos, descer também pode ser um desafio. Não deixe a moto inclinar demais, ou ela vai se desestabilizar e girar errada, fazendo com que sua inclinação leve o piloto a bater a cabeça no chão, o que levará a uma morte instantânea. Alias, isso é também uma regra, pois o jogador aqui não tem segundas chances, uma queda, uma batida, um tiro no local certo, é sempre morte imediata.
Como já mencionado, os riscos dessa exploração estão nos inimigos, os pássaros. Mesmo não sendo muitos, é normal que eles sempre se encontrem posicionados em pontos estratégicos em que o jogador vai realizar algum feito, seja um salto, um looping, uma acelerada de escalada numa ladeira mais íngreme. No momento que um pássaro de lhe ver, ele irá soltar um grunhido, seguido por um disparo em sua direção. Os disparos de arma de fogo do tipo comum são menos perigosos do que os pássaros que portam bazucas e disparam mísseis teleguiados. Acredite.
Há alguns pontos aqui: entender os meios de se defender de alguns tipos de situações, saber que memória muscular é parte da estrutura do combate, e que as vezes a melhor defesa é atacar antes de ser atacado. Parece simples, mas nem sempre é. Primeiro a regra de ouro: tiros podem ser defendidos se acertarem a sua moto. Ou seja, ao saltar sobre inimigos, você estará protegido se eles atirarem por baixo da moto, da mesma forma que ao pular em uma rampa, manter a moto levemente inclinada para frente também é uma boa forma de se defender dos projéteis que vierem de frente.
Isso, claro, só vale para as armas comuns, pois como mencionado, bazucas e mísseis são uma mistura mortal e fatal, e nessa situação, ou você dá um jeito do míssil não lhe atingir, usando o cenário como defesa, ou acerta uma bala no míssil antes dele se aproximar demais. Diante desse cenário, eliminar o pássaro com a bazuca, antes dele atirar, será sempre a melhor decisão de combate.
Então há que se falar das suas opções de artilharia e como tudo isso funciona dentro da mobilidade motorizada. Inicialmente o jogador tem apenas um revólver com duas balas (que rapidamente é possível aprimorar para três). Isso significa que Laika: Aged Through Blood é um daqueles jogos que cara tiro conta e errar possivelmente irá resultar em sua morte.
A boa notícia é que basta um única bala para eliminar qualquer inimigo. Não só isso, mas cada vez que o jogador vai atirar, ao segurar o botão do disparo (o gatilho da direita do controle), o sistema entra em uma espécie de modo bullet time, ou seja, o tempo desacelera e fica tudo bem lento. Isso torna, teoricamente, mais fácil acertar um inimigo, ainda que a mira não seja automática e seja necessário apontar com o analógico direito para a direção em que se encontra o inimigo.
Disse “teoricamente” no parágrafo acima porque é preciso ponderar o quadro como um todo: você vai estar em movimento em cima de uma moto, o inimigo não vai estar necessariamente na sua frente, mais em ângulos diagonais, cima, baixo, além da questão dele te detectar com a aproximação e imediatamente atirar, a qual você precisa girar a moto afim do projétil acertar a moto e não o personagem. E tudo isso, em uma situação em que haja só um inimigo, mas conforme a progressão da aventura ocorre, vai se tornar cada vez mais comuns inimigos em duas ou três direções, a qual você pode acertar num único momento de bullet time, mas precisa mirar em todos precisamente, impedir que eles atirem ou então usar a moto para se defender. Entendeu a equação que o jogo se propõem a ser? É maravilhoso.
Dentro dessa mecânica de combate há ainda outro elemento importantíssimo: recarregar sua arma. O revólver em grande parte da aventura terá apenas três balas dentro do cano, depois disso ele esvazia e será necessário recarregar a arma. As balas são infinitas, não precisa se preocupar com isso, contudo a recarga não é condicionada em um apertar de botão. Nada disso. Para que o revólver seja recarregado se faz necessário um back flip com a moto, ou seja, é preciso dar um mortal para trás com ela.
Muitas vezes você vai querer, e conseguir fazer, no meio de um tiroteio. Vai saltar, congelar o tempo, começar a girar, enquanto mira e vai gastando suas três balas, para que no final do evento, tenha acertado três inimigos, e colocado os pneus da moto de volta a direção do chão, para que aterrisse do salto, com o revólver cheio e pronto para atirar de novo. E se houver quatro ou cinco inimigos próximos, é isso que você precisa fazer para passar por eles. Porque uma vez recarregado, a desaceleração do tempo pode acontecer mais uma vez.
E é justamente esse conjunto de mecânicas que torna o combate de Laika: Aged Through Blood tão satisfatório, na mesma proporção de que poderá ser frustrante em diversos momentos. Errar faz parte do aprendizado desta estrutura. Saltar, errar o tiro, sofrer um tiro (sempre fatal), ou girar a moto sem completar o looping em sei eixo e cair de cara no chão (o que também é fatal). E aí, é preciso fazer tudo de novo. E mais um, duas, quinze vezes. Sim, esse tanto as vezes se faz necessário até pegar a memória muscular do embate de cada segmento que se faz presente no jogo.
A boa notícia? Os checkpoints são extremamente generosos. Morreu? Você reinicia imediatamente e próximo do local em que isso ocorreu. E mais ainda: cada cenário de batalha proposto tem um checkpoint após vencido. Ou seja, venceu uma batalha? Siga em frente e terá um posto de salvamento. Sendo assim, não é necessário repetir longas batalhas, ainda que as vezes, estes confrontos são propositalmente realizados em etapas (salte, atire, , recarregue, avance um pouquinho, atire, salte, recarregue e vença o trajeto sem bater a moto).
Mas tudo tem um revés, claro. Toda morte reseta os inimigos no mapa. Sair e entrar de uma área também. Então, entrou em combate, eliminou todo mundo, avançou e passou pelo checkpoint e morreu em seguida? Você retorna depois da batalha vencida e pode seguir adiante, mas se resolver voltar… bem, aqueles inimigos mortos estarão todos de volta. Claro que o elemento surpresa já não vai mais existir. Você saberá onde eles estão e o que terá que fazer para vencê-los.
Conforme a história avança, assim como as áreas são vencidas, como em todo metroidvania, o jogador vai ganhando melhorias que tornam mais prático e ágil avançar pela aventura. Novas armas, deste uma besta que atira dez flechas de uma só vez, ou uma espingarda que pode quebrar paredes de madeira e abrir novos caminhos. A espingarda inclusive é uma ótima arma nesse ponto, pois tem um recuo quando disparada, o que pode fazer sua moto pular mais alto (ao atirar diagonalmente para o lado) ou até mesmo subir paredões ao atirar no chão e fazer a moto dar um pequeno “pulo”. A mobilidade abre novas possibilidades com isso.
Mais a frente da aventura, seu poder de fogo vai aumentar ainda mais, quando uma semi metralhadora surge e até mesmo uma habilidade de projetar sua moto para qualquer lugar (inclusive no ar), criando uma espécie de dash aéreo em qualquer direção. Claro que tudo isso vai indicar que as áreas posteriores terão mais desafios de plataforma, assim como muito mais inimigos concentrados em pequenas áreas.
Também não mencionei, mas quando sua arma falhar, sua munição acabar, ainda haverá um último recurso. Girar sua moto, em uma meia volta, se feita no tempo correto, irá ativar um contra ataque ricochete. O pneu irá bater no projétil e o mesmo irá retornar a quem o disparou. Não dá para fazer isso a todo momento, e uma vez usado, será necessário dar um front flip (mortal para frente) para que a habilidade fique novamente carregada. É possível realizar esse giro ricochete defensivo até mesmo no ar, mas o tempo para esse movimento é bem preciso, o que o torna muito difícil de ser executado se você estiver muito próximo do inimigo.
Considerações finais
Por mais que esteja perto do final desta análise, sinto que ainda falta muito a ser digo em torno de Laika: Aged Through Blood. Desde elogios, quanto algumas críticas. Mas contextualizado a história e explanado sobre a estrutura do gameplay, o que resta são aspectos mais gerais, assim como pontuais pequenos detalhes.
Na área dos elogios, gráficos e trilha sonora precisa receber seus louros. Visualmente o jogo é estonteante. Sua arte desenhada a mão é rica em detalhes, e a ambientação ao fundo é de cair o queijo em diversos momentos. O resultado é uma direção de arte muito bem apurada, que entendo o universo do jogo, sua temática e cada tudo de uma forma esplêndida.
Some isso a grande trilha sonora, repleta de canções (instrumentais e cantadas), sendo que novas faixas são descobertas e adquiridas em lojas ao longo da progressão. O jogador pode controlar as músicas que serão tocadas inclusive. Já os efeitos sonoros, são assertivos, especialmente na condição de que, por exemplo, o grito dos pássaros ser um indicativo sonoro do tiro que será disparado em seguida, da mesma forma que o efeito sonoro do disparo das armas do jogador possuírem o mesmo efeito de satisfação.
Uma crítica que posso fazer é o tempo de loading que o jogo tem no Nintendo Switch. Não o testei em outras plataformas, então não posso falar por elas. Mas sair da vila e entrar em novas áreas tem uma tela de carregamento que senti pela demora. Houve pequenos momentos que isso quebrou o ritmo e minha empolgação, especialmente quando se está procurando novas áreas, já que nem sempre é certo a direção para onde se deve ir, característica de todo metroidvania por sinal.
Outro ponto a se mencionar a respeito do Nintendo Switch é a experiência da jogabilidade em modo portátil. Isso ocorre porque Laika: Aged Through Blood é um daqueles jogos que coloca a perspectiva de câmera bem longe do personagem jogável, propositalmente para que você possa apreciar o ambiente inóspito, da mesma forma que em uma moto em alta velocidade, é precisa ver o caminho adiante com uma pequena vantagem, para poder se preparar para saltos e para os combates.
Até aí tudo bem, na televisão isso fica ótimo, mas na telinha do Switch, perdi a conta de quantas vezes apanhei para enxergar a pequena motoqueira na moto, afim de poder realizar as manobras do jeito certo, para que não batesse ou caísse com o capacete virado para o chão. Isso ocorreu muitas vezes em combates, mirando, recarregando, enquanto no ar, pensando nos inimigos, e tentando enxergar o eixo correto da moto. E não estou dizendo que é um grande demérito, mas tem uma experiência diferenciada em uma telinha tão portátil.
Sobre controles, estes respondem muito bem, ainda que os joy-cons não sejam o melhor controle do mundo quando se exige demais do uso dos gatilhos. E aqui, segurar o gatilho para desacelerar o tempo é de suma importância. Controle pequeno, mãos de adultos. Tive duas ocasiões jogando o título por um longo período (mais de uma hora) que alguns dedos da mão direita estavam doloridos de segurar o gatilho enquanto estrangulava o outro no analógico direito para mirar em inimigos. Nestes momentos, tive que fazer uma pause. Algo que não me ocorreu nas situações em que joguei com um pro-controller.
De volta aos elogios, fiquei surpreso com os confrontos de chefões, todos muito bem elaborados dentro da estrutura da jogabilidade motorizada. Alguns no estilo correr em um túnel para atirar em momentos chaves, enquanto desvia dos obstáculos apresentados, enquanto outros em áreas fechadas em que passar por um ponto ativa o chefe, enquanto o jogador precisa subir paradões afim de conseguir recarregar sua munição. O balanceamento destes confrontos acaba sendo variado, com uns bem difíceis, condicionado a pegar o tempo de resposta e reação, enquanto outros foram mais tranquilos, sabendo apenas onde acertar, sem ser atingido.
Ao fim, acredito que Laika: Aged Through Blood entrega uma experiência diferente e singular, dentro de um gênero que nem sempre é fácil de se reinventar, ou até mesmo criar uma estrutura interconectada que seja bem idealizada, o que neste caso é. Há uma boa trama, um universo interessante, combate que dá uma sensação de satisfação, e um desafio que fica equilibrado em momentos suaves com pontuais segmentos mais densos, onde morrer fará parte da construção de reação e resposta imposto. Ao fim, é um jogo que prende, desafia, e acima de tudo, diverte quem sabe apreciar sua proposta. Um título para se impressionar.
Galeria
Dando nota
Fantástica ambientação, com cenários ricos em detalhes e belos gráficos desenhados a mão - 9.2
Entrega boa narrativa, com uma raça que se acha superior as demais, em meio a um história de vingança, família e justiça - 8.8
Exploração do mundo interconectado é bem idealizado, cada área com seus desafios próprios - 8.5
Combate em cima de uma moto é fantástico, criando uma jogabilidade ímpar - 9
Versão do Switch tem seus pormenores, da tela portátil, loadings e joy-cons que podem doer alguns dedos - 7.5
Sem localização em português, alguns diálogos em texto acontecem enquanto se está andando de moto - 6
Trilha sonora de alta responsabilidade e qualidade, dando a imersão ideal ao universo apresentado - 9.5
8.4
Excelente
Laika: Aged Through Blood é um metroidvania da mais alta competência, mantém toda a estrutura do gênero, só que consegue criar um conceito original, ser criativo e entrega uma experiência ímpar de exploração, ambientação e combate. Uma aventura que oferece um ótimo desafio, que trabalha muito bem a questão de morrer, retornar e aprender com tudo isso, enquanto apresenta um trama rica de elementos que prendem o jogador na aventura. A versão do Switch tem lá alguns pormenores, mas em nenhum momento diminuiu a qualidade geral do jogo, sendo que o único pesar mesmo é não ter recebido uma localização em português.